2007-04-08

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

AH VALENTE

Os portugueses ainda vivem demasiadamente próximos da tragédia.


Hoje de manhã, em Vinhais, perto das Caldas da Rainha, nas obras de um viaduto da auto-estrada entre Santarém e esta última Vila, perderam a vida quatro trabalhadores e mais de duas dezenas de outros ficaram feridos, alguns com gravidade, devido à queda da estrutura de suporte do tabuleiro em que, no momento do acidente, se procedia à operação de enchimento da placa. A ocorrência foi repentina e inesperada e, de acordo com as opiniões de populares das vizinhanças e do engenheiro que, no local e como responsável, acompanhava os trabalhos, os andaimes desabaram na sequência de uma cedência de terrenos. Segundo as palavras do técnico, para tanto pode ter contribuído a chuva abundante e consecutiva nos últimos dois meses.

Eu não percebo nada de engenharia pelo que não posso emitir juízos inevitavelmente falhos de fundamento.
Mas em face da justificação à posteriori, formula-se-me a pergunta se não seria possível prevenir estes desastres. É claro que as vozes autorizadas sublinharão que há imprevisíveis, não só pela via da mera lei do acaso, como ainda pelo facto de certos acontecimentos serem de todo opacos às hipóteses de previsibilidade. Como foi este o caso, certamente se apressarão a acrescentar. No entanto, continuo a pensar que sendo conhecidos os fenómenos de movimento de terras, não se deveria ter avaliado a resistência da estrutura de suporte e procurado saber se estaria adequada às eventuais alterações que a pluviosidade tivesse introduzido no solo? Será que todos os pormenores foram convenientemente analisados? Obviamente, nada poderei dizer sobre o projecto de construção propriamente dito.

À boa maneira portuguesa, os seguros pagarão as indemnizações e tratamentos, concluir-se-à pela acção do destino e os responsáveis da empresa continuarão idoneamente nos seus postos e, logicamente, a receberem as encomendas do estado..
Quem se recorda de um acidente do género na construção da ponte Vasco da Gama?


Aliás, se nos dermos ao humor negro, este é um episódio emblemático de um país que parece estar a desmoronar-se.
Ainda ontem ruíram uma série de prédios no Porto, aparentemente devido às obras do Metro e hoje deu-se um desabamento de terras sobre a via férrea que liga Coimbra à Covilhã.



Carlos Valente, um homem que eu conheço há muitos anos, tantos quantos aqueles que me separam das idadezinhas em que eu andava de calções e ele era o guarda-redes de uma das equipas da terra –por sinal aquela de que eu gostava mais- e que, além disso, é amigo dos meus pais e restante família, o Carlos, escrevia eu, veio a público denunciar a promiscuidade existente entre alguns membros do Conselho de Arbitragem e o indizível Pinto da Costa, o profissional do dirigismo clubístico e único denominador comum às duas décadas de supremacia do Futebol Clube do Porto sobre o universo do futebol português. Este, por sua vez, desmentiu que tivesse procurado a nomeação de um determinado árbitro e pergunta quem é o senhor Carlos Valente. Eu responderia que o António Garrido é que ele não é, com certeza, e depois diria tratar-se do melhor árbitro português de todos os tempos e não é por acaso que é o único nacional convidado para trabalhar com a FIFA. E também sei que é uma pessoa honesta que atingiu o topo à custa do seu esforço e dedicação, com o acréscimo de nunca ter abandonado a modéstia, pelo que em tudo é alguém que serve de exemplo a seguir e é precisamente por isso que sofre os remoques de alguém como Pinto da Costa, o homem que entrou para as direcções pela porta do boxe.

Direi ainda que é precisa coragem –física, não tenham a menor dúvida disso- para dizer o que ele disse do Presidente do Porto a quem maires e ministros obedeceram. Suspeito é que não terá mais microfones públicos e quanto a cargos o tempo o dirá.


Neste país em que a terra se desprende
a justiça, ninguém a entende.



A Margarida ficou em casa e parece que lhe fez bem. Ao fim do dia, dava mostras de boa disposição e ânimo para a brincadeira.



Eu é que chego em papas ao fim de uma semana endiabrada de trabalho.



Passou o último dia de Bill Clinton com Presidente dos Estados Unidos da América, o homem que, na despedida, disse jamais considerar qualquer outro título superior ao de cidadão.
Do ponto de vista americano o balanço é positivo. O país continente está mais pujante que nunca e não se vislumbra no horizonte nenhuma outra super-potência que lhe possa disputar a supremacia militar. É verdade que a sociedade permanece mazelada por milhões e milhões de miseráveis, mas também não é menos verdade que muitos novos postos de trabalho foram criados e a violência e a insegurança sofreram curvas descendentes em algumas cidades. E ao nível do poder retomou-se o precedente de Franklyn Roosevelt de trazer os pobres para as preocupações do discurso político.

Talvez seja de lamentar que à sua faceta mais idealista não lhe tenham permitido afirmar, com mais veemência, a defesa de certos valores universais da humanidade, no que poderia ter sido um impulso para que se criasse um clima de estado de direito de âmbito mundial.
Mas é precisamente esse idealismo com que se despediu da nação que deixa uma janela aberta para que se possa evoluir para esse patamar de entendimento entre os povos, o único em que um qualquer futuro de viabilidade da nossa espécie terá que assentar, pois já dominamos tecnologias militares capazes de destruírem a vida tal como a conhecemos.

Não tenho dúvidas que o mais jovem ex-Presidente da bicentenária história daquela sempre república, terá o agrado da maioria dos americanos na hora do adeus. Ele que personifica o american dream de quem chegou ao alto em mar adverso e que, curiosamente, teve como última Secretária de Estado uma imigrante.


É claro que os poderes cultos continuam a impor as atitudes imperiais que desdenham os tratados sobre o ambiente ou armamentos ou que levam a uniteralidades sem fundamentos exteriores ao egoísmo. Acontece é que isso faz parte da luta que actualmente se trava pela democracia em todo o mundo e, ainda que vergado e humilhado, the young and idealistic Bill teve a vontade de lhes fazer frente, o que não deixa de ser qualquer coisa.



No fim, o balanço tem sinal mais.


And God bless America.



E nas Filipinas, o Presidente eleito deverá resignar ao cargo depois de provados actos de corrupção e de todos os apoios lhe terem sido retirados.


É a China Popular que anda a ensaiar voos tripulados no espaço que ganha cada vez mais com a adaptação dos investimentos estrangeiros que a estabilidade política e social lhe permitem.



A Luísa regressou a casa com sintoma de gripe.

Andam fluidos negativos no ar.
Longe vá o agoiro.

Alhos Vedros
01/09/19
Luís F. de A. Gomes