2007-02-04

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Só posso dizer que a comunicação social exagerou nisto do mau tempo, provocando um estado de alarme que a realidade não justificou. Houve temporal e valente, é bom de ver, mas daí até à situação trágica em que os noticiários nos quiseram fazer crer, a distância é grande e o ridículo de repórteres a quererem forçar testemunhos de quase calamidade pública, ficou bem ilustrado pela resposta de uma residente na Alfândega, no Porto, que disse, à jornalista da TVI, ter vivido uma situação pior há cinco anos atrás e apontou, na parede da casa, um nível de água superior à sua altura como aquele que, então, foi atingido; deve dizer-se que a Senhora estava a ser convidada a prevenir-se da possibilidade de uma cheia que, verificou-se mais tarde, nem aconteceu.
Claro que choveu bastante e a ventania chegou a ultrapassar os cem quilómetros horários. Outra coisa não seria de esperar, os serviços de protecção civil entraram em fase de prevenção reforçada, mas estivemos longe de temporais mais graves. Ele houve ligações cortadas, mas mesmo assim ainda tivemos oportunidade de ver o disparate de se manter aberta a estrada marginal entre o entroncamento do Falcão e a ponte de D. Maria, quando o rio se ondulava sobre o asfalto e, pelo menos, uma cascata de água se pranteava por um dos pontos de ravinas indevidamente urbanizadas.
Enfim, é Portugal na melhor forma, do qual o nosso jornalismo é um espelho fidedigno. Nem está em consideração se este, perante determinadas circunstâncias, pode ou não procurar uma atitude mas pedagógica e voltada para o desiderato de prestar um serviço social, em vez de almejar o sensacionalismo da melhor abertura.


Lamentavelmente, devido a uma derrocada, em Arcos de Valdevez há mortes a registar.
Quanto aos danos materiais, como aqueles que ocorreram em Tomar e que em nada diferem de tantos outros já vistos, os seguros indemnizarão os danos. É por isso e para isso que eles existem.


E hoje foi dia de refrega.
Chuvadas intensas e rápidas intercaladas pelo azul salpicado e os prenúncios que o tapavam em tons de cinzento.

Árvores caídas ou tão só os troncos, rastejantes, com o que lhes resta da cabeleira, concordantes com os taipais derrubados e o lixo de coisas partidas e espalhadas por aqui e ali.
Mas a meio da tarde, contentores permaneciam onde e como o vento os deixara. E isto não tem a ver com a tempestade, pois não?



As bátegas desta noite levaram-me a trocar um debate sobre o sapal pela companhia, sempre prazenteira, de José Rodrigues Miguéis



Lá está, por precaução, a ida ao circo foi adiada e a Margarida passou o dia em casa.



E pela imprensa local vejo que perdi um debate animado por Anna Feitosa –assim mesmo, com o éne dobrado, provavelmente o nome artístico- sob o tema, “o reencantamento da vida”.
Avaliando pelos excertos incertos na notícia, deve ter sido um serão francamente divertido.

Ali se disseram coisas tão profundas como o conselho para que “(…) focar os nossos pensamentos, parar um pouco para pensar, pois se assim não for, revelamo-nos pessoas com elevado grau de imaturidade.” Já viram a novidade? Ao que se acrescenta, sem hiato, e continuo a citar a conferencista: “A humildade e calma é decerto uma visão pluridisciplinar.” Lindo.
E a receita está nos verbos rir, viver e aprender. Quem duvida?
Diz a Senhora:
“(…) Temos que inventar festa todos os dias, tem que haver uma comemoração diária, mais que não seja o nosso renascimento diário, após o acordar. Não devemos viver preocupados com o futuro, porque esse pensamento leva ao medo (…)” (1) Nem mais nem menos.

Cá para mim a mulher é funcionária pública.


Mas gostaria de ver a expressão facial que se apresenta quando se dizem, em voz alta, ideias tão… Tão… Pioneiras?


A vida é tão cheia de nuances imprevistas e racionalmente incontroláveis que, por vezes, nos baralham decisões pré-estabelecidas…



Pois em Moçambique a má vida provocou um espectáculo nunca viso.
Joaquim Chissano, o Presidente da República, discursou no Parlamento sob o som dos apupos e protestos ruidosos dos deputados da oposição.

Sempre é mais civilizado que a guerra e pela coragem revelada, pode muito bem começar ali mais um episódio da génese difícil de uma democracia em solo africano.



Mas hoje foi dia de telefonemas.

Ao fim da tarde liguei para um ex-aluno com quem não contactava há, pelo menos, uma década.
Fiquei encantado por o saber bem –é militar e simultaneamente professor no ensino superior- e por ele se ter prontificado a encontrar-me o contacto de que necessitava e pelo qual o procurei.


À noite telefonou o Álvaro Fernandes para dar os parabéns à Luísa ainda que com alguns dias de atraso.
Conhecemo-lo, a ele e à mulher, a Paula, numa quinzena que, em mil novecentos noventa e um, passámos em Agadir depois de uma longa viagem pelo Alto Atlas.
E já há uma boa mão cheia de anos que não os encontramos pelo que ficámos –somos nós que estamos em falta- de os encontrar.

São os acasos da vida.

__________
(1) Alves, Marília, p. 13
NÃO ACREDITE, EXPERIMENTE

Alhos Vedros
00/12/07
Luís F. de A. Gomes

CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Alves, Marília- NÃO ACREDITE, EXPERIMENTE
In “Jornal da Moita”, nº. 41, de 00/12/07

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Hoje enchi-me de coragem e aqui estou a comentar um dos seus textos. Espero que não me leve a mal por isso, mas a verdade é que já há algum tempo que o andava para fazer.
Você escreve tão bem, são tão bonitos os textos que consegue fazer que até dá vontade de nunca mais parar de ler. Seja na apresentação de ideias que faz de uma maneira elegante e tão inteligente, seja quando faz escrita poética, é sempre tão interessante e belo aquilo que nos oferece que dá vontade de o conhecer pessoalmente mais que não seja para lhe perguntar como o consegue fazer.
E a forma carinhosa como se refere às suas filhas e o encanto que vê na vida que leva. Tudo isso me faz vibrar no mais profundo da alma.
E sabe que somos quase vizinhos?
Mas agora que ganhei coragem, posso voltar mais vezes?
Uma noite cheia de coisinhas doces para si
Maria Valéria

23:29  
Blogger o clube said...

Agradeço as suas palavras, sempre bondosas e elogiosas para comigo.
Este espaço está à sua disposição como de quem quer que nos visite e está aberto a comentários e perguntas a que terei todo o gosto em responder. Se para tanto tiver arte e engenho.
Paz e saúde para si
Lu´s F. de A. Gomes

22:17  

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