2007-02-13

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Afinal tudo foi mais rápido do que eu supus. Mas não admira. Acontece que os homens da bola sabem que não podem ocorrer atrasos como os que se têm verificado no metro do Porto, pois o limite do prazo é-lhes imposto e, bem vistas as coisas, desta vez tratam-se de profissionais que têm à disposição um bolo de algumas centenas de milhões de contos.

E Armando Vara, disse o nosso Presidente da República, fez aquilo que seria de esperar e que só prova a vitalidade das instituições democráticas; a democracia em Portugal funciona, podemos estar descansados.

Isn’t that funny?


E para que hajam factos que o corroborem, José Lello avançou para Ministro dos Desportos e disse esperar estar à altura do euro dois mil e quatro.


Ninguém duvide, há mandíbulas bem afiadas.
Assistiremos ao maior desvario de sempre no controle das contas de um projecto público e, no fim, o Futebol Clube do Porto ficará com o melhor e mais moderno estádio do país, pelo que ai será a final do campeonato.


A democracia, em Portugal é que levou um tiro de morte.
Passaremos a viver numa espécie de organização política similar à do império romano que a propaganda tratará de apresentar como uma sociedade aberta e livre. Mas não haverá possibilidade de investigação jornalística independente e sem constrangimentos.
Os interesses dominarão o poder e repartirão, entre si, o mel que das suas tetas seja possível extrair.

Exagero?
Então e o que dizer de um Primeiro-Ministro ajoelhado que continua no Governo?
Duvido que Guterres ainda mande na corte, a não ser como flor de jarra and the front man captador do voto. Jorge Coelho, depois de o desmentir numa comissão parlamentar de inquérito sem que tenha sido demitido, mostrou ser ele o homem do leme.
A seu tempo veremos a mando de quem.



Doem-me as pernas. À saída do escritório encontrei o Jorge Cobra e estivemos duas horas em conversa, de pé e ao frio.
Foi, isso sim, um bom tónico intelectual. Gastámos boa parte do tempo a falar de Deus e na relevância dos princípios fundadores do judaísmo para a humanidade actual, embora ele seja católico. Mas sabe pensar e tem espírito aberto.
A insegurança do mundo de hoje tem mais a ver com o desespero das sociedades modernas em que os humanos quase se encontram arredados da convivência e da partilha, fechados sobre si num egoísmo desconhecedor das solidariedades. Mais do que a droga e roubo, é esse o fermento de solidões sem nexo e sem chão para valores de reconhecimento da humanidade alheia. Pessoalmente, diria que neste aspecto, se trata da permanência de uma cultura subserviente das expressões mais bárbaras da nossa natureza.
Um homem deixado à sobrevivência é um ser abandonado aos instintos mais animalescos do seu corpo.
Em Deus reconhecemos a razão de ser da espécie humana na sua ambivalência cultural e a aceitação dos valores que evidenciam e valorizam a nossa igual filiação, com todas as consequências que razoavelmente daí advêm.

Naquilo que para tanto indispensável seja, devo dizer que não posso ensinar às minhas filhas os princípios cristão que, por compromisso de casamento, aceitei para elas e nos quais não me revejo, de todo.
Não me parece que seja o procurarmos ser bons. É óbvio que isso é importante, tal como o amor cristão, a promoção do bem é sempre um desiderato a considerar. De qualquer forma, se simples humanos que somos não podemos acreditar-nos capazes de atingir a bondade, nada mais impede que, apesar da nossa pequenez procuremos e consigamos ser razoavelmente justos. Mais importante é compreender até que ponto podemos ser bons, até que ponto a bondade se aplica de igual modo e com universalidade a todos os seres humanos. Cabe perguntar se teremos de aplicar de igual modo a bondade à vítima como ao carrasco do indizível. No entanto está ao alcance consegui-lo no domínio da justiça e já não nos parece anacrónico esperar que a justiça se aplique de igual modo a todo e qualquer indivíduo e aos seus actos.

Claro que haverá que de imediato alegue que estamos a falar de um conceito relativo.

That’s the way it is
when we want to be na avestriz.


Mas é fácil entender que é possível minimizá-la a uma universalidade.


Aceito que digam que isto é preguiça de quem não sabe ou não pretende escrever mais. Não tenho como negá-lo e o que é um facto é a intenção de ficar por aqui.

Só que não resisto a dizer que lhes deixo a tarefa de saciarem a curiosidade se virem que vale a pena.



Valentim Loureiro congratula-se com José Lello na pasta dos desportos. Até deu para reconhecer que o Primeiro-Ministro esteve bem, que pela escolha quer pela celeridade da mesma.



E António Guterres lança um desafio interno.
Ele tem um projecto para a próxima década e quem não está de acordo com o mesmo deve clarificar a sua posição e apresentar a necessária alternativa.


Querem ver que o homem ainda vai ser ponta de defesa do regime democrático? Não acredito. Isto é fogo de artifício. Ele está na mão de interesses duvidosos.


Eu não auguro nada de bom para a nossa sociedade que vai ganhando a forma de barril de pólvora.



Simbólica e definitivamente, a central nuclear de Tchernobyl foi hoje desactivada.
Vem aí mais uma leva de desempregados.



Esta manhã, enquanto os outros miúdos exercitaram o que aprenderam nas fichas da véspera, a Margarida realizou-as.
À tarde houve exercícios com números e a distribuição da comunicação aos pais relativa ao fim do primeiro período escolar e ao dia de recolha das informações avaliativas que será na próxima quarta-feira.
Mas na terça, para despedida, os alunos irão ao cinema, na Moita.



Nesta época do ano, quando o céu se enche de estrelas o frio domina a superfície.

Alhos Vedros
00/12/15
Luís F. de A. Gomes