2007-04-04



A casa de Schiller

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A dignidade das mulheres

Honrai as mulheres! Elas entrançam e tecem
Rosas sublimes na vida terrena,
Entrançam do amor o venturoso laço
E, através do véu casto das Graças,
Alimentam, vigilantes, o fogo eterno
De sentimentos mais belos, com mão sagrada.

Nos limites eternos da Verdade, o homem
Vagueia sem cessar, na sua rebeldia,
Impelido por pensamentos inquietos,
Precipita-se no oceano da sua fantasia.
Com avidez agarra o longe,
Seu coração jamais conhece a calma,
Incessante, em estrelas distantes,
Busca a imagem do seu sonho.

Mas, com olhares de encanto e fascínio,
As mulheres chamam a si o fugitivo,
Trazendo-o a mais avisados caminhos.
Na mais modesta cabana materna
Foram deixadas, com modos mais brandos,
As filhas fiéis da Natureza piedosa.

Adverso é o esforço do homem,
Com força desmesurada,
Sem paragem nem descanso,
Atravessa o rebelde a sua vida.
Logo destrói tudo o que alcança;
Jamais termina o seu desejo de luta.
Jamais, como cabeça da Hidra,
Eternamente cai e se renova.

Mas, felizes, entre mais calmos rumores,
Irrompem as mulheres, num instante de flores,
Propiciando zelo e cuidadoso amor,
Mais livres, no seu concertado agir,
Mais propensas que o homem à sabedoria
E ao círculo infindável da poesia.

Severo, orgulhoso, autárcico,
O peito frio do homem não conhece
Efusivo coração que a outro se ajuste,
Nem o amor, deleite dos deuses,
Das almas desconhece a permuta,
Às lágrimas não se entrega nunca,
A própria luta pela vida tempera
Com mais rudeza ainda a sua força.

Mas, como que tocada ao de leve pelo Zéfiro,
Célere, a harpa eólica estremece,
Tal é a alma sensível da mulher.
Com angustiada ternura, perante o sofrimento,
O seu seio amoroso vibra, nos seus olhos
Brilham pérolas de orvalho sublime.

Nos reinos do poder masculino,
Vence, por direito, a força,
Pela espada se impõe o cita
E escravo se torna o persa,
Esgrimem-se entre si, em fúria,
Ambições selvagens, rudes,
E a voz rouca de Éris domina,
Quando a Cárite se põe em fuga.

Porém, com modos brandos e persuasivos,
As mulheres conduzem o ceptro dos costumes,
Acalmam a discórdia que, raivosa, se inflama,
Às forças hostis que se odeiam
Ensinam a maneira de ser harmoniosa,
E reúnem o que no eterno se derrama.



Um dos grandes da Alemanha. Terá razão em tudo o que escreveu? Fica a interrogação

22:49  
Blogger o clube said...

Duvido que alguém tenham razão em tudo o que escreve e ainda mais quando a obra legada é vasta e encerra reflexões sobre variados assuntos.
Este poema é belo e é bom ter presente que foi escrito num tempo em que se discutia cientificamente a inferioridade feminina devido ao cérebro mais pequeno das mulheres. Os grandes pensadores sempre se anteciparam ao tempo e por isso são imortais.
E sabe o que mais perturba o meu espírito? É tentar entender como a pátria de Schiller e Goethe, a terra da língua de Kant se deixado envolver na delinquência indizível da barbárie nazi. É um gélido arrepio na espinha da nossa Esperança.
Muito obrigada pelo presente tão bonito que deixou nesta casinha humilde. Como pode verificar, tratei de o destacar como post e apenas lamento não ser capaz de respeitar as divisórias das estrofes. De qualquer forma, espero que o resultado lhe agrade ou pelo menos que compreenda que fis o melhor que sei.
Bem-haja por tudo, pela visita e pelo poema.
Luís F. de A. Gomes

00:17  

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