2007-02-07

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Ah, hoje sim, entrámos em repouso o que sempre faz bem ao corpo e à alma.

Com um dia solado que tanto ajuda, não é verdade?
E que embelezou o chão de terra crua com os salpicos de magotes de azedas.


Manhã de jornais e conversas de café.
Mãe e filhas foram para a cabeleireira a fim dos cortes de cabelo respectivos.

E todas elas regressaram mais bonitas, para encanto do pai que as recebeu com sorrisos e beijos.



Mas ontem tive um presente do Sr. Faustino, o livro de Manuel António Boto sobre o seu irmão a cujo lançamento faltei.

A todos os níveis, a publicação, fruto de uma parceria do jornal “O Rio” e a CACAV, está excelente.
Quando me falaram do projecto e me disseram que seria prefaciado pelo Professor Fernando Rosas, devo confessar que cheguei a temer o pior paternalismo de que um certo academismo arrogante é capaz. Mas não, o texto é sóbrio mas preciso e certeiro quanto à identificação da pertinência da publicação de monografias deste género. Trata-se de um contributo que vem enobrecer e credibilizar a edição.

E aí se deixa implicitamente o desafio de editar outro manuscrito do Autor “(…) depositado no Arquivo de História Social do Instituto de Ciências Sociais.” (1)


De resto eu já conhecia o texto, cujo original dactilografado me havia sido ofertado precisamente pela mesma pessoa que hoje me presenteou com o produto final e que e que é um dos irmãos do biografado.

E não é que na página cento e nove ficamos a saber que uma das aventuras do “Por Quem Os Sinos Dobram” de Ernest Hemingway foi vivida pelo Manuel Boto?


Numa escala de zero a dez, dez pontos para “O Rio” e a CACAV.



Pela veemência como se reafirmou a fidelidade aos dogmas leninistas da organização do partido, temo que o PCP tenha optado definitivamente pelo gueto e se restrinja a uma corrente política com expressão eleitoral e parlamentar residual. Aquela postura fará certamente sentido em meios obreiristas do que resta da cintura industrial de Lisboa e encontrará eco em malhas pontuais, de norte a sul, quer associadas à instabilidade do tecido produtivo secundário em alguns lugares, quer em resultados de falta de oportunidades ou à precariedade do trabalho no sector primário de outros sítios. Mas, no todo nacional, tais pontos acabam por se consubstanciar em pequenas manchas que apenas predominarão na Península da Arrábida e, nesta, especialmente consagrada na Margem Sul.
O problema é que o Partido Comunista faz falta à democracia pois, ainda assim, é o único que representa ou o que pode melhor representar os interesses e as necessidades sociais dos estratos populacionais mais desfavorecidos. Para o bem ou para o mal, é ali que podem ter eco as vozes daqueles que não têm outros meios para se fazerem ouvir e expressar os seus pontos de vista e pretensões. A verdade é que nunca a tiveram em qualquer outro dos grandes partidos políticos do nosso sistema. Daí que o Partido Comunista seja a parcela do sempre incontornável equilíbrio. Por ora não vislumbro qualquer alternativa possível para o substituir nesse papel fundamental.
Eu não discuto a justeza das teses e princípios reafirmados no congresso. Isso é trabalho dos comunistas. Mas seria preocupante que houvesse uma redução acentuada do score eleitoral. Ironicamente, temo que em vez de um indicador de desenvolvimento da sociedade portuguesa, fosse a democracia a perder robustez e energia.

E gosto muito da democracia pois sei, de experiência feita, mundo melhor não há.



E a democracia portuguesa que leva com cada tiro por parte dos intérpretes dos órgãos de poder.
Ontem foi a demissão do governador civil de Bragança que terá revelado a sua participação na aliciação de autarcas do PSD para que votassem favoravelmente o próximo PIDAC.
Enquanto isso, o Senhor Vara continua a meter os pés pelas mãos sem a mais leve possibilidade de justificar o injustificável, isto é, a substituição dos serviços existentes no aparelho de estado por uma fundação para responder aos problemas da segurança rodoviária.
Só que este não se demite.
E os ratos, Senhor, que logo se atiram ao mar, fazem um espectáculo tão pouco dignificante…



A tarde
deixando no rasto
um incêndio das nuvens.



Pelas nossas continhas, obtivemos uma vitória importante na Cimeira de Nice. Foi-nos retirada a multa pelo excesso de produção leiteira dos Açores.

De resto, fora a retórica sobre a Europa da Defesa, fica a incomodidade da falta de entendimento entre os estados membros.


E a certeza de que há uma nova militância anti-capitalista, em termos práticos e mais prosaicos, anti-globalização –com o que quer que isso signifique- ainda de contornos pouco conhecidos mas que se revela suficientemente organizada para ser capaz de actuar nas mais diversas partes do mundo. Curiosamente, tirando partido dos instrumentos de essa mesma globalização que se contesta e conseguindo expressar-se a nível planetário, com isso dando corpo, precisamente, a uma das faces do fenómeno que se pretende pôr em causa.

Provavelmente estamos a assistir a sinais de futuro ainda que, no caso, pela afirmação de velhas ideias.



Uma reunião de condomínio não é o melhor preenchimento para uma noite de sábado, mas as obrigações não pedem que lhes voltemos as costas.

__________
(1) Rosas, Fernando, p. 11
Prefácio
In “A SAGA DE ELÁUDIO TAROUCA”

Alhos Vedros
00/12/09
Luís F. de A. Gomes

CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

Boto, António- A SAGA DE ELÁUDIO
Prefácio de Fernando Rosas
Nota Introdutória de Lídia, José, Maria e Faustino Tarouca
Edições e Promoções Ribeirinhas Ldª/CACAV,Alhos Vedros,2000
Hemingway, Ernest- POR QUEM OS SINOS DOBRAM
Tradução de Monteiro Lobato
Revisão de Alfredo Margarido
Edições “Livros do Brasil” Lisboa, Lisboa
Rosas, Fernando- Prefácio
In “A SAGA DE ELÁUDIO TAROUCA”