2006-12-17

4 Comments:

Blogger Gi said...

Já estive a ler o que está para cima Luís mas, para quem me conhece nada de estranho, os meus olhos perderam-se com esta imagem. Primeiro porque gostei naturalmente, mas não a entendo. Isto é uma inundação? Ao principio (sem óculos :O) ) pareciam-me pequenos barcos com flores ...

Ao longe os barcos de flores

Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila,
– Perdida voz que de entre as mais se exila,
– Festões de som dissimulando a hora.

Na orgia, ao longe, que em clarões cintila
E os lábios, branca, do carmim desflora...
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila.

E a orquestra? E os beijos? Tudo a noite, fora,
Cauta, detém. Só modulada trila
A flauta flébil... Quem há-de remi-la?
Quem sabe a dor que sem razão deplora?

Só, incessante, um som de flauta chora...

depois vi tratarem-se só de floreiras, elucide-me quando puder. Não há pressa!

Tenha um dia tão colorido como a caixinha de smarties da crónica mais acima :O)

10:50  
Blogger o clube said...

Viva Gi!
Rogo-lhe que me perdoe por só agora estar a inserir o seu comentário e a responder-lhe, mas não encontrei antes a disponibilidade necessária para me sentar à frente desta secretária e agradecer-lhe quer as suas visitas, quer as bonitas palavras que tanto encanto acrescentam a este espaçozinho humilde e que só o prazer daqueles que nos visitam pode justificar, quer a benevolência e a amabilidade com que me trata e que tão pouco eu justifico. A Gi sabe o quanto a sua presença sempre nos toca fundo no coração.
Bonito poema, tão delicado... É seu?
E mais uma vez a Gi consegue a cativante proeza de acertar em cheio em termos de harmonia com algo que desconhece -se já tivesse visitado esta cidade recordar-se, com toda a certeza, desta cena- pois estas (suas?) palavras poéticas retratam bem a jóia de sítio que é aquele onde dá gosto viver -não fosse o clima ingrato e seria um dos meus lugares de eleição.
Não não é uma inundação é a ribeira que atravessa Erfurt, a capital da Turíngia,uma das antigas regiões da ex-DDR e actualmente parte integrante da arquitectura federal da Alemanha. É uma cidadezinha média maravilhosa, cheia de postais como este -pena que a minha habilidade retire toda a beleza e romantismo aos cenários urbanos de aguarela- muitíssimo organizada e bem planeada, onde o sistema de transportes é tão completo e eficiente que uns meros vinte minutos são o tempo necessário para que uma pessoa se desloque entre o trabalho e a residência. E onde ainda encontramos aquele espírito de convivência em cafés de jazz -ou que o invocam, como é, ali, sobretudo, o caso- que fazem um dos traços característicos de uma certa cultura das cidades daquela zona central da Europa que tem em a vizinha Praga um dos expoentes mais emblemáticos e agradáveis de usufruir. Uma cidadezinha cheia de fachadas barrocas e coloridas, onde em vez de gargulas vamos encontrar pequena estatuária ornamental, ora aqui de motivo sagrado, ora ali evocando alguém importante nas artes ou nas ciências ou na política e onde muitas janelas se alindam com flores de tal forma que há recantos em que apetece perder tempo só a ver e às vezes a gozar os perfumes que no fim da pprimavera são mais fortes. Erfurt, de Martinho Lutero, o cristão da reforma, de onde ele saíu para se hospedar em Eisenach, onde se estudou e preparou para o que mais tarde veio a forçá-lo a regressar ao ponto de partida para se esconder num convento austero que ainda hoje lá está para que o possamos visitar. É esta a cidade da fotografia, capital de uma região que teve gente tão distinta e inteligente como Goethe ou Schiller, onde o primeiro tentou praticar as Luzes e em cuja casa,em Weimer, ainda está um piano que eu gosto sempre de pensar que o mesmo em que Mendelshon tocou, ainda menino, para ele. Erfurt de uma região da música que foi destruida na loucura da destruição do nazismo, capital do reino onde nasceu e genializou Bach, o João Sebastião e o mais famoso de uma longa lista de organistas e compositores com o mesmo nome que regista aqueles que foram os músicos de capela da matríz de Eisenach.
Se eu tivesse geitinho para fotografar, teria todo o gosto em lhe mostrar outros recantos de Erfurt, onde há ninhos artificiais para que os pássaros se possam proteger no Inverno para que no Verão venham comer atrevidamente nos bancos de jardim em que a quietude nos permite brincar com eles e para que a Gi pudesse maravilhar-se um pouco com o canto de um recanto da Terra de que nunca nos conseguiremos libertar da saudade.
E depois poderíamos conversar sobre a idade que viu o cristianismo perseguido e mal tratado nas prisões da Stazi onde hoje, na Domplatz, podemos remeter-nos ao silêncio grave de uma tarde de reflexão no Museu que ali recorda para todo o sempre a ignomínia de tentar aprisionar o pensamento através da carne. Ou a perturbante verificação da Kleine Sinagoge enquanto resto de uma comunidade outrora pujante e cheia de amor e cultura, agora reduzida a famílias que tentam preservar a memória e viver dignamente na liberdade finalmente alcançada.
Enfim, Gi que já deve estar farta de mim, aqueles barquinhos que os seus olhos tão bem viram, são pequenos pormenores decorativos que vamos encontrando por toda a cidade histórica, neste caso no espelho de água que atravessa o burgo e historicamente lhe deu força motríz para as primeiras máquinas com que afinal se veio a criar o mundo em que hoje vivemos e de que o moinho que mal se percebe da foto seguinte é um exemplo.
Não lhe tomo mais tempo e mais uma peço para que me perdoe o atraso no agradecimento e na respostas às suas palavras que tanto contribuem para que me este sítio se encontre matéria para ler e conviver.
Agora que termino acho que ganhei a tal caixinha de smarties -pedido que não me recordo se terá sido atendido ou não e nem mesmo sei se as páginas posteriores o esclarecerão, mas muito descarado lá isso ele foi.
Tudo de bom para si Gi e para que ama e a fazem feliz e desculpe-me se só agora lhe digo boa noite

Luís F. de A. Gomes

22:19  
Blogger Gi said...

Gosto de fotógrafos de viagem mas o Luís não fica atrás a descrever os sítios por onde passou, nem é preciso uma imaginação muito fértil para que a paisagem se desenhe diante dos nosso olhos. deve mesmo ser um sítio lindíssimo.
Rico em paisagem e em cultura.
Agora a rectificação. Não é nada meu hábito copiar e dizer de onde o fiz, desta vez falhou-me. Já coloquei o poema no meu blog há uns meses, ele é de autoria de Camilo Pessanha. Uma pequena pérola da poesia.

Uma noite feliz Luís, agora vou "blogar" (existe esta palavra?) um bocadinho até que o sono chegue.

00:41  
Blogger o clube said...

Olá Gi
Porque é que você é sempre tão bondosa para comigo? Eu não mereço tanto, minha querida e tudo aquilo que me dão ou possam dar, sempre ultrapassará o que eventualmente tenha feito para o merecer.
Mas é verdade Gi, aquela é uma cidadezinha encantadora pela qual nos apaixonamos logo no primeiro olhar e, por isso, de onde nunca queremos sair e invariavelmente ficamos com uma lágrima de tristeza e saudade quando o fazemos.
Sabe Gi, eu esqueci-me de lhe falar de uma coisa magnífica que por ali se faz e tanta alegria causou no meu coração. Estou a referir-me à possibilidade de andar tranquilamente e com toda a segurança de biciclete pelas vias da cidade. Aliás, são estas são verdadeiramente o reino daquelas e é tão bonito de ver mães com atrelados onde vão os bebés e os jovens a entrarem pelos eléctricos com o velocípede pela mão que até tem um compartimento especial para que ali possa seguir sem incimodar ninguém.
Ai Gi e se algum ali for não se esqueça de comer os gelados de confeitaria que para meu gosto ainda são melhores que os suiços e os doces e chocolates que são a tal tentação... Ah e não se esqueça de dar saudades minhas seja onde for e se for à Kleine Sinagoge e pedir para espreitar pela porta das traseiras que dá para a linha de água, poderá então ver esta fotografia ao vivo que vale a pena, se tiver tempo leve pão e brinque com os patinhos que eles não compreendem a nossa língua mas recebem bem a nossa amizade e pela maneira como voltam, bicos espetados obliquamente sobre um pescoço trémulo de tanto grasnarem, é sinal de que gostaram de nos ter ali.
Não a incomodo mais Gi, nuna pretendo incomodá-la, mas acabo por sempre abusar da sua paciência.
Ah, mas anter de me ir quero dizer que vou encher-me de vergonha mas mesmo assim arrisco a oferecer-lhe umas quantas imagens mais deste mundo que tanto me encantou. É claro que a Gi não deve sentir-se ofendida pela falta de jeito que eu tenho para fotógrafo, pois acredite-me que o presente é sincero e sentido.
E agoradesejo-lhe um resto de dia com as cores das flores daqueles canteiros sobre as águas.
Tudo de bom para si, Gi

10:06  

Enviar um comentário

<< Home