2007-07-02

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

O MAIA MERECIA MAIS

Ontem, em Paris, a selecção portuguesa perdeu com a congénere francesa pela marca de quatro a zero.
O seleccionador nacional queixou-se da organização do nosso futebol.


É mais um exemplo da índole de muitos dos responsáveis que temos à frente dos nossos destinos colectivos.



E hoje de manhã, eu e a Luísa vimo-nos na obrigação de nos deslocarmos a Évora, ao Governo Civil, para renovarmos os passaportes que estarão prontos na tarde da próxima quarta-feira.
Na passada terça-feira, por volta das três da tarde, fiquei a saber que para entrarmos na Turquia precisamos que aquele documento tenha uma validade nunca inferior a seis meses o que nos deixou numa situação embaraçosa, uma vez que aqueles que possuímos caducariam a vinte e três de Julho.
A coisa não mereceria reparo se não fosse o caso da impossibilidade de satisfazermos as nossas necessidades em tempo útil. Em Lisboa só conseguiríamos aquilo que queríamos em vinte e cinco dias e em Setúbal nunca antes do dia oito. Ora como temos voo marcado para segunda-feira, sete de Maio… Lá fomos directos àquela que é cidade património da humanidade, lamentavelmente sem tempo para nos perdermos na sua história.

Mas o que me espanta é o país em que estamos.
Se um empresário precisar de sair do país com urgência, por motivos de negócios e precisar de um passaporte de um dia para o outro, arrisca ver o seu labor por água a baixo.

E depois digam lá que não estamos num país desenvolvido que flui ao ritmo da economia coeva?


Bem, pois fiquem por ora descansadinhos. Ficámos a saber que em Beja seria possível obter a papelada no próprio dia.

Estão a ver como é prático viver em Portugal?



Hoje os alunos fizeram exercícios de leitura e à tarde trabalharam uma ficha de Matemática em que aprenderam o número dez.



Mas voltemos ainda ao dia de ontem para falar do file de Inês Medeiros sobre o vinte e cinco de Abril que eu não tive oportunidade de ver no grande écran e, por isso mesmo, fiz questão em não perder a passagem na RTP1.
Para grande pena minha, trata-se afinal de um trabalho limpinho, bem arrumadinho, com as imagens da multidão bem feitinhas e montadinhas, os actores bem conduzidos e com bons desempenhos, mas, lá no fundo, tal como em muitas outras conversetas, não passando de uma boa oportunidade para estarmos calados. Quer dizer, provavelmente o único resultado será impedir uma abordagem mais séria e artisticamente mais elaborada que o tema, per si, naturalmente reclamaria. E isto dando, desde logo, de barato, aquela falha técnica em que, ao contrário dos relâmpagos, escutávamos o som das palavras antes de vermos de vermos os lábios que as pronunciavam com o movimento respectivo.
Sobretudo foi a estrutura narrativa que não convenceu, perdendo-se o efeito de suspense quanto à incerteza do desenlace que os que viveram a história, por certo, sentiram. Até a libertação dos presos políticos no próprio dia do golpe –que, na realidade, só veio a acontecer na noite do dia seguinte- muito poderia ter contribuído para aquele efeito e até para um final apoteótico que pontuaria, a preceito, o lado épico de um tal evento e que, do modo como nos foi apresentado na película, com o Capitão Maia a dizer ao amigo, depois do trabalho feito, que queria ir até Caxias para o ver, mais se pareceu com os últimos momentos de uma romaria a que os organizadores não quiseram deixar de assistir, como forma de usufruírem de alguns instantes de gozo a que a azáfama da realização os havia furtado.
Com a agravante suplementar que a grandeza heróica daquele homem mereceria mais, muito mais do que a homenagenzinha que ali se lhe quis prestar.

E todas aquelas cenas pueris de querer marcar o contra-ponto com os velhos tempos através de uma queca entre um maçarico e a namorada dentro de um chaimite que aparentemente seria necessário ao combate mas que em acto contínuo já não era, tudo acabando com uma espécie de deserção e o grito da namorada de “-Viva a liberdade!” Assim com a figura interpretada pelo Joaquim de Almeida, símbolo da esquerda retórica e inoperante que esconde a cobardia atrás de um pretenso pessimismo…
Ai, tudo isto tem um sabor tão, tão, adolescente.

Ou o recurso a figuras conhecidas do nosso mundinho cultural, como nos casos do vocalista dos Ena Pá 2000, do José Jorge Letria e até do papá Vitorino…

Tudo isso acaba por redundar numa longa-metragem tão politicamente correcta quanto fraca.


E para cúmulo não sei se não se encontrará ali uma pitadinha de inveja quando um filme que, tudo o indica, pretende ser rigoroso na reconstituição histórica, esquece a figura de Francisco Sousa Tavares que, entre os civis, também foi um dos protagonistas daquele que foi o acontecimento mais marcante da segunda metade do século vinte português.


Ainda bem que não perdi tempo a ver isto no cinema.



E hoje fui vítima de mais um desfile oportunista das vaidades que pretendem brilhar à custa do alheio.
Foi o caso do livro que compila uma entrevista com um Agostinho da Silva terminal e que regista uma conversa com parco interesse pelo que nada acrescenta ao pensamento do homem. (1)

Enfim… Mas reparei que os direitos de Autor não deixaram de correr a favor do entrevistador.



Pois bem, agora vou-me deitar que este foi um dia longo e eu estou exausto.

__________
(1) Silva, Agostinho da
A ÚLTIMA CONVERSA DE AGOSTINHO

Alhos Vedros
01/04/26
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Silva, Agostinho da- A ÚLTIMA CONVERSA
Entrevista de Luís Machado
Prefácio de Eduardo Lourenço
Editorial Notícias (8ª. Edição), Lisboa, 2001

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Olá Luís

Tive uma opinião parecida sobre o filme de Maria de Medeiros e no fim, também fiquei contente por não ter ido ao cinema vê-lo.
Achei´que era muito coisinha de portuguesinho.

E as entreviatas a Agostinho da Silva, sempre feitas com um paternalismo insuportável, como se estivessem a dar desconto a um semi-louco ou a um senil.

Foi-me dado a conhecer pelo meu filho mais velho, com quem passava tardes na conversa.

É tão engraçado quando chega a fase de se aprender com os filhos.
Aprende-se sempre, mas aqui é no outro sentido.

00:19  
Blogger o clube said...

Foi não foi. Bolas, o vinte e cinco de Abril foi o acontecimento mais marcante da história portuguesa da segunda metade do século vinte. Merecia um tratamento mais profissional e não tão infantil. O salazarismo não foi tão brando quanto o pintam, houve mortes,muitas mortes e muito sofrimento. Apesar de estar de cefrto modo moribundo, a queda do regime não foi pera doce e aquelas pessoas sabiam que tinham a cabeça no cepo. Havia incerteza no desfecho e se podemos brincar como o Maia o fez com as carcaças que levou e que tinham muito menos poder de fogo que aquele que a situação poderia opor, só serve para realçarmos precisamente a incerteza e a tensão que aqueles heróis devem ter sentido. Nada disso transparece na narrativa. E a omissão do Sousa Tavares acho no mínimo deselegante.

O Agostinho tem obra vasta, especialmente pelo que fez no Brasil, com a criação de Universidades que hoje conrinuam vivas e fazem bom trabalho e até influenciou a política externa brasileira que se virou para África e com base no trabalho dele, de formação de massa cinzenta no domínio da antroplogia, por exemplo, encontrou as pessoas certas para enviar para países como a Nigéria onde se reencontraram as raízes de boa parte da população negra que faz em grande medida a actual demografia brasileira. Aquilo que na Bahia, em São Salvador, se vê nos contactos e estudos sobre a influência africana na cultura das Orixás,só para dar um csao, em parte, ainda que indirectamente, a ele se deve.
Mas por cá quiseram destacar essencialmente a sua produção filosófica ou ao nível da filosofia da história tão cara a um António Quadros. Mas aí o homem foi pobre e com isso apenas mostramos a pobreza da nossa filosofia que as vicissitudes da história fizeram abdicar de ter um Spinoza como um dos seus. Enfim, malhas que o isolacionismo provinciano a que o salazarismo nos remeteu teceu.

Estou a chegar a essa fase com a Margarida e acho isso empolgante.

A que sentido te referes? Ao da actualização em relação aos gostos e modo de expressão das idades mais jovens? Da sua percepção do mundo?
Acho issomaravilhoso e espero ter sempre a alma e o coração abertos para continuar a aprender com as minhas queridas filhas.

Obrigada pela visita.

Um beijinho

Luís

00:55  
Anonymous Anónimo said...

Olá Luís

Sim, a percepção do mundo, como o sentem.
Sobre livros, esemplo

No outro dia estivemos a falar sobre Roland Barthes.
E temos percepções diferentes. E acho que os dois com a mesma razão.

Os conceitos são diferentes e é engraçado perceber que estão a trazer-nos coisas novas.

Beijinho


Marta

19:20  

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