2006-10-05

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

ASSIM SE PERDE UM FILHO

Por vezes acontecem-nos coisas incríveis e, inesperadamente, vemo-nos envolvidos em situações que de modo algum poderíamos desejar.
Foi o que me sucedeu hoje, no preâmbulo da noite, quando concluí que desconhecia o local onde deveria encontrar a Matilde sem que, no momento, dispusesse dos meios para solucionar o problema.

O caso é engraçado e embora deva confessar uma certa vergonha perante o mesmo, não deixa de ser verdade que pode ser visto com a serenidade de quem encara algo natural e não será insensato admitir que em instante algum terá um leve sorriso abandonado os lábios.
Vamos lá.


A Matilde foi convidada pelo André para uma visita de brincadeira. Estão a ver como é que é, a criançada cabriolando na ágora e, chegada a hora de recolher, vai de dizer vem daí e a minha filha mais nova, com aquela cara escancarada que lhe é habitual e os olhinhos brilhantes, pediu-me que a deixasse acompanhar o amigo que, obviamente, entrou no coro. Em face da insistência da outra mãe para que desse o consentimento, apesar das interrogações inevitáveis à primeira vez, concordei e preparei-me para regressar a casa apenas com a Margarida. Em função da hora do jantar apurada, combinei que a iria buscar por volta das oito e tratei de tomar nota da morada e das indicações para lá chegar, o que fiz mentalmente pois tinha as mãos ocupadas. E fixei o endereço, Rua João Rainho, número tal, andar tal.
Logicamente cumpri a palavra e, pela indicação à direita da piscina municipal, no terreno, chegado ao cruzamento de referência, esquinei por aquela direcção e uns cinquenta metros adiante, lá estacionei o carro onde me parecia ser o prédio.
Mas não era e ainda que o nome da rua fosse aquele que a minha memória registara, os números daquela sequência em nada condiziam com os algarismos que decorara.
Tal e qual, “-Ora esta, e agora qual é a porta?”
É bom que se saiba dos poucos meses daquela urbanização pululante num dos arrabaldes da Vila, outrora com a aparência da pulverização do montado e dos pinhais pelas quintas.
Como vivemos num país muito organizado e moderno, aquela residência está à espera de telefone e eu não tinha moedas para recorrer a uma cabine pública que já lá está para que pudesse contactar alguém conhecido e capaz de me prestar os esclarecimentos de que necessitava.
Apitei duas vezes, o mais discretamente possível, claro está, na esperança que a anfitriã aparecesse em alguma janela. Como nada aconteceu, decidi-me a premir uma campainha. Dei as coordenadas mas nenhum radar me deu a resposta. Aquele filho e aquela mãe não moravam ali.
E o relógio indiferente, sem parar.
Vi-me forçado a voltar ao centro da Vila e, junto da Júlia, proprietária do café de que ambos somos clientes, acabei por apurar a confusão que fiz com o “à direita da piscina” e entendi que, afinal, tinha decorado bem a morada e que apenas tinha considerado uma única aquilo que me pareceram duas ruas.
Passavam trinta minutos do aprazado quando a mãe do amigo disse que eles estavam a jantar e que daí a três quartos de hora me devolveria a criança.


Foi a primeira vez que a Matilde visitou alguém sem a presença e a companhia dos pais.

A isto se chama crescimento.



E os portugueses que se preparem.

Em resposta às críticas da oposição, no contexto da moção de censura apresentada pelo PSD, Guterres garantiu que se prepara para fazer a maior redução de sempre do IRS.

Para já, o Bloco de Esquerda votou contra a moção.


E para as próximas legislativas, heim?



Hoje a Margarida portou-se mal, foi ela que o referiu logo após o abraço do reencontro pelo final da jornada escolar. Esteve em conversa com uma amiga.


E de manhã falaram sobre o Outono, caracterizando-o por aquilo a que ele provoca a queda.
Também realizaram uma ficha sobre ovelhas; desenharam lã e completaram as ervas que faltavam na figura e procuraram retratar a palratória daqueles quadrúpedes.



Lou Reed came out of the streets, at the meadle of the sixties, but also from places like Wharol’s factory.
His music express the feelings of an hard side of the town and it make us see ligths and spots of loneliness and despaire that floots between a job and a house.
Two hours of rock’rool sounds, fool of riffles and notes that put our brains at the rainbow, just above us.

One of the greatest concerts that I ever seen.



As gatinhas dormiram em casa dos avós.



A não esquecer.
Pais contentes fazem filhos felizes.



E usufrui o prazer do reencontro com o Edgar Pedro, amigo da idade adulta, a quem vi crescer e formar-se profissionalmente com a cumplicidade da partilha. Ele e a Lena e ainda o Sérgio Saraiva e a Cristina acompanharam-nos no serão musical. Jantámos juntos e depois bandoámos ao encontro do espectáculo. Só por estarmos juntos, por si, teria feito da noite uma alegria.


Estão todos bem, acrescento eu, graças a Deus.

Sérgio é arquitecto e trabalha num atelier no Barreiro, cidade onde vive. Ele e a Cristina são pais de um bebé com oito meses.

O Edgar e a Lena são professores e dos melhores. Tanto um como o outro fazem das suas aulas espaços em que é agradável aprender, sabem usar com bons proventos os meios mais modernos para exporem os assuntos e temas, obtendo resultados por parte dos alunos, a quem propiciam ocasiões de trabalho atento mas descontraído. A disciplina, com eles? Até dá vontade de rir. Avém da competência. De forma atraente e bem disposta, apresentam aos jovens, em cada aula, uma série de pequenos e diversos exercícios em torno do objecto de exposição, de tal modo que não deixando espaços mortos, dificilmente contextualizarão situações de conflito disciplinar. Como tudo é feito de forma rigorosa e, no essencial, sem falhas, os educandos aprendem rapidamente a respeitar o profissional que têm pela frente, dessa forma se sentindo constrangidos ao empenho nas provas a prestar. É que do ponto de vista humano, todos sabem que podem ter acesso ao banco de dados e conhecimentos dos mestres e também é pública e evidente a disponibilidade de ouvidos capazes de confessionário.
Para mim, o melhor testemunho do que acabei de escrever é o facto de eles serem padrinhos de casamento do Sérgio e da Cristina que se conheceram, justamente, na casa deles. Ele era aluno dele e ela aluna dela.

O Edgar é licenciado em arquitectura mas, por opção, sempre laborou como professor do ensino secundário, na área do desenho e a Lena cursou e formou-se em Biologia e é, desde então, docente do grupo respectivo daquele mesmo nível de ensino.


Conhecemo-nos na escola secundária da Moita, no ano em que eu iniciei a docência.
Na altura a Lena era estagiária e com ela aprendi a resolver a pergunta comezinha, como elaborar uma aula, tirando o máximo rendimento dos materiais disponíveis?

Há empatias que não se explicam e ocasionalmente comparticipei na boémia e colaborei com o Edgar em várias situações profissionais.

E a vida acabou por nos fazer enfrentar aquelas situações em que se definem os homens e se firmam os laços de lealdade e amizade e mesmo quando estamos anos a fio sem nos encontrarmos, como aconteceu ultimamente, reatamos a conversa onde a deixámos no dia anterior.


Seja como for, o curioso é o mistério em torno deste reatamento.

No princípio deste Verão, por mero acaso, quando eu brindava com o Luís Carlos o fim de um projecto que consistiu na emissão de uma folhinha electrónica, estando os cálices no ar, olho o coreto e quem vejo surgir do seu horizonte? Exactamente, o Edgar.

Logicamente entre abraços e sorrisos foi, de imediato, convidado a tomar parte na comemoração.

A última realização conjunta foi precisamente com ele, o “Além da Cortina”, um programa na Rádio Clube da Moita que se manteve durante um ano de emissões regulares.
Pois bem, dez anos sobre o evento e dois ou três cruzamentos fugazes, nesse entrementes, deram o toque de magia àquele face a face.


E para que fique nos anais, o Sérgio Saraiva que, no ano anterior, tinha sido aluno deste meu amigo, no décimo segundo ano, colaborou como o rapaz da música daquele trabalho radiofónico.


Dificilmente a noite poderia ter sido melhor.


Alhos Vedros
00/09/21
Luís F. de A. Gomes