2007-03-11

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Volume 2
DO NATAL ATÉ À PÁSCOA
Para a
Margarida
Reatamento também rima com adiamento e foi precisamente isso que aconteceu com a Margarida que depois de ter ficado a saber que, em face da má saúde da Professora, apenas retomará as aulas na próxima segunda-feira, viu também a primeira aula de ginástica adiada devido a um corte de energia eléctrica.

São coincidências inesperadas e que, neste caso, nada têm de mal; até tenho para mim que este prolongamento fará bem àquela minha filha. Proporcionar-lhe-à a oportunidade para se recompor do cansaço e da excitação das férias, sem a pressão suplementar de iniciar os trabalhos com o peso da saudade pelos entes que moram longe, lá no Porto. É que este meu amorzinho sente a perda da quebra de laços de ternura e atenções que tanto a fazem sentir-se feliz e, à semelhança do que acontecera no Verão, quando regressou da estadia em casa dos avós maternos, voltou a chorar sob o efeito da tristeza de não poder ter todo o seu mundinho ao alcance da mão.


E esta manhã, depois de a ter conduzido de volta ao lar, aí ficou a brincar com os seus jogos e bonecos, ainda que tenha dedicado alguns momentos à leitura do livro dinâmico, tal como me confessou à hora do almoço.


Já a Matilde não teve a mesma sorte e lá ficou no jardim infantil.


Ao fim da tarde, na falta da sessão de ginástica, chamaram a amiga Beatriz para brincarem aos acampamentos “-E às aventuras!”

“-Oh pai, o que é uma aventura?”

E depois da explicação que englobou a particularidade da localização na selva, foram para a sala, pelo que me apercebi, para viajarem por um rio qualquer, onde se estavam banhando quando a mãe chamou a visita para o jantar.



Na sua viagem para Saturno, a sonda Cassini aproveitou a proximidade de Júpiter para fotografar as tempestades atmosféricas do gigante.



Ainda que em jeito de balanço relativo à prestação escolar da Margarida, um dado que eu posso acrescentar àquilo que já escrevi é o facto de a miúda ser capaz de ler palavras que ainda não deu e feitas com as letras em igual condição, naquilo que manifestamente é uma aplicação da aprendizagem feita até ao momento.
É engraçado de ver como ela se esforça por ler as legendas de este ou daquele jogo ou as mais variadas epigrafias que encontra ou que lhe chamam a atenção, seja, por exemplo, em jornais ou em objectos. E fá-lo com sucesso, mesmo em vocábulos aparentemente difíceis como é o caso de autópsia.

Não tenho dados comparativos pelo que não posso aquilatar da importância –salvo seja a expressão- do feito, mas pelo que falei com amigos e pelo que se verificou com uma sobrinha da Luísa, a Patrícia, não é raro que as crianças cheguem ao Natal capazes de fazerem o que vejo à minha querida filha.


E talvez não seja desajustado referir que ela é capaz de executar mentalmente certos cálculos, que na forma de somas que na de subtracções.


Só podemos dizer que, até ao momento, tudo está a correr bem

Para que tal assim continue, a nós, os pais, compete-nos, para além de exigirmos o comportamento adequado e sempre de acordo com as regras da cortesia e do respeito pelos outros, tudo fazermos para lhe proporcionarmos uma vida calma e prenhe de bem estar, perfumada pelo carinho de quem está presente quando necessário e deixa as asinhas ganharem força para um dia voarem para lá das nuvens.



Ah e a nossa casa ficou mais bonita com a oferta que a minha mãe nos fez pelo Natal. Nada mais nada menos que cinco quadros bordados a ponto-cruz –creio que é assim que se diz- que estão perfeitas jóias que muito valorizam a nossa modesta colecção de arte. Quatro deles representam imagens alegóricas às estações do ano e o outro apresenta uma casa de banho do princípio do século passado.

Decidimos pendurá-los nas paredes do corredor que leva até aos quartos e casa de banho que lhes serve de apoio, o que nos forçou a uma redistribuição de pinturas e desenhos; estes, são agora o cartão de visita do apartamento.



E no meio de tanta sapiência em torno do facto de o milénio ter começado neste e não no ano passado, fico sem saber se ano dois mil pertence à década de noventa. Sendo a resposta afirmativa, então como é? Mil novecentos noventa e nove foi a última anuidade do decénio anterior, teremos uma década, a última do século, com onze anos?


Bem, dessa forma, pelo menos, o Porto lá comemorou o fogo do milénio.



E lá para o reino de França
se vai sabendo a verdade
com Miterrand houve uma dança
mascarada de seriedade.


Lembram-se de Bernard Tapie, o ministro das cidades que acabou preso por alta corrupção?
E o que dizer do filho mais velho do ex-presidente que encheu os bolsos com a venda ilegal de armas ao governo angolano?
Obviamente tudo a partir da posição familiar e pessoal conseguida no exercício do poder de estado.

Foi o consulado de esquerda de um homem que de Vichy desaguou no socialismo, pelo qual conseguiu comer do prato da cadeira presidencial.
Afinal, não terá sido por acaso que se arrogou de pretender deixar uma auto-biografia oficial.


A História é que possui um balandrau que tapa e outro que destapa logo em seguida.



Não é só este rectângulo, o mau tempo assola toda a Europa.
Há cidades sem luz eléctrica na Suécia e cortes de rodovias e ferrovias na Grã-Bretanha.

O Sol, esse, nem se tem deixado ver.



Radio Head faz-nos parar para imaginarmos pictografias sobre uma folha de papel em branco.
Voando, no interior do quarto, quando nos levantamos para ver as estrelas acenando intermitências para lá das manchas escurecidas que passam no céu.



E lá vamos nós assistindo a uma campanha eleitoral de chacha, sem que algum candidato seja capaz de impor amplos debates mediáticos a respeito daquilo que pode estar em causa no próximo dia catorze, com a agravante das ideias e argumentários andarem simplesmente a reboque das circunstâncias.

Pois é de lamentar que assim seja.
Afinal, o Presidente da República é sempre, em primeiro lugar, a consciência ética e moral, assim como cívica e política da nação e, nessa medida, deve servir-se dos mecanismos de que dispõe para alertar para os problemas mais gravosos ou os desafios mais importantes da sociedade.

Na véspera da circulação do euro, não competirá ao mais alto magistrado chamar a atenção para aquilo que isso implica em termos de esforço e aplicação dos portugueses para que possam aspirar alcançar os padrões de qualidade de vida dos mais abastados membros da União Europeia? Não lhe estará na natureza a obrigatoriedade de levantar questões, fazer as perguntas certas? Só para tomar mais um exemplo, podemos estar satisfeitos com a educação que temos e confiantes que a mesma habilitara os nossos jovens a usufruírem daquilo que mais se aproxime de uma igualdade de oportunidades com os coetários de outras economias mais dinâmicas?


E o que é certo é que todos andam a reclamar a demissão do General Barrento e a acusar o Governo de desgoverno, o qual, por sua vez, pela figura do seu ministro da justiça já tentou sacudir a responsabilidade para cima do Presidente da República que, para não contrastar, mas com o suporte de eminentes constitucionalistas, não se demorou a devolver a bola.

Democratas, pois então e sobretudo nada de politicamente cobardes.
O titular da pasta da justiça até admitiu que sim senhor, é ao governo que compete propor a exoneração do chefe do estado-maior do exército mas, atendendo à forma como tem sido praticada, entre nós, a mais alta magistratura, se o Presidente fizer uma tal indicação ao executivo também não ficará mal.


E ninguém parece dar conta que a responsabilidade pela decisão da guerra e, logicamente, das suas consequências, cabe, em primeira mão, aos políticos.


Mas amanhã haverá um debate na RTP1 com tudo ao molho e fé em Deus.

A bem da democracia, pois claro.

Alhos Vedros
01/01/03
Luís F. de A. Gomes