2007-05-15

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Hoje é dia de luto, mas também de vergonha nacional.

Ontem, por volta das vinte e uma horas, ruiu um dos pilares de uma ponte sobre o Douro, em Castelo de Paiva, levando em seu buraco um autocarro com sessenta e poucos passageiros a bordo e ainda, segundo se crê, dois automóveis ligeiros cujos tripulantes são inteiramente desconhecidos.

Não há palavras para um drama indizível, mas própria da tragédia que é a vida no mundo pobre.


E o que sobre é o espaço de revolta, a dor calada de u, grito de raiva da impotência de quem vê seus entes queridos sepultados sob as águas e dos que sabem que poderiam ter sido eles os passageiros naquela hora fatídica.
Há muito que o povo reclamava uma nova ponte por desconfiança com a capacidade da velha, de cento e tantos anos, manifestamente inadaptada ao tráfego de pesados, carregados com areia e pedra.
É claro que de imediato se assistiu à lavagem de mãos por parte de autarcas e governantes mas o que é certo é que a desgraça se deu. E também é verdade que há extracção de areias por perto e que o próprio executivo camarário podia ter mandado cortar o acesso ao tabuleiro e que há pouco mais de um mês foi feita uma vistoria e que o projecto da nova travessia está para começar desde o ano passado.
Pois bem, de quem será a responsabilidade por algo que não poderia acontecer?

Jorge Coelho foi pronto a apresentar a demissão do cargo de Ministro do Equipamento e o Presidente da República em louvar-lhe a atitude.
Pois eu pergunto qual seria a alternativa?
Não deixo é de ficar chocado com aquilo que me parece ser o cenário em formação, a saber, a continuidade daquele como membro do governo, no desempenho da outra pasta que ocupa. Mas tão só a sua continuidade na vida política será de bradar aos céus.

Se assim for, ficamos a saber que nesta pátria canalha já não há limites para o despudor.


E é tão triste vermos a escassez dos recursos de que dispomos para dar resposta aos desastres a que estamos sujeitos.



Os alunos tiveram um reatar suave o que é inteiramente justificado atendendo ao facto de que amanhã irão a Lisboa, durante a manhã, para assistirem a uma peça de teatro. Assim, o dia de hoje foi inteiramente dedicado a exercícios de leitura no “Livro Dinâmico” e no manual de Língua Portuguesa. Obviamente, não houve trabalho para casa.



Tenho lido o primeiro volume da”História Religiosa de Portugal”.
Confesso que esperava mais, ainda que a leitura seja interessante. Mas os ensaios poderiam estar melhores, sobretudo, não terem enfatizações meramente opinativas e estarem despidos da beatice perante a bondade da cultura lusa. Fala-se de tolerância religiosa nos primórdios da nacionalidade mas os factos que se narram não consentem a verificação. Onde estão as sinagogas? É que os vestígios dos guetos são ainda identificáveis. Haviam contactos e convivências entre pessoas de credos diferentes? Seguramente. Mas será que em situações em que a religião fosse importante? E será que os artistas mouros nas igrejas significaram, de facto, o reconhecimento de cultos diversos? Afinal os textos falam-nos da mesquitização das igrejas a quando da conquista muçulmana da Península Ibérica e o fenómeno inverso na sequência da reconquista cristã.

Alhos Vedros
01/03/05
Luís F. de A. Gomes