2006-10-12

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

BENVINDO SEJAS HEITOR

A Margarida acabou de resolver o seu segundo trabalho de casa que, mais uma vez, consistiu na continuação de certos grafismos, desta feita, manifestamente na forma de letras, a saber, “m”, “e”, “u”, e “c”; e repetiu o nome.

Na primeira parcela há melhorias, mormente no símbolo “e” que no primeiro exercício careceu da tinta vermelha da mestra; mas também quanto à precisão com que todas elas foram executadas.
No entanto, a assinatura inaugural está melhor que a seguinte, ao que não deve ser estranho o facto de a Matilde ter andado a cirandar por perto, demasiadamente perto.



“James Neal, um investigador norte-americano que é considerado como um dos pais da genética, é acusado de ter infectado deliberadamente índios Ianomani, na Venezuela, na década de 60,para estudar os efeitos da selecção natural em sociedades primitivas. Esta denúncia que deixou em choque a Associação Antroplógica Americana (AAA), é feita no livro “Darkness in Eldorado”, da autoria de um jornalista, Patrick Terney, que será publicado no Reino Unido a 1 de Outubro.”(1)

A ser verdade, trata-se de mais uma prova indecente da não inocência de muitos cientistas, embora outras hajam e bem mais subtis.

É que pura e simplesmente é crime atentar contra a vida humana.



E não é que nós estamos em clima de racionamento de água?
Bem, no Verão que findou não houve uma única semana sem qualquer corte no abastecimento e muitas foram aquelas em que os dias se sucederam com breves períodos de acesso livre ao precioso líquido.
O banho com água de garrafões de reserva deixou de ser exótico.


E o que me enfurece é o facto de as pessoas ecoarem as patéticas explicações políticas que baralham as causas que nos entram pelos olhos a dentro.

Excesso de urbanismo sem cuidar atempadamente das infra-estruturas necessárias.

É tão simples quando não queremos ser cegos.



“-Bem, eu às vezes converso um pouco com as outras meninas.”
“-Mas assim não ouves o que a professora está a dizer.”
“-Eu falo mas estou com atenção ao que a professora diz.”
“-Como é que é isso?”
“-Então, eu sei sempre o que ela está a dizer.”
“-Bem!”
“-Mas quando começarmos a aprender as letras nunca vou falar, nada, nem vou abrir o bico.”



E na Europa rica continua a algazarra contra o preço dos combustíveis.

Ontem, na Alemanha, patrões e trabalhadores da camionagem interpretaram uma demonstração nunca vista, cheia de recados e exigências.


Por cá perfila-se o regresso de Fernando Gomes à Câmara do Porto.



Mas no ar pairam castelos que se avolumam para nos encobrirem o céu e nos deixarem nas trevas.

O Iraque fala em abandonar o dólar como moeda nas trocas internacionais; aponta-se para o euro e o ien.
E todos sabem que o petróleo iraquiano, posto a circular nos mercados, facilmente provocará uma quebra nos preços do crude.

Esperemos pois um cenário de diplomacia manietável.


O pior é se o mundo árabe encontrar o seu novo Saladino a quem o universo muçulmano, em geral, prestará a vassalagem da simpatia ou, pelo menos, da contemporização.


Deus tenha misericórdia das nossas pobres almas.
Daqui resultará a terceira guerra mundial.



Por enquanto temos as nossas pequenas alegrias de simples mortais.

O Paulo de Carvalho telefonou-me para dar a notícia do nascimento do seu primeiro filho.
Há júbilo nos corações.
O menino chama-se Heitor e é saudável, nasceu com três quilos e oitocentas gramas e alimenta-se bem com o leite materno.


Fiquei feliz com a chamada, quer por ter o prazer de voltar a ouvi-lo, sobretudo pelo motivo.

Conheci o Paulo quando estive colocado em Portel, no âmbito da docência no ensino secundário e creio que falei da pessoa em “O Diário da Matilde”.

Embora tenha recebido uma carta dele em noventa e nove, há mais de dois anos que não nos vemos.


Recordo-me das horas de conversa que mantivemos sobre literatura e a reflexão sobre a vida humana que aquela nos sugere.

Foi das raras pessoas com quem argumentei sem ter que ouvir caixinhas de música desafinadas e amarrar o riso face às enxorradas de genialidade de casquinha.
Acresce a vantagem de possuir uma cultura muito superior à média do actual panorama do licenciado lusitano.


Vai publicar dois livros de que, desde já, fico à espera.



Esta manhã, a Margarida realizou duas fichas que a Professora distribuiu.
A primeira a respeito da casa de uns senhores e a segunda sobre o mais e o menos, na qual os alunos pintaram a vermelho os objectos em maior número e com azul os de sinal contrário.

À tarde, a Professora prescreveu os trabalhos para casa.


And the boys strikes again.

Para Maria de Belém e António Costa, a recompensa de altos cargos no grupo parlamentar do PS.

Vivemos no reino do “homo maniatábilis”.



E na Jugoslávia ambas as partes já declararam vitória na corrida presidencial.
Agora o poder fala em segunda volta.

Veremos o que nos contam as próximas imagens.


__________
(1) Barata, Clara, p. incerta
TÍTULO NÃO REGISTADO

Alhos Vedros
00/09/26
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Barata, Clara- T´TITULO NÃO REGISTADO, In “Público”, de 00/09/26