2007-01-01

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A VÉSPERA DE SÃO MARTINHO
É claro que o jornalismo exagera e, com isso, amplifica um fenómeno que, provavelmente, não terá correspondência real.
Mas a televisão pública apresentou ontem o Engenheiro Campelo como tendo sido recebido como um herói no seu regresso a Ponte de Lima.
Com isto se criam condições para que se tenha consumado o precedente do preço de um voto.

Não sei se as minhas queridas filhas não pagarão caro por isto.

Àquele autarca-deputado vaticino-lhe o seguinte:
Candidatar-se-à e será eleito como independente para a Presidência da Câmara numa lista do Partido Socialista e em nome dos seus princípios de sempre, a defesa dos supremos interesses das populações locais, entrará para o grupo dos candidatos a deputado elegíveis deste mesmo partido nas próximas legislativas, obviamente mantendo a sua essência de personalidade supra-partidária.



A Lua arroxeando as nuvens
e eu a ver o início da noite.



É sempre um prazer ler Stephen Jay Gould, um professor universitário e investigador norte-americano que é responsável por um olhar muito singular sobre a história natural, vista através do macroscópio do acaso e das contingências.
Ainda que um tanto palavroso é um bom conversador que é capaz de expor as ideias com clareza, embora sem prejuízo de uma ilustração minuciosa. O melhor é que, seja nas obras de pendor mais divulgativo ou nas que privilegiam a explanação teórica, geralmente, as suas palavras convidam-nos a pensar.

Pois a magia repete-se com “Full House” , um livro que prossegue a visão evolucionista que havia avançado em “A Vida É Bela” que eu li há um bom quinquénio.

Para já e vou ainda na primeira centena de páginas, contraria e nega a noção de tendência, o que não é de estranhar se considerarmos o seu cepticismo quanto ao progresso. (1)


Mas eu dei-me a pensar na ideia que de Deus esbocei em um dos painéis do romance “Intimidade”, quando falo de um Criador completamente incompatível com o deus relojoeiro do século dezoito.
E continuo a pensar que a minha concepção compatibiliza a Criação com a Física, embora me veja forçado a precisar melhor a ideia da justificação da dignidade humana pela comum filiação divina. Tenho que explorar a formação de uma relação que não tem um entrosamento directo de causa e efeito entre si. Seja como for, se pretendo pôr de parte um qualquer modo de pensar o Divino enquanto arquitecto e operário imediato das coisas cósmicas, então não tenho alternativa àquela procura. Está fora de questão a noção spinosiana de um Deus Natureza.


Contudo, o próximo ócio será dedicado à continuação de uma leitura tão estimulante.



A incerteza quanto ao resultado eleitoral nos Estados Unidos está a produzir dias de perplexidade que, por ora, não passam de um solavanco no sistema político daquele país.
Provavelmente revelam o beco em que a nossa civilização se está a enfiar.
Façamos votos para que não estejamos a testemunhar o começo do desmoronar do lado de cá.

Há entidades supra-nacionais com poder suficiente para nos condicionar os destinos.
Um mundo de acordo com Al Capone não seria uma nova forma de feudalismo?



Pois olhem que por cá o Engenheiro Campelo parece que vai ser expulso do Partido Popular.
Daí à equipa rosa vai o salto de um pardal.

O que para o senhor engenheiro não faz mal.



Muito evoluiu a Margarida no desenho –se bem que, para a idade, esteja muito abaixo daquilo que se poderia revelar como uma vocação natural.
Mas ela é briosa e tem a humildade de reconhecer o seu valor comparado. Ainda me recordo do que disse à mãe, com a idade de quatro anos, quando um dia, no seu primeiro ano de jardim-de-infância, a galinha lhe gabou uns rabiscos tal como mandam as boas regras do incentivar.
“-Não mãe.” –Disse ela mais ou menos nestas palavras: “-Os meus desenhos não são nada bem feitos. Os dos outros meninos sim, mas os meus são uns risquinhos.”
Desde então, o aperfeiçoamento tem sido um fenómeno natural e absolutamente normal.
Esta tarde decidiu fazer o retrato de cada membro da família e eu até lá estou com a barba por fazer, a camisa axadrezada e tudo.
“-Oh! Eu tenho uma cabeça tão grande.” –Comentou a irmã.
E quando eu lhe elogiei a melhoria do traço confessou-me que desenhou os olhos de uma certa maneira que viu fazer a uma menina mais velha.


Como é que o sorriso me há-de sair do coração?


Ah e não é que nestes últimos dois dias, à hora da entrada, após o intervalo para o almoço, o piolho me pede para a abandonar antes do toque?
“-Podes ir embora pai que eu fico ali dentro a brincar com as minhas amigas.”



E o PCP continua a preparação do próximo congresso com o finca pé na ortodoxia marxista-leninista.



Rica escola que a Margarida tem; só eu que detestava estar ali fechado quando podia muito bem estar a brincar e que cheguei a ficar doente pela antevisão das canseiras, só eu é que não tive esta sorte.

Hoje, depois de uma ficha para o livrinho dinâmico, houve um magusto e após o almoço visitas e cantares por parte de alunos da terceira classe.

E népias de trabalho para casa.


VIVA!!!!!

__________
(1) Jay Gould, Stephen, pp 21 e ss
FULL HOUSE

Alhos Vedros
00/11/10
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

Jay Gould, Stephen- A VIDA É BELA – O XISTO DE BURGUESS E A NATUREZA DA HISTÓRIA
Prefácio do Autor
Tradução de Ana Maria Pires, Carlos Fernandes, Florbela Fernandes e Jorge Pires
Revisão científica de Carlos Marques da Silva
Gradiva (1ª. Edição), Lisboa, 2000
- FULL HOUSE – A DIFUSÃO DA EXCELÊNCIA DE PLATÃO A DARWIN
Tradução de Miguel Abreu
Gradiva (1ª. Edição), Lisboa, 2000