2006-12-01

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Lar doce lar, como é bom voltar para ti para um fim-de-semana que se adivinha feito de eternidades.



E depois digam que eu não tenho motivos para me deixar envolver pela felicidade.

A minha casa também é um reino da miudagem, dada a vulgaridade com que as minhas filhas trazem amiguinhos até os seus domínios. A Beatriz, a unha com carne da Margarida e herdeira de um velho amigo do pai, essa é presença habitual que só necessita de premir o botão da campainha ou não tivesse já um garfo cativo à nossa mesa. Mas há mais e eu não estranho as vozes gaiatas, os risos e as cantorias, tal como acontece neste preciso momento em que estou a escrever estas linhas.
Seja como for, basicamente não me incomodam e maioritariamente consigo laborar no que tomo por obrigações pessoais.

E lá está, a ganhar surgem os instantes de alma polinizada. Como o que ocorreu há pouco.


A Beatriz entrou esclarecendo que tinha uma coisa para dizer mas que era segredo.
Minutos depois, estava eu de prazeres com os azuis e os algodões do ocaso, chegou a Matilde, olho grande e boca rasgada, mão encobrindo os lábios e a voz sussurrada e vai de evitar demoras, começou a contar-me qualquer coisa relacionada com a bicicleta da Mariana. Face à repentina chegada da repórter, em acto contínuo, a minha gatinha mais nova mudou de assunto e concluiu a narrativa de uma ficcionada queda de patins.



Cá estou eu novamente, agora que a quietude regressou no sono infantil.



A Luísa é que foi objecto de mais um episódio do surrealismo nacional.
A minha esposa é chefe de divisão do serviço de pessoal do Hospital de Santa Marta, em Lisboa e hoje recebeu, por carta, um convite para dar formação, imagine-se, sobre as carreiras específicas da função pública, simultaneamente acompanhado pelo pedido para que, num prazo de dois dias, apresentasse um plano para o hipotético curso em que constassem os objectivos, duração e planificação das actividades.
Acontece é que o pior nem está na bizarria de um curso que, por natureza, forçosamente seria composto por temáticas heterogéneas e destinado, em conformidade, a plateias igualmente diversas, isto além da estranha concepção de um trabalho do género no espaço de quarenta e oito horas. Pelo menos as pessoas dormem, não é verdade?
Pois bem, o pior é que perante o dinheiro do terceiro quadro comunitário que haverá para gastar, alguém responsável se lembrou do interesse daquilo e achou que a Drª. Luísa poderia despachar o assunto.

Airosa e delicadamente, aconteceu a recusa com o pretexto da falta de apetência para actividades do género.


É este o país em que vivemos, o mesmo que revela os mais baixos indicadores de qualidade de vida da União e onde se irão enterrar milhões e milhões de contos, em benefício imediato de clubes de futebol, actualmente em formato de sociedades empresariais, para a realização do Euro 2004.

Então não é que no dia em que o Presidente da República anunciou a sua candidatura a um novo mandato, a TVI não abriu o seu noticiário principal com uma novidade do seu concurso, o Big Brother?



Com as compras do super-mercado, a Luísa trouxe uns chocolates relativos à quadra natalícia.
Só então dei conta que hoje assinai os contratos da campanha publicitária do natal que se iniciará no próximo mês.



Enviei a minha próxima crónica para o “Notícias da Moita”.

Só espero que quem de direito a leia e se encha de brios para que o passeio da escola primária que a Margarida frequenta seja convenientemente arranjado. As crianças passam o portão sobre pedras soltas.



O dia escolar foi inteiramente preenchido com a recapitulação da aprendizagem feita até ao momento e, à tarde, houve espaço para falarem de um concurso para o qual os alunos terão que elaborar uma frase e fazer um desenho alusivo. O trabalho para casa é que não tem lá muita piada, mas deve ser feito.



O vírus Ébola voltou a matar em África, desta vez no Uganda.



Kostunica mostra-se capaz de aguentar a presidência de uma federação destroçada como é a Jugoslávia. Se vai conseguir lançar pilares e ferros de uma sociedade aberta e um regime democrático, isso não sei, ninguém sabe. Contudo, parece estar a ser capaz de neutralizar a oposição afecta a Milosevic que ainda detém a maioria parlamentar, mas a quem impôs a formação de um novo governo que prepare eleições legislativas para o próximo ano. Segundo diz, tem planos para que o nacionalismo montenegrino perca motivos para abandonar a república federal.

Pessoalmente faço votos para que a paz, a estabilidade e a liberdade caiam sobre os Balcãs. Seguir-se-ia o desenvolvimento.

As democracias ocidentais é que estão arrasadoramente ameaçadas de morte pelo poder dos lobbies poderosos que impõem as suas vontades na defesa de interesses próprios. Tenho a sensação, a inquietante sensação de estarmos nas vésperas de uma qualquer nova sociedade de vassalagem.
Caso contrário já teria havido uma qualquer espécie de plano Marshal capaz de ter impedido que o ex-bloco de leste caísse, quase por inteiro, sob o manto de máfias mais ou menos poderosas e organizadas.


Voltaremos a morrer nas barricadas da liberdade.

Alhos Vedros
00/10/20
Luís F. de A. Gomes