O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA
D DAY
Hoje foi o grande dia, a Margarida começou a ter aulas.
“-Não fizemos nada de especial.” –Disse-me ela, à hora do almoço, quando a levei de regresso à escola para o turno da tarde.
De manhã procederam às arrumações dos materiais e desenharam um cartão onde a Professora registara os respectivos nomes e que, uma vez colocados sobre a mesa, servirá para que os alunos possam ser tratados com familiaridade.
“-Oh pai e se eu quiser ir à casa de banho, como é que eu faço?” –Dúvida que apresentou pouco antes de entrar na sala.
Fez uso das sanitas durante o intervalo e após a saída, com o fim das actividades.
E como é cuidadosa, a Margarida.
Dada a inexistência de papel higiénico, levou um pacote de lenços de papel que guardou na mochila.
Durante o intervalo, o lanchinho foi tomado no lugar.
É curiosíssimo o esforço que se está a fazer na comunicação social para que se desvie a atenção dos portugueses de certos assuntos decisivos, de que a governação ou os preços dos combustíveis são bons exemplos.
São primeiras páginas com as tricas internas do PCP, revistas de cola cuspo e figuras com o namoro do Primeiro-Ministro e hoje foi o trigésimo aniversário do MRPP que teve honras de capa na rádio e num jornal importante. E aquele anúncio de hiper em que se publicita uma baixa de preços com o fundo de um comício que pelas cores, bandeiras, camisolas dos militantes e música fazem lembrar uma realização do PS?
O certo é que um buraco injustificado de trezentos e tantos milhões de contos num orçamento, o deserto de medidas que urgem para que o nível de desenvolvimento da nossa sociedade se vá aproximando e não afastando nas comparações com os mais ricos, ninguém fala dessas coisas e qualquer oposição inteligente é abafada pelo ruído que muito se ouve num país de futebol e mundanices anódinas.
Não há dúvida que somos um povo felíz.
Pena que sejamos tão… Pindéricos?
Ai e é em todos os patamares, que claustrofobia.
Não é que os jornais desportivos falaram tanto de medalhas olímpicas que agora se vêm forçados a destacar o regresso a casa dos nossos atletas?
Quanto ao balanço do primeiro dia escolar ele só pode ser considerado positivo.
Ao contrário de outros miúdos, a Margarida não se descontrolou naquele novo cenário e não revelou dificuldades em se relacionar com os colegas.
É verdade que tinha as mãos geladas e, em casa, pediu ao pai para que ficasse até que a Professora solicitasse o abandono por parte dos Encarregados de Educação.
E depois confessou que não gostou que a Mestra batesse na secretária para exigir silêncio e ainda que a tivesse separado da Ana Lúcia, com quem estava a conversar. “-Mas baixinho, mãe. Sem fazer mal nenhum.”
Nós explicámos-lhe o papel da nova educadora e ela entendeu e anuiu perante a necessidade de tomar atenção.
No cômputo geral tudo indica que tomou a sério o que lhe pediram para fazer e agradou-se disso.
Pena que os sacos com os materiais não tivessem sido arrumados com aprumo e delicadeza.
E até à deita
a brincadeira espreita.
Deus acompanhe este lar.
Alhos Vedros
00/09/18
Luís F. de A. Gomes
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