2007-09-10


2007-09-09

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

O crepúsculo
e o cheiro da maresia
levando consigo
o cansaço do dia.



Um jovem astrofísico português que se encontra a fazer doutoramento em França, colaborou para a explicação da excêntrica rotação do planeta Vénus, onde o Sol surge, no horizonte, a Oeste e um dia completo chega a demorar mais que uma translação. Em pareceria com o seu orientador de tese, publicou os resultados de uma investigação, na revista Science, num artigo em que se avançam duas hipóteses para o estranho movimento.

O anedótico é que ele não tenha lugar para trabalhar em Portugal.


O que nós estamos mesmo a precisar é do Euro 2004.



Passados três meses sobre o desastre foi encontrado o último automóvel entre os que caíram ao Douro por causa da quebra do tabuleiro da ponte, em Castelo de Paiva.


A nossa pequenez tem o perfil de uma tragédia.



A Matilde é que me preocupa um pouco mais.
Não se integrou tão bem no jardim infantil como seria de esperar no início.
Têm sido muitas as ocasiões em que ela pediu para focar em casa e já por várias vezes disse que não queria ir para aquela escola, alegada e repetidamente porque os miúdos da sua sala não sabem brincar e alguns batem-lhe, ainda que ela não os deixe sem resposta e, amiúde, seja também a prevaricadora.

Infelizmente não temos alternativa pelo que teremos que saber encontrar uma forma que lhe permita superar este começo de rejeição no próximo ano.
Como não sei, mas vamos ter que ser imaginativos e persistentes, disso não tenho dúvidas.



O Ministro da defesa fez saber que uma intervenção da NATO na Macedónia, a fim de supervisionar o desarmamento das guerrilhas albanesas, não contará com a participação das tropas portuguesas.

Vêem como já estamos a conter as despesas do estado?
Pelo que sobre o dinheiro para construirmos estádios de futebol que “é disso que o meu povo gosta”.



Hoje os alunos começaram uma ficha de Estudo do Meio e acabaram o turno da manhã com outra sobre as novas palavras e um exercício em que praticaram a decomposição dos vocábulos nas sílabas componentes. À tarde houve ficha para o livro dinâmico complementada pelo trabalho para casa, em que eu lhe ditei um texto que ela grafou sem erros.



Bem e no que me resta da noite, vou entregar-me à leitura.

Alhos Vedros
01/06/20
Luís F. de A. Gomes

2007-09-08


O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Fernando Gomes apresentou publicamente a sua candidatura à Câmara Municipal do Porto. No jantar de lançamento sentou-se tendo a seu lado, à direita Jorge Coelho e à esquerda Pinto da Costa.

A foto fez a manchete da capa do jornal “Público” desta manhã.



Já está em cena a saga da discussão da diminuição da despesa pública, o mesmo é dizer que já está pronto o cenário para que se justifiquem os inevitáveis cortes na saúde e na educação e em mais algumas coisinhas. Obras como o aeroporto da Ota ou o projecto do TGV serão postas em stand by. Aposto, no entanto que, para máxima vergonha, o Euro 2004 irá para a frente com o contribuinte a pagar estádios aos clubes de futebol. Para que assim venha a ser, veremos o Engenheiro Fernando Gomes na linha da frente. Experimentem os eleitores darem-lhe a cadeira da presidência da Câmara do Porto.



Hoje os alunos fizeram duas fichas de Matemática, durante a manhã e à tarde trabalharam exercícios a partir do livro que veio fazer de fonte para o trabalho de casa.



A Primavera prepara a despedida com uma canícula de Verão.

Alhos Vedros
01/06/19
Luís F. de A. Gomes

Mora

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A Margarida é muito engraçada. Acho piada ao entusiasmo com que ela antevê certos acontecimentos e como as expectativas de imediato se traduzem em verdadeiros planeamentos do evento que vão aos pormenores de prazeres retirados das eventuais brincadeiras.
Ainda esta tarde, a propósito do convite para uma festa de aniversário, no próximo Sábado, começou a prever os festejos futuros dos seus oito anos –será a dois de Fevereiro- e tratou logo de anunciar as convidadas, apenas meninas pois com a visita da madrinha, com o bebé, os rapazes, dada a sua maior propensão para o disparate –as palavras são minhas, é claro- serão de todo incompatíveis com um ambiente que, ainda que festivo, deverá respeitar o necessário repouso do lactente primo.

Mas vê-la com o seu ar sério que tão espontaneamente se enche de alegria, sob o efeito de uma ideia, é tão, tão, enternecedor.



Fernando Gomes anunciou a sua candidatura à Câmara do Porto. Justificou-se com uma resposta a um chamamento da cidade.
Seria bonito se perdesse.

Mas quem já perdeu foi a democracia, falo até do próprio regime político, sobretudo, no entanto, da sociedade e civilização democráticas –e disto só aos ingénuos podem restar algumas dúvidas.
Então não temos um candidato que é acusado em Tribunal de ter vendido terrenos para urbanizar, depois de os mesmos terem sido expropriados com a finalidade de se acrescentarem a um espaço público, se não erro, uma zona verde?
Com isto, de que tamanho é o precedente que se abre?
E nem é preciso lembrar que foi ele o Ministro que achou uma violenta invasão de um recinto desportivo como uma coisa normal. Ou outras gracinhas do género e de igual calibre.
A primeira pergunta é suficiente para fazer explodir as barreiras do vale tudo.


O curioso é como certa inteligêntzia que tanto se chocou com a vitória de Berlusconi, em Itália, não veja aqui as arrepiantes similitudes.



Em conformidade, o Presidente da República andou aí a pregar, não se percebe muito bem o quê, mas parece que também não é para perceber. Em tempos de crise é importante que ele apareça, faz sentir às populações que há sempre quem zele por elas, o que em Portugal traz dividendos.
E assim lá palmilhou a nossa primeira figura as terras do Minho, onde elogiou o tal presidente camarário deputado do célebre caso do queijo Coerentemente, sob o eufemismo da descentralização, veio dar um forte contributo para a recuperação da regionalização, inequivocamente rejeitada em referendo ainda não há três anos.



Hoje a Margarida fez os exercícios da última quarta-feira, dia em que faltou e só depois passou aos do dia, a propósito da nova palavra, bandeira.
Lá voltaram os trabalhos para casa.


Mas a Professora tinha razão quando disse não haver qualquer problema com um dia de ausência. Na medida em que tem aprendido, rapidamente recuperaria a matéria dada. E assim aconteceu.



Eu é que paguei em trabalho os dias de descanso.

Em contrapartida, a alma está leve.

Alhos Vedros
01/06/18
Luís F. de A. Gomes

2007-09-03


... ao Fluviário de Mora.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

MY STRANGE FRIENDS
Hoje, os alunos aprenderam a palavra bandeira.



E durante a tarde eu procurei uma torneira.



Mas a bica nocturna tem que contar.

Aceitando o convite, sentei-me à mesa com o Leonel Coelho que de imediato e cheio de entusiasmo juvenil tão bonito de se ver, me contou da experiência que teve, na escola da Margarida, com alunos da terceira classe a quem deu uma lição de como fazer uma horta agrícola. E descreveu-me o interesse dos miúdos em verem como se faz para que uma semente dê feijão ou couves e como lhes explicou o amanho da terra e o reconhecimento de como depois da rega, o calor do Sol e os alimentos que estão no solo fazem com que de um grãs nasça um dedinho que sai para o ar da superfície e cresce e se multiplica até constituir uma planta completa que nos dará alimentos. E é claro que aproveitou para falar de quem manejou a enxada e da divisão da terra e de como os grandes senhores se aproveitaram –em parte, também eles seus geradores- da pobreza da maioria.
Mas foi um dia inesquecível e para o Leonel mais um cumprir das suas ideias de contribuir para uma revolução social.


Nele eu gosto da coerência das atitudes que retratam a escolha de um caminho para a vida.
Mesmo não concordando com as suas ideias políticas, ainda que ache naquelas uma visão totalitária da vida, o homem propõe uma sociedade conduzida por uma vanguarda esclarecida com o objectivo de uma forma, alegadamente superior, de organização das relações sociais, apesar de tudo isso permanece o comportamento de alguém que sempre juntou a palavra aos actos, não ao acaso, mas subordinando deliberadamente estes àquelas.
É que ele acredita que o povo deve esclarecer-se para que possa intervir politicamente e aceder ao poder e fez da sua vida de adulto uma permanência de actividades que vão da animação cultural e desportiva, à intervenção cívica das mais variadas formas e por vários meios, sempre disponível para remar contra a maré e mesmo que o próprio não dê por isso, invariavelmente embriagado de esperança que se traduz na paciente persistente paciência de um pescador.
A verdade é que aos setenta anos ele ainda se indigna nos jornais, tanto quanto se encantou com uma aula de agricultura.

E é verdade o que ele diz que há muitos homens, como ele, cheios de coisas para contar aos meninos que andam nas escola.


O Leonel foi militante comunista clandestino o que lhe valeu a hospitalidade da PIDE, mas veio a romper por discordância com a via proposta por Álvaro Cunhal para derrubar o regime salazarista, a revolução democrática e nacional a que ele opunha a radicalização das manifestações de luta das classes populares. Obviamente apoiou as teses chinesas no diferendo em torno da crítica ao passado estalinista da União Soviética e acabou por se juntar aos fundadores do MRPP de que, a partir de então, não mais deixou de ser um membro activo e do qual já foi candidato à junta de freguesia da terra e ao executivo da câmara.

Desde miúdo que o conheço, aí desde os meus doze treze anos, quando comecei a frequentar uma colectividade onde os jovens como eu tinham a oportunidade de se encontrarem e conviverem na mais natural das liberdades. Lembremo-nos que estamos a falar de um tempo em que as raparigas não eram bem vistas nos cafés. Nunca anui com a sua perspectiva de fundo, mas logo desde o início lhe admirei o respeito que a sua voz merece e se sempre o escutei, mesmo tantas vezes fazendo orelhas moucas, nunca deixei de lhe apreciar a conduta, a exemplo da escolha de um homem livre.


Com ele aprendi que mais importante do que concorrer com alguém é o sermos capazes de nos ultrapassarmos –salvo seja a expressão- à medida que os dias se sucedem.



A Matilde fez hoje um passeio a Santarém.
Sabe dizer que esteve num jardim e que andou a ver tapetes e casacos –provavelmente referindo-se à feira agrícola. E gostou. Quando a mãe lhe perguntou se os meninos se tinham portado bem, se não tinha havido agitação, respondeu que tinham havido algumas coisas.
De estafada que estava, dormiu mal caiu à cama.



Novamente o caso da Universidade Moderna e a detenção dos filhos do ex-Reitor, o Professor José Júlio Gonçalves.


Não sei porquê mas cheira-me a lâmina para refrear veleidades de outrem, no plural e bem largo.
Atenção, pois.



Amanhã vamos para Salema.
Três dias de repouso e dois de ida e volta. Nestas ocasiões as estradas portuguesas não nos permitem vadiar; as viagens são passeios sempre ao jeito de apressados, mesmo quando em marcha lenta.



Vamos fumar um cigarro na varanda ao som de Miles Davies.

Alhos Vedros
01/06/12
Luís F. de A. Gomes

2007-09-02


... uma visita...

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A PRAIRE

This is a praire because of a man who killed more than a thousand of innocent people, like he said he did, a murder or a monster, it doesn’t mater, depends of our hunger and hate, but a man, just like you end me, also a sun of Him, someone sentenced to dead by men’s justice that stopped his life, today.


Oh God all mighty, Lord of the universe
Who created us by your mysteries
just to share Your eternity with us
Dear Lord all mighty
that give us the infinite dignity
and the light of freedom
to choose the good or the evil way.
God oh God all mighty
forgive us the madness and the sins
of small poor human been
that still don’t know how to warm You
and live a life in peace
here at the Hearth, our home and gift
under your sweet shadow, so fresh and tender
Where we can be free to decide
the colours we like to our days.

Oh God, good God all mighty
forgive us the arrogance
that make us use the power we get
not to look for You
look for You on the faces of our hungry and poverty
but to destroy ourselves, our brother’s and sister’s
to denies Your infinite wisdom and goodness.

Oh God good God all mighty
forgive us, in so many things we still don’t know
what we are doing
and give us all the chances we need to find You.

For those of us that stand’s on ignorance
that You is there, Shining, when the time’s over.



Hoje o mundo fez da morte de um homem um espectáculo mediático.
E eu não quero escrever mais nada.



Os alunos aprenderam os números dezoito, dezanove e vinte, sobre o que realizaram diversos exercícios e fichas.
Não houve trabalho para casa.

Alhos Vedros
01/06/11
Luís F. de A. Gomes

2007-09-01


Não perca pois....

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Fim-de-semana repousante, com cesta e tudo.

Para as miúdas, naturalmente, a brincadeira.
E a febre da Matilde, ainda que tenha persistido ontem e esta manhã, tudo indica que por ora está debelada.


Agora a família dorme em paz; amanhã, uma nova semana começará ainda que desta vez, em termos de trabalho, seja curta.



No país, as receitas previstas do IRC têm um deficit de quarenta e sete milhões de contos.
Como já não é possível esconder o descalabro, o Governo irá apresentar um orçamento suplementar rectificativo relativamente àquele que fez aprovar para o corrente ano.
Fala-se em contenção da despesa pública e o bode expiatório é, desde logo, a saúde.

Mas os sinais da economia são alarmantes. O endividamento externo do país, inclusive ao nível da banca privada, acendeu a luz vermelha. E o pior é o facto de sabermos a grande quota de responsabilidade que o consumo tem no bolo. Com um estado despesista e esbanjador, não há exemplo para os particulares. Tudo isto quando a economia portuguesa perde competitividade nos mercados mundiais.
E quais são os grandes projectos do país? Para além de Alqueva e do aeroporto da Ota, o Euro 2004.
Assim iremos longe, certamente directos ao precipício.



Em Timor extinguiu-se o Conselho Nacional da Resistência o que só pode ser considerado um pequeno passo para uma sociedade normal.
Falta agora que os timorenses, lenta mas paulatinamente, venham a aprender a viver numa sociedade aberta e que consigam edificar um regime democrático e apreendam como em ele se podem movimentar.

Oxalá daqui a muitos anos, possamos dizer que o caminho percorrido, por mui difícil que o venha a ser, os levou a bom porto.



De Israel chega-nos um ténue sinal de esperança.
O pai de um jovem palestiniano, assassinado pelos colonos israelitas, doou os órgãos do filho para salvar a vida de judeus. Disse tratar-se de um gesto humano, sem conotações políticas. (1)

Deus abençoe esse homem.

__________
(1) sob responsabilidade da redacção, p. 19
CORAÇÃO ÁRABE NUM PEITO ISRAELITA

Alhos Vedros
01/06/10
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

sob responsabilidade da redacção- CORAÇÃO ÁRABE NUM PEITO ISRAELITA
In “Público”, nº. 4098, de 01/06/08