2007-08-20

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

HISTÓRIAS DA TERRA ENCANTADA
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Sem embargo do desenlace pouco nobre, o mais provável é que a hipótese de Wegener tenha permanecido em algum espírito. Embora aí uns vinte anos mais tarde, mas ainda antes de haver qualquer sustentação científica, um certo geo-físico cujo nome não tenho presente sem recurso a um banco, chegou a postular a expansão dos fundos oceânicos.
Mas o ano geo-físico internacional, em mil novecentos cinquenta e tantos, tinha reservada uma grande surpresa.
É preciso ter em mente que a tecnologia científica sofrera progressos nunca vistos. E em redor dessa anuidade comemorativa, entre outras pesquisas, aconteceu que se efectuaram muitas séries de leituras magnéticas nas profundidades atlânticas.
Eu creio que a ideia era traçar um perfil dos fundos marinhos. Mas ninguém esperava o que viria a seguir.
Os cientistas deram conta de que em cada lado do rift se formavam deposições de camadas com diferentes orientações magnéticas e a sua disposição parecia obedecer a um padrão de alternância que apresentava alguma simetria a partir daquela abertura da crusta oceânica.
E foi uma dupla de cientistas da Universidade de Cambridge, um Professor e um mestrando, que interpretaram aquele fenómeno como o registo de inversões do campo magnético terrestre. Poderia ser verdade que em certos períodos geológicos o campo magnético terrestre apontasse para o Sul?
Pois, nessas situações as bússolas apresentariam as agulhas magnéticas viradas para o Sul e não para o Norte como actualmente acontece.
Interessa é destacar que isso era algo extraordinário. Implicava que se encontrassem rochas com polarizações magnéticas invertidas, coisa que, até então, a ninguém ocorrera procurar. E como tantas vezes sucede, casualmente, na Austrália, dois geólogos encontraram lavas nessa condição. Consolidavam-se as provas da expansão dos fundos oceânicos. Daí para cá, muitas outras rochas similares foram encontradas um pouco por toda a parte do mundo, com o acréscimo simpático de viabilizarem padrões cronológicos coincidentes com os que tinham sido encontrados nos tais registos dos fundos oceânicos.
No entrementes, a recolha de amostras da crusta oceânica veio em socorro daquela indução. É que as rochas eram muito mais jovens do que seria de esperar. Onde estariam então milhões de anos da história da Terra?
Precisamente. Não estavam lá por causa do processo de renovação dos fundos oceânicos que a expansão destes acarreta. Nem mais.
Por fim, ao largo dos Açores, creio que em mil novecentos setenta e seis, foi finalmente possível submergir até ao fundo do Atlântico e ver e filmar, in loco, a saída dos materiais magmáticos pelas aberturas tectónicas e a sua deposição no leito das profundezas. Com isso também se confirmava que a crusta terrestre se encontra fendida e fragmentada em grandes placas, cujos contornos ganham visibilidade com a sinalização dos sismos a nível planetário.
Ora para maior felicidade dos cientistas, nos últimos vinte e cinco anos as tecnologias não têm parado de sofrer revoluções que aqui passo a ilustrar com a tele-detecção que consiste na recolha de dados a partir dos satélites geo-estacionários. E os mergulhos submarinos multiplicaram-se e estenderam-se aos restantes oceanos e outros fenómenos têm sido identificados nas mais variadas latitudes, como é o caso das chaminés térmicas onde, por mais incrível que pareça, se formam ecossistemas que não dependem da luz solar nem do oxigénio.
Chaminés térmicas são fontes de água quente e gás, no fundo do mar e na vizinhança das fossas tectónicas.
São peixes e crustáceos, brancos e que aparentemente inalam aqueles gases vulcânicos pois estão adaptados à respiração naquele ambiente marítimo-tectónico.
Foi assim que se chegou à teoria da tectónica das placas.
É, tens razão, parece saída de um trabalho policial.
É sim, é-o de facto. Eu fiz uso propositado do adjectivo. O planeta tem esse prodígio de se renovar geológica e atmosfericamente. A relação gravitacional entre a Terra e o Sol é assim uma espécie de ignição de um vasto sistema de interligações e interdependências que se mantêm precisamente nesse rejuvenescimento –salvo seja a expressão- desta nossa casinha planetária. Pois foi esse prodígio que os primeiros homens encontraram.