2006-10-19

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Ui que dia de doidos em que chegou a parecer que tudo poderia acontecer, sem que eu tenha deixado de andar em bolandas e a trabalhar na urgência e na cadência dos minutos contados.

Pudera. Estoirar o sistema informático de uma empresa de seguros como a minha que, repentinamente, ficou sem meios de gestão e de trabalho na sua rotina diária e logo a partir das nove da manhã…


Mas agora que os anjos sonham e a quietude da noite sublinha a radiofonia, sinto-me satisfeito, diria mesmo feliz.
Se bem que nem todas as novas do dia tenham sido as melhores ou, se quisermos, as mais edificantes, num corpo fatigado viaja um espírito voador.



Contudo findei o dia com um abanão.

A Luísa disse-me que a Margarida lhe confessou ter passado novamente pelo castigo, embora nada me tenha referido, como justificou perante a mãe, para que eu não me zangasse com ela. E como se isto fosse, por si, pouco, ainda manifestou receio de gorar as minhas expectativas quanto a ela vir a ser uma boa aluna.

Ora aqui está um belo soco no nariz.


Devo admitir que a possa ter pressionado demasiado e desnecessariamente. Na realidade, eu aproveitei o desabafo de querer vir a ser boa aluna para lhe justificar o porquê de um bom comportamento.
Duplo erro, verdade seja dita. Antes de mais por criar uma relação directa de causa e efeito entre o comportamento e a aprendizagem –que não é empiricamente sustentável- o que, por um lado, pode criar aversão pelo conhecimento e, por outro lado, deixa de fundamentar a boa atitude nas regras da sociabilidade e boa educação. Sobretudo, no que aqui está em questão, dado assim criar uma pressão que, à partida, não estava lá e dessa forma deveria continuar, pois, a persistir, só poderá ter efeitos contraproducentes.

Não é que os objectivos a alcançar, um comportamento consentâneo e a aquisição e uso dos conhecimentos, sejam, em si, desideratos desprezíveis ou, por absurdo, reprováveis. Claro que não. Acontece é que posso prossegui-los sem ter que estar constantemente a falar deles. A alternativa é a subtileza.

Resulta que irei alterar a minha abordagem e deixarei de lhe exigir a quietude; talvez seja preferível desmistificar a gravidade de uma conversa apesar de, sempre que pelas circunstâncias se imponha, não abdicar de apresentar uma explicação razoável para a obrigação que a Professora tem de mandar calar os meninos.

A ver vamos, como soe dizer-se, mas uma coisa é certa, estamos num domínio em que não existem receitas universais e em que pela experiência controlada e só desse modo se vão limando os erros.

Sem me querer estar a desculpar –é facilmente perceptível não ser esse o caso- possibilidades de pensar com os maus reflexos que isso tem na acção.


Com a graça de Deus, tenho esperança de me vir a deleitar no arco-íris.



Criar filhos é esta vertigem permanente. Jamais poderemos ter a certeza absoluta de estarmos a agir bem ou mal, se aquilo que fazemos acarretará bons ou maus exemplos.
E a partir de certa idade, os mecanismos de enculturação e socialização encarregam-se de, em parte considerável, furtar os filhos à influência dos pais. Apenas compreendendo esta condição poderemos estar atentos às diversas fontes de irradiação e, então, compreender que nos compete gerir a diferencialidade das potências de uma tal constelação, criando barreira para os raios mais nefastos, abrindo janelas para os outros, nunca esquecendo que a base está no carinho e no jamais obstruir as pontes de confiança e da comunicação franca e aberta.


A brincadeira da Margarida de fumar um cigarro que já lhe trouxe a punição na sala de aula, tem a idade dos novos relacionamentos que estabeleceu na classe que frequenta.



E no reino do “homo maniatábilis” os sinais são perturbantes.

Um destes dias li no “Público” que José Eduardo, afastado de comentador desportivo do primeiro canal da RTP, acusou Pinto da Costa de ter pedido, publicamente, num programa da TVI, essa mesma demissão.

Esta noite, no pavilhão da Luz, numa assembleia-geral do Benfica em que se votou um relatório de contas apresentado pela direcção, depois de uma aprovação por mais de dois mil e quinhentos votantes num colégio de mais ou menos sete mil, os eleitores derrotados, em jeito de arruaça, manifestaram-se contra o score, chegando ao cúmulo de quererem derrubar a mesa da presidência da sessão.

Há um lobbie mafioso que está envolvendo o poder e a vida da sociedade portuguesa e, se não for travado, abafará a convivência democrática entre nós.



Salva-nos Bach e as estrelas

e os voos dos instantes que nos confundem com a eternidade..



Ontem à noite ainda me sobrou ânimo para acabar o segundo volume da obra de Sousa Teixeira.

É uma leitura estimulante.
Deixa a nu a ignomínia do salazarismo e a bomba relógio que deixou no âmago de um povo atirado para a solidão da ignorância.



Na Jugoslávia de vitória por parte de uma oposição que preconiza a desobediência, ao mesmo tempo que as autoridades noticiam a segunda volta das presidenciais.

Brevemente soarão os tiros na capital.



Seja como for, por aquilo que a Margarida contou, basicamente pode considerar-se positivo este último dia da semana escolar.
Durante a manhã a Professora leu histórias que os alunos tinham que identificar, coisa que a minha querida filha fez bem ao acertar no conto “Os Três Porquinhos”.
Depois indicou os meninos com o trabalho de casa bem feito, entre os quais lá esteve o piolhinho.
À tarde houve teatro. Os meninos que tinham respondido acertadamente a perguntas sobre a leitura, interpretaram o enredo.
A Margarida fez de porquinho sabichão, “-O que tinha a mania que era muito esperto mas que afinal não sabia nada.”, aquele que fez a casa de palha.



E a ganilha não se livrou do TPC para o fim-de-semana, desta vez, um exercício do livro “As Letrinhas”.



O eleitorado dinamarquês voltou a expressar os limites do seu abraço europeu e voltou a rejeitar a adesão à moeda única.
Continuo a achar que não vem mal ao mundo.
A integração política que a unidade monetária implicará ainda não tem eco no sentimento dos cidadãos europeus e das diversas opiniões públicas.

Não se deu tempo suficiente para que o aprofundamento das relações e laços económicos gerassem uma maior aproximação entre os membros da União.

O euro ainda não era nem é uma inevitabilidade.


Tenho para mim que os grandes líderes não são aqueles que se antecipam à história mas im os que para ela encontraram respostas, com isso a construindo.



O mundo treme em Israel.

Alhos Vedros
00/09/29
Luís F. de A. Gomes