2007-06-17

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A IDA E A VOLTA

E pronto, lá fomos passar a Páscoa ao Porto, na casa dos meus sogros, ode, graças a Deus, todos estão bem.


As viagens é que foram cansativas com a contrariedade de, no regresso, termos assistido à infeliz ocasião de um acidente aparatoso mas sem outras consequências que as materiais, ainda que uma menina tenha saído do veículo numa gritaria que raiava o estado de choque. Pela nossa parte, contactámos os serviços de emergência e pedimos o auxílio necessário. O amparo humano estava assegurado por outros automobilistas e nós retomamos o caminho.


E agora gozamos as bem aventuranças do lar.



O Governo comunicou medidas para combater a morte nas estradas que, no nosso país, bate recordes europeus.
Propôs-se a diminuição dos níveis de alcoolémia admitidos –zero vírgula dois para os homens e nada para as mulheres- bem como o agravamento das penas correspondentes, além da desconcertante interdição à renovação da carta e inspecção dos automóveis por parte de quem tenha coimas por liquidar.
Veremos se tudo não ficará na mesma.

Quanto a mim, continuo a pensar que um factor que muito poderia contribuir para aquele desiderato, seria a vergonha que se passa no seguro automóvel, em que tanto paga o que bate como o cauteloso que passa anos a fio ileso e o infractor sabe que há sempre uma companhia disponível para lhe aceitar um contrato sem os agravamentos previstos na lei. Quer dizer, quem tem acidentes sempre tem a oportunidade de anular atempadamente a apólice cujo preço, compreensivelmente seria agravado e contratar uma nova como se nada tivesse passado e fosse a primeira vez que se propunha assumir o papel de segurado.
Pois eu acho que isto conflui para que as pessoas não reforcem os cuidados uma vez que não sofrem qualquer castigo na sua bolsa.
Ao Instituto de Seguros competiria centralizar os dados do universo em causa e só seria possível contratar um novo seguro mediante a apresentação da declaração de compra e venda ou da carta de tarifação do contrato anterior.
Às seguradoras competiria cumprir essa disposição e o estado poderia incentivá-las a que estabelecessem bons sistemas de bónus malus –diminuição progressiva do valor do prémio a pagar mediante a ausência anual de acidentes- que premiaria, justamente, aqueles condutores que passassem mais tempo sem causarem despesas às empresas.
Além disso, teria que haver um registo nacional das cartas onde se contabilizariam os acidentes que os condutores tivessem, para que o agravamento recaísse sobre o condutor imprevidente e apenas sobre ele. Fugas do género de pais fazendo o seguro em nome próprio para aliviarem as despesas de filhos desastrados, em caso de reincidência, seriam penalizadas com cobranças retroactivas dos agravamentos subtraídos.
Sem imposições excessivas nem insensatas, estou convencido que assim se criariam condições para que, com o tempo e medidas complementares de carácter pedagógico, se pudesse instalar uma cultura de civismo nas rodovias cujo resultado fosse, precisamente, a redução do número de desastres com particular destaque para aqueles que têm desenlaces fatais.

Será que há interesse nisto?
Com o actual estado de coisas só não consigo perceber porquê.



A Margarida continua a dar largas à liberdade que a pausa escolar lhe dá.
Foi jantar os dois dias com a madrinha, a tia Fátima, em casa de quem dormiu a primeira noite. E sem contar com as passeatas, tanto ela como a Matilde foram jogar mini-golfe na tarde de sexta-feira, com direito a lanche de gelados e tudo.


Ontem à noite, na companhia da Fátima e do Quim e da Irene, a sobrinha mais velha e afilhada da Luísa, filha do seu irmão António, o primogénito, lá foi toda a família para a Foz, junto ao Castelo do Queijo, com o intuito de presenciarmos a teatralização da queima do Judas.
Como se gastam milhares de contos nestas chachadas é que eu cá estou.
Não vimos nada que um grupo amador, com os mesmos meios, não fosse capaz de fazer. Quer no que diz respeito à encenação e representação, quer no domínio do texto, o dejá vu e o lugar comum tiveram ali fóruns de cidade.

Enfim, é o que se conseguindo para uma capital europeia da cultura que o parco turismo faz o jeito de nos não envergonhar.



Um tanto a reboque do chinfrin do Bloco de Esquerda, está na calha a discussão e aprovação da lei da liberdade religiosa em Portugal.
Pelos vistos não temos nada mais importante.
E eu pergunto se algo ou alguém sofre de descriminação religiosa neste país.
Pois para mim tudo isto é uma perda de tempo e mantenho a opinião que registei, em noventa e sete, no Diário do primeiro ano de vida da Matilde. Não me vou repetir aqui.
Só quero dizer que me parece, mais uma vez, a retórica vanguardista se presta para criar problemas desnecessários. E a verdade é que ninguém procura reflectir seriamente sobre a problemática religiosa.



Neste momento a Margarida está a ler uma história da Anita à irmã e eu sou um homem feliz.



Ah e estou quase a conhecer o final das aventuras de Baldassare.
Mais um hino à harmonia entre os homens, pela mundivisão de um genovês para quem são as pessoas que contam.

Alhos Vedros
01/04/15
Luís F. de A. Gomes