2007-07-04

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Como sempre, nas horas de aflição, lá se movimentam as vagas salvadoras e num momento em que o Governo e o partido que o suporta são ilhas que sofrem pressões de todos os lados, mais uma sondagem da Marktest vem dizer que, afinal, quem está a descer nas intenções de voto são os social-democratas em concomitância à subida do Partido Popular.
Na TSF, como não podia deixar de ser, logo apareceu o comentador Teixeira, sempre palavroso, pronto a dar credibilidade ao estudo e, claro está, não desperdiçando a oportunidade para dar razão a Luís Filipe Menezes que, por sua vez, neste fim-de-semana, voltou a disparar sobre o seu líder partidário.

Não tenhamos dúvidas, até ao Euro 2004, especialmente até que o novo estádio Pinto da Costa –será este o nome do futuro recinto desportivo do Futebol Clube do Porto, querem apostar?- esteja consumado, será esta a pronúncia do Norte.



Alheio a todas estas manifestações reptilíneas, Denis Titto, um milionário norte-americano de origem italiana, depois de pagar quatro milhões de contos à agência espacial russa por um lugar entre a tripulação, passou a ser o primeiro humano a fazer uma viagem turística ao espaço, especificamente, neste particular, ao interior da Estação espacial Internacional.

Não será propriamente dito o início de uma nova era, a do turismo cósmico. Por enquanto e durante muito tempo, só os muito ricos se poderão dar ao luxo de fazerem uma extravagância como esta. Mas é um marco cronológico e certamente que aquele engenheiro aeronáutico já tem o seu nome inscrito na história da astronáutica da humanidade.


Bem que eu gostaria de estar no seu lugar.


Os russos é que viram este desejo materializado em cheque como uma espécie de bênção para os seus depauperados recursos financeiros que o poder consegue disponibilizar para uma área em que, nos tempos soviéticos, já tiveram o primeiro lugar.



E enquanto no Peru o filho de Vargas Llosa retirou o apoio a Toledo, criando embaraços ao seu pai e ao próprio candidato, o País Basco prepara-se sob as pressões assassinas de um terrorismo fascista que se impõe ao povo pelo medo que a violência gera.


Não a propósito do caso Basco, mas o nacionalismo foi precisamente o mote de uma conversa que ontem à tarde tive oportunidade de travar com o Carlos Verdasca.
Ao contrário do que ele pretende, sou da opinião que não há nacionalismos bons nem maus; são sempre perniciosos. Trata-se daquele género de ideologias que uma vez postas em movimento não há forma de dizermos onde devem parar, isto é, somos sempre incapazes de identificar onde se poderão tornar mortíferas ou não. Alógica do nacionalismo transporta necessariamente o princípio da exclusão do outro e, nesse sentido, levado às últimas consequências, tem em potência a eliminação dos grupos sobre os quais, eventualmente, se possa abater.
Pode ser que seja uma utopia, mas ao nacionalismo oponho o universalismo o que não quer dizer que proponha a supressão dos estados, mas si e que me prece mais sensato que entre aqueles se desenvolvam meios de conveniência e aqui nem será impróprio considerar a velha noção de coexistência pacífica de Krutchov que pode muito bem ainda dar respostas positivas aos problemas dos tempos que correm.

Na verdade, para mim, são as pessoas que contam, embora compreenda quão longe estamos desse mundo.



Mas no que pessoalmente me diz respeito, este fim-de-semana, longo e relaxante, não se ficou apenas pela possibilidade de desfrutar a despreocupação da troca de ideias à mesa do café.
Além das manhãs de jornais e da hora na piscina, hoje tive direito à matiné de cinema e quase terminei uma leitura sobre o legado judaico.

O filme trata-se de “American Phsyco” uma película que tanto eu como a Luísa fomos unânimes em achar estranho, mas que me pareceu ser uma reflexão sobre a desumanidade a que o materialismo exacerbado pode conduzir. Com interpretações de primeira água e tecnicamente muito bem conseguido, merece-me oito pontos numa escala de zero a dez.

Por sua vez, o livro é uma obra de um académico norte-americano, Thomas Cahill, “A Herança Judaica” que, numa interpretação clara e inteligente dos textos bíblicos, por comparação com a literatura mitológica dos sumérios, procura apresentar-nos o que dos hebreus ficou para a humanidade que seria necessariamente diferente sem tal herança.
Num texto que fiz publicar no ano passado, já tinha referido o início do monoteísmo como uma revolução intelectual (1), mas aqui compreendemos que dele também derivaram a individualidade e, consequentemente, a liberdade (2), intuição que já se me formulara mas que nunca antes tinha conseguido enunciar de uma maneira tão precisa.



Na sexta-feira, os alunos fizeram exercícios com a nova palavra durante a manhã e à tarde trabalharam a página do livro de Matemática relativa ao número dez.

Segunda-feira há folga, mas a Professora não se esqueceu dos trabalhos para casa.



Compreendo perfeitamente a Aliança entre Israel e a Turquia mas não sou capaz de entender que daí derive aquilo que parece ser uma desculpabilização dos morticínios em massa sobre as populações arménias do Império Otomano, no início do século vinte. Um silêncio sobre tais crimes, ainda seria um elefante a engolir, mas as palavras de Shimon Peres, negando que então tenha acontecido um genocídio é que não podem ser aceitáveis na boca de um judeu.

Mas a geo-política nada tem a ver com a moral, pois não?



A Margarida ontem teve a visita de uma colega que depois de uma tarde de brincadeira em nossa casa, acabou por lanchar connosco.

E hoje foi de passeio de catequese a Évora e a Vila Viçosa.
Escusado será dizer que a viagem correu bem e que a miúda regressou cansadinha mas encantada. Viram a Capela dos Ossos e o Palácio dos Duques de Bragança e passeara, pelos jardins, fazendo o almoço na forma de um piquenique.


A Matilde, essa, gozou a exclusividade dos pais e depois de uma manhã de triciclo e com os joguinhos da “Terra do Nunca”, desfrutou dos baloiços e de um lanche no café da Júlia.


Agora dormem, felizes e quietinhas, enquanto lá fora a noite está fria.

__________
(1) Gomes, Luís F. de A.
DOIS MARCOS PARA A NOÇÃO DE HUMANIDADE
(2) Cahill, Thomas, pp. 89 e ss
ob. cit.

Alhos Vedros
01/04/29
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

Cahill, Thomas- A HERANÇA JUDAICA
Tradução de Mário Dias Correia
Contexto Editora (1ª. Edição), Lisboa, 2000
Gomes, Luís F. de A.- DOIS MARCOS PARA A HISTÓRIA DA HUMANIDADE
In “O Largo da Graça”, nº. 6
Internet, 2000

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Olá Luís

Na altura também disse a mesma coisa: quem me dera estar a fazer aquela viagem espacial.
Deve ser deslumbrante.
Universalista? Lindo conceito.

Continuamos em desacordo, quer dizer, quem sou eu para te contradizer, visto que não li nada do leste e em que te baseias.
Tu és o espírito científico, eu o espirito intuitivo, e como é bom de ver, o cientifico tem mais bases, mas não quer dizer que esteja mais correcto.
:))

Beijinho


Marta

19:07  
Blogger o clube said...

Olá Marta

O desacordo não tem mal nenhum, pelo contrário, fomenta a troca de ideias, não te parece?

Universalismo por contraposição ao nacionalismo que é sempre pernicioso, na minha modesta opinião, é claro.
Universalismo no sentido de comoreendermos que somos todos mmbros da mesma espécie, isto é, só há uma Humanidade que vive numa mesma casinha cósmica comum e esse é o segundo sentido da expressão. O universalismo é isso, a compreensão de que há denominadores que, independentemente da nossa vonta ou nível de consciência, unificam o nosso habitat que o fazem comum a todos. São eles, por exemplo, a guerra nuclear que pode destruir as condições de vida do planeta tal como conhecemos ou a poluição atmosférica que não tem fronteiras e pode inclusivamente provocar danos a terceiros distantes.
Universalismo nessa dupla dimensão que nos deixa como evidente a verificação de quanto infantil é a guerra e nos faz perceber que poucas probabilidades de sobreviver enquanto espécie que utiliza tecnologias capazes de devastar a Terra se não nos encararmos solidariamente e não fizermos da partilha o vértice das relações que mantemos uns com os outros.
Como poderemos colonizar outros planetas, dispersarmo-nos pelo espaço com uma mundivisão que tenha por base os partivularismos nacionalistas ou de qualquer outra ordemm? Como o poderemos fazer sem termos consciência de sermos uma mesma espécie que parte de um mesmo lugar cósmico?
É isso que será que poderá ser o universalismo, penso eu e sempre ressalvando a modéstia da minha opinião.

Obrigada pela tua observação que me fez pensar nisto que me parece não ter voltado a abordar desde que escrevi aquelas palavras no Diário da Margarida. Creio que vou reflectir um pouco mais sobre isto.

Não, claro, Marta, a ciência é humilde, não tem a pretensão de saber ou descobrir a verdade e tem a consciência de que as verdades que vai provando têm sempre por base o provisório; uma teoria é boa até que apareça outra que a destrone e dê uma explicação melhor.

Beijinhos (sorrisos)

Marta

00:23  
Anonymous Anónimo said...

Olá Luis


Não era sobre o Universalismo, que não estava de acordo contigo.
mas ainda bem que entendeste desse modo, assim tive uma lição de Mestre.

Não li o texto que publicaste o ano passado (risos), que tenho pena, mas é sobre a
"...revolução intelectual que o monoteismo provocou e que daí tenha derivado a individualidade e consequentemente a liberdade..."

Sobre este assunto é que continuamos a estar em desacordo.


Beijinhos (risos)


Marta

23:28  
Blogger o clube said...

Olá Marta

Essa da lição de Mestre (com maiúscula e tudo) é forte, não?
Para nós, essa palavra tem um significado muitíssimo especial e honestamente, Marta e dá para o perceberes com facilidade, jamais conseguiria ser Mestre para alguém.
E a lição, minha querida amiga, limitei-me a pensar ao correr da pena num assunto em que, assum me parece, não mais tinha atentado.
Isto dos Diários teve destas coisas, por vezes o tratamento superficial -quase sempre tudo foi superficial- de ideias ou assuntos a que, por motivos óbvios, não mais voltei. Já agradeci esse mote, certo?

O desacordo não tem mal nenhum, repito, mas nesse texto também não desenvolvi a ideia que destacas, apenas a expressei. Podes lê-lo, pois voltei a publicá-lo no "Pau" na compilação a que dei o título original, "Combinações Misteriosas"; foi a primeira série de textos daquela janela do "Atirei..." e se a memória me não falha será para aí o sexto ou sétimo.

Agora não posso e por isso fico com dois assuntos em agenda por desenvolver; o tal do outro lado dabarricada, de que não me esqueci e agora este, da revolução intelectual que foi a revelação a Abraão de que derivou o monoteísmo e com ele, antes de todas as outras, a que veio a constituir-se como a religião judaica.

Eu sei da tua postura crítica perante tais tradições e como sabes não acreditamos nem fazemos proselitismo -nem nunca me passaria pela cabeça fazê-lo, pois o mesmo acabaria sempre por abrir portas à imposição totalitária e depois o encontro deve ser feito no interior de cada um que deve descobrir e escolher e não ser convertido- mas seja como for explicar-te-ei a leitura que faço sobre isso.

Para já, um beijinho (sorriso)

Luís

13:54  
Anonymous Anónimo said...

Olá Luis

Sabes, eu sou mesmo muito...ia dizer revulucionária, mas não é a palvra correcta. Deixa-me pensar.
Talvez reguila seja melhor, porque acabo sempre por pôr tudo em causa, sempre que aprendo algo transcendente.

Conheço o conceito que estás a dar a Mestre. Depois de ter aprendido sobre esse conceito e sobre mais desses assuntos, aprendi também outros.

O que hoje faz mais sentido para mim, são duas frases:
TODOS SOMOS MESTRES E APRENDIZES DE ALGUÉM
Costumo pôr sempre tudo em maiúscula pela importância que lhe dou, mas aceito que ponhas tudo em minúsculas.
QUANDO O ALUNO ESTÁ PRONTO O MESTRE APARECE

Beijinho (sorriso devolvido)


Marta

16:15  
Blogger o clube said...

Marta, Marta, essa é muitíssimo forte (sorrisos) e depois a melhor mestria e a da vida e nessa eu só tenho aprendido com a tua liberdade de pensamento e não é pouco, acredita.

Beijinho (com sorriso)

Luís

20:19  

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