2007-06-09

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Ontem à tarde bati com o nariz na porta quando me dirigia para a minha hora de natação que boa disposição física me tem proporcionado. Houve um festival qualquer pelo que o turno correspondente ao regime livre foi suprimido. Paciência, no próximo Sábado haverá mais. Em contrapartida gozei a calmaria de um cair de tarde feito de levezas de andorinhas e canorias de embalar; enquanto das brincadeiras das miúdas brotavam gargalhadas amenas, como o ar que nos envolvia numa carícia.


Depois, para o jantar, tivemos a visita do pequeno André, o amigo da Matilde que o tratou de convidar.

E o serão foi um agradável recital de música renascentista com que a família se aprazou no auditório da biblioteca municipal, na Moita. Dois jovens irmãos gémeos, o duo Galvão, interpretaram, em alaúde e flautas, vilancetes portugueses e danças francesas do século dezasseis na primeira parte e, na segunda, música instrumental inglesa e italiana do século seguinte.

Pena que na sala não estivesse mais que uma dúzia de assistentes.



Slobodan Milosevic foi detido na sua residência e levado para ser apresentado a tribunal. O Tribunal Penal Internacional de Haia reclama-o como réu mas as autoridades jugoslavas preferem julgá-lo no país e até ao momento não se têm mostrado muito favoráveis à sua extradição.

Lamentavelmente, quanto a mim, a acção parece ter decorrido mais pela pressão dos Estados Unidos que pela vontade dos homens que pretendem dar rosto e alma ao novo regime o que nos impede de aquilatar da força e vontade políticas que estes possam ter, de facto, na sociedade jugoslava.
Era lá que o tirano devia ser julgado no que poderia ser um bom ponto de partida para o enraizamento do respeito pelo estado de direito.
Sem que a democracia vingue e floresça, entre os sérvios, jamais haverá paz nos Balcãs.

Fico é sem compreender como é que Ratko Mladick e Rodovan Karadzic ainda não foram presos pelas forças de paz internacionais e, esses sim, levados a julgamento no referido tribunal internacional.



E enquanto a Matilde faz a sesta e eu escuto a alegria dos pássaros por mais uma tarde primaveril, a mãe e a filha mais velha fazem bolinhos de chocolate.



A política em Portugal é que se escreve cada vez mais no diminutivo.

Em discurso perante pares, o bastonário da ordem dos advogados indignou-se com a atitude do Primeiro-Ministro a quem acusou de violar o segredo de justiça, para além de lembrar que se trata do Governo que já comprou deputados para fazer passar o orçamento de estado.

É claro que o jornalismo lhe amplificou a voz e porque estas coisas são mesmo assim, vai de aprofundar as questões com a resposta em acto contínuo do senhor ministro da justiça que apodou o causídico de irresponsável. Não são aquelas coisas que se digam.
Ontem, o inenarrável Jorge Coelho veio a terreiro para lembrar que quem se mete com o PS leva o que me causa arrepios, pois eu sei que neste país, por enquanto na impossibilidade do cacetete da polícia, é possível atirar com a lei e a guerra suja da imprensa sobre qualquer um.
E pior, não nos esqueçamos do triste espectáculo que será o relançamento político de Fernando Gomes com o profundo empenho de uma personagem como Pinto da Costa que, numa entrevista a uma daquelas rádios que existem para pessoas como ele fazerem os seus comícios, disse nada mais nada menos que os anti-regionalistas é que deviam estar naquele autocarro que caiu da ponte, em Castelo de Paiva. É assim, na intimidade, esta gente costuma tirar os elmos.

Mas a tragédia é que os mesmos tentáculos obscuros estão já dominando o outro grande partido de poder o que numa sociedade clientelar e partidocrática só nos pode fazer esperar o pior.



Foi retirado o fundo do Douro o primeiro dos automóveis ligeiros acidentados em Entre-os-Rios. Lá se encontraram mais dois cadáveres.



Depois do lanche, pai e filhas foram passear para o campo com a finalidade de recolectarem os materiais rochosos e vegetais necessários para um diorama de uma selva que a Margarida vinha clamando para uma série de bonecos de animais que lhe têm saído nos gelados.

Foi um encanto ver os chãos floridos em tão bela companhia.


Uma vez em casa, lá fiz uma cena de mata tropical, com rio e tudo.



Em Timor, Ramos Horta substituiu Xanana na chefia do conselho e a esta hora, na Sérvia, os principais colaboradores de Milosevic estão a ser presos.
Um ponto a favor de Kostunica e do seu governo é que tudo está a ser feito de acordo com as leis.



E agora a noite impõe-se no silêncio dos corpos que dormem.

Alhos Vedros
01/04/01
Luís F. de A. Gomes