2007-08-26


... às das águas que fazem os estuários.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

E lá se vai o Tratado de Nice. Os irlandeses votaram contra no referendo de ontem o que é suficiente para o chumbar, uma vez que ele só poderia ser validado por todos os países membros.
Por mim, não vejo que haja, por isso, grande problema. Antes pelo contrário, diria que é mais uma oportunidade para que se possa pensar uma União com sentido democrático, isto é, fundamentada na livre vontade dos povos e não no vanguardismo de decisores que assimilam a política a uma carreira técnica e profissional.



N regresso a casa, ao fim do dia, a Matilde estava febril. Sinal de alerta, ao jantar, a comida ficou no prato. Por precaução, a mãe pôs-lhe um supositório ben-huron. Segundo o pediatra é algo implícito ao crescimento. Em alternativa, esperemos que seja provocada por aquilo a que costumamos chamar de uma ponta de Sol.

Amanhã veremos.


Por sua vez a Margarida pediu para ver o filme “Titanic” que está a passar, neste momento, na televisão.

Só gostaria de saber onde ela foi buscar tanta informação a respeito do barco e da história, propriamente dita, a qual está a acompanhar, ao ponto de compreender que está a ser contada por uma das personagens, conseguindo ler muitas das legendas.
Seja como for, os dados que revela saber não devem ser estranhos a uma revista da especialidade que vi à hora do almoço em casa dos meus pais.


Estou a observar-lhe o preâmbulo de uma fase de vida.



A arqueologia submarina voltou a realizar uma grande descoberta.
No delta do Nilo, depois de amos de pesquisas e buscas foram finalmente identificadas as ruínas de uma cidade apenas conhecida através de referências em textos diversos.
Tudo indica que se tratam dos vestígios da cidade de Rotteneth, engolida pelas águas por via de uma catástrofe ocorrida séculos antes de Cristo.

Do ponto de vista estritamente científico deverá revelar-se como uma descoberta sensacional, pois a urbe permanece inviolada, tal como a hecatombe a apanhou.



Nesta manhã continuaram os exercícios em torno da nova palavra e à tarde hou ficha de Matemática.
Mais uma vez, lá veio o fatídico trabalho para casa.



Depois de Saramago é bom regressar a algo que valha a pena.
Llosa, novamente, desta vez com um conjunto de ensaios epistolares em que atenta nas artes e técnicas com que se escrevem os romances. (1)
Muito instrutivo, sem dúvida, mas não creio que possa aproveitar a escritores em início de aventura. A esses, tal como o Autor termina a última carta, não há alternativa a escrever até que os dedos se calejem.

Pessoalmente, fico satisfeito por verificar que já fiz uso de todos os truques de que nos fala o Mestre.

__________
(1) Vargas Llosa, Mário Vargas
CARTAS A UM JOVEM ROMANCISTA

Alhos Vedros
01/06/08
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Vargas Llosa, Mário- CARTAS A UM JOVEM ROMANCISTA
Tradução de Maria do Carmo Abreu
Publicações D. Quixote (1ª. Edição), Lisboa, 1997

... desde as zonas perto das nascentes...

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A República da Irlanda foi hoje a votos para referendar, além de uma terceira opção, a pena de morte e o Tratado de Nice. Sobre este último item, é o único país da União que o fez.

Quanto à primeira questão oxalá os irlandeses optem pela sua abolição.
A infinita dignidade com que os humanos nascem pela graça de Deus, seria o bastante para não aceitarmos que a justiça dos homens interfira a um nível tão irremediável numa obra que advém dos Seus mistérios.
Mas também por uma questão que se prende com a nossa condição de simples seres sujeitos ao erro que está implícito à nossa liberdade de escolhermos entre um outro caminho em que sempre está em aberto a possibilidade de errarmos. Por natureza, em tudo o que pensamos, dizemos ou fazemos estamos sujeitos ao erro.
Pois bem, no caso da execução da pena capital, abdicamos por completo da hipótese de emendarmos uma decisão que poderia vir a revelar-se falha de acerto. Quer dizer, sujeitamo-nos a condenar inocentes a quem, obviamente, jamais poderemos restituir a maravilha de estar vivo.
E para quem tenha por adquirido que somos infinitamente dignos, tal é, de todo, inconcebível.
Por muitas certezas que tenhamos quanto à culpa dos criminosos, a simples possibilidade de matarmos um inocente deveria ser o bastante para recusarmos a sentença em causa.


Também a minha resposta ao segundo problema seria negativa.
Não me parece que o federalismo seja uma boa solução para a União. Continuo a pensar que deveríamos ter o bom senso dos pequenos passos, o mesmo é dizer dar tempo ao tempo.
A integração económica, com o que ela implica de liberdade de circulação das mercadorias e das pessoas, essa sim seria a melhor via para que os povos se reconhecessem e misturassem. Sem isso jamais haverá uma pátria europeia. Mas igualmente aquela acarretaria, à medida do seu aprofundamento, a necessidade de que aparecessem outras instituições que são a base dos estados, sejam eles federado sou não e sobretudo se o forem. Estou a referir-me a defesa comum e a políticas externas comuns, o que estamos muito longe de vislumbrarmos no horizonte das possibilidades da actual União.
Desta forma, como têm sido feitas as coisas, ao arrepio dos eleitores e por vontade de gente que, à semelhança de Monsieur Dellors, parece ter pelas eleições o gosto que os gatos manifestam pela água, assim é que me parece que poderemos um dia vir a ter um estado europeu mas não, provavelmente, uma democracia nesse espaço.

Nesse caso, permaneceremos sempre no limiar de uma guerra e nós, os simples que amam a liberdade, não queremos isso, pois não?
Nem mesmo de barriga cheia.


Esperemos que os irlandeses nos dêem um bom exemplo.



E do outro lado do mar, os trabalhistas de Tony Blair voltarão a dispor de uma maioria confortável no Parlamento.
Será a continuidade das políticas sorridentes de uma terceira via que nada trouxe de novo, but a room fool of words.



Hoje os alunos voltaram a fazer exercícios em torno da nova palavra aprendida.
No turno da tarde debruçaram-se sobre matemática, a respeito do que versou o trabalho para casa.



Óscar Nimeyer, o arquitecto que inventou Brasília num planalto semi-árido, diz que a arquitectura é, para ele, um passatempo já que é pouco importante, não transforma nem serve para melhorar coisa nenhuma. O que importa são os homens, a amizade, a solidariedade para com os mais pobres e os mais fracos. É isso o que conta para quem acha que a modéstia é uma dos atributos mais importantes do carácter de um ser. Com efeito, vê o seu papel na arquitectura brasileira como o resultado de uma oportunidade.

Assim falam os sábios.



Ai que mimos tive dos meus anjinhos, depois de duas noites consecutivas em que me vi impossibilitado de lhes dar o beijo das boas noites.

É tão leve a felicidade.

Alhos Vedros
01/06/07
Luís F. de A. Gomes

2007-08-25


Aqui pode ver diferentes espécies que habitam os rios...

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Hoje os alunos aprenderam a palavra peixe, sobre a qual se realizaram exercícios e uma ficha.
À tarde, trabalharam no livro do “Estudo do Meio”.
Como é habitual, houve trabalho para casa.



E eu, continuando a saga de trabalhar até à meia-noite, mais não tenho vontade de dizer.


Como irá o mundo nestes dias?

Alhos Vedros
01/06/06
Luís F. de A. Gomes

Uma visita cheia de interesse.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

DEPOIS DA MEIA-NOITE

Fico sem saber o que dizer sobre o “Evangelho Segundo Jesus Cristo”, de Saramago, livro que acabei de ler na noite de ontem.
À partida deixa a sensação de que se trata de uma obra oportunista. Posterior aos “Versículos Satânicos” de Salman Rushdie e, sobretudo, ao estrondo que provocou –recordemo-nos que, por causa dele, o Autor foi condenado à morte pelo regime dos Ayatollas iraniano- tenho para mim que o português só escreveu aquele romance por pensar que o mesmo lhe poderia trazer projecção semelhante. Claro que não falo do famigerado veredicto, mas pelo estilo provocatório de assimilar Deus ao Diabo, aquilo que o nosso Nobel pretenderia teria sido a polémica rasteira e barata que neste mundo mediatizado normalmente confere a necessária projecção aos objectos independentemente do valor que, por si, possam eventualmente possuir.
Depois, se formos frios, não será muito difícil de admitir que por aquelas páginas passa uma filosofia de cordel em que, apesar da pretensão da aparência de sabedoria, nunca se consegue qualquer profundidade reflexiva que ultrapasse o discurso vulgar que o reduzido conhecimento tem sobre as coisas. Até o aspecto formal da narrativa nada tem de novo, quando nos damos conta que um Camilo José Cela o usa com muito maior mestria e bem mais a propósito. Quanto às incongruências nos tempos verbais que aí se encontram, apenas se pode dizer delas estarem em perfeita harmonia com o resultado final.
E o que se pretende transmitir com esta versão pessoalíssima da vida de Jesus da Nazaré? Que ele foi um homem como os outros? O enganoso engodo de uma concepção religiosa do mundo? Que Deus ou os deuses sempre impuseram aos homens nada mais que o sofrimento? Que só existem pelo reconhecimento que os homens lhe conferem? Ou o pressuposto –idiota que outra coisa poderia ser?- que os Evangelhos são apenas uma versão da vida de Cristo e que outras são igualmente possíveis?

Enfim, nada mais que a vulgata que normalmente constitui o pretenso pensamento materialista.


Mas lá que o escritor ganhou o Prémio Nobel da Literatura, isso ninguém o pode negar. Acontece que Winston Churchill também o fez.



Hoje gostei de um gesto da Matilde.
A Júlia deu-me uma série de cromos para ela que eu lhe entreguei no reencontro.
E não é que a miúda, depois de os receber da minha mão, quis ir agradecer pessoalmente a oferta?

Escusado seria dizer que o pai inchou de satisfação.



A Margarida teve folga.
Faleceu um tio da Professora que, por isso, faltou.



E por hoje termino.
Estive no escritório a trabalhar até pouco antes da meia-noite e é agora uma da madrugada. Quero ver se ainda faço umas boas seis horas de sono.

Dia longo em que nem tempo tive para olhar as gordas dos jornais.

Só agora me posso enlevar na ressaca das árvores.

Alhos Vedros
01/06/05
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Saramago, José- O EVANGELHO SEGUNDO JESUS CRISTO
Associação Portuguesa de Escritores, Lisboa, 2000

2007-08-22


Fluviário de Mora.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Um crepúsculo doce, tão suave e doce
com a Lua ganhando altura
no lado do céu oposto onde o rosa se esvaía
pelo horizonte dos meus olhos

e o encanto das andorinhas
acompanhando a brisa da lentidão
que reabastece os corpos depois do cansaço.



Vem aí mais uma subida dos preços do petróleo?
O Iraque decidiu suspender a venda consentida pelo programa petróleo por comida.

A frágil economia portuguesa sofrerá mais um abanão nos cenários traçados pelo Governo.
Estamos em pleno declive com abismo ao fundo.



Hoje os alunos fizeram uma ficha temática e prosseguiram os exercícios com as palavras em que o denominador comum é a letra zê.
Sobre isto versou o trabalho para casa que consistiu numa cópia e na elaboração de frases.



No Peru, a segunda volta das presidenciais ditou a vitória de El Cholo, de seu nome Alejandro Toledo por mais ou menos cinquenta e cinco por cento dos votos. Entre os Vargas Llosa, filho e pai, veremos agora quem tinha razão. Se o segundo que viu no candidato a melhor possibilidade para a democracia e o desenvolvimento no país, se o primeiro para quem, afinal, o economista de origem humilde tem vícios privados que levantam dúvidas quanto à sua capacidade para enfrentar uma sociedade doente de corrupção e mentira, depois de uma cleptocracia como acabaram por ser os dez anos do consulado de Fujimori. A ver vamos, mas oxalá que no fim sejam os peruanos a ganhar.

No discurso da vitória, o futuro Presidente apelou para a união e o trabalho e definiu a reconstrução económica como o principal desafio dos tempos mais próximos.
Neste sentido, só posso desejar que Alan Garcia, o candidato derrotado, quando afirmou que apoiará o novo Governo nos seus propósitos de recuperar o país, esteja a ser sincero e não a oferecer uma qualquer espécie de presente envenenado.

Pela sua dimensão e enquadramento geográfico, o Peru poderá ser um bom exemplo e motor para as misérias que perfazem o mapa da América Latina.

E eu não acredito no destaque que o jornalismo lusitano deu a palavras de Perez de Cuellar, o Ministro dos Estrangeiros do Governo de transição, para quem a prioridade do novo Executivo será a extradição do ex-presidente, Alberto Fujimori.
É claro que os crimes do anterior regime devem ser julgados e os seus responsáveis punidos. Mas isso não é um desiderato governamental mas sim um acto necessário da justiça.

Fundamental é que a democracia se robusteça, a economia ganhe alento e o povo melhore a sua qualidade de vida.



E agora Miles Davis
que é assim

para que tenhamos confiança
na humanidade.

Alhos Vedros
07/08/04
Luís F. de A. Gomes

2007-08-20


... seguindo as rotas dos mercadores de então.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

HISTÓRIAS DA TERRA ENCANTADA
9

Sem embargo do desenlace pouco nobre, o mais provável é que a hipótese de Wegener tenha permanecido em algum espírito. Embora aí uns vinte anos mais tarde, mas ainda antes de haver qualquer sustentação científica, um certo geo-físico cujo nome não tenho presente sem recurso a um banco, chegou a postular a expansão dos fundos oceânicos.
Mas o ano geo-físico internacional, em mil novecentos cinquenta e tantos, tinha reservada uma grande surpresa.
É preciso ter em mente que a tecnologia científica sofrera progressos nunca vistos. E em redor dessa anuidade comemorativa, entre outras pesquisas, aconteceu que se efectuaram muitas séries de leituras magnéticas nas profundidades atlânticas.
Eu creio que a ideia era traçar um perfil dos fundos marinhos. Mas ninguém esperava o que viria a seguir.
Os cientistas deram conta de que em cada lado do rift se formavam deposições de camadas com diferentes orientações magnéticas e a sua disposição parecia obedecer a um padrão de alternância que apresentava alguma simetria a partir daquela abertura da crusta oceânica.
E foi uma dupla de cientistas da Universidade de Cambridge, um Professor e um mestrando, que interpretaram aquele fenómeno como o registo de inversões do campo magnético terrestre. Poderia ser verdade que em certos períodos geológicos o campo magnético terrestre apontasse para o Sul?
Pois, nessas situações as bússolas apresentariam as agulhas magnéticas viradas para o Sul e não para o Norte como actualmente acontece.
Interessa é destacar que isso era algo extraordinário. Implicava que se encontrassem rochas com polarizações magnéticas invertidas, coisa que, até então, a ninguém ocorrera procurar. E como tantas vezes sucede, casualmente, na Austrália, dois geólogos encontraram lavas nessa condição. Consolidavam-se as provas da expansão dos fundos oceânicos. Daí para cá, muitas outras rochas similares foram encontradas um pouco por toda a parte do mundo, com o acréscimo simpático de viabilizarem padrões cronológicos coincidentes com os que tinham sido encontrados nos tais registos dos fundos oceânicos.
No entrementes, a recolha de amostras da crusta oceânica veio em socorro daquela indução. É que as rochas eram muito mais jovens do que seria de esperar. Onde estariam então milhões de anos da história da Terra?
Precisamente. Não estavam lá por causa do processo de renovação dos fundos oceânicos que a expansão destes acarreta. Nem mais.
Por fim, ao largo dos Açores, creio que em mil novecentos setenta e seis, foi finalmente possível submergir até ao fundo do Atlântico e ver e filmar, in loco, a saída dos materiais magmáticos pelas aberturas tectónicas e a sua deposição no leito das profundezas. Com isso também se confirmava que a crusta terrestre se encontra fendida e fragmentada em grandes placas, cujos contornos ganham visibilidade com a sinalização dos sismos a nível planetário.
Ora para maior felicidade dos cientistas, nos últimos vinte e cinco anos as tecnologias não têm parado de sofrer revoluções que aqui passo a ilustrar com a tele-detecção que consiste na recolha de dados a partir dos satélites geo-estacionários. E os mergulhos submarinos multiplicaram-se e estenderam-se aos restantes oceanos e outros fenómenos têm sido identificados nas mais variadas latitudes, como é o caso das chaminés térmicas onde, por mais incrível que pareça, se formam ecossistemas que não dependem da luz solar nem do oxigénio.
Chaminés térmicas são fontes de água quente e gás, no fundo do mar e na vizinhança das fossas tectónicas.
São peixes e crustáceos, brancos e que aparentemente inalam aqueles gases vulcânicos pois estão adaptados à respiração naquele ambiente marítimo-tectónico.
Foi assim que se chegou à teoria da tectónica das placas.
É, tens razão, parece saída de um trabalho policial.
É sim, é-o de facto. Eu fiz uso propositado do adjectivo. O planeta tem esse prodígio de se renovar geológica e atmosfericamente. A relação gravitacional entre a Terra e o Sol é assim uma espécie de ignição de um vasto sistema de interligações e interdependências que se mantêm precisamente nesse rejuvenescimento –salvo seja a expressão- desta nossa casinha planetária. Pois foi esse prodígio que os primeiros homens encontraram.

2007-08-19


... em que se fez uma travessia entre um porto no Mar Negro e Lisboa...

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

O CHÁ

Entretanto lá ocorreu, no passado vinte e oito, mais um aniversário sobre o levantamento militar que apeou a primeira república e instituiu uma ditadura que se pretendia de regeneração da Pátria.
Dado o caos que se vivia no país, verdadeiramente a saque e tomado de assalto por uma partidocracia podre e cleptómana, as intenções do movimento terão sido, provavelmente, as melhores.
Mas eis mais uma boa prova que das tiranias dificilmente resultam novas situações de justiça e dos ditos intentos ao salazarismo foi o passo lógico de um mundo à deriva que julgou ter encontrado um homem providencial.
Infelizmente, no fim, o povo pobre e ignaro continuou pobre e ignaro e a civilização democrática permaneceu uma miragem que daqui se olhava com desconfiança e aquele laivo de desdém com que os ignorantes contemplam aquilo que dificilmente conseguem compreender.

Do vinte e oito de Maio, veio a consolidar-se a pior desgraça que poderia ter acontecido aos portugueses no século vinte.
E no entanto, terá sido um desfecho perfeitamente natural para uma população mentalmente amputada por séculos e séculos de inquisição.



E já que estou em matéria de assuntos que ficaram para trás, devo registar que a Luísa trouxe para casa, há mais ou menos duas semanas, uma pequena colónia de bichos- da-seda de que ela e a Margarida se encarregaram de tratar.
A Matilde, por sua vez, colabora brincando com as lagartas.

A matéria alimentar é que tem constituído um problema que só tem sido precavido graças à solidariedade da senhora que lhe ofereceu a bicharada.
Justamente por isso, quando o piolhinho mais novo acordar da sesta iremos à procura das amoreiras que ainda restarem nas terras do concelho.

Mas ontem a Luísa descobriu um casulo num dos cantos da caixinha.



E nós tivemos mais um fim-de-semana musical das cantigas de Maio.

Ontem presenciámos a espiritualidade de uma cantora boliviana, Luzmila Carpio, que nos trouxe poesia, músicas, cantares e danças dos Andes, onde o povo ainda vive enquadrado pelos ritmos naturais.
Foi belo de ver e ouvir.

Mas foi sobretudo um prémio suplementar para quem usufruiu da noite mágica de sexta-feira, com um espectáculo de música indiana em que nos foi dado a ouvir um concerto de ghazal “(…) uma forma de música semi-clássica muitas vezes baseada nas ragas, que nos dias de hoje toma a forma de uma balada de amor e que se mantém popular sobretudo entre os Hindus do norte, embora a indústria cinematográfica lhe tenha conferido uma amplitude nacional.” (1)
Acreditem ou não, vemos imagens, elaboramos poemas, até somos capazes de pintar mentalmente um quadro sob o efeito daquelas harmonias melódicas.

E depois a noite acabou com um grupo israelita, com a particularidade simpática de juntar músicos nacionais e palestinianos, apresentando-nos temas que fundem aquelas duas influências.
Tocaram vários temas da tradição sefardita que me encantaram.

A nota curiosa foi ver a plateia ser levada ao rubro com um final em que se ouviu uma canção tradicional judia.


Sempre achei que o mundo ocidental é bem mais judeu do que aquilo que se pensa e ainda mais se admite.



Desta vez a Margarida, em ambas as noites, preferiu ficar em casa dos avós.
A alternativa foi a noite amena para brincar na praça com as suas amigas.

A Matilde que se deixou dormir na sexta, gostou de escutar os sons andinos.



Na sexta-feira, dia da criança, não houve aulas, apenas festa no parque das salinas durante o período da manhã.



O pântano da nossa vida política teve esta semana uma moção de censura do Bloco de Esquerda ao Governo.

Patati patatá
e tudo fica como está.



E a gentinha que dirige o nosso futebol continua a dar provas dos elevados padrões morais e cívicos que os caracterizam.
Fernando Couto foi suspenso pela federação italiana, a UEFA e a FIFA, por ter testes de doping positivos, assim como as respectivas contra-análises. Por muita simpatia que tenhamos pelo atleta e ainda que pensemos que o mesmo foi alvo de jogadas obscuras e, por isso, acreditamos na sua inocência, o certo é que a decisão daqueles organismos é para acatar e respeitar.
Obviamente ao invés do que seria de esperar, foi ele convocado para um jogo com a Irlanda, alegadamente sob a esperança do castigo ser revogado. Enfim…
É claro que as entidades reguladoras do futebol não voltaram atrás e o treinador português, de acordo com o melhor fair-play, falou de imediato em perseguição mafiosa à selecção nacional. Depois do jogo, ainda teve a educação de não apertar a não ao congénere adversário e de fazer uma conferência sem tradução do português.

Nós portugueses somos assim, há coisas em que gostamos de ser sempre os primeiros.



A tarde tem consigo o silêncio dos pássaros.



O mesmo não se pode dizer de Israel, onde um ataque suicida do Hamas a uma discoteca matou dezassete jovens e deixou mais de uma centena de feridos, alguns dos quais em estado grave.

Yasser Arafat já decretou um cessar-fogo unilateral e incondicional que, provavelmente, não será seguido pelas facções mais radicais. Seja como for, talvez isso tenha evitado uma retaliação mais musculada do exército israelita.

Mas o que fica a nu é o interesse que certas facções têm na continuidade da guerra. De facto, a paz, a harmonia e a prosperidade retirar-lhes-iam o poder que têm para continuarem a medrar à custa da pobreza do povo.

Não há, nunca houve, oligarquias, terrorismos e fascismos que vingassem em face de populações livres de corpo e de espírito.



E agora a noite,
com as estrelas alapadas
no brilho que a Lua tem.

Alhos Vedros
01/06/03


Uma réplica de um barco arménio do século XIV...

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

É engraçada a apropriação que a Margarida faz das aprendizagens da leitura e da escrita.
Agora é vulgar usá-las nas brincadeiras, ora interpretando papéis profissionais em que se vê na obrigação de escrever as mais variadas mensagens, ora criando situações em que lhe é solicitada a necessidade de ler isto ou aquilo.

“-Pai. Pau escreve-se com u?

E o mesmo acontece com a aritmética que a leva a questionar-se, não raramente raiando a inconveniência, para se certificar se esta ou aquela conta que ela fez mentalmente tem o resultado certo.



Eu Louvo a Deus o encanto de filhas que tenho.


Tão diferentes que elas são, ainda que saídas da mesma cepa.

A mais velha toda cheia de preocupações e minudências, mui feminina e dada a jogos em que a inteligência se aplica em abstracções e a mais nova, toda ela a descontracção em pessoa, dada a desportos físicos e com elevada capacidade de aplicar a inteligência pata obter soluções em problemas práticos.


Só o amor que lhes tenho é exactamente o mesmo.



E os alunos lá continuaram os exercícios em torno da nova palavra.


Amanhã, por obra das provas de aferição, mais uma vez terão folga e na sexta-feira, por ser o dia da criança, terão jogos no parque, pela manhã, não tendo que regressar após o almoço.



Neste fim de tarde acudi a um pardalito, ainda nos primeiros passos, que nos apareceu como que perdido e exausto na nossa varanda.
Servindo-me de uma caixinha e algodões, fiz-lhe um ninho onde agora pernoita.
Tive o cuidado de lhe deixar água por perto mas não sei o que lhe possa deixar para comer, além de migalhas de pão.

Do fundo do coração, só espero que o calor da manhã lhe devolva as forças que lhe permitam o regresso a casa.



Esta noite, dormiremos com três pardalitos perto de nós.

Alhos Vedros
01/05/30
Luís F. de A. Gomes

2007-08-18


Terminamos aqui a visita ao castelo.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A canícula chegou, um tanto ou quanto bruscamente mas chegou, passando dos vinte aos trinta e muitos graus em menos de três dias.
E agora da noite sobe o odor da terra quente e dos edifícios o bafo que prolonga o efeito de estufa até que a madrugada refresque, cansada dos discursos da biologia que faz do ocaso o começo da sua procura vital.

O meu cigarro, esse, tem agora a forma de pernas esticadas em sinal de repouso.



Confrontos raciais em Oldham, no noroeste da Inglaterra.
Jovens brancos e asiáticos confrontaram-se violentamente, levando o estado de sítio a certas zonas da cidade.
É claro que por lá anda o dedinho da extrema-direita pela parte dos primeiros e, provavelmente, a expressão de extremismos vários do outro lado.
Mas não é por acaso que o substrato social tem o estigma do desemprego e, pior, da falta de perspectivas.
O que me parece é que nas democracias ocidentais faltam democratas com coragem para pegarem o touro pelos cornos e em vez de procurarem enfrentar o problema da pobreza e do aumento do fosso entre os mais deserdados e os mais abastados, pelo contrário, se descora a integração dos imigrantes e a coesão social. É mais fácil deixar correr o marfim, como se diz entre nós, do que enfrentar interesses instalados e lobbies poderosos.
Alternativas? Honestamente estou céptico. Os parlamentos estão sem poder e não velo como é que a política pode voltar a ditar as leis da economia.


Mas há sinais contraditórios.
Em França, por exemplo, Charles Pasqua, antigo membro do Governo, terá recebido milhões de contos para a campanha eleitoral do seu partido, a “Reunião Para A França”, por via da venda ilegal de armas para Angola.
Por isso, agora enfrenta a justiça.


Nós os portugueses, estamos, neste caso, a falar de outro planeta, é claro.


Mas brevemente haverá uma enorme explosão de violência racial neste paraíso de tristes.
Veremos o que virá depois.



Hoje os alunos aprenderam a palavra zebra. Sobre a mesma realizaram fichas e leituras ao longo do dia e ainda trouxeram trabalho para casa.



A democracia pressupõe a coexistência de diversos valores não porque isso implique que se confere o mesmo grau de importância a todos, mas antes pelo simples facto de que não pode aceitar que uns se sobreponha e imponham aos outros; reconhece-se por isso a bondade intrínseca da pluralidade como uma virtude e o desiderato é conseguir um estado de coexistência pacífica entre essas diferenças e diversidades. Significa isso que na democracia se toleram valores diferentes porque se aceita a sua escolha de forma individual pelo que, nessa dimensão, não há maneira de dizer que uns são melhores que os outros.
Contudo, tal não impede que numa democracia se identifiquem valores universais, isto é, reconhecidamente aplicáveis a todos os seres humanos que, nessa condição, sejam considerados invioláveis.
Ora isto não quer dizer que se imponham valores mas tão só que se proíbe o desrespeito e muito menos o estiolamento de alguns deles, precisamente aqueles aos quais se possa reconhecer a universalidade. Não se trata de impor aos outros valores que tomamos por positivos; antes se parte do pressuposto que reconhecemos também para eles esses mesmos princípios que gostamos de ver aplicados para nós, tendo a coragem de não permitir sob nenhum motivo ou circunstancia que eles sejam postos em causa ou diminuídos por quem quer que seja.



Bem e agora vou entregar-me à leitura.

Alhos Vedros
01/05/29
Luís F. de A. Gomes


... o aproveitamento turístico proporciona contacto com a falcoaria.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

La musica és un médio de comunicacion, un médio de namorar los coraciones de los hombres del mundo intero.

Palabras de Totó La Momposina, cantora popular da Colômbia que ontem tive ensejo de ver e ouvir, no Seixal, no contexto de mais uma edição do festival cultural “Cantigas de Maio”.

Noite mágica que se iniciou com um trio vocal feminino de Madagáscar e que teve a apoteose com a festa que os colombianos trouxeram ao palco, onde tocaram, cantaram, dançaram e até onde levaram o público a com eles bailar e a dar parte do show que estava ali para usufruir.
Contudo, o mais interessante foi que eles trouxeram as várias expressões das tradições musicais colombianas, tendo começado com o acompanhamento rítmico de uma secção de percussão, sem mais nada, passando depois à combinação entre as flautas –que não eram de pã- e os tambores, ao que se seguiu a introdução progressiva dos diferentes instrumentos em função dos quais foram evoluindo estilos diversos até que o concerto terminou com os sons do Caribe colombiano, cheio de influências do jazz e até do rock, com a plateia rendida ao movimento do corpo.


Mas a surpresa do fim-de-semana foi, na sexta-feira, um quarteto português de acordeãos, “Danças Ocultas” que, numa base minimal, fizeram um recital de simbiose entre as músicas eruditas e as de cariz popular.
Durante hora e meia, houve poemas que se formaram no cérebro como que saídos daquelas composições instrumentais.


Só tenho pena que a Margarida tenha sucumbido ao cansaço e dormido durante os espectáculos.
A Matilde é que se fartou de dançar.




E o que será isto de um arquitecto espanhol propor a construção de uma torre biónica, com quinhentos metros de altura, nos terrenos que a desactivação da Lisnave deixarão livres em Almada?
Admira-me que o projecto não tenha acolhimento no país dos projectistas.
Mas ocorre-me perguntar se faria se faria sentido tal volumetria na vizinhança de uma falha sísmica como a que existe no fundo do leito da foz do Tejo.



A essência da democracia é o poder das maiorias ou a defesa dos mais fracos em face dos mais fortes?
Por mim opto pela segunda hipótese.
Com efeito, já no tempo de Péricles podíamos ver essa característica fundamental que dois mil anos mais tarde se repetirá no bill of the wrihts, de o homens –à época, os cidadãos, os homens livres- serem chamados a decidir da guerra e de não poderem ser a ela chamados contra a sua vontade.
Mas se aceitarmos a primeira daquelas variáveis, ficamos sem mecanismos de defesa perante eventuais situações em que as decisões da maioria dêem lugar a formas mais ou menos veladas de tiranias. Em parte, é o que actualmente acontece com o fenómeno das audiências televisivas e o género de programação que alegadamente impõem. E eu perco-me de riso quando alguém me vem com as tretas de que não se pode fazer nada.



Bem e eu aproveitei para ler os contos da Luísa Costa Gomes.
Excelente, é o mínimo que se pode dizer de um verdadeiro hino à literatura.
E como a Autora escava fundo na alma humana, o que é bem ilustrado por “Hades” (1) em que de forma nunca vista se consegue pôr a nu os tiques do povo ignaro por via do estereótipo.
Mas também pelas parábolas, como acontece na história de abertura, em que se denuncia a vacuidade do mundo coevo, com metáforas douradas de que não resisto a transcrever uma, só uma, para não cansar. “Não sabiam o que responder ou mesmo se ers caso de responder ou esgravatar um pouco no solo como fazem as galinhas quando se sentem embaraçadas e precisam de pensar. (…)” (2)
Enfim, seria um não mais acabar de pérolas que por serem tantas impõem o comedimento do elogio a uma obra que eleva a sua Autora ao Olimpo dos Mestres do conto.

Faltam-me poucas páginas, mas quando acabar começo outra vez.



Na sexta-feira os alunos continuaram exercícios em torno da nova palavra e realizaram mais uma ficha para o livro dinâmico.
Trouxeram trabalho para casa mas também terão uma folga prolongada, pois na segunda-feira não terão aulas.



Ai esta canícula que faz do fim das tardes um momento em que apetece o repouso do desfrute da bisa.

__________
(1) Costa Gomes, Luísa, pp 73 e ss
“Hades”
In “CONTOS OUTRA VEZ”
(2) idem, p. 35
“Uma Empresa Espiritual”
ibidem

Alhos Vedros
01/05/27
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Costa Gomes, Luísa- CONTOS OUTRA VEZ
Associação Portuguesa de Escritores, Lisboa, 2001

2007-08-17



... e além do excelente Museu que não podemos fotografar...

2007-08-16

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

SAÍU O INTERVIR

Porque será que o prelúdio do Tristão e Isolda de Wagner sempre me transmitiu a sensação de estar a beber conhaque na véspera de uma catástrofe irremediável?



Amanhã sairá o primeiro número do boletim da associação de pais.
Folhinha sem pretensões, nem por isso deixa de ter artigos interessantes de ler e ilustrações bem conseguidas. “Intervir” é o seu nome.
Creio que será um bom veículo de comunicação com os encarregados de educação e desde já marca mais uma iniciativa do bom trabalho por aquele organismo.

Na reunião desta noite, preparou-se a nossa presença no próximo conselho escolar de treze de Junho, o último deste ano lectivo e decidiu-se a campanha de angariação de sócios do final do ano lectivo que será preparada na reunião de vinte e um de Junho e ainda a realização de uma confraternização entre os corpos gerentes como remate das actividades deste ano.

Até ao momento, o balanço é francamente positivo.



Passa hoje o dia do sexagésimo aniversário de Bob Dylan que já tive oportunidade de ver actuar ao vivo por duas vezes.

Dele vi o melhor concerto de rock’roll de toda a minha vida, em noventa e três, estava a Luísa grávida da Margarida.
Desde a entrada solitária em palco com a guitarra acústica e a harmónica, aos intercalares de temas electrificados e acústicos, em que não faltaram os espaços para que os músicos falassem individualmente da sua excelência nos seus instrumentos, foram duas horas e meia em que ouvimos de tudo o que de melhor aquele estilo de música tem.
E sem que em nenhuma ocasião as versões dos temas coincidissem com os originais que conhecia dos discos.

How does it feel
to be on your one

Mas para mim Dylan é uma referência no crescimento, pelo som é claro, que ouvi desde miúdo pela mão do meu primo Zé Carlos, de boa memória, que tinha um amigo, o Bob -alcunha, como é evidente- que importava discos de Inglaterra; mas também pela poética, feita de ruas e figuras humanas na companhia das cores que as palavras têm quando usadas por quem sabe pintar retratos do tempo e das almas.

Like a rolling stone.



E esta quinta-feira os alunos fizeram mais uma ficha para o livro dinâmico ao que se seguiram exercícios sobre a nova palavra palhaço.
Depois do almoço voltaram aos números, a respeito dos quais versou o trabalho para casa.



Chegaram à base aérea de Ovar os cinco portugueses que ontem foram libertados pela Flec-Renovada.

Esta noite, os sons da cidade terão um sabor doce.

Alhos Vedros
01/05/24
Luís F. de A. Gomes

2007-08-15


Mas agora o aproveitamento é outro...

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Lembram-se de Daniel Campelo, o deputado do Partido Popular e simultaneamente Presidente da Câmara de Ponte de Lima que votou o último orçamento de estado em troca de benefícios para a indústria de queijo da terra?
Sancionado disciplinarmente pela força política a que pertence que lhe retirou o apoio para eventual recandidatura à edilidade limiana, prepara-se para concorrer eleitoralmente como independente, sendo alvo da cobiça dos outros partidos concorrentes e até se antevê o cenário em que os socialistas desistam da sua própria candidatura a favor do voto em caixa.

A farsa já deu definitivamente lugar à miragem. Estou a falar da democracia em Portugal.



Voltamos ao medo de sermos nós
aqui em Portugal desgraçado
onde p’ra falar não temos voz
com o cérebro sempre acorrentado.



Amanhã haverá nova reunião da associação de pais que já tem o processo do pedido de número de pessoa colectiva resolvido.
Seguidamente far-se-ão publicar os estatutos no “Diário da República” e teremos a legalização do organismo concluído que assim passará a ser u corpo de pleno direito.


Em contrapartida, a escola foi objecto de assalto na última madrugada. Os amigos do alheio levaram um vídeo da pré-primária.

É assim, enquanto uns remam, há outros que disparam.



Esta manhã os alunos receberam a visita de polícias que lhes foram falar da sua profissão, mas também lhes deram conselhos úteis para uma maior segurança. Desde as banais alusões à necessidade de evitar aceitar algo de estranhos, destacadamente no que respeita às boleias, à menos vulgar indicação para que as crianças não façam a sós os percursos entre as respectivas residências e a escola, vários foram os items em que se constituiu a lição securitária.

É bom que estes encontros se dêem. Penso até que se deveriam estender a outras profissões. Mas no caso particular das forças policiais, creio que podem servir para que se crie o hábito mental de ver e entender aquelas como garantes das liberdades de cidadania e isto de para ambas as partes.

Seja como for, não posso deixar de me arrepiar com a importância de se educar as crianças para se saberem proteger de potenciais perigos criminais.
É que infelizmente também estamos a criar alicerces para uma sociedade do medo.


E no resto do dia escolar, aprendeu-se uma nova palavra, palhaço, a respeito da qual se fizeram fichas e passaram trabalhos para casa.



Parece que desta é que é de vez.
Os portugueses reféns da FLEC-Renovada, em Cabinda, serão libertados e brevemente regressarão para junto dos seus familiares.

Graças a Deus, todos estão bem.



E no que resta da noite vou regressar à leitura dos contos de Luísa Costa Gomes.

Alhos Vedros
01/05/23
Luís F. de A. Gomes

... e da inexpugnabilidade do castelo.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Ui que pandemónio que anda por aí em torno da programação televisiva que os indígenas consomem por cá.
Parece que a SIC, para fazer face às audiências que a TVI terá conseguido com o Big Brother e quejandos, lançou um programa qualquer em que expuseram o drama íntimo de uma família, provocado pela participação de uma jovem num reality show, o que terá merecido a crítica dos pais que se deslocaram da terra natal a Lisboa com o intuito de levarem a filha de regresso a casa. Aquilo que seria uma conversa privada foi transmitido, sem conhecimentos dos protagonistas, em directo, o que, em face do dramatismo da situação, levou a uma onda de protestos do público e dos nossos intelectuais e zelotas de serviço. Pediu-se a crucificação dos responsáveis e nos jornais circulou a hipótese, alegadamente a partir da Alta Autoridade para a Comunicação Social, de aquela estação televisiva ser suspensa.
E o Portugal Portugalzinho mostrou-se no seu melhor. É claro que ninguém falou de censura, embora muito se falasse nos limites e abusos da liberdade de expressão. E há pouco, no telejornal da RTP 2, a Alta Autoridade, pela pessoa do seu responsável máximo, veio resolver o caso através de… Coimas, pois então.
Devo dizer que raramente vejo televisão, até pela falta de tempo e oportunidade. Mas faria um esforço se sentisse que valia a pena.
Seja como for, o que sinceramente me espanta é toda esta onda moralista e intelectualóide de repulsa pela porcaria que passa pelo pequeno ecrã, vinda da parte de muito boa gente que nada disse das “Noites da Má Língua”, visto então como um programa divertido, das doses estupidificantes de telenovelas brasileiras, das histerias de gente aos berros e aos pulos em ditas produções de entretenimento ou dos reencontros de familiares e amigos desavindos ou separados há muito, com lágrimas e feridas à mostra, isto enquanto as conversas mais sérias ou os documentários educativos passaram para as calendas. Ainda hoje haverá uma entrevista com Stephen Jay Gould que será transmitida às duas da manhã.
Então essa gente não percebeu que o circo romano só pára quando houver sangue na arena?
É preciso muito descaramento para tanta hipocrisia mas enfim, nós sabemos que estamos na elevadíssima do país do padre Amaro.

Quanto a mim pouco me preocupam os Big Brothers e afins e até acho normal que existam coisas dessas e público para com elas se deleitar.
O que verdadeiramente me choca e honestamente me amedronta é que eu queira ver um telejornal e em vez de ficar a saber o que se passa no mundo que me rodeia, fique a saber dos dramas privados de famílias em conflito, quanto mais gratuito melhor e guerra, muita guerra que já nos é apresentada com a mesma naturalidade de um game boy. Com a agravante aterradora de não haver corrupção para ser denunciada, violações dos direitos para serem investigadas e outras maldades que mereceriam vir a público. A TVI já faz da sua própria programação e dos pobres diabos que promove os principais objectos dos seus blocos noticiosos.

Mas é claro, sobre o apontar o dedo e chamar os bois pelos nomes, já não ouvimos nenhuma das vozes que tão corajosas são nos protestos vazios.

É que todos os nossos intelectuais de meia tigela e moralistas de beco escuro têm empregos a manter e filhos a criar.
E a cloacazinha tapada pelas roupas.



Hoje houve álgebra. Os alunos deram os números treze e catorze, a respeito do que trouxeram trabalho para casa.



E agora cama.

Alhos Vedros
01/05/22
Luís F. de A. Gomes

Para que tenham uma ideia da altura das caves mineiras...

2007-08-13

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Estava eu olhando a Terra do alto de um miradouro cósmico
quando de repente compreendi a irmandade que teimamos em desrespeitar
nesta ilha de que não somos capazes de entender a condição.


Um dos segredos da invulnerabilidade da fortificação.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

As associações de pais são uma das muitas manifestações da sociedade civil, isto é, das expressões, orgânicas ou não, geralmente de carácter espontâneo por parte das populações, independentemente dos poderes instituídos. A importância desta última reside no facto de ser um dos pilares da civilização democrática que jamais poderá ser uma realidade sem aquela.
Com efeito, uma sociedade democrática caracteriza-se, antes de mais, pelos limites que aí se conseguem impor aos poderes para que os direitos dos cidadãos sejam respeitados e isto de modo progressivamente mais alargado e abrangente, assim como, por via do aprofundamento do desenvolvimento, o mesmo é dizer da qualidade de vida, acrescem as capacidades de se imporem àqueles mesmos poderes a defesa dos mais fracos perante os interesses e os atropelos dos mais fortes. A civilização democrática ganha forma e consistência quando tal é empiricamente observável e apenas malhas marginais de um corpo demográfico andam arredadas dessa condição.
Ora um dos mecanismos de contra-peso que muito podem contribuir para que assim seja são, precisamente, as múltiplas organizações da sociedade civil.
Temos pois que as associações de pais são exemplos das interferências que a sociedade civil pode fazer no domínio do ensino, justamente com o objectivo de forçarem o estado a instituir e manter sistemas adequados às necessidades nacionais, claro está, mas nunca sem perder de vista os interesses dos mais desfavorecidos, ou seja, pressionando para que a escola possa possibilitar aos filhos dos mais pobres os meios para que estes possam traçar planos de vida que os remetam para níveis acima do limiar da pobreza.
Evidentemente que não é esse o único caminho, nem as coisas funcionam como se estivéssemos em face de uma varinha mágica. Mas é uma das vias e, entre elas, aquela que maior segurança poderá conferir a esse movimento de ascensão que terá sempre uma temporalidade geracional.
Neste sentido, à semelhança daquilo que já defendemos para uma filosofia de fundo para um sistema de ensino, também o desiderato último do trabalho de uma associação de pais deverá assentar na procura das melhores condições para os mais pobres.
É que à medida que vamos eliminando os estados de pobreza, vamos aproximando os homens da sua natureza de dignidade com que a todos, sem excepção, Deus abençoou.



Em Israel continua a violência.
Ontem foi bombardeada a sede das forças de segurança palestinianas.

O que se seguirá não sei, mas a paz não será concerteza.



Hoje os alunos realizaram fichas em torno da palavra girafa que aprenderam na sexta-feira passada.

Alhos Vedros
01/05/21
Luís F. de A. Gomes

... funcionou como um depósito de minério e sede de uma companhia mineira.

2007-08-12

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

E AGORA O PREÇO ZERO

E de repente o calor, provavelmente, desta vez para ficar.
Ainda que o fim da tarde refresque as ruas, agora já estou a escrever sentindo o ar quente que paira no interior da casa.

A minha previsão é que teremos um mês de Junho com termómetros ao máximo.



Talvez Jerusalém devesse ser considerada capital do mundo, ainda que seja capaz de admitir que isso poderia ser considerado um acto pouco louvável para outras grandes religiões como o hinduísmo ou o budismo –apesar de haver quem veja esta última como uma espécie de sistema filosófico de orientação da vida. Seja como for, é ao judaísmo que devemos a noção de indivíduo e, por via dela, a da dignidade humana e ainda a de liberdade. São legados inestimáveis para a humanidade e nesse sentido não seria desmedido conferir àquela cidade um estatuto tão elevado.
Mas a verdade é que o reconhecimento de uma tal particularidade poderia servir para desactivar a carga emotiva que a urbe tem para as tês grandes religiões do Livro e simultaneamente relançá-lo como símbolo de um novo ecumenismo que muito contribuiria para a paz e a harmonia do futuro.
Simultaneamente Israel deveria reconhecer a independência dos territórios palestinianos que; à semelhança do que aconteceu com aquele estado e a cidade de Telavive, instituíram outra capital.

É claro que sou um sonhador.
Mas enquanto não se encontrar o entendimento entre aqueles povos, o mundo não dormirá descansado.

E o certo é que muitos palestinianos israelitas convivem sem problemas com os seus concidadãos judeus.



Este está a ser um fim-de-semana de intenso convívio social para as nossas filhas.
Ontem, a Margarida passou o dia em casa da sua amiguinha Ana Rita, onde jantou e a fui buscar por volta das nove e meia da noite. Hoje, lá foi para uma festa de aniversário, pelo que se viu na obrigação de realizar os deveres escolares ao longo desta manhã.
E ao almoço tivemos a companhia do pequeno André que a Matilde tratou de convidar.



Ena pá, o Ministério da Cultura dá uma cor da sua graça na promoção do livro e da leitura. Depois do preço único do Ministro Carrilho, vem agora o livro gratuito do Ministro Sasportes. E agora digam lá que faltam ideias.
Hoje, com o Diário de Notícia, recebi a oferta de uma colectânea de contos de Luísa Costa Gomes e a partir do próximo Domingo, outras edições se seguirão pelo simpático preço de quinhentos escudos o que, atendendo à qualidade da publicação, o mesmo é dizer praticamente de borla. Com isto, obviamente, se espera cativar os portugas para a leitura.
Enfim… Fica é por saber se, mais uma vez, não estamos perante as medidas de amiguismo o que, atendendo ao jornal que é, dá logo para desconfiar. No fim veremos se não se está pura e simplesmente a promover um diário e uns quantos autores da corte.
Mas bem lá no fundo o que transparece é a visão simplória duma decisão
Melhor seria que com este dinheiro se pagasse a escritores para percorrerem as escolas com sessões de leitura e de simples esclarecimento. Naturalmente isso despertaria muito mais a atenção de jovens para o fenómeno literário, com a empatia que a presença física sempre é susceptível de gerar.
Logicamente que tal não bastaria. Seria conveniente que fossem tomadas decisões que conduzissem à diminuição dos preços, sem dúvida alguma fora do alcance de muitas bolsas. Estou a pensar em redução, ou até isenção de impostos para as empresas editoras, bem como do IVA que recai sobre a venda das obras impressas. Com isso se conseguiriam custos mais reduzidos o que, concomitantemente, facilitaria o aparecimento de editoras apostadas na promoção de novos nomes e obras unicamente pelos seus valores intrínsecos e não pelo conhecimento mediático daqueles que as escreveram.
Talvez dessa forma se acabasse com a mediocridade que reina no nosso panorama literário e paralelamente se possibilitasse a apresentação de produtos acessíveis aos ainda parcos recursos da maioria dos portugueses.

A verdade é que os portugueses são o povo que menos lê na Europa o que deles faz os mais vulneráveis à nefasta influência da porcaria que tresanda nos meios televisivos do nosso descontentamento.



Facto inédito no futebol português, o Boavista sagrou-se campeão nacional da primeira divisão.
É certo que em muitos jogos os seus jogadores beneficiaram de uma tolerância por parte dos árbitros só superada pelos auxílios escandalosos que o Futebol Clube do Porto recebe. Mas também é verdade que foram aqueles que mostraram maior vontade de vencer e que mostraram o melhor e mais regular futebol.
Assim, parabéns aos campeões.

Só é pena que este feito não espolete uma varredela em todos os Pintos da Costa e Oliveirinhas que teimam em sugar o sangue ao nosso desporto-rei e, por via do mesmo, aos bolsos dos portugueses.
Só isso permitiria que os clubes português voltassem a afirmar-se internacionalmente, invertendo a tendência que daqui a alguns anos –não muitos- atirará o vencedor do nosso campeonato para a primeira eliminatória da liga dos campeões, obviamente sem companhia.



E agora que vejo as andorinhas dançando no lado de fora da varanda, fecho os olhos e deixo-me planar na aragem que afaga as árvores, sob os acordes da alegria de pássaros diversos.

Alhos Vedros
01/05/20
Luís F. de A. Gomes

2007-08-09


....ao que outrora e durante vários séculos....

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Como é curiosa a deferência com que o tirano Fidel de Castro é recebido pelos nossos democratas na Presidência da República e na Chefia do Governo.



A Margarida continua dando largas à curiosidade.
Está agora na fase de perguntar o significado das palavras. “-O que é que quer dizer?”, passou a ser um hábito que ela põe em prática, seja ou não a propósito. E é vulgar que num entrementes de silêncio ela faça a pergunta a respeito dos mais variados vocábulos.
É claro que nós lhe respondemos o melhor que sabemos, mas sempre com o coração transbordando de alegria.


Por sua vez, a irmã não se lhe fica atrás e nestes últimos dias tem brincado com as palavras, transformando os nomes das pessoas das suas relações em apelidos de carinho. Assim, por exemplo, a Margarida é a Marga e o André o Androcas.

Ai como é doce a felicidade.



Em Israel regressaram os ataques suicidas com a recuperação da figura dos palestinianos kamikaze.
Um atentado na cidade de Netanya provocou uma série de mortes.
O Governo de Ariel Sharon prepara-se para que haja retaliação.

A paz só será possível quando houver liberdade entre as sociedades árabes.



Ontem à noite ainda tive tempo para passar os olhos pelo jornal e ler com mais atenção um artigo de Pacheco Pereira sobre a vitória de Berlusconi e o seu significado no contexto da política europeia. (1)
Dou de barato a tese central segundo a qual a eleição do magnata marca o princípio do fim do ciclo do poder dos socialistas no velho continente, embora estranhe que o nosso intelectual enquadre o novel futuro chefe do governo na família da direita, não se sentindo minimamente incomodado em tão bizarra companhia.
Quanto a mim não vejo como é que um homem que simboliza precisamente a ausência de valores e de dimensão ética possa ser incluído dentro dos parâmetros de uma corrente que se define pela defesa de certos princípios que as actividades da comunicação social de que aquele é proprietário estiolam. Depois também não compreendo como é que a direita reconhece alguém acusado de minar nada mais nada menos que a autoridade do estado. Enfim, mas que o douto Professor está muito longe de estar só nestas ideias lá isso está.
Seja como for, em minha modesta opinião, o mais grave é que Berlusconi representa a entrada directa de esconsos lobbies na área de governação, implicando um grau zero da civilização democrática com a chegada ao poder do tudo vale e não causará espanto se a política de promoção de obras públicas para relançar a economia de que aquele falou na campanha, não tenha como beneficiárias imediatas as suas próprias empresas e as dos seusa aliados e clientes.
Estamos na véspera da tirania que impedirá as liberdades de expressão e de investigação relativamente aos crimes que cometa. Não se trata da demagogia de que tem falado Pacheco Pereira, a qual seria, isso sim, a forma como a ditadura se expressará, mas é a tirania o perigo que está no horizonte, ainda que não ideologizada e de carácter mais ou menos mafioso. Mas não será por isso que deixará de o ser.
E pelos vistos, olhando o carácter dos líderes que graçam por aí, corremos sérios riscos de a doença ser de natureza epidémica.

Deus nos salve dessa loucura.



Hoje fizeram exercícios em torno da nova palavra girafa que voltou a ser o tema do trabalho para casa do fim-de-semana.



A temperatura amenizou-se e a noite voltou a ter a companhia dos grilos e das rãs.
Antes de me deitar, vou fumar um cigarro na varanda, olhando para o longe, onde se vê as luzes dos automóveis passando na ponte Vasco da Gama.

Sinto-me tão cansado.

__________
(1) Pacheco Pereira, p. 9
AS ELEIÇÕES ITALIANAS E A ECOLOGIA POLÍTICA EUROPEIA – 1

Alhos Vedros
01/05/18
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Pacheco Pereira- AS ELEIÇÕES ITALIANAS E A ECOLOGIA POLÍTICA EUROPEIA – 1
In “Público”, nº. 4076, de 01/05/17

... já acrescentaram....

2007-08-08

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Hoje recebi uma triste notícia quando regressei do escritório.
Faleceu a Senhora Palmira, de velhice e excesso de gordura no coração.
Até que se reformou serviu em casa dos meus por muito longos e bons anos. Viu-me crescer e fazer-me homem e não erro se disser que sempre gostou de mim. Afinal, era ela a responsável pelo meu bem estar sempre que os meus pais se ausentassem e recordo com ternura como ela se esmerava para que tudo me corresse bem, especialmente quando eu, já aluno universitário, não seguia com a família para a casa de praia para que pudesse dar conta das responsabilidades académicas.
Mas também era a mãe da Bélinha de quem eu me fiz grande amigo à medida que a vida nos foi conduzindo para o estado de adultos, de tal maneira que sem qualquer exagero a considero a pessoa a quem me une a mais sólida e indestrutível amizade.

E agora só posso recordar com saudade quem sempre me tratou por menino Luísinho, nunca se esquecendo de estender o carinho à minha mulher e às minhas filhas.

Deus guarde a sua alma e lhe ofereça finalmente a paz que a vida madrasta teimou em lhe regatear.



O Ministro das Finanças fez um diagnóstico do estado da justiça e da saúde em Portugal e acusa a administração pública de funcionar mal e de modo despiciendo. Fala de laxismo e despesismo como a regra dos Governos nos últimos vinte e cinco anos.
Obviamente, no meio da palhaçada em que vivemos, não se demite, nem será demitido.
Mas cá para mim, mais não é isto que o preparar dos dias em que se verá arredado do barco.



Esta manhã continuaram os exercícios em torno da nova palavra. Os alunos fizeram cópias de vocábulos que depois dividiam em sílabas com as quais deveriam escrever novas palavras e, a partir delas, elaborar frases coerente.
Depois do almoço houve ditado e leitura.



E a Margarida leu um parágrafo de um dos contos do Herman Hess cujo significado interpretou fácil e correctamente.
Fico espantado com o domínio que ela vai revelando da aprendizagem.



Agora que acabei de ajeitar o cobertor da Matilde, aqui me despeço, até amanhã.

Alhos Vedros
01/05/17
Luís F. de A. Gomes

2007-08-06


.... o que resta e o que...

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Em Portugal a inflação sobe muito acima da média e dos valores médios europeus. A verdade é que apesar de toda a retórica do Ministro das Finanças nada indica que a tendência para a subida não se acentue e não venhamos a terminar o ano com a necessidade urgente de medidas drásticas. Enquanto isso, ninguém parece preocupado a não ser com o traçado do TGV e do Governo os sinais continuam a ser os da despesa e da vida fácil, com os grandes desígnios nacionais centrados no Euro 2004 a propósito do que se hão-de construir estádios de futebol e acessos que, só os pacóvios não entendem, é precisamente aquilo de que os portugueses mais precisam.

Brevemente a austeridade ser-nos-à imposta a partir de Bruxelas.



E em Espanha, um jornalista que pediu ao novo governo eleito no País Basco firmeza contra o terrorismo, teve a resposta da ETA, em acto contínuo, no conteúdo de um envelope armadilhado que lhe explodiu na cara, deixando-o gravemente ferido.

Assi habla la democrácia.



A Margarida progride a olhos vistos.
Ainda que não conheça o significado de todas as palavras, como é óbvio, já consegue ler qualquer texto e é suficientemente expedita para acompanhar a legendagem televisiva.

Mas o mais interessante é que ela compreendeu e assimilou com facilidade as regras da linguagem.



As noites continuam frias.

Alhos Vedros
01/05/16

2007-08-05


... ali, os fantasmas são...

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

AI LIBERDADE, LIBERDADE

Ainda que averbando uma derrota aos radicais da ETA, a população basca continua refém de um nacionalismo que, em face da ampla autonomia conquistada, deixou de fazer sentido. A independência, mais não seria que a entrega de poder a uma minoria que, do respeito pela democracia, só consegue deixar transparecer o patamar do desprezo que sente por ela.
O Partido Nacionalista Vasco, no poder desde mil novecentos e oitenta e que reforçou a sua votação e o número de parlamentares, tem a maioria absoluta ao seu alcance com a soma dos eleitos pelo Herri Euscarrioock o que deixa em aberto a possibilidade do bombismo pressionar o bom senso e a razão.
A liberdade continuará adiada por ali.



E agora resta ver se a sociedade italiana está suficientemente adulta para passar pelo consulado de uma mistura de doges e duces e sobreviver, com a alternância necessária, daqui a quatro anos.

Temo que desta vez seja para valer e o efeito pernicioso se estenda a outros países com sociedades civis incipientes. Do nosso Portugalzinho, a recuperação política de um Fernando Gomes já dera o sinal do exemplo.

A liberdade está desaparecendo daqui.



Hoje os alunos aprenderam uma nova palavra, cenoura, em torno da qual realizaram exercícios na aula e o trabalho de casa.



Um jovem físico português defende a hipótese de a luz, nos primeiros tempos do universo, ter viajado a uma velocidade superior à que se lhe conhece actualmente.
Por enquanto não há provas que corroborem a teoria e a comunidade científica fala em especulação pura.
As ideias de João Magueijo só põem em causa os pressupostos da relatividade restrita e geral.

Mas dessa forma, finalmente, o nome de Portugal entraria para a história das ciências e logo com um feito que haveria de marcar a física do século vinte e um.



Por contraste, a Primavera continua marcada pelo frio e a chuva.

Alhos Vedros
01/05/15
Luís F. de A. Gomes


... em vez de ser um forte militar, propriamente dito...

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Hoje os alunos aprenderam o número doze.



Passam trinta minutos da meia-noite e só agora cheguei a casa.
Estive no lançamento de um novo seguro automóvel e o jantar social só começou por volta das cinte e uma e trinta.

Alhos Vedros
01/05/14
Luís F. de A. Gomes

O castelo mais curioso onde já estive, pois...

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

ISTAMBUL
Ora aqui estou eu novamente, depois destes dias de vadiagem em terra estranha, longe deste mundo de cá e, como não sei falar turco, arredado do contacto com o que se passa com a imprensa falada ou escrita sempre possibilita. Depois também não fiz qualquer esforço para ver canais televisivos de línguas que domino e assim estive toda uma semana de olhos e ouvidos bem abertos para o palpitar e os murmúrios de Istambul.


Mas a viagem correu bem e regressamos, na madrugada de ontem, satisfeitos, muito embora cansados, eu mais que a Luísa, pois, dado o meu estado de fraqueza, o muito que caminhei causou-me um abatimento muito acima daquilo que ria de esperar em situação normal.



Contudo, os beijos e os abraços do reencontro foram o tónico da certeza de que tudo voltará à normalidade do bem-estar físico.


E como as cachopas cresceram…
Estamos uns dias sem as ver e logo nos parece que não só as alturas se agigantaram, como os intelectos amadureceram.

É tão bom termos duas filhas assim.



Istambul é uma cidade muito bonita, cheia de luz, numa simbiose entre o mar e a terra que lhe enche o céu de nuvens e gaivotas, estende-se ao longo dos dois lados de um estreito e de um canal, encavalitada numa confusão de colinas pintadas pelas fachadas claras e pelos telhados, amiúde com o cabelo feito de matas que, numa ou noutra escarpa, caem até às águas e que na Ásia têm o aspecto daquilo que resta de antigas florestas.

Vista do Bósforo ou do Corno de Ouro, ou vista de cima, da torre Gálata, uma atalaia que os genoveses ali construíram há oitocentos anos, a cidade antiga são os minaretes apontados ao alto e as cúpulas que eles pontificam, encravadas na massa de casario que, visto ao nível do solo, se enche de construções de madeira azuis e amarelas e em castanho degradado, em ruas envilecidas e escuras, à noite, pela pouca expressão da rede eléctrica pública.

E os rios de multidão escorrendo sobre os passeios, atravessando desordenadamente as vias infestadas de carros onde o amarelo dos taksis sobressai, sem que seja raro avistarmos os lenços cobrindo os cabelos e os rostos das muçulmanas mais beatas que nunca ousam caminhar ao lado dos os homens mas apenas a alguns passos atrás.


Mas no palácio dos Sultões compreendemos bem como todo um povo foi remetido para a miséria ao longo dos tempos, semi-escravo, para benefício das barrigas de tiranos que deixaram que o império otomano fosse uma placa giratória de comércio entre dois continentes sem que a agricultura saísse do ciclo da subsistência e os ofícios chegassem algum dia a serem embriões de algo que se parecesse a uma produção industrial.


No que pessoalmente me diz respeito, foi mais um sonho de infância realizado, o poder passar sobre as muralhas de Constantinopla e caminhar meditante em torno da nave de Santa Sofia, com a curiosidade de por esta vez sentir o lugar trazer-me à memória alguma leituras de Amin Maalouf.
E a pequena curiosidade de ver a história da mãe de Jesus da Nazaré contada em mosaicos no pequeno mosteiro ortodoxo de Chora. (1)


Fronteira de continentes e mares, nas suas águas azuis há corrupio permanente de navios e ferrys entre mundos e margens que bem conduz com a amálgama entre o novo e o velho, o Ocidente e o Oriente que se espalha um pouco por toda a imensa mole que faz uma metrópole com doze milhões de habitantes.



Ontem à tarde fomos ao pavilhão municipal para vermos a feira de projectos escolares em que os estabelecimentos de ensino do concelho apresentam aquilo que de melhor fazem os seus alunos.
Os pais babados lá se encheram de orgulho com uma pintura da Matilde e outra da Margarida.

Mas o que sobressai destas realizações é a pobreza do nosso ensino e a inutilidade estéril daquilo que por lá se vai fazendo.

A escola, em Portugal, é cada vez mais um local de convívio e espectáculo e cada vez menos lugar de sabedoria e jardins de curiosidade.



A condizer, avaliando pela leitura dos jornais desta manhã, lá vai o pântano da nossa vida pública, onde Jorge Coelho, o comissário de pressões impronunciáveis, lá conseguiu impor a reentrada de Fernando Gomes na comissão política nacional do Partido Socialista.

Anda aí Guterres que é para aprenderes que com gente desta não se brinca.



Neste Domingo também decorrem eleições em Itália e no País Basco.

Tudo indica que no primeiro caso voltaremos a ter Berlusconi no poder, o que pode muito bem representar o regresso da Itália ao seio dos tentáculos do polvo.

Por sua vez, o Pais Basco continua sob o manto do terror provocado pela ETA e oxalá que eu me engane, mas temo que ainda não seja desta que a população consiga atirar com o nacionalismo fascista para o mar.

Mas a ser assim, tanto num caso como no outro, estamos perante machadadas na civilização democrática.



Esta manhã, tendo ficado a sós com a Matilde dado o facto de a mãe e a Margarida terem ido à missa, disse-lhe que se apressasse pois queria ir comprar o jornal e beber a bica.
Interrogado sobre o porquê da leitura, respondi-lhe que gostava de o fazer o que ela, quando crescesse, provavelmente, também sentiria o mesmo prazer.
Expedita devolveu-me:
“-Não, porque eu sou menina. Quem lê jornais são os homens. As mulheres lêem revistas.”



E ontem acabámos por jantar caracóis na casa do Zé e da Isabel que tinham convidado a Matilde para passear e depois, uma vez que a noite caíra, resolveram estender o convite ao resto da família aplicando-o ao acto da refeição.

Levámos as fotografias da viagem, acabadinhas de revelar e, naturalmente, a conversa versou a Turquia.

Concluímos que mais importante que o Ocidente exporte as suas instituições para os países do Islão, seria a abertura dos mercados que poderia induzir o desenvolvimento naquelas terras com a consequente disseminação das elites e a melhoria da qualidade de vida e dos níveis de instrução das populações o que seria o melhor contexto para que as mentes se abrissem e começassem a consolidar as necessidades relativas às liberdade. Seria esse o princípio do caminho para que aí se desenvolvesse o gosto pelas sociedades abertas. Mais tarde ou mais cedo, seriam aqueles povos que saberiam encontrar as formas de construírem, por moto próprio, sociedades democráticas.

O mundo não terá paz enquanto isto não acontecer, mas vivemos uma época de dirigentes rasteiros que o mais longe que conseguem alcançar é o horizonte do telejornal seguinte.



Doce é a dança das andorinhas com o rio ao fundo, agora que a mãe e as filhas regressam da festa de aniversário de uma colega de escola da Margarida.



I heard the old man
tell his tale.

Peter Gabriel faz hoje cinquenta anos.

Ouvio-o pela primeira vez, era ele o vocalista dos Génesis, no distante ano de setenta e dois, tinha eu treze anos de idade com o álbum “Nurserys Crime”.

Play in my song
here comes again

Sei é que fiquei fã e desde então não mais deixei de ouvir a banda até que ele encetou a carreira a solo que eu passei a acompanhar.

Why don’t you touch me
touch me
Why don’t you touch me
touch me
and touch me now, now, now

E a luta contra o apartheid também em parte lhe deve alguma coisa.

Bicko
Bicko
because
Bicko

Pessoalmente tenho a certeza que uma parte do que sou a ele, à sua poesia e generosidade, se deve.



Ah e se alguém for a Istambul que não se esqueça de visitar os mercados, primeiro nas ruas, para observar o caos de vendas em que todos os preços se discutem, mas imprescindível é também o mercado egípcio das especiarias, onde se compreende ao que cheira o Oriente e sobretudo o Grande Bazar, onde vemos o comércio que há séculos e séculos aquelas gentes sabem fazer, suficientemente cordiais para serem apelativos, simultaneamente com a distância de quem não quer dar o flanco para os preços mais baixos.



Nas deslocações aproveitei para quase acabar uma colectânea de contos de Herman Hess. (2)

Mesmo como eu gosto, com o desenrolar de pequenas histórias de gentes vulgares, o Autor dá-nos uma época e lugares, no seu qudro mental e de costumes.
Obras de mestre.



E agora vamos deitar as meninas.

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(1) Aksit, Ilhan
THE MUSEUM OF CHORA – MOSAIC AND FRESCOES
(2) Hess, Herman
CONTOS DE AMOR

Alhos Vedros
01/05/13
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

Aksit, Ilhan- THE MUSEUM OF CHORA – MOSAIC AND FRESCOES
Aksit Kultur Turizm Aanet Ayans Ltd (1ª. Edição), Istambul, 2001
Hess, Herman- CONTOS DE AMOR
Difel, Lisboa, 2000

2007-08-03



Com esta imagem de uma das pontes sobre o Danúbio, terminamos esta série de fotografias sobre Bratislava que esperamos tenha sido do vosso agrado.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

NA VÉSPERA DA PARTIDA

Por incrível que possa parecer, esta foi uma manhã de trabalho intenso para pôr em dia o que a enfermidade fizera acumular.



A Lena, ex-mulher do meu amigo de sempre Rui Madeira –ainda que não o veja e dele nada saiba há mais de sete anos- telefonou para dar a novidade de que será mãe, espera-se, no início de Agosto.

Deus a acompanhe na sua hora.



Mas hoje tem sido um dia de afazeres, o preparar das malas e da estadia das miúdas em casa dos meus pais.

Amanhã vamos para Istambul.



E do congresso do PS
nada de novo transparece.

Percebemos que um sério e sólido investimento no ensino, de forma a criar matrizes de excelência, continuará uma figura de estilo. Está tudo contente com a reforma fiscal que temos, a partir da qual os ricos continuarão a fugir ao fisco e os trabalhadores por conta de outrem a suportarem as despesas do estado e da saúde nem vale a pena falar que é para ver se o sistema se endireita. Tribunais com mau olhado e juízes à mercê de lobbies inadjectiváveis fazem o melhor dos mundos da nossa justiça- palavra que em Portugal começa a ganhar um sentido cómico- que obviamente só necessita de uns retoques do género mais uma jarrinha ali e uma aspiradela acolá. Enfim, podemos estar a correr para o abismo, mas fantochada e foguetes são acompanhamento que nos não hão-de faltar na queda.

E quem disser o contrário leva.



Investigação do geneticista João Lavinha dá razão à ideia que subscrevo de que não faz sentido falar em raças puras. (1)
Os seus trabalhos fazem prova de que a deriva genética implica que todas as raças estão misturadas, pois é normal que se encontrem genes de umas populações em outras. Neste caso específico, estamos a falar de antepassados africanos. (2)

Mais um facto a registar para os meus estudos sobre o racismo.



E eu tenho de confessar como sou um pai galinha.
Ainda agora me despedi das miúdas e já estou cheio de saudades.



Bem, até para a semana.

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(1) Gomes, Luís F. de A., p. 20
AND US AND THEM (BREVES PALAVRAS SOBRE O RACISMO)
(2) Machado, Ana, p. 36
A PROCURA DO AVÔ – ANEMIA UNE ÁFRICA A PORTUGAL

Alhos Vedros
01/05/06
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

Gomes, Luís F. de A. – AND US AND THEM (BREVES PALAVRAS SOBRE O RACISMO)
CACAV, Alhos Vedros, 1995
Machado, Ana – A PROCURA DO AVÔ – ANEMIA UNE ÁFRICA A PORTUGAL
In “Público”, nº. 4064, de 01/05/05