2007-08-09

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Como é curiosa a deferência com que o tirano Fidel de Castro é recebido pelos nossos democratas na Presidência da República e na Chefia do Governo.



A Margarida continua dando largas à curiosidade.
Está agora na fase de perguntar o significado das palavras. “-O que é que quer dizer?”, passou a ser um hábito que ela põe em prática, seja ou não a propósito. E é vulgar que num entrementes de silêncio ela faça a pergunta a respeito dos mais variados vocábulos.
É claro que nós lhe respondemos o melhor que sabemos, mas sempre com o coração transbordando de alegria.


Por sua vez, a irmã não se lhe fica atrás e nestes últimos dias tem brincado com as palavras, transformando os nomes das pessoas das suas relações em apelidos de carinho. Assim, por exemplo, a Margarida é a Marga e o André o Androcas.

Ai como é doce a felicidade.



Em Israel regressaram os ataques suicidas com a recuperação da figura dos palestinianos kamikaze.
Um atentado na cidade de Netanya provocou uma série de mortes.
O Governo de Ariel Sharon prepara-se para que haja retaliação.

A paz só será possível quando houver liberdade entre as sociedades árabes.



Ontem à noite ainda tive tempo para passar os olhos pelo jornal e ler com mais atenção um artigo de Pacheco Pereira sobre a vitória de Berlusconi e o seu significado no contexto da política europeia. (1)
Dou de barato a tese central segundo a qual a eleição do magnata marca o princípio do fim do ciclo do poder dos socialistas no velho continente, embora estranhe que o nosso intelectual enquadre o novel futuro chefe do governo na família da direita, não se sentindo minimamente incomodado em tão bizarra companhia.
Quanto a mim não vejo como é que um homem que simboliza precisamente a ausência de valores e de dimensão ética possa ser incluído dentro dos parâmetros de uma corrente que se define pela defesa de certos princípios que as actividades da comunicação social de que aquele é proprietário estiolam. Depois também não compreendo como é que a direita reconhece alguém acusado de minar nada mais nada menos que a autoridade do estado. Enfim, mas que o douto Professor está muito longe de estar só nestas ideias lá isso está.
Seja como for, em minha modesta opinião, o mais grave é que Berlusconi representa a entrada directa de esconsos lobbies na área de governação, implicando um grau zero da civilização democrática com a chegada ao poder do tudo vale e não causará espanto se a política de promoção de obras públicas para relançar a economia de que aquele falou na campanha, não tenha como beneficiárias imediatas as suas próprias empresas e as dos seusa aliados e clientes.
Estamos na véspera da tirania que impedirá as liberdades de expressão e de investigação relativamente aos crimes que cometa. Não se trata da demagogia de que tem falado Pacheco Pereira, a qual seria, isso sim, a forma como a ditadura se expressará, mas é a tirania o perigo que está no horizonte, ainda que não ideologizada e de carácter mais ou menos mafioso. Mas não será por isso que deixará de o ser.
E pelos vistos, olhando o carácter dos líderes que graçam por aí, corremos sérios riscos de a doença ser de natureza epidémica.

Deus nos salve dessa loucura.



Hoje fizeram exercícios em torno da nova palavra girafa que voltou a ser o tema do trabalho para casa do fim-de-semana.



A temperatura amenizou-se e a noite voltou a ter a companhia dos grilos e das rãs.
Antes de me deitar, vou fumar um cigarro na varanda, olhando para o longe, onde se vê as luzes dos automóveis passando na ponte Vasco da Gama.

Sinto-me tão cansado.

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(1) Pacheco Pereira, p. 9
AS ELEIÇÕES ITALIANAS E A ECOLOGIA POLÍTICA EUROPEIA – 1

Alhos Vedros
01/05/18
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Pacheco Pereira- AS ELEIÇÕES ITALIANAS E A ECOLOGIA POLÍTICA EUROPEIA – 1
In “Público”, nº. 4076, de 01/05/17