2006-12-23

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Decorreu em Lisboa um encontro internacional de cientistas sobre o ambiente e as alterações climáticas.
A comunicação social indígena pega em cenários e vai de destacar previsões, sem critérios nem as devidas salvaguardas.
Provavelmente, para um país como o nosso, está bem assim.

Contudo, deve dizer-se que as ciências naturais ainda não encontraram os modelos –físicos ou matemáticos- capazes de suportar grandes antecipações e muito menos num sistema de imponderabilidade como é a atmosfera terrestre.
Nem podemos esquecer as antevisões do Clube de Roma, no princípio da década de setenta, que o tempo e os progressos gnosiológicos e tecnológicos se encarregaram já de corrigir.

O que não quer dizer que os problemas não sejam graves e as análises dos cientistas sérias.


O problema do ozono é que de acordo com os conhecimentos actuais, parece ser do teor de poder vir a colocar em risco a vida à superfície do nosso planeta. É que pela duração das moléculas de cloro e da sua capacidade de destruir aquelas outras, a menos que sejamos capazes de repor artificialmente aquele gás atmosférico ou de sabermos acelerar os processos da sua formação natural, a delapidação da sua quantidade é, por enquanto, irreversível e não somos capazes de saber se ou quando ultrapassaremos o limiar crítico para a vida, tal como a conhecemos, na superfície terrestre.


A ficção das civilizações sub-aquáticas não está, de todo, fora de questão.



Ai como são longos os dias
quando os saboreamos com prazer e alegria.



Esta paragem lectiva parece-me ter acontecido no momento certo.
Sensivelmente a meio do primeiro período, serviu para os alunos carregarem energias para as tarefas e canseiras que ainda os separam das férias natalícias.


É certo que eu vivo uma situação de privilégio social, quer pelo facto de poder ter empregada doméstica que nos alivia a fatia das atribuições inerentes à sobrevivência do corpo físico, sabendo ainda acumular a função de ama, cuidando-nos das filhas enquanto nos atiramos ao ganha-pão; quer ainda por residirmos na proximidade de uma das famílias de procriação o que, conjugado com a manutenção dos laços e relações costumeiras, nos serve de rede para os momentos em que é necessário recorrer a outrem. Não é menos verdade dizer-se que nós somos pais presentes e próximos. No entanto dispomos daquelas malhas que nos amortecem os embates que desgastam, tantas vezes, os ânimos dos mais insuspeitos mortais. Nas miríades de arquipélagos que as grandes cidades originam, que posso eu saber acerca dos dramas que aqui e ali se desenrolam em torno de criar um só filho que seja?
Contudo é com muita dificuldade que entendo os pais que se preocupam com aquilo em que hão-de manter os filhos ocupados.
Pobres crianças. Deixá-las brincar que melhor ocupação não há.

A Margarida bem que aproveitou estes dias para o fazer desde o nascer ao por do Sol.



E esta tarde deixámo-nos embrulhar pela espiritualidade dos cânticos de peregrinos de Compostela, interpretados por membros do coro da orquestra da Fundação Gulbenkian.

Logo na matriz da Vila, cenário por si propício e abrilhantado por uma decoração de pequenas velas que pareciam querer dizer o caminho para Santiago.

E o curioso é que ao vadiar por certas artérias daquela cidade, eram estas melodias quinhentistas que a memória imaginava.


Quando, ao fim do dia, passeámos entre os automóveis antigos de uma exposição organizada pelo clube de automóvel histórico, os sorrisos que as lembranças me proporcionavam ao ver os modelos que os meus pais possuíam no tempo da meninice, ainda traziam a companhia do vento baralhando as árvores ou assobiando nas arestas, sobre os linguarejares de animais domésticos ou de vozes mais elevadas entre os martelares e os rangeres de este ou aquele mecanismo.



Amanhã, a Margarida regressará ao ritmo das aulas da sua primeira classe.

Alhos Vedros
00/11/05
Luís F. de A. Gomes