2007-08-25

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

DEPOIS DA MEIA-NOITE

Fico sem saber o que dizer sobre o “Evangelho Segundo Jesus Cristo”, de Saramago, livro que acabei de ler na noite de ontem.
À partida deixa a sensação de que se trata de uma obra oportunista. Posterior aos “Versículos Satânicos” de Salman Rushdie e, sobretudo, ao estrondo que provocou –recordemo-nos que, por causa dele, o Autor foi condenado à morte pelo regime dos Ayatollas iraniano- tenho para mim que o português só escreveu aquele romance por pensar que o mesmo lhe poderia trazer projecção semelhante. Claro que não falo do famigerado veredicto, mas pelo estilo provocatório de assimilar Deus ao Diabo, aquilo que o nosso Nobel pretenderia teria sido a polémica rasteira e barata que neste mundo mediatizado normalmente confere a necessária projecção aos objectos independentemente do valor que, por si, possam eventualmente possuir.
Depois, se formos frios, não será muito difícil de admitir que por aquelas páginas passa uma filosofia de cordel em que, apesar da pretensão da aparência de sabedoria, nunca se consegue qualquer profundidade reflexiva que ultrapasse o discurso vulgar que o reduzido conhecimento tem sobre as coisas. Até o aspecto formal da narrativa nada tem de novo, quando nos damos conta que um Camilo José Cela o usa com muito maior mestria e bem mais a propósito. Quanto às incongruências nos tempos verbais que aí se encontram, apenas se pode dizer delas estarem em perfeita harmonia com o resultado final.
E o que se pretende transmitir com esta versão pessoalíssima da vida de Jesus da Nazaré? Que ele foi um homem como os outros? O enganoso engodo de uma concepção religiosa do mundo? Que Deus ou os deuses sempre impuseram aos homens nada mais que o sofrimento? Que só existem pelo reconhecimento que os homens lhe conferem? Ou o pressuposto –idiota que outra coisa poderia ser?- que os Evangelhos são apenas uma versão da vida de Cristo e que outras são igualmente possíveis?

Enfim, nada mais que a vulgata que normalmente constitui o pretenso pensamento materialista.


Mas lá que o escritor ganhou o Prémio Nobel da Literatura, isso ninguém o pode negar. Acontece que Winston Churchill também o fez.



Hoje gostei de um gesto da Matilde.
A Júlia deu-me uma série de cromos para ela que eu lhe entreguei no reencontro.
E não é que a miúda, depois de os receber da minha mão, quis ir agradecer pessoalmente a oferta?

Escusado seria dizer que o pai inchou de satisfação.



A Margarida teve folga.
Faleceu um tio da Professora que, por isso, faltou.



E por hoje termino.
Estive no escritório a trabalhar até pouco antes da meia-noite e é agora uma da madrugada. Quero ver se ainda faço umas boas seis horas de sono.

Dia longo em que nem tempo tive para olhar as gordas dos jornais.

Só agora me posso enlevar na ressaca das árvores.

Alhos Vedros
01/06/05
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Saramago, José- O EVANGELHO SEGUNDO JESUS CRISTO
Associação Portuguesa de Escritores, Lisboa, 2000

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Olá Luís


Achei a mesma coisa quando o li. Irritou-me tanto que a poucas páginas do fim, desisti de o acabar de ler.

23:02  
Blogger o clube said...

Olá Marta

Conta bem, mas não me alegra.

(sorriso)

Obrigada pelas visitas e pelas palavras.

Ficamos sempre encantados com elas.

Luís

21:49  

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