2006-12-27


Para ti,
um novo ano
cheio de paz
e saúde

2006-12-26

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Nos Estados Unidos, a eleição presidencial manterá o suspense até à contagem dos últimos votos.
Ainda estão por apurar cinco mil e tantos boletins e os candidatos enviaram equipas de confiança para acompanharem aquela operação.
Para já, a única certeza é que haverá uma recontagem no estado da Florida, dada a diferença inferior a vinte mil preferências.
Ali se decidirá quem irá suceder a Bill Clinton como o próximo Presidente da única super-potência que resta na geo-política mundial.


Mas o mundo, por enquanto, também vive um impasse e é como se o escrutínio disso fosse um episódio reflexo.

Estamos na véspera de uma hecatombe qualquer.



E por cá a votação foi outra.

Com a abstenção do Engenheiro Campelo, o orçamento geral de estado foi aprovado por maioria.



Esta manhã os alunos experimentaram, pela primeira vez, a realização de dois ditados sobre as palavras conhecidas.
A Margarida teve apenas um erro no primeiro deles.
À tarde fizeram uma ficha do livro de Matemática.

E o trabalho de casa consistiu na grafia das vogais, em maiúsculas, um jogo para unir essas mesmas letras sob dois aspectos distintos, assim como a leitura e cópia da frase, “o menino e o memé” e o respectivo desenho. Por fim, a assinatura é já um problema rotineiro.



Enquanto esperei que os meus amores fizessem as suas sessões de ginástica, li um trabalho sobre a vida e a obra de Espinosa, Baruch Espinosa, filho de mãe portuguesa, o judeu dissidente que está na base da heterodoxia e o laicismo do pensamento moderno.

E como eu o sinto ainda tão perto de nós.

Do seu “Tratactus Thoelogico-Políticus”, finalizado em mil seiscentos e setenta, aqui transcrevo esta pérola:
“O derradeiro objectivo do governo não é governar ou reprimir pelo medo, nem exigir a obediência mas, pelo contrário, libertar todos os homens do medo, para que estes consigam viver na maior segurança possível, por outras palavras, reforçar o direito natural a existir e viver a sua vida sem se prejudicar a si e aos outros. O objectivo do governo não é o de transformar os homens de seres racionais em bestas ou marionetes, mas sim permitir que desenvolvam as mentes e corpos em segurança, e que utilizem a razão sem restrições, sem mostrarem ódio, raiva ou desespero, nem serem observados com olhos de inveja ou de injustiça. Com efeito, o verdadeiro objectivo do governo é a liberdade.” (1)

Foram estas as ideias tenebrosas a que a Santa Inquisição nos poupou.
Não tem nada a ver com o nosso atraso, pois não?



Na periferia de Luanda, ao fim de vinte e tantos anos e para comemorar o quarto de século da independência, a água canalizada voltará às torneiras de um bairro que outrora abrigou as famílias dos funcionários nativos da administração colonial.

__________
(1) Strathern, Paul, pp 59/60
BENTO ESPINOSA EM 90 MINUTOS

Alhos Vedros
00/11/08
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Strathern, Paul- BENTO ESPINOSA EM 90 MINUTOS
Tradução de Célia Laret Lopes
Editorial Inquérito, Mem Martins, 2000

2006-12-25

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Na Invicta reclama-se a presença do Presidente da República e dos restantes candidatos à presidência na cerimónia de abertura do Porto capital europeia da cultura.

Espírito democrático, diria eu.

E já agora sugiro que no momento em que a rainha da Holanda estender a mão, não encontre uma mas cinco para a cumprimentarem ao mesmo tempo e que todos disponham de os seus trinta segundos para fazerem a vénia à real Senhora.



Tenho dúvidas que se trate de mera coincidência.

Esta manhã tiveram início os trabalhos de repavimentação do passeio que ladeia a escola da Margarida.
Não é sem tempo. Desde o primeiro dia que as crianças e adultos entravam sobre as pedras soltas com o correspondente aumento do risco de acidentes, o que só pode ser considerado inadmissível num país que se quer civilizado.
É pois com bons olhos que vejo a tão necessária reparação.

Acontece é que esse foi, justamente, o tema da minha última crónica no Notícias da Moita (1).

É sempre possível falarmos de acaso, mas, cá par mim, os responsáveis leram as minhas palavras.


A isto se chama os bons efeitos do exercício da cidadania.



Quando regressei da labuta, a Margarida tinha o trabalho para casa todo bem feitinho.
Tratou-se da solução de exercícios do seu livro de Matemática.



E agora, pelo que me é dado ouvir, ela, a irmã e a Beatriz brincam, na sala, aos festivais da canção.

A Matilde, qual bardo deste episódio, está a cantar neste momento.



Devido à neve, ontem foi fechada ao trânsito uma estrada na Serra da Estrela e como prevenção da intempérie que se faz sentir no norte do país, alguns portos marítimos encerraram as suas barras.

Estamos sob a influência de uma frente fria e a temperatura desceu significativamente. Quando saí de casa para levar a Margarida à escola, sentia-se a pele do rosto fustigada por um ar gélido que, nos espaços desabrigados, nos chegava ao jeito das rabanadas.

Mas, solarenga, a manhã estava tão bonita.



E a discussão do orçamento continua, lamentavelmente centrada no caso do Engenheiro Campelo.
No fórum da TSF a tónica dos ouvintes pautou pelo mesmo toque.

E a verdade é que teimamos em desperdiçar oportunidades irrepetíveis para nos aproximarmos da qualidade de vida dos países mais desenvolvidos da União Europeia.
As reformas permanecem por fazer.

Amanhã será a votação.

O deputado do Partido Popular que se associou aos socialistas para viabilizarem o orçamento, depois de tudo o que disse sobre a sua decisão, revelou antecipar-se à expulsão e abandonou o seu grupo parlamentar.


Até ao fim desta legislatura, pelo menos, o nosso parlamentarismo seráuma palhaçada.



Na aula de hoje os alunos realizaram cópias das palavras aprendidas até ao momento.



O eleitorado norte-americano está-se pronunciando sobre a composição do colégio eleitoral que irá votar o próximo Presidente dos Estados Unidos.

Ainda que, nas sondagens, George W. Bush leve vantagem nas intenções das preferências, parece que há a possibilidade de o candidato democrata vir a ser eleito para ocupar a sala oval nos próximos quatro anos.


Vamos ver o que acontece.



Estão a ver o nosso reino?
O Ministro Armando Vara encara a possibilidade de interferir na questão da arbitragem.

É Portugal na melhor forma.

__________
(1) Gomes, Luís F. de A., p. 6
SOB O PASSEIO A PRAIA

Alhos Vedros
00/11/07
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Gomes, Luís F. de A.- SOB O PASSEIO A PRAIA
“Crónicas do Tempo que Passa”
In “Notícias da Moita”, nº. 345, de 00/11/01

2006-12-24


Para ti,
uma Santa Noite

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

REGRESSO ÀS AULAS

Regresso às aulas ma, sapiente, a Professora tratou de fazer um reatamento suave.
Os miúdos precisam de readquirir ritmos e saltos muito bruscos correriam o risco de gerar rupturas. Consequentemente, o dia de hoje foi uma recapitulação da matéria dada.
Os alunos realizaram uma ficha em que, a partir de alguns exemplos, escreveram as palavras que aprenderam até ao momento.


Não houve trabalho para casa.


A Margarida trazia uma dúvida quanto à diferença entre os vocábulos mana e mama. Mal grafei os dois termos um sob o outro, identificou as letras m e n como as responsáveis pela distinção.



Agora os anjinhos dormem.

Louvado seja Deus.



Na Assembleia da República, começou a discussão sobre o orçamento geral de estado.

O Primeiro-Ministro explicou como a reprovação implicará eleições antecipadas, com os inerentes atrasos na aprovação de tão importante instrumento de trabalho e as perdas para os grupos mais desfavorecidos que isso acarreta. É claro que o seu desejo é que possa continuar a governar em condições, mas se assim não acontecer, isso se deverá à irresponsabilidade de uma oposição que coloca os seus interesses políticos à fente das necessidades da população em geral e da mais carecida em particular.

Sabendo nós que ele não esteve a falar para câmara mas para os media, mais eloquente não poderia ter sido e mais convincente também não.

As oposições privilegiaram o caso do Engenheiro Campelo e foi pena.
Para já, pouca coisa se disse sobre as opções quanto à gestão dos negócios do estado.
E é lá que está o busílis. É tão revoltante a ausência das reformas que tanto o aparelho de estado como a nossa sociedade reclama.



O mau tempo atmosférico espalha-se por quase toda a Europa Ocidental e Sul e causa estragos que vão das mortes às destruições de bens variados.
Em Espanha foi lançado o alerta geral em quase todo o país.

Por enquanto, ainda que a Norte a chuva tenha sido intensa, estamos a leste das maiores desgraças.

Há três anos, por esta altura, estávamos na ressaca de grandes cheias no Sul do país.


De acordo com o meu palpite ou, se quisermos, com os meus cálculos grosseiros, este será o último anos de chuva farta a que se seguirá um período de seca a culminar daqui a três a cinco anos.

Vamos ver se acerto.



E agora o mundo que vá rodando.
Eu vou ver os “Ficheiros Secretos”.

Alhos Vedros
00/11/06
Luís F. de A. Gomes

2006-12-23

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Decorreu em Lisboa um encontro internacional de cientistas sobre o ambiente e as alterações climáticas.
A comunicação social indígena pega em cenários e vai de destacar previsões, sem critérios nem as devidas salvaguardas.
Provavelmente, para um país como o nosso, está bem assim.

Contudo, deve dizer-se que as ciências naturais ainda não encontraram os modelos –físicos ou matemáticos- capazes de suportar grandes antecipações e muito menos num sistema de imponderabilidade como é a atmosfera terrestre.
Nem podemos esquecer as antevisões do Clube de Roma, no princípio da década de setenta, que o tempo e os progressos gnosiológicos e tecnológicos se encarregaram já de corrigir.

O que não quer dizer que os problemas não sejam graves e as análises dos cientistas sérias.


O problema do ozono é que de acordo com os conhecimentos actuais, parece ser do teor de poder vir a colocar em risco a vida à superfície do nosso planeta. É que pela duração das moléculas de cloro e da sua capacidade de destruir aquelas outras, a menos que sejamos capazes de repor artificialmente aquele gás atmosférico ou de sabermos acelerar os processos da sua formação natural, a delapidação da sua quantidade é, por enquanto, irreversível e não somos capazes de saber se ou quando ultrapassaremos o limiar crítico para a vida, tal como a conhecemos, na superfície terrestre.


A ficção das civilizações sub-aquáticas não está, de todo, fora de questão.



Ai como são longos os dias
quando os saboreamos com prazer e alegria.



Esta paragem lectiva parece-me ter acontecido no momento certo.
Sensivelmente a meio do primeiro período, serviu para os alunos carregarem energias para as tarefas e canseiras que ainda os separam das férias natalícias.


É certo que eu vivo uma situação de privilégio social, quer pelo facto de poder ter empregada doméstica que nos alivia a fatia das atribuições inerentes à sobrevivência do corpo físico, sabendo ainda acumular a função de ama, cuidando-nos das filhas enquanto nos atiramos ao ganha-pão; quer ainda por residirmos na proximidade de uma das famílias de procriação o que, conjugado com a manutenção dos laços e relações costumeiras, nos serve de rede para os momentos em que é necessário recorrer a outrem. Não é menos verdade dizer-se que nós somos pais presentes e próximos. No entanto dispomos daquelas malhas que nos amortecem os embates que desgastam, tantas vezes, os ânimos dos mais insuspeitos mortais. Nas miríades de arquipélagos que as grandes cidades originam, que posso eu saber acerca dos dramas que aqui e ali se desenrolam em torno de criar um só filho que seja?
Contudo é com muita dificuldade que entendo os pais que se preocupam com aquilo em que hão-de manter os filhos ocupados.
Pobres crianças. Deixá-las brincar que melhor ocupação não há.

A Margarida bem que aproveitou estes dias para o fazer desde o nascer ao por do Sol.



E esta tarde deixámo-nos embrulhar pela espiritualidade dos cânticos de peregrinos de Compostela, interpretados por membros do coro da orquestra da Fundação Gulbenkian.

Logo na matriz da Vila, cenário por si propício e abrilhantado por uma decoração de pequenas velas que pareciam querer dizer o caminho para Santiago.

E o curioso é que ao vadiar por certas artérias daquela cidade, eram estas melodias quinhentistas que a memória imaginava.


Quando, ao fim do dia, passeámos entre os automóveis antigos de uma exposição organizada pelo clube de automóvel histórico, os sorrisos que as lembranças me proporcionavam ao ver os modelos que os meus pais possuíam no tempo da meninice, ainda traziam a companhia do vento baralhando as árvores ou assobiando nas arestas, sobre os linguarejares de animais domésticos ou de vozes mais elevadas entre os martelares e os rangeres de este ou aquele mecanismo.



Amanhã, a Margarida regressará ao ritmo das aulas da sua primeira classe.

Alhos Vedros
00/11/05
Luís F. de A. Gomes

2006-12-21

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

UM BALANÇO POSITIVO
Depois de muitas hesitações e conjecturas, de vergonha e desconfortos, a Margarida, não sem antes manifestar a vontade de apenas entregar a prenda e sair, lá foi, pela mão do pai e da mãe, à festa de aniversário da sua amiga Inês.

Mal chegou e verificou que as convidadas eram suas conhecidas, mudou de semblante e disposição e deixou-se ficar.

Quando a fui buscar à hora combinada –a Matilde nunca exteriorizou qualquer objecção à ideia de aceitar o convite- toda sorrisos, foi célere em dizer-me quão cedo era.



Nas duas horas que estivemos sem elas aproveitei para ler.



Folgo por verificar que há quem veja o caso do Engenheiro Campelo tal qual eu o vi. Para que conste, passo a transcrever um excerto de um artigo de Vasco Pulido Valente, incerto numa coluna semana do “Diário de Notícias”, titulada “Corrupção” e que reza assim:
“(…) Mas, se o inacreditável, se o orçamento passar com o voto do Sr Campelo, a oposição deve perceber que o eng. Guterres, o dr. Coelho e o dr. Sócrates subverteram o sistema político. O episódio abre um precedente que, a pouco e pouco transformará os partidos em organizações para a pilhagem do orçamento, como os partidos da monarquia “rotativa”. O voto pela fábrica de queijo institui rapidamente o toma lá dá cá universal, o que dantes se chamava –com extrema ingenuidade- corrupção. E hojr parece que se chama “diálogo”. (1)

Nem mais nem menos, é este o teor das palavras que aqui escrevi ontem.



Estando esta primeira semana de férias a chegar ao fim, parece-me ser este um momento oportuno para elaborar um balanço deste início de actividade escolar da Margarida.


Comecemos pela aluna.

Sem favores nem sombras de qualquer exagero, podemos sustentar que o saldo é, em todos os parâmetros, positivo.

Do ponto de vista da aprendizagem, avaliando pelos exercícios que ela realizou e pela observação do modo como solucionou os problemas que lhe foram colocados, tanto no âmbito de perguntas orais como no dos trabalhos, propriamente ditos, verifica-se que ela transpôs tais obstáculos com facilidade, pois, até ao momento, sempre teve as operações certas e rapidamente encontra as respostas apropriadas, quer quando confrontada oralmente, quer em ocasiões de recurso à expressão escrita. Além disso, já conhece e compreende os algarismos até à centena e consegue resolver de cabeça pequenas contas que variam num leque entre o dois mais um e o sete mais cinco, ou entre o três menos dois e o oito menos cinco. A isto acresce o facto de já há alguns dias escrever o nome sem o recurso à cábula o mesmo acontecendo com a larga maioria das palavras que têm sido objecto do conteúdo do ensino curricular até à data. É verdade que amiúde ela expõe receios sobre se está ou não a fazer bem ou a identificar a resolução que se impõe. Mas como executa com destreza e rapidez, acaba por aprender com toda a tranquilidade. Eis o que justifica o resultado positivo que atribuímos ao patamar da aprendizagem.
O mesmo se passa com a integração na turma e na escola. As mãozinhas frias à entrada já só existem na memória e, naturalmente com preferências, ainda que flutuantes, entre as quais se vai mantendo a Ana Lúcia, estabeleceu relacionamentos com praticamente todos os colegas e participa nas brincadeiras e deambulações, da mesma forma que o faz no contexto das lições ou de eventuais questões que surjam entre a ganilha, dentro ou fora da aula –sobre este aspecto reservo-me para amanhã a narrativa de um episódio que a Luísa, esta tarde, me colocou a par. Fazendo fé naquilo que ela diz, percorre os diversos espaços da escola e já conhece todo pessoal auxiliar, quer da primária, quer da pré-primária. Relativamente à mestra, se no princípio a sucessão de castigos pareceu poder vir a pôr em causa a empatia do primeiro encontro, os dias acabaram por fazer a relação rolar com a fluidez do que não tem grandes complicações. Honestamente, ela confessa que gosta da senhora.

Temos pois que a afirmação inicial faz todo o sentido.


Vejamos agora a Professora.

E eu só posso alegar que, por ora, estou completamente satisfeito.

Como já escrevi nas primeiras páginas deste diário, sobre o método de ensino não me vou pronunciar. Não tenho conhecimentos para tanto, mas seja como for, a julgar pela Margarida, os resultados dificilmente poderiam ser melhores.
Quanto ao comportamento tudo indica que temos ali a firmeza que é o melhor preventivo da indisciplina; como é temperada com uma atitude simpática e amistosa e justa em termos de se saber dosear os esforços das crianças, permanece a figura de quem os miúdos podem gostar.
Assim a expectativa só pode ser a de um bom trabalho.


Há motivos para estarmos contentes, o que não significa desatenção e muito menos o tradicional dormir à sombra da bananeira.



E agora a família acabou de regressar de um serão na Velhinha, onde assistimos a um sarau de patinagem.

Pena que os da casa prefiram a pompa dos fatos e dos cenários em detrimento de uma boa aprendizagem e das consequentes prestações de bons executantes.

Mas ainda vimos uma bonita exibição de uma jovem do Clube de Patinagem de Paço de Arcos.
Foi a prenda da noite.



As manas é que estavam cansadas e nem quiseram tomar o banho do dia.
Depois de lavarem as intimidades e as dentuças, voaram para o sono com a velocidade de quem cai à cama.


A Matilde é que não foi capaz de passar sem biberão de leite.



E o repouso desceu à paz de um lar que se deixa estar no aconchego de abrigar a Deus no seu seio.

__________
(1) idem, ibidem, p. 64

Alhos Vedros
00/11/04
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
Pulido Valente, Vasco- CORRUPÇÃO
In “Diário de Notícias”, nº. 48083, de 00/11/04

2006-12-20

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A Inês –ex-colega durante dois anos, no jardim de infância- telefonou à Margarida para a convidar, assim como a Matilde, para estarem presentes na sua festa de aniversário, amanhã, na casa dos seus pais.

“-Sim quero ir.” –Escutei-lhe numa voz de boca com um sorriso.

Mas quando a mãe chegou a casa, confessou-lhe a razão que a levara a dizer-me que, afinal, não queria ir passar a tarde daquela maneira.

“-Eu tenho vergonha de estar lá com meninos que não conheço.”



Paguei ao Zé Ramos a recuperação da escrivaninha que servirá para os materiais escolares das manas M e M, embora, por enquanto, apenas para a mais velha.
E o preço foram dezassete mil escudos acanhados.


Este homem que me conhece desde a mais tenra idade, é o exemplo de como a vida, quando levada e discernimento, pode trazer muitos rios para uma corrente que, desse modo, se vai alterando e propiciando um suceder de épocas preenchidas com variadíssimas preocupações que muita alegria conferem ao acordar. E ainda de como alguém vai aprendendo e assim melhorando a construção do entendimento daquilo que o rodeia e das teias em que se move.

O Zé Ramos foi operário da Siderurgia Nacional durante uma trintena de anos e quando a remodelação da empresa fez tremer os postos de trabalho, deu corpo a um desejo que sempre sentira dentro de si e dedicou-se à construção manual de móveis e outros trabalhos de marcenaria e também à recuperação mobiliário antigo que muito ele gosta de fazer.
O escritório, na minha casa, saiu-lhe do engenho e arte e as peças familiares que compõem a maioria das mobílias que possuímos, foi ele que as tratou e curou, com a sabedoria de as manter com a antiguidade que cada uma tem e temos objectos seculares.
Hoje em dia, é disso que ele vive, ainda que já tenha conseguido negociar uma situação de pré-reforma, com o que descobriu uma nova vida, mas feita de acordo com o seu próprio domínio do tempo. E posso garantir que tal o deixa muito satisfeito.

Mas ele não se limitou a ser nada mais que o lacaio do trabalho que bem soube educar uma filha que já lhe deu uma neta e se fez, a tempo, enfermeira profissional e por vocação.

Foi, durante muitos anos, membro de direcções de clubes locais, através do que iniciou uma colaboração de dirigente associativo no futebol distrital de Setúbal.

Homem de palavra e rectidão, em ele sempre apreciei a franqueza com que nos tratava, enquanto atletas juvenis e juniores do CRI (1), nunca nos impondo nada além das regras que eram iguais para todos e sempre nos responsabilizando, para o bem e para o mal, pelos nossos actos.

Era uma agradável sensação de homenzinhos aquilo que fazia gostar de estar na sua companhia.
Com todo o respeito, tratava-se de um amigo mais velho.



Eu não digo que ser pai, em parte, também é um regresso à infância?
Esta tarde estive a jogar ao ganso com a Margarida e a Matilde.



E a mais velha que afina quando perde.

Eu acho que deve ser normal, nestas idades, uma reacção repulsiva perante situações de derrota.
De qualquer forma deveremos estar atentos e, perante a persistência da atitude, procurarmos contrariar a tendência que, para além de reprovável, por si e, sopor isso, susceptível de emenda, ao longo da vida, nada mais lhe trará do que desilusões e tristezas.

Neste sentido os jogos têm uma função pedagógica bastante boa pois, em contextos de brincadeira, possibilitam a experimentação e a aprendizagem de regras a respeitar.

Confio que o crescimento trará o equilíbrio conforme a uma resposta sensata em face deste género de problemas. A convivência com os outros miúdos e as vivências escolares certamente se encarregarão de criar oportunidades para que ela seja levada a aceitar desfechos menos a contento, com a inerente compreensão, não só das razões de um determinado momento menos bom, como ainda, de um modo geral, que a vida também se faz com os baixos pontos que se contrapõem aos altos.

Esperemos que assim seja. Afinal o que mais queremos para as nossas filhas é que, para lá da felicidade, elas sejam pessoas de carácter.



E o nosso Guterres, aquele que traiu para chegar à chefia do partido e que, sob a capa da afabilidade e do diálogo, já se mostrou capaz do florentinismo mais refinado e subtil, acabou de conferir mais um rude golpe na débil constelação de cultura cívica e democrática do nosso país.
Por muito que se pretenda mascarrar a concorrência e por mais nobres que se apresentem as justificações, a realidade é que um deputado negociou o seu voto em troca de benefícios particulares e concretos para o concelho e o distrito de que é oriundo. Isto é o preço de um voto.
Abre-se um precedente para que futuras votações possam ser compradas por quem for capaz de oferecer o maior chouriço.


É que aos pragmáticos, nada impede que sucedam os homens sem escrúpulos e sem moral.


Ao contrário do que defende Pacheco Pereira (2), o principal desafio que se coloca à democracia não é a demagogia mas sim as máfias.

É o perigo que o nosso país enfrenta nos tempos que correm.



Em Lisboa decorre um encontro internacional de cientistas sobre as alterações climáticas.

È o futuro da humanidade que está em risco.

Mas a desgraça faz-nos ter consciência de sermos todos habitantes do mesmo planeta.
Depois de termos conquistado elementos para compreendermos que somos todos filhos de Deus e membros de uma mesma espécie, faltava-nos a noção de, no limite, partilharmos a mesma casa.


Não é sinuosa a procura do melhor?



Pois o livro que estou a ler, procura evidenciar a conexão entre as estrelas –verdadeiras geradoras de matéria cósmica- e a existência do nosso planeta e da vida que aqui se formou e evoluiu.


Infelizmente a tradução tem erros de uma negligência indesculpável que a revisão deixou passar.
É o caso de se atribuir dezenas de milhões de anos à existência do Homem de Neanderthal. (3)



Ainda somos tão primitivos.

__________
(1) Iniciais do Clube Recreio Instrução, colectividade de Alhos Vedros fundada em 1917 e cujo principal desiderato é, na actualidade, o desporto, mormente o futebol.
(2) Pacheco Pereira, pp. 20 e ss
DESEPERADA ESPERANÇA
(3) Reeves, Hubert, p.46
AVES MARAVILHOSAS AVES



Alhos Vedros
00/11/03
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

Pacheco Pereira- DESESPERADA ESPERANÇA
Editorial Notícias (1ª. Edição), Lisboa, 1999

Reeves, Hubert- AVES MARAVILHOSAS AVES
Prefácio do Autor
Tradução de Francisco Agarrez
Gradiva (1ª. edição), Lisboa, 2000

2006-12-17

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

O QUEIJO LIMIANO
Para uma manhã de chuva nada melhor que uma tarde de Sol para que sorria o azul que as nuvens lavaram.

Mas com a mudança da hora, são já as luzes públicas que se reflectem no espelho líquido do esteiro.



Um tribunal de primeira instância corrigiu uma sentença anterior do tribunal cível e deu razão ao Benfica no caso que opõe à Olivedesportos quanto à denúncia da nulidade dos contratos que esta empresa firmou com o clube, ao tempo da direcção de Manuel Damásio. A ser assim, está ganha aquela que foi a principal batalha da gestão anterior e que, afinal, espoletou toda a carga da calúnia e desinformação de que, a partir de então, foi alvo. Mais importante é o facto de o Benfica se ver livre do espartilho que impunha a sua subordinação aos interesses daquele tão estranho corpo do universo futebolístico e de isso constituir um precedente para que outros clubes façam o mesmo o que, levado ao limite, poderá por um travão no nefasto abraço com que obscuros poderes têm atirado o futebol nacional para o pântano em que actualmente se encontra e que fica, irreversivelmente, na cauda do desporto-rei da Europa; na realidade, o polvo reagirá e, para já, veremos a cobertura que os media darão ao evento. Tenho a certeza que os dirigentes benfiquistas que enfrentaram o monstro não terão, nem de perto nem de longe, o mesmo destaque que tiveram os seus críticos quando solicitados a comentarem boatos, afirmações improvadas, hipóteses, mesmo as mais mirabolantes e até as mais reles aldrabices e toda uma parafernália de questão de mais pura lana-caprina. O mais certo é que tudo permaneça como até aqui e o público continue arredado dos estádios, palco de resultados que dificilmente se livram da aparência de mãozinhas exteriores às duas equipes que se batem nos relvados.

O tempo começa a dar razão aos benfiquistas que então votaram pela mudança.



E já que estamos em maré desportiva há que recordar a boa prestação dos atletas portugueses nos Jogos Paralímpicos de Sidney, com a conquista de mais de uma dúzia de medalhas, algumas de ouro e de prata.

Pois eu digo que longe das pressões mediáticas que só geram artificiais vontades de vencer, os nossos desportistas, fortes de tal decisão e em resultado de árduo e honesto trabalho, foram capazes de se superarem e inscreverem os seus nomes nos pódios da glória.

Ainda bem que o nosso jornalismozinho deixou que todo o processo lhe tenha passado ao jeito das coisas sem relevo.


E no entanto estamos perante excelentes exemplos de coragem humana.



Palpita-me que a Margarida gostou bastante de ter toda a casa à inteira disposição de um dia de brincadeiras.

No regresso do trabalho, encontrei o robe dela e uma almofada na caixa da minha secretária.



E a ETA continua a querer impor a sua vontade através do terror.
Com a morte de mais um juiz e respectivo motorista, a explosão ainda destruiu e incendiou um autocarro provocando dezenas de feridos, alguns em estado grave.
Na passada segunda-feira, em Madrid, onde os homicídios tiveram lugar, a população saiu à rua em protesto e para dizer não ao terrorismo que, bem mais complexo que uma acção puramente basca, não deixará de matar.

Vão lá à Líbia e ao Iraque a ver se não encontrarão etarras em treino.

O mal é que a internacional negra sempre procurará manter as sociedades abertas sob a tensão da violência.
É no caos que os fascismos se revigoram.



É tal e qual como Pacheco Pereira sublinha no seu artigo de opinião que hoje saiu no “Público” e que, afinal, eu já aqui defendi há uns dias.
Israel é uma sociedade democrática, coisa que a Palestina autónoma não é, como também não são a totalidade dos países árabes seus inimigos.



A ministra da saúde propõe-se legislar a proibição da venda de álcool a menores de dezoito anos.

No país em que a discoteca é a principal diversão dos adolescentes, ora aqui está uma medida que, mais que merecer o levantar do chapéu, surtirá um efeito pedagógico que rapidamente elevará a perspectiva de vida futura da nossa juventude.

Assim se conhece
a sabedoria do PS


Entretanto os médicos da direcção da urgência do hospital de Faro, dadas as condições de trabalho, demitiram-se em bloco.



Então e não é que a Matilde, após o jantar, pediu para telefonar à Natália –uma amiga da Luísa que lhe ofereceu uns chocolates numa ocasião em que jantou em nossa casa- para lhe pedir um pacote de smarties?

É claro que eu brincalhão, tratei de lhe fazer a vontade.
E em face do atendedor de chamadas, ela e a Margarida –então não havia este cromo de se juntar à paródia?- não se fizeram rogadas e deixaram o pedido como mensagem.



“-Oh pai, eu hoje voltei a dar um mortal, só que mais difícil.” –Disse a Margarida após a sessão de ginástica. “-A professora nem me tocou com um dedo. Fiz tudo sozinha.”

E o pai, entre o espanto e a aceleração cardíaca, mas cheio de orgulho e encantamento, lá encontrou motivo para sorrir, satisfeito.



O deputado do PP por Viana de Castelo, o Engenheiro Daniel Campelo, perante as contrapartidas para o seu distrito e o queijo limiano –no qual terá interesses pessoais?- viabilizará o próximo orçamento de estado.

Uf! Terá feito a nossa Assembleia da República que a última coisa que pretendia, neste momento, seriam as eleições antecipadas.

E a histeria em torno da expulsão parlamentar do partido e respectivo grupo, naquele hemiciclo, não passa de poeira para esconder a descompressão dos rostos contentes por continuarem no lugar em que, por enquanto, estão.

Esperemos pela novela que terá início na próxima segunda-feira.



Lembram-se dos Weather Report?

Pois então apertem os cintos que vamos deambular pelos voos que os olhos fazem quando se fecham.

__________
(1) Pacheco Pereira, José, p. 9
AS METRALHADORAS DE JEOVÁ E AS PEDRAS DE ALÁ

Alhos Vedros
00/11/02
Luís F. de A. Gomes


Citação Bibliográfica

Pacheco Pereira, José- AS METRALHADORAS DE JEOVÁ E AS PEDRAS DE ALÁ
In “Público”, nº. 3882, de 00/11/02

2006-12-15

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

UM FERIADO DE TRABALHO

A Margarida continua na muda dos dentes. Ainda há pouco, durante a higiene oral que antecede a deita, lá lha caiu mais um queixal.



Bem, hoje foi um feriado com trabalho pela manhã.

É assim, acorda uma pessoa com as brincadeiras infantis na cama dos pais, revigora-se de imediato pela ida das filhas para a sala, para acabar no esforço de carregar um móvel para o segundo andar.

E a mãe galinha, habituada que sempre foi a tudo ver brilhando e no devido lugar, entendeu que não podia evitar a limpeza da peça recuperada que, por si, implicou uma rearrumação do quartinho das nossas filhas.


As miúdas almoçaram na casa dos meus pais e nós acabámos por comer hambúrgueres no café da Júlia.


Mas a Margarida e mais tarde a Matilde, ficaram com uma espécie de escrivaninha armário que lhes servirá para guardarem os materiais e respectivos espólios escolares.


Mais uma vez, a recuperação da mobília que pertenceu ao avô materno da Luísa, esteve a cargo do Zé Ramos que se repetiu com um trabalho excelente.



E a tarde só poderia ter sido de pernas esticadas e leituras.



O último romance de Camilo José Cela (1) é uma oratória sobre a Galiza e os seus rostos e pensares.
“-Se escután las agua de la mar.”
“-Sí, se escuta la mar.”
“-Y la bruma.”
“-Sí, y la bruma también.”
“-Y se puede oír los sueños de las gaviotas.”
“-Sí, las gaviotas e tambiém las aguillas en los caminos de las tierras.”



A estação espacial internacional é um consórcio de várias agências espaciais, a saber, dos Estados Unidos, do Canadá, da União Europeia, do Japão e do Brasil.
Estará concluída em dois mil e seis e há uma previsão para que funcione durante dez anos.



A Jugoslávia vai ser readmitida na Assembleia Geral das Nações Unidas.



No fim da tarde na hora que antecedeu os banhos, estive a brincar com a Margarida e a Matilde.
Inventei uma espécie de bowlling que fez o encanto da família.



Agora vem Henrique Neto disparar sobre Jorge Coelho, mas este empresário que se iniciou como membro de uma cooperativa que acabou por transformar na sua primeira empresa, acabou por dar o dito por não dito e o homem forte de Guterres saiu sem uma beliscadura. Foi o ex-cooperante, ex-comunista, ex-deputado e não sei se ex-qualquer coisa mais quem acabou na linha de fogo da oposição.



O Porto capital cultural tem sido uma palhaçada pegada.
Já foi o bater da porta de Santos Silva e a inversão de um projecto que deixaria infra-estruturas para o de uma comissão de festas; é a certeza do atraso das obras que não estarão prontas a horas e agira é um movimento cívico, encabeçado pelo actual Presidente da Câmara, para que Jorge Sampaio volte a aceitar estar presente na inauguração que será no dia da reflexão das presidenciais. É claro que o passo atrás se deveu aos berros dos outros candidatos que reclamam o convite.
É a politiqueirada à portuguesa.
Jorge Sampaio é o Presidente da República e, entre outras coisas, pagam-lhe para ele representar o estado em eventos de importância nacional como é a capital europeia da cultura atribuída a uma cidade lusa.
Somos o país que ainda não passou da demagogia do chafariz, pois de contrário ninguém estranharia que ele, embora candidato, cumprisse os seus deveres de chefe de estado. É que se fosse para fazer política e campanha, os cidadãos eleitores penalizá-lo-iam em conformidade.



Vou-me deitar com a Luísa nos meus braços.

__________
(1) Cela, Camilo José
MADERA DE BOJ

Alhos Vedros
00/11/01
Luís F. de A. Gomes

CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Cela, Camilo José- MADERA DE BOJ
Editorial Espa (4ª. Edição), Madrid, 1999

2006-12-12

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A CAMINHO DAS ESTRELAS

O convívio impede a escrita; mas não faz mal quando estamos com pessoas a quem queremos bem.



Com muita pena da Margarida que bem gostaria de os ter acompanhado, a Fátima e o Quim regressaram ao Porto.

Eles estão de boa saúde e felizes com a nova vida de casados e como ainda não têm prole, aproveitam para darem continuidade à vadiagem que ambos levaram do estado de solteiros.

Tudo o que de bom nesta vida para eles. é o meu maior desejo.


Ontem foram passear a Lisboa e, era inevitável, a Margarida acompanhou-os.
Lamentavelmente, no parque das nações apenas o oceanário estava aberto.


E pela quinta vez a minha filha mais velha encantou-se com os cenários subaquáticos.



Ainda que em Inglaterra e em França as tempestades já tenham causado mortes, entre nós o Outono continua ameno e embora a temperatura, como seria de esperar, tenha arrefecido, as tardes solarengas deixam que os céus se alindem pelas colorações das nuvens que o vento leva.



Mas às calamidades naturais os homens acrescentam as suas próprias catástrofes.

Ao largo da costa francesa, um cargueiro italiano, depois de a tripulação posta a salvo e de ter andado um dia à deriva, afundou-se com seis toneladas de produtos químicos a bordo.
Espera-se mais um desastre ecológico.


Na capital de Taiwan, aparentemente devido ao mau tempo, um avião despenhou-se, durante a descolagem, caindo em chamas sobre a pista. Entre os cento e poucos passageiros, houve muitos mortos e feridos mas, graças a Deus, também alguns sobreviventes.



O humano é que jamais perderá a capacidade de sonhar e querer ir mais além.

A primeira tripulação lá subiu para a estação espacial internacional; dois cosmonautas russos e um americano foram lançados da estação de Baikonor, no Kazaquistão, com a missão de ali permanecerem durante quatro meses. Brevemente, os actuais recordes de permanência no espaço irão ser batidos.

Mas o novo habitat, dada a ocupação permanente que se espera venha a acontecer, dita, em concomitância, o fim da MIR, o oásis tecnológico espacial que outrora conferiu aos soviéticos a supremacia temporária na disputa em torno da conquista do espaço cósmico.
Em Fevereiro do próximo ano, aquele velho satélite artificial será afundado no Pacífico.

Num futuro, por ora, longínquo, a Humanidade ver-se-à forçada a emigrar para outras paragens galácticas. Até lá, explorará outros planetas e aprenderá a sobreviver fora da gravidade e dos climas terrestres.
Esta estação internacional é, precisamente, o início desse processo.
A pertinência do projecto é que não fica tão só por aí. O quotidiano está cheio de auxiliares que, directa ou indirectamente, devem a existência à exploração espacial.



No Domingo houve eleições autárquicas no Kosovo, apesar do boicote do eleitorado de origem sérvia que não votou.
Face à vitória do seu partido, Ibraim Rugova –lembram-se da farsa de ter sido eleito presidente da nova república independente?- voltou a reclamar a independência da região.
Kostunica, o novo Presidente da Federação Jugoslava, não reconhece os resultados e fala de um novo federalismo que obscurecerá as veleidades independentistas dos mais radicais.

A União Europeia e os Estados Unidos é que não sabem o que hão-de fazer.
Um Kosovo independente, sem qualquer base de sustentação para o ser, rapidamente seria integrado na Albânia de onde é originária a maioria da população.
O melhor seria a mistura inter-étnica que uma convivência pacífica e duradoura sempre possibilitaria. Ora será isso possível?
É verdade que a sucessão de autocracias imperiais terá deixado um lastro de geografias sem povo e culturas sob o domínio de outras. Contudo, já houve, na vizinhança Sarajevo, o som dos sinos e dos chamamentos dos mullays ao mesmo tempo que alguém caminhava para a sinagoga.


Isto faz-me pensar que uma nova reforma só poderá ser o ecumenismo entre os monoteísmos do Livro.



A Margarida gozou o lar nesta manhã de folga, embora, a seu pedido, tenha almoçado em casa dos meus pais onde passou a tarde e a fui buscar e à irmã para o regresso à toca.


“-Oh pai, aproveitei e fiz uma das três fichas do trabalho de casa.”



Desdenhando do burro, o comprador mais não pretende que esconder o interesse e comprá-lo.
Guterres garante que não quer eleições antecipadas mas não deixa de dramatizar uma eventual reprovação do futuro orçamento.
Por sua vez, os franco atiradores, a quem mandaram abatê-lo, esforçam-se com demonstrações de quanto inoportuno seria para o poder um sufrágio antes do tempo.
Duvido é que a raposa se deixe cair pelas uvas.



Ah e o Benfica lá mudou de Presidente.

Esperemos que permaneça a boa política de saneamento financeiro do clube e de relançamento das suas infra-estruturas e melhoria das instalações.

Eu é que não acredito.
Palpita-me que o Benfica voltará a ser um centro de negócios e rotações de jogadores.

Oxalá esteja enganado.

Alhos Vedros
00/10/31
Luís F. de A. Gomes

2006-12-11

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

VISITAS
Ai como é bom um domingo lânguido, feito de leituras e suaves dormitares, enquanto as miúdas brincam até que o cansaço lhes chegue.



A Fátima telefonou.
Ela e o marido virão jantar a nossa casa. A minha cunhada que é professora tem pela frente a folga de uma semana e o Quim tirou dois dias de férias até ao feriado de quarta-feira.



Os piolhinhos é que ficaram em pulgas.

Alhos Vedros
00/10/29
Luís F. de A. Gomes

2006-12-10

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

O cair da tarde fez-se na proporção da penetração da névoa por sobre o rio, como que por magia, desenhando-lhe os contornos.



A Margarida é uma criança assim.
Todos os dias, quando chego a casa à hora do almoço, sou recebido por uma pergunta inevitável e que é invariavelmente feita no mesmo tom:
“-Oh pai, não vamos chegar atrasados, pois não?”

Escusado seria dizer que nunca tal aconteceu.
E quando eu lhe digo para não se preocupar com isso, logo me devolve que não está preocupada, apenas quer ter a certeza que não chegará atrasada à escola.

Certo certo é que o seu tralalá indica que o predomínio é a alegria e a despreocupação, o que não elimina a consciência do dever que ela gosta de cumprir sem falhas.



Pum!
Mais um tiro, desta vez, num barco de três canos.
Vitalino Canas, secretário de estado da presidência, é acusado num processo de fuga ao fisco por parte de uma empresa de que fez parte da direcção como vogal. Tratava-se de uma imobiliária que é dada como devedora de centenas de milhares de contos em impostos pelo que, uma vez que entrementes foi extinta, os sub-directores sãopessoalmente responsabilizados pela sua quota-parte no calote. Cento sessenta e tal mil contos é quanto de fala que cabe ao membro do actual governo.



E Fernando Gomes lá vai reaparecendo e preparando caminho para o regresso à Câmara do Porto, de onde só voltará para um poder máximo e absoluto.

Pelos ares que se respiram na sociedade portuguesa, não me espantaria que tal viesse a acontecer.



Enquanto em Vila Franca se reclama para que o Museu do neo-realismo aí fique e não seja alojado em Alhandra, na Figueira da Foz, o principal edil e populares manifestam-se pela construção de um campo de golfe em terrenos incluídos na rede natura.



Ah e uma observação que já podia ter registado há alguns dias.
É que há praticamente duas semanas que a Margarida, ao sair de casa, pela manhã, a caminho da escola, deixou de ter as mãozinhas frias.

E quando palro o carro para a deixar na escola, depois do almoço, já troca a minha companhia pela brincadeira com as suas amiguinhas.

É a integração materializada.



Faz sentido um museu do neo-realismo?
Sem dúvida alguma. Goste-se ou não e independentemente do que se ache quanto à sua qualidade e relevância do ponto de vista estético, como soe dizer-se, verdade é que, para o bem e para o mal, o neo-realismo é um marco incontornável no século vinte da cultura portuguesa, não só pelo facto do tão grande número dos seus intérpretes, também pelas décadas que durou, sobretudo pelas consequências que teve, tanto no plano de servir de referência para o contra-ponto de outras expressões como o surrealismo, como no patamar de a partir das suas propostas surgirem outras gerações literárias que, já fora de polémicas e aggiornamentos, continuaram uma linha de reflexão na literatura que continua a colocar a escrita no âmbito do empenhamento em causas de carácter social. Quem quer que venha a fazer a história da cultura portuguesa do último século do segundo milénio, pode muito bem tomar aquela corrente como o centro de um sistema de referência em que, pela consideração dos seus antecedentes, do período de apogeu, das ondas de choque que provocou e dos rastos que produziu, será possível abarcar a maioria da produção artística nacional desde o primeiro conflito mundial até aos dias coevos. É que aquele tratou-se de um movimento artístico e cultural com natureza holista, pois pretendia apresentar-se como proposta de atitude nas diversas artes, desde as pictóricas à música, sem deixar de lado a palavra grafada, tanto da poesia ao teatro como do ensaio ao romance. Mesmo no cinema, uma média metragem como “Douro Faina Fluvial” inseriu-se nos cânones daquelas opções estéticas.
Faz pois todo o sentido um museu do neo-realismo que, em parte, também será um museu da oposição intelectual ao Estado Novo em que, a ser bem elaborado como será desejável e de se esperar, se poderá compreender muito dos condicionalismos mentais das primeiras décadas do regime democrático em Portugal e da imprescindível cultura cívica em que este sempre, necessariamente, se alicerça.
Ora se considerarmos que fora do bloco comunista, onde assumiu os conteúdos mais ortodoxos do realismo socialista, aquela não deixou de ser uma manifestação confinada aos países da Europa do Sul como a Itália e este cantinho Ibérico –justamente onde a influência política dos comunistas foi mais forte e duradoura- ainda encontramos uma outra razão para estarmos satisfeitos pela musealização em causa que, naturalmente, permitirá ilustrar a forma que assumiu o discurso das vanguardas marxistas no seio da sociedade capitalista.
Em Alhandra, em Vila Franca de Xira ou até em Alhos Vedros –creiam-me que não seria nada do outro mundo, a história do movimento operário também passa por aqui- isso tanto faz. Importa que aquele se faça e especialmente que a partir do mesmo se investigue, é que aquela história, ela própria, ainda está, em grande parte, por investigar e por fazer.


Pessoalmente, devo reconhecer que apenas posso falar com um pouco de à vontade ao nível da literatura e, mesmo aí, ainda me vejo forçado a centrar-me no romance o que não tem mal nenhum, se por um lado considerarmos as limitações desta ocasião e, por outro lado, verificarmos que, enquanto em Itália a sétima arte teve forte responsabilidade no movimento, em Portugal, provavelmente por mais parco de recursos e menos interligado aos mercados internacionais, não será errado dizer-se que foi no domínio romanesco que surgiram os maiores contributos.


Se bem que os desideratos e motivações tenham sido basicamente as mesmas para o universo dos seus intérpretes, sobre o movimento artístico e cultural que se designou por neo-realismo, a primeira coisa que temos que entender é o facto da sua heterogeneidade quanto à forma e ainda o de nem todos os Autores que lhe deram corpo terem produzido trabalhos aí enquadráveis, assim como se produziram obras desse teor sem que os respectivos criadores se vissem como membros –salvo seja a expressão- da corrente em causa. Veja-se a variância entre a “Casa de Malta” e “O Trigo e o Joio” de Fernando Namora, com a primeira peça focada em determinados tipos sociais e a segunda percorrendo as vias de destaque à densidade psicológica da personagem principal, do mesmo modo que num escritor como Aquilino Ribeiro se lhe reconhece um livro daquele timbre, como é o exemplo de “Quando os Lobos Uivam”.

Mas à partida, a definição de neo-realismo também nos apresenta um problema. É o de sabermos conferirmos a natureza de um espectro de mancha larga, o mesmo é dizer que aquele deve assentar numa forma abrangente, como tal, capaz de se aplicar ao maior número de casos.
Assim, não nos podemos limitar à atitude mais radical que pretendia aplicar directamente a lógica do materialismo dialéctico ao pensamento e criação artística e que produziu extremos como o realismo socialista ou científico em que, no limite, se encarou a arte como uma exaltação do papel impulsionador das classes laboriosas no devir histórico, exemplarmente ilustrado por Nikolai Ostrovski (1), mas também por um escritor do quilate de Máximo Gorki, um dos seus mentores e que, inclusivamente, escreveu um dos seus livros mais emblemáticos (2) durante uma viagem pelos Estados Unidos para recolha de fundos para os bolcheviques (3). Entre nós, este agrupamento seria bem representado por um Alves Redol que reclama o primeiro romance neo-realista em Portugal (4), mas também pelo Soeiro Pereira Gomes da “Engrenagem” e mesmo dos “Esteiros” e até Álvaro Cunhal de “Até Amanhã Camaradas”. Mais do que evitar apresentar esta expressão como a que melhor estigmatizou o dito novo realismo, convém englobá-la no todo, vendo-a como uma das suas componentes, como, efectivamente, o foi.
Com isto ficamos com o visor em aberto para uma malha ampla ou seja, por consequência aumentamos o campo de limitação daquela ideia que podemos estabilizar na preocupação manifestada para com as mazelas sociais e os valores mais elevados e relevantes para a felicidade da humanidade. Uma vez que foram reconhecidos por diversos artistas, tais propósitos e motivações possibilitam-nos uma definição alargada do neo-realismo que, embora abarcando um vasto leque de homens das letras fora do bloco comunista onde assumiu os contornos mais ortodoxos, não deixou de ser uma manifestação mais confinada aos países da Europa do Sul, especialmente em Portugal e Itália, onde a influência política do marxismo-leninismo foi mais robusta e prolongada.
Contudo, seria empobrecedor se confinássemos os parâmetros daquele movimento à rigidez do radicalismo inerente ao auto-proclamado realismo socialista. É que não podemos esquecer que o contexto fora as crises do mundo capitalista e a miséria que geraram e, sendo certo que por causa da oposição ao Estado Novo, a intelectualidade próxima da mundivisão comunista teve larga influência no nosso país, figuras como Jonh Steinbeck (5) ou um Erskine Caldwell (6), na esteira de um Jonh dos Passos de “Manhatan Transfer” , foram não menos importantes para a preocupação de militância social e ética na literatura.


É claro que aqui temos perguntas a fazer, de imediato uma fundamental.
Deve haver literatura empenhada?

Prometo voltar a este assunto noutro dia.



Na aula de hoje os alunos treinaram o na, ne, ni, no, nu.



E a head line do dia são as eleições para os corpos gerentes do Sport Lisboa e Benfica.
Desde a abertura das urnas, o que aconteceu logo pela manhã, rádios e estações de televisão dão uma cobertura digna dos acontecimentos de excepção. Há reportagens regulares, entrevistas a diversas personalidades de algum modo ligadas ao clube e a outras, comentadores ou adeptos de outras agremiações, interrupções de emissões para os destacáveis dos cardápios e, ou não fosse o nosso jornalismo todo fruto das mesmas fontes, lá estavam as câmaras, os flashes e os gravadores –vejam lá se queriam que num país modernaço como o nosso alguém fosse para ali de bloco-notas e lápis- nos momentos em que os candidatos votaram.

Enfim, é um caso único no mundo civilizado.


Muitos dizem que é o retrato da grandeza das águias.
Pessoalmente, apontaria mais para a película da nossa mediocridade ou, se quisermos, da mediocridade reinante.
Mas não sou capaz de deixar de ali ver a perversidade de dedinhos manobradores.
Todo este destaque mais não é que o resultado de um certo lobbing para que o actual presidente acabe derrotado como eu suspeito que virá a acontecer. No afã de mostrarem serviço, há profissionais do audiovisual que já só falta pedirem aos sócios que votem no opositor. E o abraço que este, ainda ontem, recebeu de Eusébio…

Veremos se o Glorioso não acabará por vegetar na situação de um segundo Belenenses de Lisboa. É certo que ainda tem um grande número de adeptos o que, por si, constitui uma força considerável. E as novas gerações?


Daqui vaticino que voltaremos a ouvir falar do nome de João Vale e Azevedo.



Em África a guerra é endémica e só por auto-esgotamento ela se extinguirá; ou quando uma nova colonização repovoar e se apropriar dos espaços, desta vez feita de populações diversas e misturadas que hão-de sair, uma vez mais, das cidades sobrelotadas do hemisfério norte e ocidental.



Por hoje a Margarida começou a sua primeira semana de interrupção das actividades lectivas neste ano.
É o seu baptismo na magia da palavra férias.



A chuva faz-se ouvir sobre a quietude das ruas.
__________
(1) Ostrovski, Nicolai
ASSIM FOI TEMPERADO O AÇO
(2) Gorki, Máximo
A MÃE
(3) idem, pp. 14/15
LENINE
(4) Redol, Alves
GAIBÉUS
(5) Veja-se, por exemplo, “Ratos e Homens”, para fugirmos aos trabalhos mais conhecidos.
(6) Consideremos o título, ilustrativo, “Esta Terra Cruel”.

Alhos Vedros
00/10/27
Luís F. de A. Gomes
CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

Caldwell, Erskine- ESTA TERRA CRUEL
Introdução do Autor
Tradução de Mário Delgado
Edição “Livros do Brasil” Lisboa, Lisboa
Gomes, Soeiro Pereira- ENGRENAGEM
Edições Europa-América, Lisboa, 1973
- ESTEIROS
Edições Europa-América, Lisboa, 1974
Gorki, Máximo- LENINE
Tradução de Egipto Gonçalves
Editorial Inova, Porto
- A MÃE
Tradução de Egipto Gonçalves
Editorial Inova (2ª. Edição), Porto, 1974
Namora, Fernando- CASA DE MALTA
Prefácio do Autor
Livraria Bertrand (10ª. Edição), Lisboa, 1978
-O TRIGO E O JOIO
Prefácio de Jorge Amado
Livraria Bertrand (19ª. Edição), Lisboa, 1987
Ostrovski, Nicolai- ASSIM FOI TEMPERADO O AÇO
Prefácio de Roman Rolland
Nota Prévia do Editor
Edições “a opinião”, Porto, 1975
Passos, Jonh dos- MANHATAN TRANSFER, Vol. 1
Tradução de Clarisse Tavares
Edições Europa-América, Mem Martins, 1994
Redol, Alves- GAIBÉUS
Prefácio do Autor
Edições Europa-América (5ª. Edição), Mem Martins, 1975
Ribeiro, Aquilino- QUANDO OSLOBOS UIVAM
Prefácio do Autor
Livraria Bertrand, Lisboa, 1979
Steinbeck, Jonh- RATOS E HOMENS
Tradução de Eriço Veríssimo
Edições “Livros do Brasil” Lisboa, Lisboa
Tiago, Manuel- ATÉ AMANHÃ CAMARADAS
Nota de abertura da responsabilidade da editora
Edições Avante (4ª. Edição), Lisboa, 1980

2006-12-06

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

E já vamos no número quatro.



Por cá continua o fogo sobre Pina Moura e Jorge Coelho desdobra-se em respostas à oposição.


Mas a grande notícia são as eleições do Benfica que a comunicação social parece apostada em transformar como um grande caso nacional.

Ontem, na TSF, o noticiário da meia-noite abriu com o tema, especificamente o debate que os candidatos travaram no primeiro canal da televisão do estado.



Por sua vez Guterres diz que não está interessado em eleições antecipadas.



Mas hoje eu devo estar virado para o futebol. É que me estiquei no sofá para descansar e digeri o jantar com o Boavista Roma, jogo a contar para a segunda eliminatória da taça uefa e que os italianos venceram por um a zero.
O espectáculo foi de fraco nível, cheio de pontapés para o ar e passes errados, sem vermos a bola trocada em velocidade e ao primeiro toque, com os armadores de jogo e os alas a conseguirem colocar o esférico nos espaços vazios que se abrem nas costas dos defesas, com os avançados a anteciparem-se e a rematarem à baliza. E numa inesperada vantagem em disputa de bola entre dois jogadores, um atacante romano rematou de imediato e, com certa felicidade, traindo o guardião boavisteiro, levou a redondinha a girar alapada às redes.


Mas é indigna a forma como certos jornalistas portugueses fazem os seus trabalhos de reportagem.
Falaram de penalties contra o Roma que não passaram de teatro português e chegaram ao cúmulo de desculparem um atleta boavisteiro que foi expulso por impulsionar o tronco e a cabeça sobre um adversário com quem provocou um choque com o rosto. Obviamente, cartão vermelho directo. Pois os bons dos nossos cronicadores de cortes, lá conseguiram um grande plano televisivo em que, depois de uma observação atenta, se percebe que o defesa brasileiro ao serviço do clube italiano –um bom jogador e um central cheio de garra, igualmente capaz de fazer passes à distância- cuspiu na cara do português. Na cabecinha daqueles patetas, o árbitro também deveria ter expulso este futebolista. Curiosamente, ninguém referiu que o juiz de campo aplicou os mesmos critérios às duas equipas, mostrando cartões amarelos sempre que as entradas assim o reclamaram e tirando foras de jogo milimétricos a qualquer das linhas avançadas.

Como se pode ser tão sabujo é que me espante.
É esta estirpe que pulula no futebol português controlado por interesses obscuros e gente tenebrosa.
Querem ver um excelente exemplo?
Vejamos um excerto de uma notícia do jornal “Público”.
“Da parte do F. C. Porto, manteve-se o “black out” aos jornalistas portugueses, todos apanhados por tabela na represália ao jornal que se hospedou antecipadamente (embora, garantam, sem o saber…) na unidade hoteleira onde está a comitiva oficial. Para além do exagero da medida, quem acabou por ser beneficiado foi o jornal pretensamente prevaricador. Isto porque continuou a não ter acesso ao que já não tinha antes, ficando assim em igualdade com a concorrência.” (1)

O sublinhado é meu e só me ocorre que foram pessoas assim que interpretaram a mais abjecta subserviência perante o salazarismo.



Hoje os alunos treinaram a identificação, leitura e grafação das sílabas componentes das palavras já aprendidas.
Além disso, fizeram uma ficha sobre o número quatro.

O TPC, incidiu apenas sobre a primeira parte dos exercícios.


E a Margarida já consegue escrever aquelas palavras sem o recurso à cópia.

Leva a língua ao canto direito da boca quando tem que desenhar a letra e.
__________
(1)Prata, Bruno, p.32
TUDO A FAVOR DO FC PORTO


Alhos Vedros
00/10/26
Luís F. de A. Gomes
Cita,ão Bibliográfica
Prata, Bruno- TUDO A FAVOR DO FC PORTO
In "Público", nº. 3875, de 00/10/26

2006-12-05

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

O PADRINHO
Basicamente a Margarida é boa pessoa.
Ainda que criança no pleno sentido do termo, é capaz de fazer uso do intelecto e manusear a razão para distinguir o certo do errado, tomando por adquirido que todos merecem respeito, assistindo-lhes o direito –salvo seja a expressão- de levar a vida que acham melhor para si. Ora entre uma via e a outra ela sabe escolher a primeira e, tanto quanto deixa transparecer, na maioria das vezes compreendendo não só as circunstâncias e factores de uma desta opção, com também o fundamento moral da preferência. Em conformidade, naturalmente age de forma cordial e amistosa para com os outros e, claro está, não é só saber que não deve fazer mal a ninguém, é o agir, com toda a normalidade, sem que tal seja sequer uma possibilidade.
Em certa medida é uma menina egoísta, quer dizer, é muito ciosa quanto aos seus gostos e posses e não é raro vê-la atribuir-se de prioridades face a outrem. Chega a chorar em casos de impotência irremediável e, geralmente, as cedências só acontecessem depois de muitas insistências ou quando se tratam de conquistas das outras partes. No entanto, não me parece nada de alarmante. Provavelmente até será vulgar, especialmente nestas idades. Seja como for, aceita partilhar pertences de que gosta ao ponto de se desfazer de brinquedos para ofertar, o que faz tanto espontaneamente com quem possa cair-lhe no gosto, como por sugestão da tutória.
Aliás, sublinhe-se que muitas das vezes em que ela manifesta as maiores doses de arrebatamento, fá-lo mais pelo seu feitio de quem tudo trata pelas pontas dos dedinhos, amiúde se revelando incapaz de controlar os receios que algo se perca ou se estrague. É preciso que ganhe confiança em alguém para que tais reticências se desvaneçam.
De resto é uma personalidade alegre e bem disposta, com sentido de humor, muito concentrada no desenrolar do seu sentido quotidiano ainda que seja capaz de desatar a correr à desgarrada e no enlaço do vento que leva os cabelos no seu afago.
Ainda que não tomando nem dando confianças no primeiro encontro, trava conhecimentos e faz amigos com facilidade e o seu primeiro código de comunicação é a brincadeira.
Escusado será dizer que não mente e –aqui talvez por causa da idade- ainda não aprendeu a ocultar a verdade.
Por tudo isto eu digo que esta minha querida filha com que Deus me abençoou é, basicamente, boa pessoa.


Hoje contou que andou a trocar cartas da electricidade que encontrou do lado de fora das caixas do correio. Estão mesmo a ver, os lábios arreganhados e a testa franzida pelo compasso de quem narra uma brincadeira.
Não foi por me ter rido que a minha autoridade diminuiu coisa que, diga-se com verdade, não aconteceu.
Mal lhe fizemos compreender as consequências possíveis da gracinha, sem deixar de gozar a piada, foi a primeira a dizer que não deveria repetir a façanha.



E digam lá que não é serena a vida de quem, depois de um dia de trabalho, pode dispor de duas horas de leitura, enquanto espera que as filhas tenham aula de ginástica.

Com o prémio suplementar de nem ter que tratar das mudanças de roupa que os piolhinhos já dão conta do recado.


É por estas e por outras que eu sou um homem feliz.



O sul de Espanha assolado por tempestades devastadoras e eu ainda em manguinha curta.



Questionado sobre as diferenças entre as suas propostas e as do candidato concorrente, George W. Bush foi peremptório:
“-There is a big diference. He trust in government. I Teust in you.”
Mas será mesmo assim?


Avaliando pelos resultados da economia, Bill Clinton, apesar de todos os escândalos e pressões que se viu forçado a enfrentar, até foi um bom Presidente.
Nunca os americanos estiveram tão bem nem a sua liderança mundial foi tão solidamente incontestada.

Ao nível das novas tecnologias e da produção científica, o lugar de topo da sociedade norte-americana é bem testemunhado pelo número de prémios Nobel que os cientistas daquele país arrecadaram.



Curiosamente, o homem quer selar a sua presidência com um feito internacional, a ver se não fica nos anais pelos casos de saia mas por algo de politicamente palpável e consistente.
Depois de concluir que no Médio Oriente não há nada a fazer, só assim se explica o seu empenho na reaproximação das duas Coreias –recorde-se que o Nobel da paz foi atribuído, precisamente, ao Presidente da Coreia do Sul- e a visita que a Secretária de Estado, Madeleine Albreight, fez, ontem, a Piongiang, onde assistiu à comemoração do aniversário do paraíso na terra, uma festa imponente, com milhares e milhares de figurantes, num país que há dois anos alimenta as suas populações pelo recurso ao auxílio internacional que, apesar de tudo, não consegue evitar alguns milhões de mortos pelo efeito da fome.



A Professora continuou a ler a história da menina, a Mena, e depois fizeram exercícios com a palavra menino. Isto de manhã, pois à tarde brincaram com plasticina. A Margarida fez um desenho.

O TPC do dia constou de repetições dos números um, dois e três e respectivas palavras e na escrita, por cinco vezes, da palavra menino. E o nome, é claro.


Talvez seja impressão minha, mas parece-me que a mãozinha já vai mais ligeira e habilidosa.


É um encanto ver aquele coração a encher uma folha com palavras.



Mais um tiro num barco de três canos.
Mário Cristina de Sousa é acusado de ter comprado acções da recente emissão da EDP.O homem é só o Ministro da Economia.

Até que Guterres caia ou beije o anel de gente sinistra.

Alhos Vedros
00/10/25
Luís F. de A. Gomes

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

O de trabalho pode ser esgotante, mas quando o automóvel descreve a curva para entrar na vila e a água da caldeira espelha as nuvens e o espelha as nuvens e o moinho, havendo ou não asas gritando, é tudo quanto basta para que a jornada recomece no encanto que tem o infinito quando nos dirigimos para ele.


E hoje, não sei porquê, após a bica do almoço, tinha conseguido presentear-me com uma boa vintena de minutos com a leitura de Cela.



Ma me mi mo um
É a menina
é o menino
É a mena
É a Nini
É o mémé

Foram os exercícios da aula desta manhã e do trabalho de casa em que a Margarida ilustrou cada uma daquelas frases. À tarde houve sessão de leitura.


O nome já ela sabe escrever.



O mundo anda doente
e não há remédio para lhe dar,
há fome para matar a gente
a quem falta futuro para se salvar.

Alhos Vedros
00/10/24
Luís F. de A. Gomes

2006-12-03

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

JÁ SEI LER
Só não entende quem não quiser ou quem não andar com os olhos atentos.
Está aberta a guerra ao primeiro-ministro e o seu governo e até que ele caia, assistiremos a todo tipo de golpes que hão-de ter como pano de fundo, uma campanha na imprensa que implacavelmente apresentará uma enxurrada de casos comprometedores para o próprio e aqueles que lhe são chegados no exercício e manutenção do e no poder.
António Guterres soube manter os cargos que ocupa através da política do diálogo que, na prática e no que é decisivo, consistiu no equilíbrio extraordinário de não afrontar nenhum dos poderosos lobbies que condicionam a realidade social e politica do país e, em várias ocasiões, já se mostraram capazes de impor vontades e a salvaguarda de interesses particulares. Será que desconhecia que ao demitir Fernando Gomes tão só estaria a enfrentar o poderoso lobbie do Porto, transversal às mais diversas famílias políticas e que naquele parecia ter encontrado o seu homem na demanda de mais e mais benesses e privilégios dos dinheiros e da coisa pública?
Consciente ou não, o que tenho por certo é que a fera foi estocada, justamente enquanto comia, e não é por acaso que já foram feitas concessões de prometidos acréscimos dos gastos públicos na área do grande Porto e, em outro nível, um servidor como Jorge Coelho se tenha apressado a apresentar solidariedades pessoais ao ex-Presidente da Câmara da Invicta.
Veremos como se sairá um homem que nunca conseguiu esconder os seus apetites de César, fazendo a ponte importantíssima entre o beneplácito da hierarquia católica e os desejos secretos de muitos grupos privados.
Palpita-me que chegaremos a uma solução de compromisso em que a cadeira será sustentada pelo substancial aumentos dos benefícios concedidos aos vários intérpretes –personalidades e entidades- da reunião de conveniências que dão corpo ao referido lobbie nortenho.
O tempo o dirá.

Se quisermos ter uma antevisão do que será a saraivada que o nosso primeiro enfrentará nos próximos meses, basta que olhemos o universo do futebol nacional. É ver os franco-atiradores que aí pululam e só resta observar as canalhices de que são capazes. Vale tudo, até vilipendiar a vida íntima das pessoas.

Não me espantaria que ao nível político fosse muito pior.

Hoje, por exemplo, saiu a lume a história das acções de Pina Moura, o ministro das finanças, e das transacções de títulos correspondentes a empresas sob sua tutela. Obviamente, o governante desmente, mas com rabo-de-palha, é que a carteira pertence à esposa com quem está casado, vejam só, em regime de separação de bens.
Este já está feito.


Quando os principais guardas pretorianos tombarem ou desertarem, haverá certamente um Brutus para cravar o punhal.



Enquanto isto acontece, no outro lado da Terra, o general Wiranto gravou um disco com canções românticas.
O leilão do disco de ouro que o número de vendas lhe proporcionou rendeu uma quantia à volta de dez milhões de escudos –isto com a devida tradução cambial- que o guerreiro cantor ofereceu aos refugiados timorenses que, por este ou aquele motivo, se escusam a regressar ao território do leste.

Sem comentários.



E enquanto a Margarida e a Matilde fizeram ginástica, eu lá me perdi, uma vez mais, na Galiza esventrada de mar e névoa.



E a Margarida já consegue ler.
Depois do jantar, como exercício do trabalho para casa do dia, leu as frases, “é a menina”, “a mena”, “é a mena”, as quais fazem parte da primeira folha do livro dinâmico que iniciaram hoje, no turno da tarde. De manhã, tinham realizado uma ficha sobre a matéria do que veio a enformar a abertura do livro referido.



Mas a alegria foi imensa ao ver o meu piolhinho, indicador direito esticado sobre a folha, a decifrar em voz alta a magia da linguagem escrita.
Louvado seja Deus.

Alhos Vedros
00/10/23
Luís F. de A. Gomes

COMUNIDADE DE LEITORES

ESCOLA ABERTA Agostinho da Silva
Companheiros de Escola Aberta

Após uma pausa, a Comunidade de Leitores vai voltar a reunir.

Desta vez a obra proposta é "A SOMBRA DO VENTO" de Carlos Ruiz Zafón.

Esta é "Uma história inesquecível sobre os segredos do coração e o feitiço dos livros"

Dia 16 de Dezembro (Sábado), pelas 17,30 horas na Biblioteca de Alhos Vedros.

Ficamos à V. espera!

Nota: Quem ainda não tem o livro, poderá adquiri-lo na CACAV, com desconto de 25%, ou seja, pelo valor de 17 €.
Joaquim Raminhos

2006-12-02

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

O VEREADOR DA CULTURA É UM BRINCALHÃO
Ai que belos são os dias de ócio.



Contudo, há novidades.

Ontem, de manhã, a Margarida teve a sua primeira aula de catequese que, de acordo com a sua opinião, acabou por superar as suas expectativas.
Foi uma sessão de apresentação, ligeira, como convém, e que teve espaço para um passeio no parque e tudo.
Reencontrei-a com um sorriso e agrado e, no regresso à família, deu-me conta da necessária presença na missa matinal do dia seguinte, hoje, especialmente, dedicada aos iniciandos.


E assim foi e esta manhã, a mãe e a filha mais velha assistiram à missa das onze.



Tanto num dia como no outro o pai aproveitou para espreitar os jornais da praxe, no Domingo com a companhia da Matilde que se entreteve com as suas etapas da volta ao largo em triciclo.


Soba as dedadas da aragem fria, é certo, mas no embalo das cantorias de passarada que voltou a colonizar os quintais e o jardim da zona velha da Vila.



O diferendo irraelo-árabe dá mostras de querer evoluir para o beco dos argumentos da pedra e do chumbo.

Entre os palestinianos não há classe média significativa que seja esclarecida e livre e, infelizmente, do lado oposto o radicalismo da ortodoxia ainda tem uma considerável influência eleitoral. Não estranha que o caldeirão aqueça, quando o desejável seria a sua desconstrução.

Eu choro por isso. A Palestina é a terra prometida onde Deus selou a Aliança com Abraão e, por ele, com toda a humanidade.
Mas os homens ainda são tão infantis que dificilmente se poderá almejar algo mais que uma vizinhança cordial entre primos de um mesmo Livro.

Jerusalém, que é um dos principais pomos da discórdia, deveria, por isso, ser declarada cidade universal, onde se ensaiasse a convivência e a tolerância entre gentes de qualquer parte e entre todos os monoteísmos que tanto se têm digladiado.



Esta tarde, como a Matilde fez a sesta em casa dos meus pais, onde almoçamos, eu e a Luísa fomos ao cinema.
“Verdade Escondida”, de Robert Zemeckis, com Harrison Ford e Michel Pfeifer. Um filme muito agradável de seguir, ainda que a história tenha um ou outro ponto mal concebido –um deles fundamental, como a notícia escondida atrás de uma fotografia que espoletou a descoberta principal de todo o enredo.
Mas foram duas horas bem passadas com uma película que é um misto de aventura policial e um caso de domínio do paranormal, de que resulta um trilher em que o suspense do desenlace está muito bem escondido nos meandros em que vai saltitando a referida combinação.

Sou da opinião que se trata da influência dos “Ficheiros Secretos” na ficção cinematográfica da actualidade.



Mas antes tive ensejo de escrever mais uma crónica para o “Notícias da Moita”.

Então não é que os marotos do pelouro cultural da Câmara da Moita não voltaram a anunciar, como se da primeira vez se tratasse, a musealização do moinho de maré de Alhos Vedros, exactamente como acontecera há dez anos sem que resultado algum tivesse aparecido?

Pois da minha parte não ficarão sem resposta.



E como se aproxima a discussão do orçamento, o primeiro-ministro chama garotada às oposições que lhe devolvem o epíteto da irresponsabilidade.



Em Titã, um dos satélites de Saturno, há uma dinâmica metrológica em que se formam nuvens de metano e que propicia os mares de metano líquido em que se formam à superfície.



Eu, cá na Terra, vou deambular pela Galiza, pela pena do Cela.

Alhos Vedros
00/10/22
Luís F. de A. Gomes

2006-12-01

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Somos parasitas de uma dádiva cósmica
que teimamos em ver e entender
com os nossos olhos e cérebros de suicidas.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Lar doce lar, como é bom voltar para ti para um fim-de-semana que se adivinha feito de eternidades.



E depois digam que eu não tenho motivos para me deixar envolver pela felicidade.

A minha casa também é um reino da miudagem, dada a vulgaridade com que as minhas filhas trazem amiguinhos até os seus domínios. A Beatriz, a unha com carne da Margarida e herdeira de um velho amigo do pai, essa é presença habitual que só necessita de premir o botão da campainha ou não tivesse já um garfo cativo à nossa mesa. Mas há mais e eu não estranho as vozes gaiatas, os risos e as cantorias, tal como acontece neste preciso momento em que estou a escrever estas linhas.
Seja como for, basicamente não me incomodam e maioritariamente consigo laborar no que tomo por obrigações pessoais.

E lá está, a ganhar surgem os instantes de alma polinizada. Como o que ocorreu há pouco.


A Beatriz entrou esclarecendo que tinha uma coisa para dizer mas que era segredo.
Minutos depois, estava eu de prazeres com os azuis e os algodões do ocaso, chegou a Matilde, olho grande e boca rasgada, mão encobrindo os lábios e a voz sussurrada e vai de evitar demoras, começou a contar-me qualquer coisa relacionada com a bicicleta da Mariana. Face à repentina chegada da repórter, em acto contínuo, a minha gatinha mais nova mudou de assunto e concluiu a narrativa de uma ficcionada queda de patins.



Cá estou eu novamente, agora que a quietude regressou no sono infantil.



A Luísa é que foi objecto de mais um episódio do surrealismo nacional.
A minha esposa é chefe de divisão do serviço de pessoal do Hospital de Santa Marta, em Lisboa e hoje recebeu, por carta, um convite para dar formação, imagine-se, sobre as carreiras específicas da função pública, simultaneamente acompanhado pelo pedido para que, num prazo de dois dias, apresentasse um plano para o hipotético curso em que constassem os objectivos, duração e planificação das actividades.
Acontece é que o pior nem está na bizarria de um curso que, por natureza, forçosamente seria composto por temáticas heterogéneas e destinado, em conformidade, a plateias igualmente diversas, isto além da estranha concepção de um trabalho do género no espaço de quarenta e oito horas. Pelo menos as pessoas dormem, não é verdade?
Pois bem, o pior é que perante o dinheiro do terceiro quadro comunitário que haverá para gastar, alguém responsável se lembrou do interesse daquilo e achou que a Drª. Luísa poderia despachar o assunto.

Airosa e delicadamente, aconteceu a recusa com o pretexto da falta de apetência para actividades do género.


É este o país em que vivemos, o mesmo que revela os mais baixos indicadores de qualidade de vida da União e onde se irão enterrar milhões e milhões de contos, em benefício imediato de clubes de futebol, actualmente em formato de sociedades empresariais, para a realização do Euro 2004.

Então não é que no dia em que o Presidente da República anunciou a sua candidatura a um novo mandato, a TVI não abriu o seu noticiário principal com uma novidade do seu concurso, o Big Brother?



Com as compras do super-mercado, a Luísa trouxe uns chocolates relativos à quadra natalícia.
Só então dei conta que hoje assinai os contratos da campanha publicitária do natal que se iniciará no próximo mês.



Enviei a minha próxima crónica para o “Notícias da Moita”.

Só espero que quem de direito a leia e se encha de brios para que o passeio da escola primária que a Margarida frequenta seja convenientemente arranjado. As crianças passam o portão sobre pedras soltas.



O dia escolar foi inteiramente preenchido com a recapitulação da aprendizagem feita até ao momento e, à tarde, houve espaço para falarem de um concurso para o qual os alunos terão que elaborar uma frase e fazer um desenho alusivo. O trabalho para casa é que não tem lá muita piada, mas deve ser feito.



O vírus Ébola voltou a matar em África, desta vez no Uganda.



Kostunica mostra-se capaz de aguentar a presidência de uma federação destroçada como é a Jugoslávia. Se vai conseguir lançar pilares e ferros de uma sociedade aberta e um regime democrático, isso não sei, ninguém sabe. Contudo, parece estar a ser capaz de neutralizar a oposição afecta a Milosevic que ainda detém a maioria parlamentar, mas a quem impôs a formação de um novo governo que prepare eleições legislativas para o próximo ano. Segundo diz, tem planos para que o nacionalismo montenegrino perca motivos para abandonar a república federal.

Pessoalmente faço votos para que a paz, a estabilidade e a liberdade caiam sobre os Balcãs. Seguir-se-ia o desenvolvimento.

As democracias ocidentais é que estão arrasadoramente ameaçadas de morte pelo poder dos lobbies poderosos que impõem as suas vontades na defesa de interesses próprios. Tenho a sensação, a inquietante sensação de estarmos nas vésperas de uma qualquer nova sociedade de vassalagem.
Caso contrário já teria havido uma qualquer espécie de plano Marshal capaz de ter impedido que o ex-bloco de leste caísse, quase por inteiro, sob o manto de máfias mais ou menos poderosas e organizadas.


Voltaremos a morrer nas barricadas da liberdade.

Alhos Vedros
00/10/20
Luís F. de A. Gomes