O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA
AMANHÃ VAMOS VADIAR
De acordo com notícias de fontes governamentais, Ansumane Mané foi morto com um tiro no pescoço, durante um recontro com tropas leais a Kumbaialá.
Isolados, sem reconhecimentos nem apoios exteriores e sem dinheiro para se rodear e defenderem, assim acabam os cabos de guerra que, em África, mais não são que repetições das antigas disputas pelas sucessões nas chefias tribais.
Insubmisso, incapaz de obedecer, o candidato luta até à morte.
Eleições antecipadas em Israel.
Só lamento que tarde em aparecer um líder capaz de propor e fazer a paz.
Pessoalmente não conheço o país e, nessa condição, estou incapacitado para conhecer a complexidade da interpenetração cãs culturas de israelitas e palestinianos.
Mas será que o caminho não residiria numa aposta no desenvolvimento económico e social do lado ismaelita?
Quando deixará de ser pouco o que estes têm a perder?
Mas que fastio, um livro de Fernando Rosas sobre a industrialização ao tempo do consulado de Salazar. Mal escrito, cheio de repetições e frases intercaladas, vai ao ponto de alertar para os defeitos do simplismo de certas análises que depois repete. E ainda o snobismo do uso de late comer’s e take offs, import/export e momenta –“-Ai que o homem até sabe latim…- para mostrar ilustração e sabedoria.
E é um professor universitário que dirige mestrados e tudo.
Pois apresenta-nos teses de ideias feitas que chegam a atribuir à clarividência de alguém a repentina importância que o nosso subsolo apresentou para o poder face à pressão das necessidades dos países beligerantes da segunda guerra mundial. E depois aquela ideia estapafúrdia da necessidade de uma reforma agrária para o sucesso de uma industrialização auto-sustentada (1), como se isso tivesse acontecido na Inglaterra, na Bélgica ou na Holanda.
Coarctado por uma visão elitista do mundo e da história, o douto lente acaba por se mostrar incapaz de compreender que o problema da deficiente industrialização saída das medidas e dos planos de fomento do salazarismo, resultou, precisamente, pelo excesso de estatismo, isto é, pelo facto de condicionar a liberdade económica e a livre expressão e funcionamento dos mercados, quer ao nível interno como externo. Ao contrário da tal visão autárcica de que enfermam os pontos de vista do Autor, o problema foi o isolamento face ao comércio internacional e a impossibilidade de que a concorrência externa levasse o portuga a produzir mais, melhor e do que poderia haver de diferente.
Só isso explica que os Cupertinos de Miranda e os proprietários dos fogões leão nunca tivessem tido ensejo para se multiplicarem.
Mas como é que nos podemos admirar que licenciados escrevam mal, falem pior e se equiparem a um liceal quanto à exposição de ideias, e, isto, na mediania mais elevada?
E depois vai de manifestações a favor da facilitação, uma vez que a excelência já deixou de estar ao nosso alcance.
Numa escola básica C+S da Trafaria houve ontem uma greve de Professores contra a violência dos alunos.
E no Porto, um agente da Judiciária terá interpelado um estudante durante uma manifestação.
Como assim, andam polícias entre os manifestantes? Para quê?
Justamente no mesmo dia em que Sousa Franco diz que a venda de parte da GALP à ENIA –uma empresa italiana- foi desastrosa pois não estamos perante um parceiro estratégico que venha acrescentar seja o que for àquela empresa nacional estatizada, além do que, sempre segundo o ex-ministro das finanças, a nova associada passa a ter posição na administração, ainda que minoritária, mas com capacidade para paralisar a actividade desse mesmo corpo directivo.
Hoje houve mais exercícios em torno da palavra bota.
Duas fichas para trabalho de casa de um fim-de-semana prolongado que, para a Margarida, terá o acréscimo de um dia que será o da sua primeira falta escolar.
Na Jugoslávia, Kostunica parece ter assegurado o poder.
Estaremos a caminho da democracia?
É o que iremos ver com o tempo.
Mas a incultura continua.
Ainda no fim-de-semana passado, por ocasião de uma cimeira inter-balcânica, em Sarajevo, manifestantes croatas fizeram alarde do seu ódio aos sérvios.
E hoje também passam cem anos sobre a morte sem honra nem glória de Oscar Wilde.
A sumptuosidade em que vivia o homem que disse “-Nothing but my genious.”, não foi nada que se parecesse com a vaidade mas sim a afirmação da individualidade brilhante e inteligente que tão só se estampou nas mentalidades dominantes do seu tempo.
He just cultivated na attitude.
No que precedeu muito do que foi a expressão pessoal de muitos dos intérpretes dos movimentos de arte –aos mais variados níveis- do século vinte.
Chegou a Bagdad o primeiro voo comercial desde há dez anos.
Amanhã vamos para o Porto.
Ao jantar, as miúdas viviam a excitação própria das vésperas dos períodos de férias.
Mas também os adultos estão satisfeitos com a perspectiva de uma folga prolongada.
Pois bem, até segunda-feira.
__________
(1) Rosas, Fernando, pp 67 e ss
SALAZARISMO E FOMENTO ECONÓMICO
Alhos Vedros
00/11/30
Luís F. de A. Gomes
CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
Rosas, Fernando- SALAZARISMO E FOMENTO ECONÓMICO
Editorial Notícias (1ª. edição), Lisboa, 2000
Isolados, sem reconhecimentos nem apoios exteriores e sem dinheiro para se rodear e defenderem, assim acabam os cabos de guerra que, em África, mais não são que repetições das antigas disputas pelas sucessões nas chefias tribais.
Insubmisso, incapaz de obedecer, o candidato luta até à morte.
Eleições antecipadas em Israel.
Só lamento que tarde em aparecer um líder capaz de propor e fazer a paz.
Pessoalmente não conheço o país e, nessa condição, estou incapacitado para conhecer a complexidade da interpenetração cãs culturas de israelitas e palestinianos.
Mas será que o caminho não residiria numa aposta no desenvolvimento económico e social do lado ismaelita?
Quando deixará de ser pouco o que estes têm a perder?
Mas que fastio, um livro de Fernando Rosas sobre a industrialização ao tempo do consulado de Salazar. Mal escrito, cheio de repetições e frases intercaladas, vai ao ponto de alertar para os defeitos do simplismo de certas análises que depois repete. E ainda o snobismo do uso de late comer’s e take offs, import/export e momenta –“-Ai que o homem até sabe latim…- para mostrar ilustração e sabedoria.
E é um professor universitário que dirige mestrados e tudo.
Pois apresenta-nos teses de ideias feitas que chegam a atribuir à clarividência de alguém a repentina importância que o nosso subsolo apresentou para o poder face à pressão das necessidades dos países beligerantes da segunda guerra mundial. E depois aquela ideia estapafúrdia da necessidade de uma reforma agrária para o sucesso de uma industrialização auto-sustentada (1), como se isso tivesse acontecido na Inglaterra, na Bélgica ou na Holanda.
Coarctado por uma visão elitista do mundo e da história, o douto lente acaba por se mostrar incapaz de compreender que o problema da deficiente industrialização saída das medidas e dos planos de fomento do salazarismo, resultou, precisamente, pelo excesso de estatismo, isto é, pelo facto de condicionar a liberdade económica e a livre expressão e funcionamento dos mercados, quer ao nível interno como externo. Ao contrário da tal visão autárcica de que enfermam os pontos de vista do Autor, o problema foi o isolamento face ao comércio internacional e a impossibilidade de que a concorrência externa levasse o portuga a produzir mais, melhor e do que poderia haver de diferente.
Só isso explica que os Cupertinos de Miranda e os proprietários dos fogões leão nunca tivessem tido ensejo para se multiplicarem.
Mas como é que nos podemos admirar que licenciados escrevam mal, falem pior e se equiparem a um liceal quanto à exposição de ideias, e, isto, na mediania mais elevada?
E depois vai de manifestações a favor da facilitação, uma vez que a excelência já deixou de estar ao nosso alcance.
Numa escola básica C+S da Trafaria houve ontem uma greve de Professores contra a violência dos alunos.
E no Porto, um agente da Judiciária terá interpelado um estudante durante uma manifestação.
Como assim, andam polícias entre os manifestantes? Para quê?
Justamente no mesmo dia em que Sousa Franco diz que a venda de parte da GALP à ENIA –uma empresa italiana- foi desastrosa pois não estamos perante um parceiro estratégico que venha acrescentar seja o que for àquela empresa nacional estatizada, além do que, sempre segundo o ex-ministro das finanças, a nova associada passa a ter posição na administração, ainda que minoritária, mas com capacidade para paralisar a actividade desse mesmo corpo directivo.
Hoje houve mais exercícios em torno da palavra bota.
Duas fichas para trabalho de casa de um fim-de-semana prolongado que, para a Margarida, terá o acréscimo de um dia que será o da sua primeira falta escolar.
Na Jugoslávia, Kostunica parece ter assegurado o poder.
Estaremos a caminho da democracia?
É o que iremos ver com o tempo.
Mas a incultura continua.
Ainda no fim-de-semana passado, por ocasião de uma cimeira inter-balcânica, em Sarajevo, manifestantes croatas fizeram alarde do seu ódio aos sérvios.
E hoje também passam cem anos sobre a morte sem honra nem glória de Oscar Wilde.
A sumptuosidade em que vivia o homem que disse “-Nothing but my genious.”, não foi nada que se parecesse com a vaidade mas sim a afirmação da individualidade brilhante e inteligente que tão só se estampou nas mentalidades dominantes do seu tempo.
He just cultivated na attitude.
No que precedeu muito do que foi a expressão pessoal de muitos dos intérpretes dos movimentos de arte –aos mais variados níveis- do século vinte.
Chegou a Bagdad o primeiro voo comercial desde há dez anos.
Amanhã vamos para o Porto.
Ao jantar, as miúdas viviam a excitação própria das vésperas dos períodos de férias.
Mas também os adultos estão satisfeitos com a perspectiva de uma folga prolongada.
Pois bem, até segunda-feira.
__________
(1) Rosas, Fernando, pp 67 e ss
SALAZARISMO E FOMENTO ECONÓMICO
Alhos Vedros
00/11/30
Luís F. de A. Gomes
CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
Rosas, Fernando- SALAZARISMO E FOMENTO ECONÓMICO
Editorial Notícias (1ª. edição), Lisboa, 2000
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home