2007-04-11

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Ritual que se segue à lavagem dos dentes, antes de deitar, são os dois comprimidos de zimafluor que tanto uma como a outra das minhas filhas tomam desde o ano e tal, altura em que o pediatra lhes dobrou a dose que mantinham desde os trªes meses de idade.


E depois disso o aconchegar dos lençóis e cobertores, em certos dias com uma última conversa ainda antes do adormecer e justamente com a canção de embalar que é um hábito que há muito a Matilde adquiriu e que a Margarida não teve.


E cai então a casa na quietude que só aos pais diz respeito.



A Margarida disse-me que gosta mais das palavras do que da Matemática, em sua opinião, um pouco mais complicada.
“-Eu prefiro a língua portuguesa porque aí vou descobrindo palavras novas. E eu gosto de aprender palavras novas e de fazer brincadeiras com as palavras.”

É claro que eu tento manter-lhe sempre acesa a chama das ciências. Não que lhe diga que tem que aprender, o que seria uma tontice. Mas procurando cativá-la ao aguçar-lhe a curiosidade.
“-Mas a matemática também é muito engraçada, a matemática também é uma espécie de brincadeira que se pode fazer, sabes?”


A Luísa é da opinião que ela já descobriu a aplicação e utilidade prática da leitura o que ainda não fez com os estudos a que chama Matemática.

E é capaz de ter razão.
De facto é engraçado ver a Margarida esforçar-se por aprender a ler e a escrever.
O certo é que ela já consegue decifrar muitos títulos de revistas e jornais, para não falar das confirmações que nos pede para as leituras que vai fazendo dos letreiros e outras coisas do género.


Só não sei é se o faz tanto pelo prazer de aprender como pela noção da responsabilidade de fazer o que deve ser feito para o atingir. Provavelmente por um misto de ambas as razões. Mas na verdade aquele meu anjinho cumpre religiosamente o exercício da leitura diária do livro dinâmico. E nunca precisa que lhe digam para resolver os trabalhos que traz para fazer.



E para aqueles –na maioria dos casos por puro snobismo- que chalaçam com os grécios e a política externa dirigida sobretudo para o estrangeiro, aí estão as primeiras medidas de alguém que sabe o que quer e não perde tempo com rodriguinhos filosóficos ou sociológicos.

George W. Bush começou por decretar uma moratória sobre as últimas medidas de Bill Clinton e já suspendeu todas as modificações que em matéria de questões como o aborto tinham sido introduzidas nos esquemas legais e institucionais nos últimos trinta anos e que tinham sido alvo da mesma bitola com Ronald Reagen a que, por sinal, o vencedor do pai Bush decidira pôr termo.

É este o princípio da aplicação do programa dos quatro cês, compaixão, confiança, cidadania e competitividade.

Não nos esqueçamos é que ele enquanto Governador do Texas nunca perdoou uma única condenação à morte.


Daqui a quatro ou oito anos ganhará um democrata, provavelmente em torno da defesa dos direitos e propondo, para os Estados Unidos um papel de potência paladina de uma civilização demo-liberal a nível planetário. E como a história está cheia de piruetas cheias de graça, se calhar até vai ter um músculo bem mais forte para o fazer em qualquer parte da Terra.



Hoje de manhã os alunos realizaram duas fichas de Matemática e depois procederam a uma cópia e leituras.
À tarde voltaram a fazer exercícios do livro de Matemática e trouxeram um trabalho para casa que, pela primeira vez, consistiu na elaboração de frases com o uso de determinadas palavras, o que ela fez sem o mínimo de dificuldades ou hesitações.



A Luísa decidiu-se a seguir o meu conselho e hoje de manhã foi ao médico que lhe diagnosticou uma gripe e a remeteu para casa até ao fim da semana.


Bem, pelo menos livra-se desta série de dias mais cinzentos.


Mas com o início do antibiótico o organismo começará a recuperação e amanhã, com certeza, apresentará melhoras.



E o mundo indiferente, continua cheio de sinais contraditórios, como o são o início dos inquéritos judiciais a Pinochet, no seu próprio país e a interferência que os militares tiveram na sucessão de Estrada, nas Filipinas, ao imporem uma mulher para a presidência. No Congo, a ocupação estrangeira reforça o seu poder e o regime do MPLA encontrará aí o terreno que precisa para se justificar, no que interessa aos lobbies que ali têm uma fonte inestimável de negócios.



Por cá permanecemos no cachimbo do ópio.

Fala-se na insegurança das escolas e esquecemos a bandalheira que tem produzido um sistema de ensino feito de fábricas para reter criancinhas enquanto os pais trabalham.

Ainda ontem, o fórum TSF foi sobre esse tema e o que nenhum dos nossos inteligentes consegue perceber –sequer repararam nisso, o que é pior- é que a Irlanda chame imigrantes portugueses a quem paga mais de duas centenas de contos mensais, enquanto nós acolhemos mão-de-obra quasi escrava para a construção civil.


Em países de anedota
só saleiros
e faladeiros
é que nos batem à porta.

Alhos Vedros
01/1/23
Luís F. de A. Gomes