2007-01-16

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A Rússia vai investir na chamada energia limpa.
Quando? Como? Qual ou quais? Com que propósitos?
Não se disse.
Que se trata de uma proclamação que a conferência das Nações Unidas sobre as alterações climáticas, disso ninguém tem dúvidas.

Mas que o futuro passará obrigatoriamente por aí, também não.



Já percebi que a Margarida aprecia a pausa para o almoço pela possibilidade de brincar em casa que, então, se apresenta inteiramente à sua disposição.



Neste país de rasa pata
o senhor candidato ofendeu
aquele que se candidata
e que bem fala como Orfeu.



E depois de críticas e contra-críticas, demissões e abjurações ortodoxas, Carlos Carvalhas, o secretário-geral, saiu em defesa de Álvaro Cunhal.



Kumbaialá, Presidente da República, eleito por sufrágio directo e universal, ficou refém de Ansumane Mané, o homem da guerra, herói auto-proclamado.
O primeiro tomou medidas que o segundo desfez para além de pretender que aquele só pode fazer o que ele consentir.



Hoje de manhã, depois de exercícios com palavras, houve mais um espaço para a religião moral católica em que os alunos fizeram recortes.
À tarde realizaram mais uma ficha para o livro dinâmico que consistiu em escrever e ilustrar uma série de palavras derivadas daquelas que já foram objecto de estudo na aula.



A Margarida já lê sozinha.

Alhos Vedros
00/11/21
Luís F. de A. Gomes

4 Comments:

Blogger Gi said...

Olá Luís, bom dia!
Estava agora a ler o diário da Margarida e a pensar, o tempo passa tão depressa. Ainda há umas folhinhas atrás ela entrou para a escola...se fossemos a resumir a nossa vida, quantas folhinhas iríamos escrever? Não falo dos que possuem dotes de escrita nem dos que por certo terão uma vida preenchida de aventuras. falo só daqueles marcos importantes da nossa vida. Quantas folhinhas?
Um dia deste vou fazer uma experiência, se calhar nem uma folha A4 consigo preencher :O)
Resto de dia feliz.

15:43  
Blogger o clube said...

Marcos importantes na minha vida? Dois conjuntos de números, tenho para mim; 02/02/1994 e 04/12/1996. A minha vida resume-se a isso. Para lhe ser sincero, nunca encontrei nenhum sentido para a minha vida e às vezes penso que nem mesmo alguma vez cheguei a saber o que deveria procurar. Vivo, acordo todos os dias com o espanto e a sorte de estar vivo e limitei-me, sempre me limitei a aproveitar isso, nem sempre bem, tanto para mim como para com aqueles que me rodeiam ou os que se cruzam nas malhas dos relacionamentos do quotidiano. Esperança no quê? Por isso sempre vivi por viver e nunca me deixei de espantar com isso mesmo e de me deliciar com as pequenas coisas –os pequenos nadas, entende?- que nisso fui encontrando pelo caminho, mas nunca fui capaz de saber porquê? Gosto de ver a luz e gosto de ver como um sítio muda de rosto à medida que ela se inclina ou eleva e ao ritmo que ela se distancia ou aproxima e acho prodigioso como isso se manifesta de tantas formas diferentes, sempre sob as mesmas leis básicas, nos mais diversos lugares por onde já deambulei. E acho admirável que todas as manhãs acorde com o dom de poder ver isso, respirar isso, poder ir presenciando esse fluir de coisas que acontecem em meu redor.
Sou uma pessoa simples e banal e sempre me achei muito ignorante e sem qualquer rasgo de grande iluminação. Há muito que perdi por completo o sentido de pertença ou se calhar nunca o tive, pelo menos em estado de adulto. Nunca me senti estranho nem estrangeiro em lado nenhum, nem mesmo entre pessoas que ainda vivem modos de vida semelhantes aos nossos mais remotos ancestrais e muito menos entre gentes de mundos pobres e de línguas e culturas muito diferentes da minha. Com a excepção do território brasileiro –e não me pergunte porquê- nunca tive saudades de lado nenhum, nem mesmo de casa e nunca me senti como parte de nada nem coisa nenhuma. Saudades de algumas pessoas, pertença, a ninguém. Como escutei a alguém e passei também eu a dizê-lo, o meu território são os sapatos. Se os marcos da minha vida se resumem a duas ordenações de números, diria que eu quase que me resumo àqueles e a pouco mais que isso. Por isso às vezes penso que as minhas filhas adoradas são a única esperança que eu tenho para viver –e poupo-me pensando que tal não decorreu de um acto egoísta- afinal trata-se de tentar acrescentar mundos a um mundo simultaneamente tão belo e horrível, tão maravilhoso e inquietante.
É isso, sou um simples indivíduo que faz a sua vidinha de todos os dias sem esperanças nem ansiedades e que não pede mais que isso mesmo, a não ser o sossego, o que não me parece nada de mais nem muito sofisticado para que possa ser difícil de alcançar. Se quiser, serei aquilo que muitas vezes se chama de pateta alegre, coisa que muito pouco me importa. O meu ganha-pão não depende disso.
Pois é tal e qual como diz, o tempo passa depressa e talvez por isso eu nunca tenha sido capaz de ter aprendido a ser mais do que aquilo que sou ou talvez não o tenha tentado ou não o tenha conseguido ser. Não sendo do nível mental que associa a praia e o Verão ao calor da vida, também nunca fui muito capacitado para discorrer sobre o que quer que seja, mas como sou quem sou, isto é, como sou um sujeito simples e sem grandes ambições e muito menos ilusões, como bem lá no fundo nunca quis nem nunca fui capaz de querer algo mais da vida que não seja simplesmente viver, aquelas limitações são para mim de todo indiferentes.
Gosto de pensar que não tenho inimigos –pelo menos na vida corrente- mas também não tenho ilusões sobre a bondade da minha pessoa pois já tomei decisões que, apesar de todos os pratos da balança, provocaram mal em outras pessoas, mas tento não ser doloso o que nem sempre conseguirei, é certo.
Mas entristece-me quando me tratam mal. Só posso baixar os olhos para o chão quando eu dou uma prenda a alguém, por mui singela, que depois de rasgada serve para que se riam de mim. Ainda mais se não for capaz de, apesar de todas as limitações de que falei, encontrar razões que o justifiquem se é que para tanto pode haver justificação. Nunca fui pessoa de muitas falas. Quem me conhece sabe que vivo a maior parte do tempo calado, em silêncio; se calhar por ter este ópio de escrever. Mas a verdade é que há certas coisas a que prefiro responder pela expressão porque tenho a certeza de que por essa forma o faço melhor. Talvez por isso, pessoalmente, quando isso acontece, limito-me a baixar os olhos e a guardar silêncio e prefiro guardar para mim as recordações boas que possam haver para que as barreiras que se ergam não se afirmem por intransponíveis; gosto sempre de deixar uma janela aberta para que possa voltar a um sítio, pois a vida ensinou-me que só na morte não poderá nunca haver recuo possível.
Apesar de a minha vida se resumir em dois conjuntos ordenados de números, tenho a certeza que sou humano, muito simplesmente humano simples e vulgar e não vejo que isso me amesquinhe perante quem quer ou o que quer que seja.
E agora vejo que a lenga-lenga vai longa e você já deve ter bocejado inúmeras vezes ao ler isto se é que se deu ao trabalho de chegar aqui, mas comecei e saiu isto mesmo.
Vou acabar para não a maçar mais com as minhas tontices.
Boa noite, Gi

Luís

PS
Desculpe só agora estar a inserir o seu comentário mas hoje foi um daqueles dias que, como se costuma dizer, não se deseja ao maior inimigo e só há vinte minutos –o tempo que demorei a escrever estas palavrinhas a propósito do seu comentário- cheguei a casa e me sentei a esta secretária.
Abri os mails e estava o seu comentário por inserir e passei de imediato a estas palavras que inserirei em acto contínuo às suas.
O melhor para si, Gi

Luís

00:20  
Blogger Gi said...

Luis
Em primeiro lugar deixe-me só dizer que a 16 e 17, com a devida antecedência, fui avisada pela cabovisão de que iria ficar sem internet. Não me lembro do horário que eles disseram e portantojá é o 2º dia que estou a escrever... e fico a meio. Aconteceu isso ainda há umas horas. Depois de ter tudo escrito aqui na sua caixinha dos comentários, não consegui publicar (isto foi, naturalmente, acrescentado).

É ainda muito cedo mas nunca fui dorminhoca! O sol ainda não nasceu e eu já me levantei. Daqui a nada vou vê-lo a nascer

O que eu tinha escrito

Bocejar? Nem pensar. Se venho aqui é com gosto, não por obrigação. Já sabe que gosto de o ler. Sabe que mais? Acho que aquilo que o Luís diz ser, nota-se na sua escrita, foi isso que lhe disse logo de início. Tem uma escrita transparente.
Presumo que as datas sejam as do nascimento das suas florinhas. Pois eu essas concerteza que essas eu também ía apontar e agora a florinha mais pequenina que me deu um prazer tão grande o seu nascimento, como se também tivesse saído de mim. Não dizem serem as avós mães duas vezes? Pois é mesmo assim :)
Tenho naturalmente mais datas marcantes, nenhuma tão importante como essas, mas também não sinto esse sentimento de pertença que fala, embora me consiga afeiçoar muito às coisas e às pessoas. É o valor estimativo que lhes dou pois para mim o mais importante de tudo na vida são os afectos. Com eles me abato e com eles me ergo. Portanto creio entender bem o seu ponto de vista. Também sei não agradar a todos mas quem consegue tal proeza? No meu perfil tenho lá algo que me define, uma Vulgar de Lineu ,uma VDL ao contrário de um VIP. Se Lineu tivesse classificado a minha espécie nada havia de encontrar de particular que me distinguisse dos outros, a não ser para os mais próximos e esses não estão na net . Bem à excepção de alguns amigos mas esses não precisam que eu me defina, eles próprios me distinguem à partida, considerando-me digna da sua amizade.
Isto só para lhe dizer que tenho uma vida tranquila e que se pauta pelo respeito ao próximo, portanto deliberadamente não magoo ninguém e, por isso mesmo gostaria de esclarecer aqui consigo um ponto que me anda a fazer confusão. Sabe Luís eu não gosto de ter coisas que me incomodem,mas mais ainda saber que algo que eu fiz possa ter incomodado alguém . Se o assunto não me interessa eu até consigo passar à frente e fazer-me de desentendida, acho que a experiência profissional de muito anos me ensinou a "deixar caír" aquilo que não tinha interesse e aproveitar só o que me podia ser útil para analisar as operações, separar o trigo do joio. Não é o caso.
Embora não goste de escrever mas como gosto bastente de ler, sinto-me habilitada para fazer a interpretação do seu texto, tanto no que está escrito como o que ficou por dizer nas entrelinhas, não atingo é alcance das palavras. Diga-me uma coisa Luís. Que fiz eu que o tenha magoado? Noto que já não visita o meu blog com a mesma assiduidade ou pelo menos não escreve como era habitual. Quando aqui comentei há uns dias, notei-o um pouco lacónico nas respostas que me deu. Como nada tenho que me pese a consciência continuei a visitá-lo aqui nesta sua casa, que me dá muito gosto e, esperei que não fosse nada, que fosse só impressão minha e a falta de palavras se devesse única e exclusivamente a cansaço. Mas não, não me parece que seja isso. Tenho estado a pensar se não terá sido por eu ter chamado homem do Norte. Creio que foi a partir daí... não foi para ofender e se o ofendi lamento. É que ainda por cima um dos meus amigos (do fórum onde escrevia) e que escreve muito esporadicamente no meu blog, mas que o fez ainda esta semana, é do Norte. É uma pessoa que me é muito querida, omeu príncipe como lhe chamo e, eu nada diria que indirectamente também o ofendesse a ele. Portanto Luís estou completamente a zeros com esse seu desabafo e não faço a minima ideia da forma como contribuí para esse mal estar. O Luís diz que não fala, eu então falo muito. Se calhar por isso é que me sobra pouca inspiração para a escrita :) Hoje já escrevi muito, espero merecer uma resposta no mínimo :)
As palavras Luís, realmente podem ser terríveis e por isso eu gosto tão pouco de escrever , corre-se o risco de ser mal interpretado e aquilo que devia ser um ponto de aproximação em termos de comunicação, passa a ser de afastamento, foco de discórdia. Quando isto pode acontecer com pessoas que se conhecem imagine quem não se ocnhece de lado nenhum !

Tenha uma noite feliz

06:09  
Blogger o clube said...

Hoje estou parvo e não estou certo de dizer o que verdadeiramente possa querer dizer. Passei uma noite praticamente em claro e ainda mais por isso a jornada foi longa e árdua. Não sei se serei capaz de expor de expor claramente os meus pensamentos, isto é, de apresentar claramente os meus pensamentos isto é, de apresentar as minhas ideias com precisão e a transparência suficientes para que delas haja um entendimento fácil e positivo. Poderia escolher adiar para amanhã esta conversa, no entanto, acho que uma boa meia hora de sesta ao fim da tarde me ajudou a recuperar energias e capacidade de concentração e depois o dia nem correu inteiramente mal e, ao almoço, uma conversa com a Marga catapultou-me para o espaço enquanto dava conta do que tinha para fazer que, dessa forma e só pelo efeito da força anímica, consegui levar a bom porto. Deste modo, corro o risco do desafio de falar sem a garantia de saber se serei claro e preciso naquilo que tenho para dizer.
Até por concordar consigo que este não é um assunto que me apeteça deixar cair. Neste aspecto não direi que tenha a experiência profissional de que fala. Contudo ganhei o hábito de virar as costas sempre que algo ou alguém me aborreceu ou desagradou, logicamente se me feriu ou muito simplesmente me deixou na indiferença. Também virei algumas vezes as costas deliberadamente, mesmo quando a dor foi sentida, aceitando o natural decurso dos acontecimentos e nada querendo fazer para que aqueles se alterassem num ou noutro sentido. Não sou o primeiro e muito menos o único a dizê-lo, mas desde praticamente a idade adulta que tenho esperado e aceite que a vida me coloque diante de pessoas e coisas. Gosto disso e sempre segui o meu caminho sem olhar para trás. Mas agora já não me posso dar ao luxo de o fazer. Não sei quanto tempo me restará de vida, mas tenho a certeza de que só por uma grande sorte dos dados estarei a meio desse percurso e, em conformidade, deixei de poder limitar-me a esperar os ritmos das correntes para que me banhem os meus dias e se a vida me colocou perante um barquinho que se chega até mim, se as cores das velas e a direcção para que o leme aponta me agradam, então eu tenho que embarcar pois sei de experiência feita que a oportunidade raramente tenderá a repetir-se. É este o caso.
Sinceramente não me tenho em conta muito elevada ainda que viva tranquilo comigo, pois sei que também seria exagero se dissesse ser uma má pessoa. Mas surpreende-me como tantas vezes sou tão bem recebido pelos outros com o tão pouco que lhes retribuo. Tenho amigos e bons, alguns anosos, de sempre ou quase sempre e se para isso terei dado algum contributo, esse é para o exterior das relações familiares, talvez o melhor feito de que tenha sido capaz. Mas mesmo com eles espanta-me como me tratam tão bem e com tanto carinho, logo a mim que quase nada lhes dou e que desapareço, amiúde, tão sem dar satisfações do que quer que seja a quem quer que seja; chego a estar anos e anos sem ver alguns deles, e maravilha-me tanto quanto me admira como eles –especialmente aqueles que o são desde a infância- me aceitam assim, sabendo que eu há muito que me entreguei a um ópio que me acompanha desde os onze anos e que nunca mais me passou pela cabeça a ele, por exemplo, sacrificando, por exemplo, vias que certamente me teria aprazado ainda que o diga sem qualquer nostalgia e muito menos arrependimento em as ter preterido. E por isso sabem e aceitam que eu viva em exílio quase permanente dessa malha de afectos em que afinal encontrei boa parte da massa que moldou o meu ser e que se manifesta naquele que eu sou hoje. Mas se quiser ser sincero comigo, nunca retribuí uma milésima parte daquilo que me deram e da compreensão que me dispensaram e não sei se por defesa pessoal, talvez, desenvolvi um mecanismo de insensibilidade para com esses cortes que provoco naqueles que são bons para comigo e compreensivelmente para as respostas que os mesmos possam acarretar sobre mim. Uma vez disse a alguém que no fundo não passo de um pequeno coleccionador de rostos e momentos e não queira saber o que já fiz –nada de moralmente reprovável, como é óbvio- para conhecer certas figuras sobre quem recaiu a minha curiosidade. É tão bonito quando podemos escrever, “(…)embora me consiga afeiçoar muito às coisas e às pessoas. É o valor estimativo que lhes dou pois para mim o mais importante de tudo na vida são os afectos. (…)” Se calhar o que eu mais gostaria que acontecesse comigo seria isso mesmo, mas sinto que da minha parte muito pouco ou nada faço para que assim seja. E é um buraco que tenho na alma; se me magoa ou não não saberei dizer, mas está lá esse espaço em aberto, branco, se quiser. Na verdade e por paradoxal que pareça é mais ou menos por aí que vou pautando o meu trilho, gosto ou não e pouco me preocupa que pensem que me limito a ver as coisas entre o esbranquiçado e o cinzento. E é assim que este não é assunto em que me deixe de importar se ou deixo cair ou não.
O que pode pensar quem me diz que “A Vida É Bela” mesmo quando fazemos um jogo do jogo que mantemos com a morte, “O Carteiro de Pablo Neruda” gravando as ondas do mediterrâneo sob o luar para o seu amigo ou “A Lista de Schindler” em que vimos humanos alvo mortal do tédio, são os melhores filmes que viu? O que terá para me dizer que aí coloca “O Voando…” em que afinal se viu que o mais importante na vida é a tentativa de alcançar algo, nem que seja arrancar um chafariz pelas fundações? Simples não é? Patético, não é? Tontices minhas, não é? Palermices de um palerma que anda tão só porque dois botões em flor o fazem voar sobre a cabeça dos outros, não será assim? E eu não me preocupo em discordar pois sou tão simples quanto isso e se quiser tão insignificante quanto isso; como pouco esperei da vida, contento-me assim. Mas são as coisas simples, os pequenos nadas e afinal não houve quem tenha ficado a dever a alegria às medusas que tanto mal estar lhe causavam? Pois bem, é isso, esse querer ouvir, escutar, se quiser, contemplar que aqui me leva a dizer que não se trata de assunto que esteja disposto a deixar cair. E não é esse o mar tranquilo que nunca nos cansamos de ver e em que, mesmo quem o não mereça, todos gostamos de nos banhar? “Como duas luzinhas que, avançando lado a lado num imenso espaço escuro, se aproximam imperceptivelmente uma da outra.” Não é bonita esta imagem? E a alegoria que contém, não é ela plena de beleza? Como recusar então essa dádiva que este oceano em que vou navegando me trouxe ao toque de bombordo? Seria uma pena, como já lhe disse.
Não é no mínimo, qual mínimo, claro que merece uma resposta e de modo algum é por se ter alongado mais do que costuma. E nem é de uma resposta que se trata, são estas palavras que eu tinha para dizer. Até porque a resposta à sua pergunta já a tinha dado quando lhe esbocei aquele lamento, quando a vida nos toca e não percebemos que ela está a versejar para nós.
Não é tão bonito –aqui pode dizer à vontade que é lindo, lindo, lindo que se aplica bem- quando se encontra alguém de quem sentimos que podemos que gostaríamos de ser amigos por nos contentarmos com o que mais não podemos ter? Não ligue às minhas que não têm qualquer importância, mas é isso que sinto e penso e portanto é isso que me soe dizer.
Apesar de como disse ser um desastrado sem jeito e quase incapaz de dar uma gota da corrente que geralmente me dão, a amizade é dos bens mais valiosos para mim e entre o ouro e o bom amigo, até eu que sou lerdo de ideias, não tenho qualquer dúvida em dizer que prefiro o segundo por pelo primeiro poder ficar só e até eu que sempre fui solitário e que ainda hoje vivo numa espécie de solidão intermitente, sei dizer que não é na ausência de um deserto que as pessoas se cumprem.
E aqui nesta blogosfera tenho amigo(a)s que já conhecia antes e a quem gosto de expressar o quanto, pese embora todo o meu desprendimento e até, às vezes, ingratidão, gosto de tentar trazê-los bem dentro do coração. E às vezes consigo fazê-lo, isto é, tenho oportunidade de dar a mão a pessoas que, mesmo não me pedindo ajuda, sinto que posso ajudá-las com aquilo que sei e pelas coisas que faço. Aquela menina bonita a quem chamei a princesinha do Largo ou do blog é um caso desses. Alguém que, se a Gi conhecesse perceberia imediatamente, vale a pena ajudar a crescer, incentivar a crescer e a alcançar metas que possam propiciar a formação de mais uma pessoa feliz e que possa por isso acrescentar mais valia a este mundo tão frio em que os tempos que correm nos obrigam a viver. Alguém que poderia ser muito bem a minha filha se eu não tivesse escolhido ser pai apenas na idade do amadurecimento e se por acaso tivesse sido um pai há vinte anos atrás o que até nem seria uma paternidade muito jovem. E a Sofia –agora já posso escrever o seu nome em público, será a primeira pessoa a perceber o que isso significa e estou certo que tal como eu sabe como é bom termos amigos, mesmo quando estranhamento podem ter idades tão perto das dos nossos filhos que no meu caso se conjugam no feminino. E tal como um pai ou o professor que também poderia muito bem ter sido –tenho idade para isso, não?- deve o amigo mais velho promover para que cresça e acredite-me que me disse a minha experiência profissional que tiramos sempre o maior rendimento das pessoas se as tratarmos com afecto e se por essa via as distinguimos entre os outros para que se reforcem na sua própria vontade e no valor que eventualmente tenham. Gi, sei que sou tonto e sou do mais simples que você alguma vez poderá ser capaz de imaginar. Tenho, normalmente, algodão sob os sapatos; ninguém me ouve quando ando e como gosto mais de ver que falar… Mas gosto disso mesmo e com efeito, quase sempre que tive que partir ninguém terá dado por isso.
Foi pois essa corrente suave, tranquila, cristalina mas persistente e que pelo decorrer dos dias se robusteceu em que me senti conduzir pensando o que pensaria quem se encantou na dilaceração da escolha proibida do Clube do Poetas que, seguramente não perceberá porquê, eu, afinal conheci tão bem na minha vida.
As palavras são de facto terríveis. Ao contrário do que as pessoas pensam, podem até matar e por isso rogo-Lhe para que você entenda que estas não são palavras de adeus; nunca o faria. São antes de esperança que perceba que tudo o que eu possa ter feito já passou e que as amizades que não são para passar, antes pelo contrário, mesmo sendo eu um sem jeito que tudo tem estragado no decurso da sua vida, também eu penso que são para cultivar e deixar crescer pois podemos saber fazer jardins quando não nos é permitido que nos afoguemos na natureza.
Que coisa longa, vejo agora. Desculpe mas saiu e já não vou apagar. Não sei se isto cabe no espaço de comentários mas terei que arranjar uma forma caso isso suceda. Se chegar aqui, então deixe-me que lhe agradeça a generosidade e mais um acto de bondade para comigo e lhe diga um bem-haja do tamanho do mundo pela paciência que manifestamente tem para me aturar. Mas tem sempre ao dispor a possibilidade de pura e simplesmente não ligar às minhas parvoíces.
Que outra coisa posso eu fazer para lá de lhe desejar uma reconfortante noite de sono, e para o dia que amanhã vai nascer o melhor que haja na vida para si? Pois são esses os meus maiores desejos que a felicidade lhe inunde o peito como sinto que está precisamente neste momento a acontecer comigo.
Todo o amor que haja nesta vida para si, Gi

Luís

00:14  

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