2007-05-02

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

HISTÓRIAS DA TERRA ENCANTADA
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De onde veio a água? Literalmente do céu. Choveu. Choveu e terá dado lugar ao depósito de superfícies líquidas no encaixe de um ou outro vale ou numa concavidade qualquer mais ou menos alargada. É possível que alguma tenha chegado através do choque de cometas. Aqui há uns anos houve mesmo a notícia da possibilidade de se encontrar água no espaço inter-galáctico.
Devo confessar que não sei como é que isso possa acontecer. Na verdade eu não sou perito nestas matérias, sou, digamos assim, um curioso que se satisfaz de um modo autodidacta. Não estranha pois que hajam lacunas nos meus conhecimentos e que o meu discurso esteja crivado de hiatos na narrativa dos acontecimentos. Mas parece-me que até há um aspecto engraçado nesta matéria da água É que o balanço do ciclo de renovação daquele líquido começou por ter um sinal positivo, naturalmente de elevado valor. Terá estado sempre a chover. A partir de um dado momento de acumulação dos gases gerados pela actividade geológica, o vapor exalado terá dado lugar às gotículas que se precipitaram sobre a superfície num processo que certamente acompanhou o arrefecimento da crosta terrestre e que a ele terá sobrevivido –salvo seja a expressão- ao longo de largos milhões de anos. Terá sido esse o dilúvio inicial. Seja como for, tudo indica que a água nos literal mas também metaforicamente do céu, uma vez que igualmente nos foi legada por certos corpos cósmicos.
Além do que são conhecidas outras ligações do género, como é o caso de certas catástrofes provocadas pelas colisões de objectos do nosso sistema planetário que se revelaram decisivas para a nossa evolução. Repara que os pequenos e amedrontados mamíferos, possivelmente noctívagos, que conviveram com os dinossauros e que sobreviveram à fria noite que os extinguiu, dificilmente teriam conseguido tirar partido das suas vantagens de animais de sangue quente se aqueles gigantes do terciário tivessem continuado a palmilhar as florestas e savanas da sua era geológica. Parece que o morticínio em causa seguiu-se ao inverso que foi o rasto o embate de um cometa.
Tens razão, eu estava a falar da água. E é como eu estava dizendo. É possível que este género de colisões tenha aqui deixado moléculas de água, mas o vapor de água que se acumulou na nossa atmosfera terá sido o que acabou por despejar aquele líquido na superfície terrestre.
É verdadeiramente fantástico e, por sua vez, terá concomitantemente contribuído para o arrefecimento da crusta e provocado novas combinações químicas que acabaram por alimentar a vida, como ainda hoje é observável nos –até há pouco improváveis- ecossistemas que se desenvolvem em redor das chaminés térmicas ou pontos quentes.