2007-04-17

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Este Inverno está a ser o mais rigoroso deste ciclo de anuidades húmidas.
Os estragos são imensos e elevados, tanto no domínio privado como no público. E pior que tudo, há várias mortes a lamentar que já ultrapassam em muito os dedos de uma mão se não mesmo a dezena.
Ontem foi a vez da baixa coimbrã sofrer o alagamento.
E se um viaduto da A1, sobre o Mondego, começou a ruir, tal veio a verificar-se com uma ponte, em Montemor-o-Velho, sobre o mesmo rio.


No entanto a noite de ontem esteve amena e prazenteira.


Agora a forte ventania que provavelmente arrasta mais um vendaval, por enquanto dispersa as nuvens e deixa que o Sol embeleze as cores da tarde.



Tarde de prazeres domésticos.
As brincadeiras das miúdas e os reparos dos pais.

Neste momento, a Matilde pinta com aguarelas, fazendo uso do cavalete que um dos tios maternos lhe ofereceu pelo Natal.



Mas ontem os pais tiveram folga.

Jantámos com a Teresa e o João e ainda o seu irmão mais novo, o Pedro, bem como a respectiva namorada, num simpático restaurante da vizinhança de São Bento.

Para mim foi mais uma noite agradável e repousante com cavaqueio de circunstância e chalaças normais numa roda de amigos.

Um bom elixir para uma semana de trabalho intenso e absorvente.



Na sexta-feira começou a capital cultural europeia em Roterdão.
Será melhor que não façamos comparações com o Porto. A abertura diz tudo; fogo de artificio e Pedro Abrunhosa por cá e Verdi, no ano do centenário da sua morte, indubitavelmente um vulto da cultura europeia –que provavelmente até é, ao contrário do que muito cepticismo admitirá, empiricamente caracterizável- feito presente, como seria de esperar, através de uma ópera, isto para o público de lá. E depois de sabermos que os bilhetes são prioritariamente distribuídos pela população residente, com especial atenção para os estratos mais carenciados e os mais jovens e só na forma de restos por jornalistas e convidados, obviamente entre os holandeses, só podemos sorrir perante a lauta chuva de convites entre a organização portuguesa.


Nem falta o piripiri do ferido orgulho lusitano com a falta de recepção à delegação do Porto Capital Europeia da Cultura que, por meios próprios, se viu forçada a seguir do aeroporto para o hotel e, como se isso não fosse suficiente, ainda foi levada a ver uma película holandesa sem qualquer legendagem em qualquer outra língua.

Daqui resultaram os remoques da Professora Teresa Lago para quem a falta de cooperação, entre as duas cidades, para tão importantes acontecimentos, só pode ser imputada aos naturais do país que foi feito pela graça de Deus e o engenho dos seus.


Verdade verdadinha, continuamos o Lusitanos Vulgaris (1) de que nos fala o sempre esquecido Miguéis.



E não é por acaso que o paradigma empresarial indígena é o Engenheiro Belmiro de Azevedo que aqui há dias falava da necessidade de um governo forte –alguém sabe o que é isso?- e hoje defende em artigo a pertinência da sociedade civil, justamente ele que foi o maior bafejado pelo proteccionismo de que o caso das telecomunicações é o exemplo mais emblemático.



Por agora é tudo e não sei se amanhã terei oportunidade de dar conta deste diário.
Marcamos o primeiro encontro para aquilo que se pretende venha a ser uma comissão de pais para a escola que a Margarida frequenta.

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(1) Miguéis, José Rodrigues, p. 73
AS HARMONIAS DO “CANELÃO”
Reflexões De Um Burguês - II

Alhos Vedros
01/01/28
Luís F. de A. Gomes

CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Miguéis, José Rodrigues- AS HARMONIAS DO “CANELÃO”
Reflexões De Um Burguês – II
Editorial Estampa (2ª. Edição), Lisboa, 1984