2006-10-10

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Hoje, a actualidade é naturalmente marcada pelas presidenciais na federação jugoslava.


Segundo as forças de oposição, os números apontam para uma derrota de Milosevic e a diplomacia ocidental declara não aceitar uma declaração de vitória para este candidato e actual detentor do poder.

O promitente vencedor é um tal Kostunica, um nacionalista moderado que já disse não tencionar entregar Milosevic à justiça do Tribunal Internacional de Haia, onde é acusado de crimes de guerra e contra a humanidade.

Talvez assim seja possível uma saída pacífica da trupe que manda, por enquanto.
Contudo, o objectivo político do reforço do estado federal proclamado pelo líder opositor, dificilmente será compatível com as vozes independentistas que se têm vindo a impor no Montenegro.


Será esse o caminho para que a civilização democrática vingue naquelas paragens?



Esta tarde a Margarida acompanhou-me numa deslocação à Fidelidade, no Barreiro e depois ficou comigo no escritório.


O dia escolar correu-lhe bem e parece estar a consolidar-se o hábito de a deixar à porta da escola.

Depois do último beijinho, lá vai o meu anjo, carinha no meio daqueles outros amanhãs de almas afagadas pela frescura da manhã.



Acabei de ler o primeiro volume de uma obra de Armando Sousa Teixeira sobre o Barreiro resultante da industrialização.
Tratam-se de pequenas histórias reais apresentadas ao jeito de croniquetas ficcionadas. Com elas se narram episódios relacionados com a expansão do modo comunista de ver o mundo entre os estratos das populações operárias da Vila.

Literalmente é um trabalho incipiente e sob um olhar sociológico, diria que poderia ser considerado o testemunho escrito de um narrador qualificado, se bem que fosse pertinente a ressalva quanto à sua parcialidade política, visível na fluência ética do discurso.

Seja como for e atendendo a que se apresenta sem pretensões estilísticas, sequer científicas, direi que estamos diante de um trabalho necessário.
Descreve a crueldade de um mundo que de modo algum podemos aceitar que se repita.


E ali se entende como os ideais comunistas singraram no coração de tantos homens e mulheres a que mais nada restou para além das malhas do desespero.(1)



E eu
aqui

vendo o horizonte corar

com os desenhos das andorinhas buscando os ninhos.




Do sumário da manhã constou um exercício de identificação da morada dos alunos e a elaboração do desenho da família.

“-A casa ficou grande demais e como já não consegui apagar, ficou assim um bocadinho mal feita.”
Da habilidade constaram ainda as figuras do pai, da mãe e da mana.

“-Quando a professora perguntou eu disse que morava com o pai e a mana, estava desconcentrada, mas à segunda vez já disse bem, que moro com o pai, a mãe e a mana.”
E identificou o nome da rua onde mora, apesar de apenas ter referido dois dos apelidos do nome, que engloba um posto militar e o primeiro nome próprio. Atrapalhou-se com o facto de a educadora confundir o nome acabou por deixar passar o erro da emenda com a designação acertada.


A Margarida confessou-me que se sente envergonhada por ter que falar à frente dos outros meninos.


À tarde iniciaram uma ficha que terminarão amanhã.
Trabalharam com o livro do Estudo do Meio nas páginas onze e doze.
Estiveram a identificar os caminhos a seguir de um ponto ao outro.



Afinal os combates não foram além de uma pequena escaramuça entre alguns soldados portugueses e uma mão cheia de elementos de uma milícia, no interior de Timor.

Mas pelas imagens e a forma como a reportagem da RTP abordou o caso, quase parecíamos estar em face de um qualquer challenge com que as empresas brindam o empenho e aguçam as atitudes dos seus funcionários.


Será que isto ainda irá dar que falar?



Esta tarde a Margarida e a Matilde reataram as aulas de ginástica de formação que iniciaram o ano passado.

Adiante falarei desta problemática das actividades, mas não esta noite.



Há Jim riders Morrison on the storm na rádio.

Apesar disso, está na hora dos ficheiros secretos.

The true is out there.

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(1) Teixeira, Armando Sousa
BARREIRO, UMA HISTÓRIA DE TRABALHO RESISTÊNCIA E LUTA

Alhos Vedros
00/09/25
Luís F. De A.Gomes


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Teixeira, Armando Sousa- BARREIRO, UMA HISTÓRIA DE TRABALHO RESISTÊNCIA E LUTA; Prefácio de Manuel Feio; Edições Avante, Lisboa, 1997