2007-04-15

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A Terra tremeu em vários pontos.

Na Índia, um sismo com intensidade seis vírgula seis, na escala de Richter, provocou fortes danos materiais e, em previsão, milhares de mortos.


E agora reparo que a recente desgraça em El Salvador rapidamente abandonou os espaços mediáticos deste cantinho à beira-mar plantado.



Ontem à noite o cansaço falou tão alto que eu me estendi no sofá e se dormitei ao longo das notícias do canal dois, o mesmo não aconteceu com um programa que, creio, se lhe seguiu e que consistiu numa conversa entre várias personalidades em torno de um caso recente, a saber, a ocupação de uma casa de banho da RTP por parte de um homem que, em tempos, foi gravemente prejudicado por uma reportagem apresentada por aquela estação. Episódio rocambolesco que se estendeu por oito horas e que gerou interrupções noticiosas cheias de erros e sensacionalismo, ajuntamento popular na fronteira da área de segurança imposta pelas forças policiais que também contribuíram com o seu vai vem de sirenes entre o local do incidente e os postos de comando. Lá dentro, trancado nuns sanitários, o sujeito, acompanhado por duas mulheres e um par de filhas, em entrevista à SIC via telemóvel, ameaçara suicidar-se com uma explosão que ali provocaria após deixar que os familiares e a amiga deixassem o local. Pois o programa pretendia debater o sucedido e o tratamento que mereceu nos órgãos de informação. O canal um, por exemplo, interrompeu a programação normal a meio da manhã até que, já na parte da tarde, o homem saiu entre polícias e sob as ovações dos populares que lhe manifestavam compreensão e solidariedade, manteve-se em directo, entrevistando este e aquele, avançando com novidades e explicações, mostrando movimentos e planos da porta sitiada e o frenesim de jornalistas com a gravidade de quem tem a sorte de um furo na vida.

Com a honrosa excepção de Pedro Bacelar que aparentemente se encontrava ali na qualidade de corajoso ex-Governador Civil de Braga e que chamou a atenção para aspectos pertinentes do problema, os rostos eram os do costume e as opiniões conformes a isso.
Contudo, não deixa de ser espantoso que ninguém dos restantes comentadores tenha referido que ali se passou uma ilicitude criminal e que as reportagens não só elevaram o seu fautor à condição de herói –o que bem revela, antes de mais, o estado mental e os valores dos jornalistas responsáveis- como, para aí chegarem, promoveram o mais reaccionários dos discursos populares que assenta na ideia de que a certas pessoas –desresponsabilizadas pela sua condição natural- nada mais resta do que fazer justiça pelas próprias mãos.

Se não estivéssemos com coisas tão sérias, até teria sido cómico escutar tantas dissertações sobre variadíssimas nuances do problema e prenhes de argumentos de cátedra e esquemas directamente saídos das sebentas.


Afinal passou-se ali mais uma novela da vida real que tanto nos coloca no patamar da cultura do SBT (1) de Sílvio Santos e de todos os ratinhos deste mundo.



Algo alegoricamente, as fortes chuvadas voltaram a alagar várias áreas do país.
As barragens descarregaram e o Douro e o Mondego transbordaram.
Há estradas e linhas-férreas cortadas, aluimentos de terras e já se contabilizaram mortes.
Nas planícies ribatejanas, há aldeias que voltaram a correr o risco de ficarem isoladas.

E a nossa tragédia reside no facto de sabermos que, numa próxima invernia em que os céus se desfaçam em tanta água, tudo voltará a repetir-se.



A Margarida lá teve a satisfação de voltar a encontrar a mãe no regresso a casa.



Felizmente para elas, as minhas filhas ainda vivem no alheamento das tricas da vida política nacional que persiste em mostrar o triste espectáculo de termos um Presidente da República que se escuda no desconhecimento para assim aligeirar responsabilidades.
Agora vêem os jornalistas de serviço veicularem a novidade, apurada após investigação que, afinal, a informação sobre o urânio empobrecido chegou aos serviços da presidência mas, por culpa da NATO, é claro, que não terá dramatizado a coisa suficientemente, a documentação inerente não chegou a passar das gavetas dos assessores.

Isto não é uma anedota, devo advertir e qualquer semelhança entre a realidade e a ficção, terá sido mera coincidência.



E é engraçado como nestas últimas semanas, a Matilde passou a contar, muitas vezes espontaneamente, as actividades que desenvolve no jardim da escola. A singularidade está em que se refere especialmente a fichas e trabalhos com as tintas. Pois não é que a miúda mostra grande entusiasmo naquilo que faz? E de acordo com a observação da Educadora esforça-se por fazer bem o que normalmente consegue à primeira e sem grandes dificuldades.
De facto, o pai sente um calor no peito ao ver as colorações que ela faz em desenhos de que não transpõe os contornos.


E também é bom saber e verificar que ela é muito simpática e jovial.
A pedido dela, à hora do almoço, fui buscá-la para que dormisse a sesta em casa dos meus pais e satisfez-me presenciara satisfação como ela se despediu das empregadas e auxiliares e do senhor padre, com um beijinho a cada pessoa.



Damos graças a Deus por termos duas filhas tão bonitas.
Resta-nos tudo fazer para o merecermos.



Por sua vez a Margarida, de manhã, depois de uma cópia de palavras e frases, fez expressão plástica –o termo foi ela que o usou- no que realizou um vaso com uma flor segundo as técnicas da colagem. À tarde, foram duas fichas de Matemática cheias de exercícios a respeito do número seis.

E o trabalho de casa foi resolvido na companhia materna.



Bendito fim-de-semana.

Alhos Vedros
01/01/26
Luís F. de A. Gomes