2007-01-10

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

SINAIS PERTURBANTES
Mau! No regresso a casa, depois da aula de ginástica, não é que a Margarida me disse que, na escola, brincaram aos namorados?

É claro que estamos no contexto da inocência infantil e eu sei que tais relacionamentos são tão naturais, entre os humanos –salvo seja a expressão- como a sede; ainda que na comparação estejamos a usar um termo cultural e um outro do domínio da biologia humana.
Eu sei isso tudo e também sei que sempre procurarei encarar este assunto através das lentes da racionalidade e nunca através dos filtros dos sentimentos.

Mas há perturbação, sob o efeito daquelas palavras, no entendimento, sente-se no peito um pequeno formigueiro repentino e quase instantâneo.



Contudo, há deleite na nostalgia que nos atravessa ao olhar a vida fruir.



Alguém, na Câmara Municipal do Porto, teve uma ideia genial. Para que as cândidas vistas das pessoas mais velha com valores mais sensíveis ao recato se não inquietem pelo efeito de cenas menos abonatórias e mais apropriadas ao escarlate das faces quando o espanto desfigura o rosto, de resto, em nome da decência e dos bons costumes, do Executivo camarário emanou a norma que preconiza a proibição de certas manifestações entre namorados, nos jardins do Palácio de Cristal, o que levou os seguranças a impedirem que alguém se sente no colo de outrem. Nem mais nem menos, é proibido namorar, logo num recanto da cidade que tanto convida à ternura, seja em que idade for.
Instada a justificar-se, aos microfones da TSF, a Vereadora da cultura, a Senhora Manuel de Melo, não só confirmou a genialidade, como justificou do modo que se disse e ainda teve o descaramento de sublinhar que pode haver algum excesso de zelo por parte dos funcionários, alguns dos quais, na boca da ilustre autarca, pouco preparados para distinguirem uma atitude menos própria da outra facilmente tolerável. No fundo, temos no espírito uma polícia de costumes.

Só espero que muitas centenas de jovens se juntem e se manifestem ao colo uns dos outros, precisamente naqueles jardins, isto é, cheguem e sem quaisqueres palavras se sentem sobre as pernas do parceiro respectivo.


Pela minha parte, já sei onde irei namorar na próxima oportunidade que tenha para ir ao Porto.



Não sei onde a Matilde ouviu que as pessoas morrem quando o coração pára, mas tanto ontem ao deitar, naqueles entrementes carinhosos que antecedem o último beijo do dorme bem e ainda há pouco, ela fez-me perguntas sobre a relação entre a paragem do comboizinho de corda e a morte e extrapolou conclusões acertadas a respeito daqueles que lhe são mais chegados.

Que me recorde, a irmã, com a mesma idade, nunca manifestou este tipo de preocupações, mas sei como as comparações são, tantas vezes e a este nível, abusivas. E não sou capaz de decidir ou não pela normalidade da situação. Em todo o caso, um pouco de atenção não será, de todo, algo insensato.

Atribulações da educação.



Ai que impressão que me metem as cogitações socialistas.

Ora esta, o seu grupo parlamentar quer aprovar legislação em que se impunha o voto secreto nas magnas decisões dos partidos políticos.
Mas o que é isto?

Será que a seguir irão legislar sobre a dimensão das janelas das sedes?


José Luís Judas que já se declarara candidato a um novo mandato à frente da Câmara de Cascais, finalmente comunicou que tal não irá acontecer. Recorde-se que o ex-comunista, ex-sindicalista, ex-plataforma de esquerda e agora ex-recandidato, não é mesmo nada ex no historial de medidas e negociatas não muito bem contadas.
E eu digo. Se calhar quer um convite formal que lhe reforçaria o poder. No entanto, pode muito bem acontecer que se sinta satisfeito com o que fez e o legado que deixará.

Veremos se não passará a dedicar-se aos negócios.
Seria a cereja no bolo que festeja a carreira de um homem com uma verticalidade tão bem vincada.



No ranking da FIFA para as selecções nacionais, Portugal está em sétimo lugar.
Uau! Ondulou de norte a sul do país.
Pudera, cada vez mais os pais sentem que uma boa forma de os filhos singrarem no mundo competitivo da globalização é, precisamente, o serem bons em alguma especialidade.
Vejam lá se queriam que os portugueses pensassem nas ciências.



E hoje os alunos tiveram uma manhã de trabalho livre em que escreveram palavras a seu gosto e segundo as suas capacidades.
à tarde tiveram uma visita de uma médica dentista que lhes ensinou os rudimentos da higiene oral e lhes distribuiu uma escova e uma pequena pasta de dentes.


Será que na Dinamarca também se fazem campanhas destas?


E trouxe uma figura de um menino a lavar os dentes para pintar em casa, coisa que ela fez enquanto decorreu a hora de ginástica da irmã.



Stephen Jay Gould defende a tese segundo a qual não existe progresso ao nível da história da vida.

Há muito que penso o mesmo no plano das culturas humanas; aquele tem sempre um cariz concêntrico, pois é definido em função de um dado momento que, inevitavelmente, é tomado como o ponto mais avançado.

Deixo-lhes esta citação incerta na página duzentos e dez que acabei de ler.

“Os seres humanos encontram-se aqui pela sorte dos dados, e não pela inevitabilidade da direcção da vida ou do mecanismo da evolução.”



Fiquem com Deus.

Alhos Vedros
00/11/15
Luís F. de A. Gomes

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

vê-los crescer é uma benção mas também uma preocupação. E ao que parece os papás são os que mais se ressentem quando se apercebem que as suas borboletas ganham asas.
Tenha o resto de uma boa tarde.

PS
Peço desculpa mas não sei explicar a razão pela qual o comentário não é inserido a partir do mail. Creio que foi aqui que o fez. Caso o deseje, por causa da forma como aqui o publicamos, apagaremos este contributo.
Luís F. de A. Gomes

19:11  
Blogger o clube said...

Peço a Deus que me ilumine para que possa aprender e crescer como pai. Nem sempre o consigo e nem sempre tenho a certeza de quando estou a agir no bom sentido e com bom senso. Tento estar atento aos erros para os tentar corrigir, mas também isso nem sempre acontece. Falho e tento aprender e nãosou capaz de encontrar alternativa para isso.

Reparei que não respondi à sua pergunta no outro comentário mas não serei capaz de o fazer pois não tenho presente as telhas a que faz referência e não me recordo daquelas que a fotografia representa.

O melhor para si

Luís F. de A. Gomes

19:20  
Blogger Gi said...

Olá Luís, boa noite.
Peço desculpa mas não percebi a questão do seu PS. Mail? Que mail? Creio ter comentado como sempre mas se não o fiz, não percebo que razão haveria para o apagar.
Agora sobre as telhas. não tenha qualquer problema em não ter respondido, era só curiosidade mesmo.
Tenha o resto de uma boa noite

00:00  
Blogger ATIREI O PAU AO GATO said...

Boa noite, Gi
Você fez tudo como é devido.
Mas acontece que eu recebo os comentários no mail do blog e é a partir daí que os insiro nos espaços respectivos. Mas este não entrou, não sei porquê e por isso o copiei e escrevi o seu nome e o do seu blog no espaço do Autor do comentário.
Falei em apagá-lo pois poderia não gostar de ver um comentário copiado publicado em seu nome. Se não a incomoda...
Tudo de bom para si
Luís F. de A. Gomes

00:51  

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