2007-08-18

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A canícula chegou, um tanto ou quanto bruscamente mas chegou, passando dos vinte aos trinta e muitos graus em menos de três dias.
E agora da noite sobe o odor da terra quente e dos edifícios o bafo que prolonga o efeito de estufa até que a madrugada refresque, cansada dos discursos da biologia que faz do ocaso o começo da sua procura vital.

O meu cigarro, esse, tem agora a forma de pernas esticadas em sinal de repouso.



Confrontos raciais em Oldham, no noroeste da Inglaterra.
Jovens brancos e asiáticos confrontaram-se violentamente, levando o estado de sítio a certas zonas da cidade.
É claro que por lá anda o dedinho da extrema-direita pela parte dos primeiros e, provavelmente, a expressão de extremismos vários do outro lado.
Mas não é por acaso que o substrato social tem o estigma do desemprego e, pior, da falta de perspectivas.
O que me parece é que nas democracias ocidentais faltam democratas com coragem para pegarem o touro pelos cornos e em vez de procurarem enfrentar o problema da pobreza e do aumento do fosso entre os mais deserdados e os mais abastados, pelo contrário, se descora a integração dos imigrantes e a coesão social. É mais fácil deixar correr o marfim, como se diz entre nós, do que enfrentar interesses instalados e lobbies poderosos.
Alternativas? Honestamente estou céptico. Os parlamentos estão sem poder e não velo como é que a política pode voltar a ditar as leis da economia.


Mas há sinais contraditórios.
Em França, por exemplo, Charles Pasqua, antigo membro do Governo, terá recebido milhões de contos para a campanha eleitoral do seu partido, a “Reunião Para A França”, por via da venda ilegal de armas para Angola.
Por isso, agora enfrenta a justiça.


Nós os portugueses, estamos, neste caso, a falar de outro planeta, é claro.


Mas brevemente haverá uma enorme explosão de violência racial neste paraíso de tristes.
Veremos o que virá depois.



Hoje os alunos aprenderam a palavra zebra. Sobre a mesma realizaram fichas e leituras ao longo do dia e ainda trouxeram trabalho para casa.



A democracia pressupõe a coexistência de diversos valores não porque isso implique que se confere o mesmo grau de importância a todos, mas antes pelo simples facto de que não pode aceitar que uns se sobreponha e imponham aos outros; reconhece-se por isso a bondade intrínseca da pluralidade como uma virtude e o desiderato é conseguir um estado de coexistência pacífica entre essas diferenças e diversidades. Significa isso que na democracia se toleram valores diferentes porque se aceita a sua escolha de forma individual pelo que, nessa dimensão, não há maneira de dizer que uns são melhores que os outros.
Contudo, tal não impede que numa democracia se identifiquem valores universais, isto é, reconhecidamente aplicáveis a todos os seres humanos que, nessa condição, sejam considerados invioláveis.
Ora isto não quer dizer que se imponham valores mas tão só que se proíbe o desrespeito e muito menos o estiolamento de alguns deles, precisamente aqueles aos quais se possa reconhecer a universalidade. Não se trata de impor aos outros valores que tomamos por positivos; antes se parte do pressuposto que reconhecemos também para eles esses mesmos princípios que gostamos de ver aplicados para nós, tendo a coragem de não permitir sob nenhum motivo ou circunstancia que eles sejam postos em causa ou diminuídos por quem quer que seja.



Bem e agora vou entregar-me à leitura.

Alhos Vedros
01/05/29
Luís F. de A. Gomes