2006-10-06

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Uf! Chegou a sexta-feira.
Há muito que não me recordo de desejar tanto um fim-de-semana.



Terminei uma semana longa e difícil. É claro que também estou a passar por um período de adaptação a uma situação nova e tenho consciência que devo procurar manter a calma necessária a um discernimento que me permita avaliar convenientemente as situações e encontrar-lhes as respostas adequadas. No resto é assim com tudo o que diz respeito ao processo de paternidade. No entanto, o cansaço, por vezes, oblitera a capacidade para sermos razoáveis. Sempre que tal sucede, a inércia dos dias assemelha-se ao caracolear sobre um carril ferrugento.

Pela conjugação do trabalho e dos afazeres familiares, acabei por encarnar a baratinha tonta, mal conseguindo o mais leve instante para respirar os efeitos da luz na expressão das manhãs.

Peço a Deus que me ilumine e confira a sabedoria e a energia necessárias para que a existência seja aprazível.



A ver vamos se me engano.

Guterres assinou a sua sentença de morte política ao demitir Fernando Gomes da forma como o fez.
É certo que tratou de o recompensar com um cargo de mealheiro e o ministro, se não erro, das finanças, encontrou-se com empresários do Porto para lhes apresentar concessões.
Mas um certo lobbie do norte queria mais poder e não a queda do seu homem de mão.
Belmiro de Azevedo já criticou o novo executivo e, ao que parece, amanhã, travar-se-à de razões com o ministro Jorge Coelho nas páginas do “Notícias”. Pinto da Costa saiu em defesa do demitido e foi contundente na condenação do acto.

Das duas uma, ou António Guterres cede a exigências que avolumem os interesses próprios e políticos daquela gente, ou pura e simplesmente espoletou a contagem decrescente do seu governo e carreira política.


Falta saber em quem recairá a nova aposta.

Tenho sérias dúvidas que Paulo Portas reúna o perfil adequado ainda que tenha rabos-de-palha. Durão Barroso foi o delfim de Cavaco Silva. Talvez o Professor Marcelo, se voltasse…

E que dizer de Santana Lopes que há muito defende eleições directas para o cargo de presidente do partido?

De uma coisa tenho a certeza. Se os portugueses, salvo seja a expressão, não abrirem os olhos, ainda um dia acordam num totalitarismo de facto sob o balandrau de uma sociedade de direito virtual e reflectida pelo eco dos media.


Não sentem o peso da claustrofobia que paira no ar?



Tenho pena de não ter a disponibilidade de outrora para atentar nos jogos olímpicos.



A Margarida teve o seguinte desabafo:
“-Ainda bem que para a semana já vamos começar a aprender.”


Creio que ela passou a sua primeira semana de aulas com nota positiva.

Como seria de esperar anda nervosa e, sob o efeito do novo ritmo, também ela se sente cansada o que, num número superior ao habitual, abre alas a fricções com a irmã, com o consequente, desnecessário e, sobretudo, envenenador engrossar da agitação.
E nós não temos conseguido deitá-las antes das dez, dez e trinta da noite o que as traz de sonolência.

Ainda assim parece-me que se adaptou ao espaço e aos colegas e mantém a simpatia pela professora, mesmo considerando que haja um certo susto com a imposição de uma disciplina diferente da que vivera no jardim infantil.
É claro que nós incentivamo-la e procuramos incutir-lhe a confiança que sentimos na sua madrinha da alfabetização e literacia.
E tanto quanto posso julgar, até ao momento não há o mínimo sinal de alarme.
Gosta de ser pontual e mostra estar atenta, manifestando o desejo de ir para a escola com o argumento de que quer ser boa aluna.

Ontem, após o almoço, apenas a acompanhei até à porta da sala, tal como nesta manhã.
Esta tarde já a deixei à entrada do bloco.

“-Adeus pai.” –Acenando, de costas, após o que se virou e atirou um beijinho com a mão.



Que foi que eu fiz para que Deus me presenteasse com dois tesouros tão ternurentos?



A moção de censura é história.
Crise? Só se for das oposições.



Dia das cidades sem automóvel.

Em Paris cortaram-se umas quantas ruas e o acto simbólico foi consumado sem transtornos desnecessários para os utentes da urbe.

Em Lisboa foi a coroa principal da cidade.
E pelas imagens e testemunhos, muito foi o povo que ficou em casa.

Naturalmente os alunos comemoraram o dia e muitos foram os que aproveitaram para passearem a pé pelas avenidas esquecidas da poluição sonora.


Provavelmente há exagero na passagem à prática de uma ideia e dificilmente seríamos capazes de ir além do folclore.

Mas é preciso começar a encarar estes problemas.
E a Luísa tem razão; actualmente já é mais fácil andar na cidade de transportes públicos e, seguramente, de modo mais rápido do que em automóvel particular.



De manhã a Margarida realizou duas fichas para pintar figuras. Na primeira coloriu morangos e flores e na segunda passarinhos.
Durante o turno da tarde a Professora passou os trabalho para casa.


O primeiro TPC da minha querida filha consistiu em dois exercícios de escrita.
Copiar o nome e, até ao fim da linha, três grafismos.

Resolveu, e bem, o problema durante a tarde.



E para terminar, um excerto de um discurso de Karl Doenitz:
“A nossa vida pertence ao estado. A nossa honra no cumprimento do nosso dever e na nossa prontidão para agir. Ninguém tem o direito a uma vida privada. Para nós, o problema é ganharmos a guerra. Temos de atingir esse objectivo com uma devoção fanática e a mais implacável determinação de vencer.”(1)

À guerra total sempre o homem fez corresponder a demência total.

__________
(1) Posner, Gerald L., p. 203
ob. cit.


Alhos Vedros
00/09/22
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Posner, Gerald L.- vide citação do dia 17/09