2007-04-05

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

O racismo é uma ideologia que assenta em pressupostos sem qualquer fundamento pelo que se por ela se procura explicar a realidade, nada mais se consegue que um mero emaranhado retórico sem o mínimo significado.
Em tal enquadramento teórico, a tese fundamental é a superioridade de um raça relativamente às restantes.
Pois bem, é justamente essa afirmação que não tem suporte factual.
Desde logo devido à impossibilidade de comensuração.
Se pretendermos sustentar a superioridade de um em relação a outro, fazemos necessariamente uma comparação entre os dois e, atendendo a determinados critérios, criamos uma espécie de medida para dizermos da maior grandeza de um deles.
Acontece que nessa operação, se nos limitarmos ao domínio estritamente biológico, não há como corroborar aquela ideia na experimentação do quotidiano.
Com efeito, a esse nível, defender a superioridade rácica implica que os indivíduos, propriamente ditos, de um dado grupo, são física e mentalmente mais capazes que os restantes.
Será preciso argumentar para mostrar o quanto é abusiva uma generalização destas?
Façamos então uma pequena experiência de abstracção e perguntemos o que aconteceria a um índio da floresta equatorial da Amazónia e a um sujeito de uma cultura como a nossa se fossem deixados apenas com as suas defesas naturais num meio extremo como, por exemplo, as terras do Norte do Canadá onde, há milhares de anos, têm sobrevivido comunidades esquimós? É claro que ambos morreriam e quaisqueres outros que fossem os intérpretes deste jogo de imaginação, nunca aconteceria um sobrevivente. Deste modo, onde está a superioridade?
Ora se como tem sucedido, para a comparação em causa, usarmos critérios culturais, cometemos o erro de palmatória que é a confusão entre a transmissão física e a cultural. Até agora nunca ninguém provou que a cultura se transmita genética ou biologicamente, pelo contrário e é fácil perceber que um bebé filho de portugueses criado por japoneses, naquele país, formar-se-ia um cidadão nipónico e vice-versa.
Nem o próprio conceito de raça é aplicável a este género de raciocínios, quando sabemos que a coloração da pele varia com a latitude no sentido de clarear com o aumento dos valores daquela coordenada terrestre e que a teoria da selecção natural explica cabalmente como isso se terá passado. Os indivíduos com a tez mais escura resistiram melhor nas zonas mais quentes dado o facto de os seus sistemas endócrinos os protegerem melhor das radiações solares.


O combate ao racismo é assim um problema de educação.
Só quando aquilo que acabamos de escrever for um discurso comum é que a ideologia em questão deixará de fazer sentido.

Se alguma vez o conseguiremos isso não se sabe.

Quanto às respostas no entrementes que nos separa desse ponto ideal, essas será matéria para outra ocasião.



Passam dez anos sobre a Guerra do Golfo, com a qual se cumpriu o propósito de pôr fim à ocupação do Kuwait por parte do Iraque.

Ironicamente o tirano continua no poder.


Sinceramente não sei se a guerra não deveria ter sido levada até à captura e queda de Saddam. Tenho as minhas dúvidas que aumentam se nos lembrarmos de Milosevic.
Seja como for, o pacifismo da época só favoreceu um dos maiores e mais cruéis assassinos que têm tiranizado os povos.


E agora é a velha história da prisão, tenhamos ou não o cão. Trata-se de escolher entre levantar sanções e fazer de Nero um herói, ou manter a pressão e dele vir a fazer um mártir.


Aqui, o Senhor Professor Doutor Francisco Louça deveria ter uma palavra a dizer.



E enquanto em São Salvador se começam a remover os escombros e a enterrar os mortos, ainda em aumento gráfico, na República Democrática do Congo, onde uma ditadura rapina foi substituída por outra que mudou caras e o nome do país, tudo indica que o Presidente Laurent Kabilá foi assassinado por um dos seus guarda-costas.
Por ora, parece que o filho tomou conta dos cordelinhos que o pai manobrava. Brevemente se seguirá a carnificina.


Palpita-me que andam por ali dedinhos angolanos, ou não fosse o dos Santos nada menos que um bom rapaz.



E hoje os alunos, depois de corrigirem o trabalho de casa, dedicaram-se a cópias de palavras e frases do quadro para o caderno, com as quais exercitaram a leitura.
À tarde, realizaram uma nova página para o livro dinâmico.



Mas a Margarida continua febril e só a Matilde foi à sessão de ginástica que o pai aproveitou para descansar e conversar com José Rodrigues Miguéis.



Kofi Annan considera que Timor-Leste pode chegar à independência antes do fim deste ano.
Avaliando pelas declarações de Pedro Bacelar após se demitir do cargo que ali tinha na administração das Nações Unidas para aquele território, não sei se não haverá lugar para o pessimismo.



A medalha de honra é que vai para o escritor Mia Couto que depois de pacificamente ter escrito, publicado e ganho notoriedade sob o regime da Frelimo, sente-se agora solidário com a burguesia urbana que pretende enriquecer honestamente.
Não é bonito?

Alhos Vedros
01/01/17
Luís F. de A. Gomes