2007-02-05

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

OS AMIGOS DA CASA AMARELA
Hoje acordei tarde, coisa de que não gosto, pois sempre considero uma manhã perdida.
Paciência, agora já não há nada que possa fazer.

Mas a isto não deve ser estranho o facto de a Matilde, há duas noites consecutivas, acordar a meio da noite, desta feita com chinfrim a reclamar leite.



A HISTÓRIA DA CASA AMARELA

Era uma vez uma menina e um menino.
Já tinham passado muitos dias desde aquele dia em que tinham falado.
E depois o menino teve uma ideia e disse à menina:
“-Olha, esta noite vamos à casa da vizinha e perguntamos se ela tem o pote de mel para a Maria.”
Sorriu a menina, perguntado:
“-Como vamos à casa da vizinha se deixámos o cesto na escola.”
E o menino teve outra ideia:
“-Então perguntamos à Maria se o trouxe para podermos ir à casa da vizinha.”


Esta tarde, quando me sentei para dar continuidade a este diário, a Margarida interrompeu-me e pediu-me que escrevesse uma história que ela queria ofertar à mãe. E saiu o que acabaram de ler.

Eu sou o pai. Não tenho nada a dizer.



Mas o dia acabou por se revelar de afazeres e pouca lassidão.


A Luísa passou a tarde a fazer marmelada e eu fiz recados.
Depois tratei dos lanches e colaborei na limpeza da cozinha.

Enquanto a mãe, com o cirandar das filhas, fez o presépio, eu saí para fazer compras.



À noite é que houve divertimento.

Fomos ao Seixal ver uma apresentação do teatro de marionetas de Évora; autos populares, no melhor da tradição bonecreira. Mas tudo muito bem montado e feito, com actuações de primeiríssima água. E quando as luzes se acenderam, ainda tivemos o prémio de visitar os bastidores e, desse modo, aprendermos algo sobre a composição das figuras e a maneira de operar para que elas se animem.

Que belo serão.


E tanto a Margarida como a Matilde gostaram e foram elas quem evidenciou a curiosidade pelos saberes daquele ofício.



Em Nice, aproxima-se o fim da cimeira da União que assinala o fim da presidência francesa.
Nada há de mobilizador e os homens das batutas não têm coragem para identificar grandes desafios. Estamos em época de pragmático realismo o que quer dizer, a inércia, a manutenção do status quo. E, no entanto, todos os dias nos entra o futuro pelas fronteiras e ninguém sabe se o alastramento do nosso modo de vida não trará rupturas fatais para a nossa presença na superfície terrestre. E ainda há a pobreza que é tanta por esse mundo fora e cujo combate poderia ser o equivalente à guerra enquanto motor económico. Mas temos dirigentes dos tempos em que a asa vai manca.


Enquanto isso, na rua, há manifestações contra a globalização.
Quem é que se esquece que foi a cultura europeia que produziu o nazismo e os fascismos?


E os resultados da cimeira só podem ser palavras vãs.
Não há qualquer entendimento quanto às reformas das instituições da União.



E por cá, o dia político foi marcado pela abertura do congresso do PCP. De resto, a refrega do temporal; não é que há zonas do país que permanecem sem energia eléctrica?

Como disse João Amaral, ao rotularem-se certos discursos como social-democratizantes, imediatamente se inquinou o debate
Daí que o partido saia reforçado no seu finca-pé marxista-leninista de centralismo democrático e braço no ar.

Veremos como evoluirá a sua expressão eleitoral.

Alegadamente enfermo, Cunhal esteve presente sob a forma de um discurso lido pelo actor Canto e Castro.


Há decadências tão patéticas.



A casa em silêncio de rádio, na madrugada.

Alhos Vedros
00/12/08
Luís F. de A. Gomes

8 Comments:

Blogger Gi said...

Só passei para o ler mais um bocadinho e dizer olá. Ainda anda em misão secreta? Isto de lermos muitos livros policiais e de aventuras parece que te repercussões na vida adulta :O)
Resto de noite feliz, enquanto estava aqui a escrever os meus cães envolveram-se à luta e tive que os ir separar, as coisas estão feias.

Um beijinho

18:00  
Blogger o clube said...

Olá Gi!
Espero ter oportunidade de amanhã a visitar pela calada da manhã, antes de me entregar a um dia longo e difícil.
Por acaso já li, não muitos, mas alguns policiais e na infância devorei livros de aventuras -as vinte e uma histórias do cinco li-as durante a escola primária e as férias de Verão do primeiro ano de ciclo- mas cedo passei para outras leituras. Mas neste caso a minha querida amiga está a brincar e devo dizer-lhe que ontem, quando abri o mail e vi este seu "hello", foi o perfume de um dia de exaustão e com a preocupação relativamente ao azar desportivo da Matilde. Teria dormido mais triste se não tivesse recebido este alento que tanto apreciei.
Uma noite cheia de azul para si, (c), mesmo com vinte e quatro horas de atraso
Luís

22:27  
Anonymous Anónimo said...

O neto dorme a sonhar com estrelas e aviões uma história a pedido, parecia ele que a adivinhava que a avó hoje anda no reino das nuvens.
Quatos aos livros li tantos Luís, mas tantos, tudo quanto era Enid Blyton eu devorava em garota, ainda os tenho guardados, velhinhos, amarelecidos com o tempo e quase que em cada história que eles contam eu tenho uma história minha associada, Não tão aventurosa, mas ainda assim de recordar. Depois foi a passagem para os policiais onde a Agatha Christie tinha lugar de destaque assim como o A.A. Fair e o Erle Stanley Gardner (que eram o mesmo), mas também comecei com outras leituras muito cedo, ler sempre foi a minha paixão.
E estava a brincar sim, não ando com muita paciência para coisas sérias por falta de concentração, espero que passe breve, pelo menos estou a fazer por isso.
Uma noite feliz Luís. Azul, muito azul

beijinhos

Gi (não consigo publicar com o meu endereço)

22:53  
Blogger o clube said...

Gi, encanto, doçura que bom... Que bom, Gi, você aqui, assim, de repente, inesperadamente, no fim da noite de um dia maçador e aborrecido, oh Gi, tão doce, tão bom, tão bom...
Devo dizer-lhe que ao abrir o mail estranhei um comentário de anónimo e até pensei vir a estar perante mais uma inconveniência -se bem me faço entender, espero que sim- mas quando percebi, só pelas primeiras palavras que afinal era o seu rosto que me sorria, meu coração desfez-se numa boca de flores e esta noite ficou de imediato encantada.
Você leu alguns dos mesmos livros que eu e quanto aos policiais, temos em comum memória da velha Agatha e do Stanley que para mim é o mestre. Não sei se leu Connan Doyle e o seu cocainómano que pela lógica descobria o que a mente prática da Watson não era capaz de ver. Esse encantava-me mais pela própria escrita em si e percebi-o quando visitei a casa de Sherlock Holmes em Londres, melhor será dizer a reconstituição do que seria, se fosse real, a casa da personagem, perto do Museu de Cera, não sei se conhece.
No que respeita aos cinco eram uma espécie de modelo para mim e como eu era o mais novinho de uma vasta fratria, identificava-me bastante com o David de quem apreciava a coragem, a inteligência e até a sabedoria para um miúdo daquelas idades e acredite-me que tinha um rspeito pelo Júlio como se ele realmente exisitisse.
Os meus pais tinham casa em Sesimbra, onde sempre passava os Verões até Setembro, quando o paizinho fazia as suas férias pessoais no Luso, para onde rumava toda a família durante quatro semanas. E tanto num sítio como no outro, mas especialmente na estância balnear, deleitava-me com as passeatas de bicicleta ou a pé sempre com um lvrinho que ia lendo quando achava um poiso que me agradasse. Em Sesimbra, gostava especialmente de meter um bom lanche nula sacola e lá partia eu pelo morro do castelo que cheguei a conhecer como a palma da mão ou então pelas falésias que a partir do farol chegam à praia do cavalo e daí vão até ao Espichel. E assim li os cinco e aos treze anos, já depois de ter lido coisas mais sérias como Dickens, por exemplo, passei ao meu primeiro romance de maior alcance que foi, pode-lhe parecer incrível mas assim aconteceu, foi, dizia, "Um dia na Vida de Ivan Denisovich" do Soljenitsin que li sem conseguir perceber a época a que se reportava pois, pelo que se ouvia dizer, não me parecia ser possível haver aquele género de campos de concentração na Uniao Soviética de que se diziam maravilhas. Enfim, memórias Gi, com as quais não a quero maçar.
Mas a verdade é que jamais parei de ler se bem que desde há muito não o possa fazer por motivos meramente de prazer como sempre gostei de o fazer.
Gi, estou a escutar Débussy e só tenho pena que você não tenha este piano encantado no seu horizonte sonoro, mas por iss olhe desejo uma noite com o profundo azul das ondas deste pianista que nos faz voar pelo espaço, mesmo à frente do mar
Até amanhã, (c)
Seu
Luís

00:10  
Blogger Gi said...

Mas é claro que li (meu caro Watson) e claro que fui ver a casa de que fala quando estive em Londres pela primeira vez. Ainda tenhoa qui algumas fotografias da casa (que até passa despercebida aos passantes...). Não me recordo qual foi o livro logo a seguir aos das colecções que falei, dos mais sérios entenda-se, mas lembro-me do Irving Wallace desde os primeiros tempos não sei porquê. Os livros de autores Portugueses, para além dos clássicos (que eu na altura, porque eram de leitura obrigatória, embirrava solenemente) só os comecei a ler nos princípios dos anos 80, achava-os enfadonhos, até que aguém de mente mais aberta me fez o favor de oferecer uns e dar-me indicação de outros para eu conhecer o que de bom se escrevia em Portugal. E nunca mais parei, é dessa altura "O que diz Molero" do Dinis Machado (que também tinha livros policiais com o Nome de Dennis Mc Shade (não me lembro se era assi mas soava assim :) ) e o meu sempre Mário de Carvalho com a sua deliciosa loucura das "Histórias do Beco das Sardinheiras" que já coloquei no blogue creio que por duas vezes e ainda hei-de colocar mais. Falo dele e perco-me, já nem sei a que vinha isto a propósito. Ainda não estu grande cosa .
Bom mas para terminar fica aqui só um beijinho para a menina e o desejo de rápidas melhoras, por ela e para o pai não andar tão preocupado.

Até mais Luís , um bom dia (chuvoso como eu gosto)

09:56  
Blogger o clube said...

Eu dei-lhe o seu beijinho e remeti-lhe o desejo das melhoras, mas não sei se será por os tecidos estarem a voltar ao normal -sou leigo nestas matérias- a pardaloca sentiu dores ao longo de todo o dia. Foi o que ela me comunicou em acto contínuo e ficou triste por ter que abdicarda aula de educação física de que tanto gosta.
Vejo então que já pisamos os mesmos lugares e já lemos muitos livros em comum. Nunca li o Dennis, mas é assim que se escreve, mas li a história do Molero e muita coisa do Wallace, a máquina de escrever, como ouvi a alguém um dia chamar-lhe, sem perceber que o homem, sem moralismos, conseguia sempre um fundo moral nas suas histórias que muito nos faz pensar, para além do mérito de nos conseguir ganhar para a leitura. Conheci muito boa gente que passou para outra literatura mais trabalhado a partir precisamente de aventuras fabulosas como "O Sétimo Segredo" ou "A Palavra", só para dar um mínimo de exemplos. Mas eu, dentro do mesmo género, preferia o Shaw, o Iriwin do "Pão Sobre As Águas" ou da "Lucy Crown" que eu li bastante jovem e achei um verdadeiro hino à vida que, apesar da tragédia, só não é bela para aqueles que isso em ela não o conseguem alcançar.
Enfim, ainda lhe poderia dizer que o mesmo aconteceu comigo com os autores portugueses.
Mas reparo num pormenor do seu comentário e peço-lhe um favor -once again. Não quer "oferecer-me" as fotos da casa do Sherlock Holmes para que eu faça aqui no Clube uma série a esse respeito? Pessoalmente ficaria encantado de poder reviver e mostrar um local onde passei uma manhã bastante agradável.
Bem não a empato mais, por agora desejo-lhe um resto de noite muitíssimo feliz, cheia de estrelinhas que brilhem de arco-iris, sobre um baloiçar de azul, muito azul para si
Luís

22:52  
Blogger Gi said...

Luís, quando as encontrar mando sim. Repare eu tirava fotografias de forma compulsiva, na altura ainda não tinha a máquina digital, são milhares de fotos algumas em álbuns (onde há gente :) ) e em caixas, as de paisagem, na altura não se passava nada para computador. Um dia destes encho-me de coragem e vou à procura, sim.
Os livros de Wallace, os mais marcantes foram sem dúvida a "Ilha das três sereias" creio que já em se publica, o meu é velhinho, velhinho...um dos mais polémicos, o 7 minutos, há um outro que pouco se fala bastante bom por sinal que era o cavalheiro de domingo, A palavra , o Prémio , e há mais só estou a falar dos que me lembro (não me apetece levantar para ir ver os outros que tenho), repare estes foram lidos entre 79/80 já lá vai tanto tempo que já nao me lembro bem das histórias. Um dia que me falte a leitura (o qe eu duvido mas nunca se sabe) acho que vou reler alguns.
Bom termino por aqui, noite feliz e as melhoras da pincesa
Bijinhos

23:26  
Blogger o clube said...

Oh Gi, (c) eu estou tão cansado que você dificlmente será capaz de imagina o quanto me estou a esforçar neste momento mas a verdade e que não resisti e como estava a passar pelos mails para apagar as mensagens dos posts que fiz, lá tive o presente melhor a que poderia aspirar e por isso publiquei já o seu comentário só para lhe dar as boas noites e dizer-lhe o quanto vou feliz para os sonhos só por a ter visto uma vez mais antes dessas horas de ausência. Gi, nem tenho palavras para descrever a alegria, acredite-me.
A Ilha das Três Sereias foi uma das referências que me empurraram para a Universidade sob a forma que a escolhi fazer e posso garantir-lhe que li esse livro pelos anos que fala, talvez setenta e nove. Se você conhecesse a fonte dos castanheiros, no Luso Gi...
Mas agora não sou capaz de falar mais. Humanamente é-me de todo impossível continuar (c), compreenda-me e perdoe-me por isso, está bem Gi?
Deseje-me boa sorte para amanhã, dia que passarei consigo dentro do peito para que tudo me corra bem. Com esta sua visita você fez-me sentir a pessoa mais feliz do mundo e agora vou deitar-me cheio de encantos.
Até amanhã (c),
Seu
Luís

00:48  

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