2007-04-26

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Não deixa de ser curioso verificar que, num certo sentido, a globalização não passa ainda de uma figura retórica. Se bem que a economia global e os mercados mundiais –mesmo admitindo que apenas o fazem indirectamente- condicionem as mais recônditas comunidades de caçadores recolectores ou de agricultura de subsistência e ainda que possamos ter acesso à rede mundial de satélites praticamente em qualquer lugar da superfície terrestre, é por enquanto um facto que a grande maioria das populações não têm qualquer possibilidade de interagir no tal mundo globalizado. Para já, a globalização traduz-se no movimento de mercadorias e informações e, com maiores restrições, também das pessoas ou de pessoas, para ser mais exacto. Mas os resultados existem e ainda não podemos comprar o que necessitamos como se o fizéssemos num único país.
Seja como for, se não estoirarmos o planeta e nos não remetermos para o conteúdo de um museu que ninguém veria, será com essa realidade que os nossos filhos crescerão e é é muito provável que um número crescente, entre eles, tenha disso consciência e o considere enquanto factor para a definição de mundivisões.
Inevitavelmente há muitos adversários do fenómeno e por motivo variados e contraditórios. Desde aqueles que em ele vêm o domínio dos mais ricos sobre os mais pobres e, através disso, fontes de diversificados desequilíbrios tanto de ordem ambiental como social e cultural, aos protestos contra a concorrência desleal dos salários mais baixos de certos países em desenvolvimento, falam alto as vozes que se manifestam contra, por exemplo, o comércio livre entre as nações.

Acontece é que naturalmente há o outro lado da cortina se tivermos curiosidade e quisermos levantá-la.
Isto para nem sustentar que não devemos ter receios de um processo cujas raízes se afundam pelos séculos. Mas adiante.
Temos pela frente a primeira oportunidade de, com verosimilhança, nos dizermos naturais da Terra e de termos por nação a humanidade. E os naturais da Terra podem querer ir para qualquer parte. Será esse o mundo em que a globalização para sempre e a todos os níveis se separará da retórica.



Free jazz e trovoada distante.
Nos entrementes dos relâmpagos, há manchas roxas nas nuvens que uma invisível Lua Cheia acende.



Estou muito satisfeito com o horário escolar da Margarida.
A pausa para o almoço deixa-lhe tempo para brincar, primeiro em casa e depois no recreio, com as suas amiguinhas e estou convencido que isso é um excelente tónico para o seu bem estar anímico e psicológico e, consequentemente, para o seu ar alegre e –ainda que ciente das suas responsabilidades que cumpre zelosamente- vida despreocupada.

É uma ternura chegar a casa e ver o piolho brincando, no escritório ou na sala, agora que vão longe os dias em que a agitação provocada pelo impacto do novo papel e obrigações a remetiam para a porta, mal me adivinhava os passos.

E nestas últimas rotações, tenho verificado que ela já incorporou a escrita nas suas brincadeiras.
A minha secretária está cheia desses testemunhos.



Não tenhamos dúvidas nem vergonha de o dizer.
Neste problema do fisco há perseguição ao Benfica e a comunicação social controlada faz eco disso.
Pina Moura sabe que não pode facilitar a vida àquele clube. Há muito quem deseje ver aquela SAD eternamente adiada.



Hoje de manhã os alunos fizeram cópias e exercícios de leitura e identificação de sílabas e à tarde realizaram fichas de matemática, terminando o dia com desenhos em papel quadriculado.



Na Rússia há uma nova lei para os partidos políticos que para se constituírem, a partir daqui, dependerão de autorização superior. Para já, com os novos condicionalismos impostos, a maioria das cento e tantas organizações partidárias existentes não serão legalizadas.

Que forma terá a nova ditadura?

Alhos Vedros
01/02/07
Luís F. de A. Gomes

8 Comments:

Anonymous Anónimo said...

"Nos entrementes dos relâmpagos, há manchas roxas nas nuvens que uma invisível Lua Cheia acende."

Isto é muito bonito e logo da primeira vez que o li me trouxe à memória os céus de El Greco. É isso, não é Luís?

Zara

12:06  
Blogger o clube said...

Olá Zarita, é sempre um prazer ver-te por aqui.

É isso mesmo, minha querida amiga, El Greco sempre me impressionou e acredita que muito do gosto que tenho por contemplar os céus nocturnos, especialmente quando os véus de nuvens se fazem de transparências que o luar acentua, muito disso tem a ver com a pintura do Grego. Nem sei se é por causa dela que gosto daqueles ou se é o contrário que se passa. Sei e isso é certo que tenho visto muitas das suas obras por esses museus do mundo e não saberia calcular as horas que já passei diante de "El Entierro..." em Toledo. E nunca me canso e sempre foram e são as cores com que ele pinta os céus -que são ibéricos, não tenho dúvidas- que mais impressão me causam.

Obrigada pelas tuas palavras, Zarita e pela visita também.

Luís Foch

13:25  
Anonymous Anónimo said...

E as expressões, Luís, até parece que homem pintava a alma.
A cor do Conde de Orgáz então... E ao vivo, com toda aquela dimensão, é simplesmente esmagador, não é?

Aparentemente nada tem a ver, mas sabes que muitas vezes me faz lembrar Marc Chagal?

Zara

14:59  
Blogger o clube said...

Caramba Zarita, creio que te disse que vi uma grande retrospectiva da obra do Chagal numa exposição na Sinagoga de Budapeste; muito completa em termos das obras expostas e que de facto nos deixava ver bem a evolução do trabalho do artista que é das coisas mais ternurentas que eu já vi. Tanta doçura, não é?
Mas não estou a alcançar o paralelismo que fazes.
Chagal e El Greco? Prefiro ouvir-te falar.

Um beijão, minha Jóia

Luís

15:31  
Anonymous Anónimo said...

É muito bonita essa Sinagoga e é a maior da Europa. Mas o que mais me encanta é a fachada linda.
E já que falaste de Toledo, sabes que gosto de imaginar a antiga Sinagoga com as cores e o aspecto da de Budapeste. Acho que é por causa da influência sefardita que ali se nota, não é?

Mas relativamente ao paralelismo entre o Chagal e El Greco, tenho a dizer-te que é a espiritualidade que ambos revelam nas suas pinturas. A ternura de que falas advém do traço quase infantil que ele revela, não será assim? Pois é isso que me leva a falar da espiritualidade; é a consagração da vida, da alegria da vida, da liberdade, justamente em Ele. É o que eu sinto perante as obras de Chagal. Creio até que isso é um dos aspectos que dá a singularidade tão grande que caracteriza a sua obra.
Em El Greco parece-me que é evidentente a presença da Transcendência naquilo que pintou.
Mas isto é a opinião de uma leiga na matéria; como tu sabes não tenho a menor competência para avaliar estes assuntos e estas ideias são apenas o registo das impressões de alguém que se limita a ver e a gostar de ver arte, nada mais.

Um beijinho também para ti, meu querido amigo

Zara

19:05  
Blogger o clube said...

O mesmo digo eu, claro, ou até parece que tenho algum conhecimento específico na matéria, coisa que também não é o caso e sabes bem disso. Mas isto é uma conversa entre leigos, não será assim? Pois que mal terá duas pessoas expressarem opiniões sobre este assunto? Enfim...
Olha, mas deixa que te diga que acho que tens razão. Nunca me tinha ocorrido semelhante associação mas estou tentado a concordar contigo.

É verdade, a fachada da Sinagoga de Budapeste é de influência sefardita. Mas há uma pequena Sinagoga em Praga, o nome que lhe dão é a "Espaniola", creio que ainda mais me encanta. Não sei se conheces, aquela que fica à direita do antigo bairro judeu. Pequenina mas com pormenores encantadores e também ela é feita à semelhança do aspecto que uma influência ibérica pode conferir. Creio que ainda mais me cativa que a grande Sinagoga de Budapeste.

Um beijinho, amiga

Luís Foch

19:18  
Anonymous Anónimo said...

Nunca estive em Praga, ainda não se proporcionou. Já ouvi dizer que é uma cidade muitíssimo bonita.

Zara

21:44  
Blogger o clube said...

Uma pérola.
Dos testemunhos mais pungentes que podemos contrapor ao negacionismo, pois é sobretudo o silêncio e o vazio, um grande vazio que ali resta de toda uma cultura cheia de vigor e humanidade de que hoje restam as pedras e os sítios da memória que os poucos que sobraram mantêm com uma dignidade e uma força que encanta ver.
Afinal, o Gholem é uma das figuras do Museu de Cera da cidade e da cultura de Kafka que hoje em dia vemos em Museu.
Para onde foi então tanta gente? Na Pynk Sinagoge -como está assinalada para os turistas- lá estão gravados na pedra das paredes os nomes das centenas de milhares de judeus checos que pereceram no indizível.
Um dia que a visites, ficas sem palavras com a candura de certos desenhos de meninos e meninas prisioneiros em Terezin e que acabaram enviados para Auschwitz Birkenau e que ali estão expostos como testemunho de que o Mal é obra dos homens que escolhem praticá-lo. Arrepiante.

Bem, já chega, por agora.
Até amanhã minha querida amiga

Luís

22:32  

Enviar um comentário

<< Home