2006-12-03

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

JÁ SEI LER
Só não entende quem não quiser ou quem não andar com os olhos atentos.
Está aberta a guerra ao primeiro-ministro e o seu governo e até que ele caia, assistiremos a todo tipo de golpes que hão-de ter como pano de fundo, uma campanha na imprensa que implacavelmente apresentará uma enxurrada de casos comprometedores para o próprio e aqueles que lhe são chegados no exercício e manutenção do e no poder.
António Guterres soube manter os cargos que ocupa através da política do diálogo que, na prática e no que é decisivo, consistiu no equilíbrio extraordinário de não afrontar nenhum dos poderosos lobbies que condicionam a realidade social e politica do país e, em várias ocasiões, já se mostraram capazes de impor vontades e a salvaguarda de interesses particulares. Será que desconhecia que ao demitir Fernando Gomes tão só estaria a enfrentar o poderoso lobbie do Porto, transversal às mais diversas famílias políticas e que naquele parecia ter encontrado o seu homem na demanda de mais e mais benesses e privilégios dos dinheiros e da coisa pública?
Consciente ou não, o que tenho por certo é que a fera foi estocada, justamente enquanto comia, e não é por acaso que já foram feitas concessões de prometidos acréscimos dos gastos públicos na área do grande Porto e, em outro nível, um servidor como Jorge Coelho se tenha apressado a apresentar solidariedades pessoais ao ex-Presidente da Câmara da Invicta.
Veremos como se sairá um homem que nunca conseguiu esconder os seus apetites de César, fazendo a ponte importantíssima entre o beneplácito da hierarquia católica e os desejos secretos de muitos grupos privados.
Palpita-me que chegaremos a uma solução de compromisso em que a cadeira será sustentada pelo substancial aumentos dos benefícios concedidos aos vários intérpretes –personalidades e entidades- da reunião de conveniências que dão corpo ao referido lobbie nortenho.
O tempo o dirá.

Se quisermos ter uma antevisão do que será a saraivada que o nosso primeiro enfrentará nos próximos meses, basta que olhemos o universo do futebol nacional. É ver os franco-atiradores que aí pululam e só resta observar as canalhices de que são capazes. Vale tudo, até vilipendiar a vida íntima das pessoas.

Não me espantaria que ao nível político fosse muito pior.

Hoje, por exemplo, saiu a lume a história das acções de Pina Moura, o ministro das finanças, e das transacções de títulos correspondentes a empresas sob sua tutela. Obviamente, o governante desmente, mas com rabo-de-palha, é que a carteira pertence à esposa com quem está casado, vejam só, em regime de separação de bens.
Este já está feito.


Quando os principais guardas pretorianos tombarem ou desertarem, haverá certamente um Brutus para cravar o punhal.



Enquanto isto acontece, no outro lado da Terra, o general Wiranto gravou um disco com canções românticas.
O leilão do disco de ouro que o número de vendas lhe proporcionou rendeu uma quantia à volta de dez milhões de escudos –isto com a devida tradução cambial- que o guerreiro cantor ofereceu aos refugiados timorenses que, por este ou aquele motivo, se escusam a regressar ao território do leste.

Sem comentários.



E enquanto a Margarida e a Matilde fizeram ginástica, eu lá me perdi, uma vez mais, na Galiza esventrada de mar e névoa.



E a Margarida já consegue ler.
Depois do jantar, como exercício do trabalho para casa do dia, leu as frases, “é a menina”, “a mena”, “é a mena”, as quais fazem parte da primeira folha do livro dinâmico que iniciaram hoje, no turno da tarde. De manhã, tinham realizado uma ficha sobre a matéria do que veio a enformar a abertura do livro referido.



Mas a alegria foi imensa ao ver o meu piolhinho, indicador direito esticado sobre a folha, a decifrar em voz alta a magia da linguagem escrita.
Louvado seja Deus.

Alhos Vedros
00/10/23
Luís F. de A. Gomes