2006-10-08

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Fim-de-semana de repouso caseiro. Livros, jornais e séries televisivas e também as passeatas, o divertimento e as alegrias com as gatinhas. No sábado lanchámos na esplanada e jantámos na casa dos meus pais.

À tarde, por ocasião das comemorações dos quinhentos anos das misericórdias, vimos um cortejo histórico em Alhos Vedros e à noitinha refastelei-me para ver o atletismo olímpico.


Na maratona feminina, Manuela Machado não resistiu às investidas para os lugares de destaque.
A campeã, a japonesa Takao, fez uma prova com elegância e terminou com uma pujança admirável, não mais de duzentos metros à frente da atleta romena que a acompanhou na parte final da prova. A terceira classificada, uma queniana, não se apercebeu do corte da meta e foi um dos juízes que lhe chamou a atenção para o facto, algumas dezenas de metros depois da medalha de bronze estar assegurada.


E eu terminei a leitura do testemunho de filhos dos responsáveis por uma Alemanha que interpretou uma tragédia que os humanos ainda não compreenderam. Sucedeu-lhe um mundo em função da sua derrota e, na actualidade, o futuro ainda se construirá sob a influência dos horrores de então.

Seja como for, dando de barato a nostalgia de uns tantos entrevistados, é uma obra interessante, quer do ponto de vista histórico-sociológico, quer do ponto de vista humano.



À terceira tentativa a Margarida aprendeu a andar de bicicleta.

Nas últimas férias, enquanto esteve no Porto, em casa dos avós maternos, experimentou e pela primeira vez conseguiu conduzir no espaço de alguns metros um velocípede sem as rodas de apoio. A proeza teve o apadrinhamento da minha cunhada, a tia Fátima, simultaneamente, sua madrinha de baptismo. Há duas semanas, retirámos as rodinhas da sua bicicleta e de imediato ela tentou equilibrar-se mas não prescindiu do auxílio da mãe.

Ontem, depois do cortejo, lá se atirou por sua conta e risco e em trajectos cada vez mais longos, convenceu-se da habilidade para pedalar as duas rodas.
Esta manhã, ao longo dos matutinos e do dar à língua dos pais, era já um dado adquirido a sua nova condição de ciclista.



Hoje, a república federal da Jugoslávia vai a votos para a presidência.
As chancelarias ocidentais, em vez de exigirem a sério a liberdade do escrutínio, já ameaçaram que as sanções prolongar-se-ão face a uma vitória de Milosevic. Com isso, talvez tenham conseguido a expulsão dos jornalistas estrangeiros que melhor poderiam denunciar eventuais fraudes, com tudo o que implicaria para a verdade do acto.
Por sua vez, os militares decretaram o estado de alerta e anunciaram que se oporiam a qualquer solução que possa pôr em causa os interesses do país

A ver vamos se Milosevic não dará origem a mais um banho de sangue.
Pouco falta para que apenas lhe reste a vitória ou a morte, assim como a todoos acólitos que têm confluído no suporte ao seu poder.



E a Matilde tomou-lhe o gosto.

Ao fim da manhã convidou-se para ir almoçar em casa do Tomás e lá foi. Regressou para a sesta.


Ontem à noite, no decurso da brincadeira com os outros miúdos, veio ter comigo, boca a mostrar algo, com aqueles olhinhos de lanterna que lhe são habituais.
“-Oh pai, isto é um rebuçado.” –Acrescentando a faísca de um sorriso. “-Foi aquele menino que me deu. Mas não faz mal, são proteínas.”

E voltou correndo, para a fantasia dos joguinhos de apanhar.



E eu vou ler enquanto espero uma informação sobre combates em Timor.

Eurico Guterres que já devia ter sido apanhado e julgado pelos seus crimes, tem estado em grande efervescência nas últimas horas.

No interior de Lorosae, os soldados da força internacional de paz já estão a combater.

Aguardemos o desenrolar dos acontecimentos.



A estas horas a noite ainda tem tantas vozes.

Alhos Vedros
00/09/24
Luís F. de A. Gomes