2006-11-02

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

E aqui estou eu, novamente, depois de uma dia de passeio que me fez bem.

Ontem fomos até à Ericeira para passarmos o dia com o João e a Teresa e os seus dois filhos, o Manuel e o Vasco.

Tarde de brincadeiras entre adultos e crianças e as conversetas da praxe, com lanche e o fim da jornada na forma de um jantar improvisado de ovos e salsichas antecedidas por delicioso creme de legumes.

Regressámos noite avançada e as meninas foram para a cama sem tomarem banho.
O abraço ao João-pestana dera-se ao longo da viagem.

Apesar de uma constipação que me sobreveio, foi um dia alegre e revitalizador.


Eles estão todos bem, mesmo tendo em conta o cansaço dos pais que se lhes estampou no rosto.



A Margarida prossegue esta primeira fase de adaptação à escola.
Permanece aquela ambivalência que é um misto entre o querer e o gosto de estar e a aversão às acções exercidas sobre as inconveniências comportamentais que, na sua interpretação, têm a normalidade das coisas naturais.
É que a adaptação à escola requer, pelo menos o relacionamento com os trabalhos da aprendizagem e a aceitação das regras inerentes às atitudes consentâneas com esses mesmos processos, bem como a apropriação daqueles que, em algumas das suas expressões, não são inteiramente claras para estas idades.
Quanto ao primeiro aspecto poderemos falar de um saldo positivo. Sem excepção, os exercícios que tenho visto estão bem feitos e, ainda há pouco, resolveu o trabalho de casa enquanto o diabo esfregou o olho. Além disso, devo notar que sabe descrever de forma ordenada o que diariamente faz nas aulas e sabe explicar o que, num ou noutro caso, carece de explicação.
Sinceramente, outra coisa não esperaria da minha filha, tal como sabia da inevitabilidade das hesitações sobre se conseguirá ou não responder aos desafios que se lhe deparam.
No que à disciplina diz respeito é que as velas não vão assim tão entufadas, bem pelo contrário, raros são os dias em que não é objecto de castigo. Os motivos não são graves e não me parece que pressionem o botão vermelho; além do humaníssimo dar à língua, há o pecadilho de aproveitar a ausência a ausência da docência para espreitar à janela.
Mas são essas as forças da repulsão que a levam a aceitar as aulas e a Professora com alguma resignação mal escondida nas palavras.


A Luísa voltou a questionar-se quanto à pertinência e efeitos de medidas, aparentemente, tão rígidas.
Honestamente continuo a pensar que não lhe encontro alternativas. Noutras condições de ensino, talvez.

O nosso papel é o de quem tempera o caldo amargo, procurando que ela, por um lado, compreenda as implicações do papel da Professora e, por outro lado, assimile a necessidade de uma prática razoável que, obviamente, deverá ter expressão real. Tenho para mim que estas são das primeiras pedras da cultura de estudante.



Lamentavelmente, no nosso país não se investe a sério na educação.
Depois da palhaçada da reforma de Roberto Carneiro que acabou na readaptação do nosso modelo de ensino aos nove anos de escolaridade obrigatória imposto pela União Europeia, com os sucessivos remendos e ajustes que seguiram ao sabor da gritaria dos lobbies envolvidos e esbatida a paixão do actual primeiro-ministro sobre o tema, o que se vê é o desemprego de inúmeros licenciados sem aptidões para laborarem na economia real, para não falar de um tecido tecno-económico que não apresenta sinais de conseguir vir a acompanhar os patamares superiores da nova divisão internacional do trabalho que as novas indústrias e produções científicas estão a desenhar sobre os nossos narizes.

Os nossos homens sem espinha não são capazes de identificar e satisfazer o bem comum.



Autárquicas na Bélgica.
Face à possibilidade de os cidadãos de outros países da União, por aí serem residentes, poderem eleger e serem eleitos para aqueles cargos políticos, teme-se o crescimento da votação na extrema-direita.



E na Jugoslávia deu-se a reviravolta que impôs Kostunica na presidência. Jurou a constituição, depois de reconhecido pelo tribunal constitucional e falou da coesão da federação.

O futuro falará por ele e a abertura da sociedade, a normalização da vivência democrática, serão disso testemunhas.


Na campanha eleitoral norte-americana começaram os debates televisivos.
Al Gore com ligeira vantagem no primeiro assalto.



Na sexta-feira, de manhã, os alunos construíram e ilustraram uma história sobre cheirinhos e à tarde fizeram uma ficha sobre a aprendizagem do dia anterior, cuja finalização ganhou a forma de trabalho de casa.



E o polvo mafioso que nos há-de matar a democracia lá voltou a disparar, desta vez sobre a dignidade de um futebolista do Benfica, revelando aspectos da sua vida íntima no âmbito sexual.
Que se pode dizer de um jornalismo que não revelou a coragem de, sem tibiezas, desmascarar a ignomínia e expor publicamente aquele que lhe deu eco, um tal Manuel Serrão, outro dos que falam com o beneplácito de um certo lobbie que pretende o poder para o Norte, coisa que nada tem a ver com a sombra do erário e dos privilégios. Obediente e lambe-botas, a cobardia tratou de querer saber a opinião de Pinto da Costa sobre o assunto.



E a família aproveitou o doce cair da tarde para que as miúdas dessem ao pedal no decurso de um passeio que acabou por se prolongar até à hora do regresso para o banho e o jantar.


Agora, lavados os dentes e após uma boa hora ao telefone com a tia Fátima em que tanto uma como a outra contaram as novidades dos últimos dias, “-Diz que eu já vou à escola.”, falava a impaciência da mais nova enquanto esperava a sua vez, cumprida a obrigatória parcela da mãe, lá foram para a cama e dados os beijinhos e os miminhos de embalar, deixaram-se dormir na serenidade de uma vida feliz.



Ehud Barak deu um prazo de quarenta e oito horas para o fim da intifada na Faixa de Gaza. A clepsidra esgotar-se-à amanhã.
Seguir-se-à pancadaria e o impasse político habitual. Tenho dúvidas que o governo israelita passe de imediato à revitalização dos colonatos. Seria demasiado arriscado e o estado judaico ficaria isolado internacionalmente com o único apoio por parte dos Estados Unidos. Mas não seria a primeira vez que isso aconteceria.
Seja lá como for, continuamos na era em que as vozes radicais se sobrepõem à inteligência e moderação e, isto, tanto de um lado como do outro.



Ai Margarida, meu amor
que mundo tão belo
e simultaneamente cheio de horror.



Na Índia há meninos vendidos para pagamento de dívidas.

Perdoai-nos Senhor.
Tende misericórdia de uma humanidade ainda criança.

AlhosVedros
00/10/08
Luís F. de A. Gomes