2006-12-21

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

UM BALANÇO POSITIVO
Depois de muitas hesitações e conjecturas, de vergonha e desconfortos, a Margarida, não sem antes manifestar a vontade de apenas entregar a prenda e sair, lá foi, pela mão do pai e da mãe, à festa de aniversário da sua amiga Inês.

Mal chegou e verificou que as convidadas eram suas conhecidas, mudou de semblante e disposição e deixou-se ficar.

Quando a fui buscar à hora combinada –a Matilde nunca exteriorizou qualquer objecção à ideia de aceitar o convite- toda sorrisos, foi célere em dizer-me quão cedo era.



Nas duas horas que estivemos sem elas aproveitei para ler.



Folgo por verificar que há quem veja o caso do Engenheiro Campelo tal qual eu o vi. Para que conste, passo a transcrever um excerto de um artigo de Vasco Pulido Valente, incerto numa coluna semana do “Diário de Notícias”, titulada “Corrupção” e que reza assim:
“(…) Mas, se o inacreditável, se o orçamento passar com o voto do Sr Campelo, a oposição deve perceber que o eng. Guterres, o dr. Coelho e o dr. Sócrates subverteram o sistema político. O episódio abre um precedente que, a pouco e pouco transformará os partidos em organizações para a pilhagem do orçamento, como os partidos da monarquia “rotativa”. O voto pela fábrica de queijo institui rapidamente o toma lá dá cá universal, o que dantes se chamava –com extrema ingenuidade- corrupção. E hojr parece que se chama “diálogo”. (1)

Nem mais nem menos, é este o teor das palavras que aqui escrevi ontem.



Estando esta primeira semana de férias a chegar ao fim, parece-me ser este um momento oportuno para elaborar um balanço deste início de actividade escolar da Margarida.


Comecemos pela aluna.

Sem favores nem sombras de qualquer exagero, podemos sustentar que o saldo é, em todos os parâmetros, positivo.

Do ponto de vista da aprendizagem, avaliando pelos exercícios que ela realizou e pela observação do modo como solucionou os problemas que lhe foram colocados, tanto no âmbito de perguntas orais como no dos trabalhos, propriamente ditos, verifica-se que ela transpôs tais obstáculos com facilidade, pois, até ao momento, sempre teve as operações certas e rapidamente encontra as respostas apropriadas, quer quando confrontada oralmente, quer em ocasiões de recurso à expressão escrita. Além disso, já conhece e compreende os algarismos até à centena e consegue resolver de cabeça pequenas contas que variam num leque entre o dois mais um e o sete mais cinco, ou entre o três menos dois e o oito menos cinco. A isto acresce o facto de já há alguns dias escrever o nome sem o recurso à cábula o mesmo acontecendo com a larga maioria das palavras que têm sido objecto do conteúdo do ensino curricular até à data. É verdade que amiúde ela expõe receios sobre se está ou não a fazer bem ou a identificar a resolução que se impõe. Mas como executa com destreza e rapidez, acaba por aprender com toda a tranquilidade. Eis o que justifica o resultado positivo que atribuímos ao patamar da aprendizagem.
O mesmo se passa com a integração na turma e na escola. As mãozinhas frias à entrada já só existem na memória e, naturalmente com preferências, ainda que flutuantes, entre as quais se vai mantendo a Ana Lúcia, estabeleceu relacionamentos com praticamente todos os colegas e participa nas brincadeiras e deambulações, da mesma forma que o faz no contexto das lições ou de eventuais questões que surjam entre a ganilha, dentro ou fora da aula –sobre este aspecto reservo-me para amanhã a narrativa de um episódio que a Luísa, esta tarde, me colocou a par. Fazendo fé naquilo que ela diz, percorre os diversos espaços da escola e já conhece todo pessoal auxiliar, quer da primária, quer da pré-primária. Relativamente à mestra, se no princípio a sucessão de castigos pareceu poder vir a pôr em causa a empatia do primeiro encontro, os dias acabaram por fazer a relação rolar com a fluidez do que não tem grandes complicações. Honestamente, ela confessa que gosta da senhora.

Temos pois que a afirmação inicial faz todo o sentido.


Vejamos agora a Professora.

E eu só posso alegar que, por ora, estou completamente satisfeito.

Como já escrevi nas primeiras páginas deste diário, sobre o método de ensino não me vou pronunciar. Não tenho conhecimentos para tanto, mas seja como for, a julgar pela Margarida, os resultados dificilmente poderiam ser melhores.
Quanto ao comportamento tudo indica que temos ali a firmeza que é o melhor preventivo da indisciplina; como é temperada com uma atitude simpática e amistosa e justa em termos de se saber dosear os esforços das crianças, permanece a figura de quem os miúdos podem gostar.
Assim a expectativa só pode ser a de um bom trabalho.


Há motivos para estarmos contentes, o que não significa desatenção e muito menos o tradicional dormir à sombra da bananeira.



E agora a família acabou de regressar de um serão na Velhinha, onde assistimos a um sarau de patinagem.

Pena que os da casa prefiram a pompa dos fatos e dos cenários em detrimento de uma boa aprendizagem e das consequentes prestações de bons executantes.

Mas ainda vimos uma bonita exibição de uma jovem do Clube de Patinagem de Paço de Arcos.
Foi a prenda da noite.



As manas é que estavam cansadas e nem quiseram tomar o banho do dia.
Depois de lavarem as intimidades e as dentuças, voaram para o sono com a velocidade de quem cai à cama.


A Matilde é que não foi capaz de passar sem biberão de leite.



E o repouso desceu à paz de um lar que se deixa estar no aconchego de abrigar a Deus no seu seio.

__________
(1) idem, ibidem, p. 64

Alhos Vedros
00/11/04
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
Pulido Valente, Vasco- CORRUPÇÃO
In “Diário de Notícias”, nº. 48083, de 00/11/04