2007-01-12

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Vivemos num país canalha.

De acordo coma interpretação dos juízes do supremo tribunal que, alegadamente, apenas se limitam a respeitar a lei, os atrasos nos processos decorrem de defeitos do sistema, pelo que uma boa mão cheia de batatas quentes correm o risco –para os prevaricadores dir-se-à que têm a possibilidade- de serem arquivados.
Não, não, não estão a ler mal. Casos como os da corrupção nos cursos pagos pelos fundos sociais europeus, como aconteceu na UGT e que envolveram montantes bastante elevados, ou o das mortes infantis num aquaparque, em Lisboa, ou sempre que estejam em causa arguidos com poder suficiente para conseguirem o protelamento das situações, em tais circunstâncias fica certa e sabida a prescrição do que, na prática, se traduz por um estatuto de impunidade para os mais fortes.

Pode não parecer, mas daqui à Somália está o fio de uma navalha.

Alguém de primeiro plano, entre os causídicos, apontou o dedo a Cunha Rodrigues, o anterior Procurador-Geral da República, com um dos responsáveis pelo estado a que se chegou.
A verdade +e que neste momento isso já de muito pouco serve.

Mas o que a mim me magoa e simultaneamente aterroriza é o aparentemente tão estreito corredor que a jurisprudência tem construído entre nós. Afinal, ainda fala alto uma cultura inquisitorial que tão bem se acomodou a uma tradição de tribunais plenários.


Os portugueses caminham no sentido inverso da civilização.


E a gracinha não fica por aqui.
Ao adquirir a Lusomundo através da Portugal Telecom, o governo como nacionalizou importantes órgãos de comunicação social. A TSF é um exemplo. Imagine-se essa estação de rádio à mercê de um Jorge Coelho.

Mas não se apoquentem, Guterres é mais esperto do que isso -é ver a subtileza como a guerra de interesses que de Fernando Gomes fazem testa-de-ferro está a levar a um equilíbrio que a todos dá de comer- e sabe que não necessita de ser ele o dono; no reino do homo maniatábilis há sempre uma forma de peneirar a realidade pelos discursos que se ouvem nos media. E depois também já percebeu que precisa de terrenos para vender, caso contrário não terão dinheiro suficiente para continuar a mandar a orquestra tocar. Há que semear as mais-valias.



Dia solarengo mas frio. Depois de sentir uma baixa acentuada da temperatura, após o almoço, vesti a primeira camisola deste Outono.



Eu é que desde que a minha secretária adoeceu, tenho andado numa verdadeira roda-viva. Pudera, uma miríade de pequenas coisas que se prendem com a gestão financeira e contabilística da empresa e que me chegavam prontas para a vistoria e o aval, sou eu que me vejo forçado a fazê-las. Há dias em que só por um grande esforço tenho ânimo para manter a escrita em dia. Mas não tenho alternativa e sei, de experiência feita, que o corpo humano tem energias que a normalidade desconhece. E encomendo-me a Deus, rogando para que eu me deixe iluminar pela Sua infinita sabedoria.

Ontem, face ao esgotamento do material de leitura, ainda encontrei a oportunidade para entrar apressadamente numa livraria. Depois de me esclarecerem quanto à inexistência de William Golding, topei um desconhecido de Virgílio Ferreira que iniciei na espera que as aulas de ginástica implicam.
Parece-me que se trata de um romance de amor segundo o método da epístola.
A óptica do nosso existencialismo sobre o tema.


Mas antes de jantar, enquanto as miúdas, brincando, gargalhavam no quarto, passei para a disquete a minha próxima crónica no “Notícias da Moita”.



Porque escrevo num jornal local?
Acredito que a imprensa local e regional é um bom veículo de afirmação da sociedade civil, além de ser um modo de as populações se informarem sobre as áreas da sua residência.
Não fosse isso muito e ainda considero o facto de aquele quinzenário ser uma simpática publicação que, em condições um tanto ou quanto adversas, mantém bem direita a espinha de uma liberdade imaculada. E por isto eu sinto-me honrado por ali escrevinhar uma pequena coluna.

O Sr. Elias Torres, seu fundador e director, homem que teve a coragem de responder ao despedimento com uma obra destas, merece-me o mais profundo respeito e a mais elevada consideração, quer pelas provas que particularmente me deu quanto à conta em que me tem, sobretudo pela verticalidade com que tem definido e praticado uma imprensa livre. E devo reconhecer o quanto aprendi com ele no que concerne à composição de uma mensagem clara e objectiva.

E sem imodéstia nem falsa consciência, é a minha forma de publicamente exercer a cidadania.

Só a patetice tomará isto por idealismo ou fantasias.

A menos que seja natural e conscientemente anti-democrático, é claro.



A Paula que já foi educadora da Margarida e agora é a da Matilde, diz que a minha filha mais nova é muito simpática e alegre, sempre disponível para com os outros miúdos e ainda mais pronta para a brincadeira. Diz que é uma criança despreocupada mas que revela grande autonomia. E se está para aí virada, caso contrário nada feito, empenha-se a sério nos trabalhos que lhe solicitam e que ela executa com a máxima concentração.

Sabe bem surpreendê-la, ao almoço, só para lhe dar um beijinho e receber o troco do brilho que um sorriso satisfeito projecta no olhar.



“-Oh pai, já podes ir embora. Estão ali as minhas amigas e nós vamos lá para trás brincar.” –Disse-me a Margarida, gesticulando para me dar um beijo. “-Mas não te atrases quando me vieres buscar.”



Travagem brusca e derrapagem em acto continuo seguida de choque.
Acabei de ouvir um acidente numa das ruas vizinhas.



Bill Clinton despede-se da presidência com saldo positivo.
E acabou por encontrar a cereja para o bolo com a visita ao Vietname. É o lançamento de uma ponte de que brotarão os bálsamos para que sequem as feridas de uma das guerras mais contestadas do século vinte.
É um gesto de paz que sempre calha bem e que nada tem de hipocrisia.

Aquele que na juventude se recusou a combater, é o melhor protagonista para uma reaproximação sincera.



Hoje os alunos fizeram jogos com palavras, a união de grafias em maiúsculas com as correspondentes em minúsculas e escreveram e leram frases como, por exemplo, a menina tapa o pote.
E há trabalhos de casa no fim-de-semana.



Ainda que o dia tenha estado bonito, estamos a entrar no mês de que eu menos gosto ao longo do ano.
Até que os dias voltem a crescer.

Alhos Vedros
00/11/17
Luís F. de A. Gomes