2007-03-17

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A Lua arroxeia as transparências das nuvens, entrementes se apagando, pelo deambular de mesclas mais ou menos escurecedoras.



O grande caso do momento é o da utilização das munições radioactivas por parte das forças da NATO na Bósnia e no Kosovo e das consequências ambientais para os lugares flagelados e as populações e tropas aí sedeadas.


Continuo a pensar que os Governos –e entre eles o nosso- e os altos comandos militares sabiam das balas disparadas e, em conformidade, tinham elementos suficientes para considerarem as hipóteses mais nefastas no que se refere aos perigos que aquelas poderiam acarretar. Afinal esta história começou na guerra do golfo, fará este Inverno uma década, e desde aí se conhecem os efeitos das contaminações pelo uso de material radioactivo. Sem com isto estar a defender este género de bombardeamentos, sempre direi que o mais provável é que, do ponto de vista estritamente bélico, não haja alternativa; são, digamos assim, as munições que temos para perfurarmos os alvos que hoje em dia se apresentam. Mas não é isso que altera a sensação que nos fica de estarmos a ver lágrimas de crocodilo nos rostos dos homens do poder que agora vêm interpretar o fado das ingénuas inocências.

Para mim, tratou-se apenas a velha lógica militar de que certas coisas se devem manter afastadas do conhecimento das opiniões públicas.


Seja como for, parece-me desaconselhável que na actual contingência se abandone o território balcânico aos acasos de vizinhanças tão carregadas de ódios e preconceitos. E depois é preciso conceder o benefício do tempo para que o novo poder –que se espera venha a ser um outro regime- em Belgrado, se possa sedimentar. É conveniente, isso sim, que se aliviem as sanções económicas sobre a Jugoslávia. Será uma forma de assinalar o apoio à abertura e à democratização daquela sociedade. No entanto, é demasiado cedo para tocara destroçar. Isso só quando o desenvolvimento for visível e sentido pelo povo; então será mais pesado o prato daquilo que se perderia e os homens concentrar-se-ão mais no bem-estar do futuro dos seus filhos. Tal e qual como se pode deduzir, estou convencido que os ocidentais devem mesmo procurar as melhores fórmulas para uma presença prolongada.
Quanto tempo durou a ocupação estrangeira na Alemanha Ocidental e Oriental após a derrota do nazismo?


E não se esqueçam dos compromissos a que estamos obrigados enquanto membros da Aliança Atlântica.


E como era óbvio, desde o início da sua constituição, a equipa de cientistas nacionais enviada para o Kosovo para fazer análises e avaliações, concluiu que não existem níveis de radioactividade preocupantes e muito menos perigosos e muito menos perigosos para a saúde dos nossos soldados.


Então não vêem as diferenças?
Na Alemanha, os ministros da saúde e da agricultura demitiram-se na sequência dos casos de BSE que se verificaram naquele país.

Seguiram o nosso exemplo, com toda a certeza.



Goraram-se os planos de Bill Clinton para a paz entre israelitas e palestinianos.



E as presidenciais cá da paróquia lá continuam no pim pam pum que tanto agrada aos nossos profissionais da política –provavelmente, melhor seria dizer do joguete político.


Os comunistas decidiram ir ao tira teimas das urnas.
É natural. Obterão um número de votos consideravelmente maior que o Bloco de Esquerda e com isso permanecerão como o futuro complemento que sempre será necessário para uma hipotética alternativa de um governo de unidade de esquerda.



No entrementes, entre nós reforça-se uma sociedade democrática sui géneris.

Casos como o do deputado Saleiro e o da Partex foram arquivados pelo Ministério Público que os deixara prescrever.


E é claro, há magistrados multados sobre quem recaem todas as culpas por um final tão triste.



Vá lá que não houve trabalhos para casa, pois a Margarida deveria estar bastante cansada depois do seu dia escolar. É que a gatinha deu-lhe hoje para acordar às cinco da manhã e não mais fechou os olhos.


E com a agravante de ter saltado para a minha beira, com o que me provocou o mesmo efeito.



Na aula desta manhã os alunos voltaram a escrever e a ler palavras e frases, naquilo que me parece ser uma espécie de revisões da matéria aprendida.
À tarde, fizeram um desenho sobre o Inverno que a Margarida representou através das árvores sem folhas, por sua vez, caídas no chão, mas também pela neve na paisagem e cenas de chuva.

“-O que é que achas?”



Esta manhã é que me deparei com uma manifestação engraçada no estado do tempo que parece ter feito um sumário do dia mal eu saí de casa. É que choveu intensamente com Sol nas traseiras. E o resto do dia fez-se de luz intercalada pelas chuvadas em que as nuvens se impunham numa conquista do céu.

Alhos Vedros
01/01/09
Luís F. de A. Gomes