2007-04-03

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A Margarida lá gozou a sua folga ainda que sob o signo de um pequeno estado febril que pouca disposição deixa para um dia de brincadeira.
E como a Dona Rosário tirou o dia para ir ao médico, as gatinhas tiveram que se acoitar em casados meus pais e isto logo à hora da saída para o trabalho.
Falo no plural pois a Matilde, por prevenção, dado igualmente ter manifestado algum abatimento, em elas, de todo, não natural, e por isso também a mais novinha ficou em casa.

E pela aparência, o dia na casa dos avós foi-lhe agradável.



No rescaldo das eleições de que afinal, pelos vistos, todos se apressaram a sair o mais discreta e rapidamente possível e pelas portas dos fundos, o líder do Partido Popular lançou a sua candidatura à Câmara de Lisboa e propôs que a direita o apoiasse numa frente de oposição ao actual Executivo.
O problema é que o PSD, sem que tenha disso previamente consultado, começou por recusar a aliança e a expressão de apoio.

João Soares já ganhou um novo mandato como Presidente.


E o Engenheiro Fernando Gomes, ele mesmo, fez saber que uma qualquer vaga de fundo da sociedade civil e das forças vivas da Invicta será o limiar a que ele jamais será capaz de resistir para se recandidatar ao município da cidade.

Aposto que um dia destes veremos distintos homens como Pinto da Costa ou o Professor Hernâni Gonçalves, naturalmente entre outros, defendendo a obra de Gomes e as inúmeras e augustas qualidades de quem deveria ter o título –isto segundo o ponto de vista dos acólitos, é bom de ver- de… De… Governador-Geral, é isso, vice-rei não que isto é uma república, Governador-Geral do Norte, assim, com maiúsculas.



A Matilde a brincar sozinha na cozinha, enquanto a mãe dava banho à irmã e o pai preparava o jantar:

“-Se tu acertares naquela parede ali, estás a ver? Se acertares naquela parede ganhas golo.”
E atirou uma pequena bola de borracha na direcção certa e depois de duas tentativas, conheceu o sabor do sucesso.
“-Golo! Ganhei golo!” –Gritou ela com um pulo demonstrativo. “Oh mãe, ganhei golo! Ganhei golo!” –Correndo na direcção da casa de banho.



Uma criança com treze anos de idade e com origem africana, foi esfaqueada no decurso de um jogo de futebol inserido num torneio organizado pela Câmara Municipal de Lisboa. Os agressores eram adeptos da equipa Organização Terrorista dos Olivais.
Através da Vereadora da Cultura, o município assumiu todas as responsabilidades, expulsou da prova tão estranhos desportistas e apresentará queixa-crime no Ministério Público. Outra coisa não seria de esperar, pelo que nada há a dizer a esse respeito.
Quanto às motivações racistas –o “Público” falava disso na capa- atenção a elas. Terá que ficar muito bem provado que houve a presunção de superioridade versus inferioridade entre raças e que foi esse o pressuposto que esteve na base do ataque que, justamente, visaria punir indivíduos presumidamente inferiores.
Isto pode parecer um preciosismo ou um reles truque para uma defesa imoral, mas não é nada disso que se trata. Tão só se evitará, dessa forma, qualquer eventual confusão com outras modalidades de violência entre grupos de jovens.
Dando-se como provado o móbil racista, as penas devem ser exemplares. É que a criminalidade deste género enquadra-se na categoria dos crimes contra a humanidade. É preciso compreender que ao visarem indiscriminadamente todo um grupo eles se aplicam a todo e qualquer indivíduo e levando a sua lógica ao máximo expoente, são por inerência susceptíveis de se abaterem sobre qualquer ser humano.
Já que é escassa a legislação sobre esta matéria que se faça jurisprudência.



E em El Salvador os mortos elevam-se às cinco centenas e vai em quatro milhares o número de desaparecidos. O Presidente da República já encomendou três mil caixões à vizinha Colômbio.
E enquanto as réplicas se fazem sentir, o povo dá conta de uma destruição catastrófica.
Contam-se pelos dedos das mãos os sobreviventes. Um deles comunicou por telemóvel.



A Margarida fez o trabalho de casa num ápice. Uma pequena ficha de matemática de aplicação dos sinais de maior e menor.

Será que ela inventou um auxiliar de memória para decorar qual o símbolo de maior e menor?
O certo é que ela acrescentou um pequeno risco nas bases dos ângulos e disse para a mãe:
“-Não vês o número sete e o número quatro? Então, sete é maior que quatro.”

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É ou não é verdade?

Alhos Vedros
01/01/15
Luís F. de A. Gomes