2006-11-12

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Agora que acabei de cumprir uma das minhas atribuições diárias da paternidade –a inevitável cantiga de embalar e a leitura de uma história que hoje foram duas e logo da Anita- dei comigo a reparar num pormenor.


A Matilde gosta imenso de ouvir a “Anita no Hospital” a ponto de, em cada cinco ou seis exemplares desta colecção, quatro são aquela historiazinha.

Curiosamente, a Margarida, mais ou menos pela mesma idade e fase vital, a entrada no jardim-de-infância, também teve a sua temporada de se repetir na mesma escolha.


E o engraçado é que isso se reflecte no leitor que, com tantos ensaios, encontra Ódeon e faz uma oratória cheia de nuances e ênfases da teatralização de um texto.


Ontem esqueci-me de referir o que se segue.

A barreira de fogo sobre Guterres não mais parará.

Desta vez deu-se o palanco ao ex-ministro da cultura, o Professor Carrilho que finalmente deu conta da pantominice da sedução passional do primeiro pela educação.

No género subtílis, o homo maniatábilis continua pronto a disparar.



Pois já que estou com a mão na massa, devo referir o prazenteiro encontro com um artigo de Pacheco Pereira (1) no “Público”; a bica do almoço não podia ter estado em melhor companhia.

É uma boa chamada de atenção para o perigo do reforço dos poderes de estado face aos cidadãos, com tudo o que isso, entre nós, pressupõe e implica de ataque à individualidade e aos direitos de cidadania.
Esta é a sua tese fundamental que eu subscrevo na íntegra.

Até se dá a coincidência de eu ter, há tempos, escrito dois textos que poderiam ter sido espoletados por aquela peça.
É verdade. E para prová-lo vou transcrevê-los; apenas para evitar ser maçador, usarei o método dos fascículos e hoje limitar-me-ei a copiar o primeiro.
Aqui vai ele, um desabafo sobre o “Big Brother”, escrito ainda antes do concurso ter começado, em reparo àquilo que sobre o programa televisivo vi na crítica jornalística.

Reza assim.

O “Big Brother” parte de um principio errado.
A ideia que a privacidade de alguém interessa a outrem, o que subverte, na origem, o pressuposto real da individualidade, o reconhecimento de que a cada um pertence o seu próprio espaço de vida que parte, precisamente, daquilo que apenas diz respeito a uma determinada pessoa.
Tal como a conhecemos, a civilização em que vivemos também se tem construído pelo cada vez maior reconhecimento da privacidade.
Aquilo que a literatura ou as ciências sociais têm feito a respeito da privacidade, as descrições, as reflexões, as ilações que nos têm apresentado sobre o tema, visto genericamente ou particularizado seja em quem for, não pode ser confundido com o que se passa no “Big Brother”, pois nada neste transcende o mero papel da espionagem sobre o quotidiano privado de um dado indivíduo; restaria apenas que se inventasse uma máquina para descodificar pensamentos para que àquelas criaturas fosse negado, por completo, o direito de não revelarem a sua opção ideológica ou partidária.

Em alguma circunstância seríamos capazes de aceitar a existência de um tal aparelho?


Amanhã veremos o outro.



Afinal, o passeio matinal foi ao pavilhão municipal da Moita.

Tratou-se da recepção da Câmara aos novos alunos e a Margarida trouxe uma camisola que lhe há-de lembrar o dia.


E eu tive oportunidade de ver a medalha que, a propósito desta saída, os alunos tinham realizado num destes dias.
Lá estão os coraçõezinhos, a menina, a casa e o Sol.

No primeiro ano em que esteve na sala dos grandes, no jardim infantil, o símbolo que escolheu para o seu cabide foi o coração.



A aviação israelita bombardeou cidades na Cisjordânia.
Em resposta, volta-se a falar de guerra santa.

Oh Rabin Ytzak
que a tua alma não chore a tragédia daqueles que não souberam merecer a grandeza de se seguirem a ti, meu irmão.

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(1) Pacheco Pereira, José, p. 11
O ASSALTO AO INDIVÍDUO

Alhos Vedros
00/10/12
Luís F. de A. Gomes

CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Pacheco Pereira, José- O ASSALTO AO INDIVÍDUO
In, “Público”, nº. 3861, de 00/10/12