2007-06-30



Sinagoga, pormenor. O centro da pequena comunidade judaica que resta, em Bratislava.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

As revoluções são mesmo assim. Começam por misturar os generosos, aqueles que estão empenhados na transformação das sociedades, com os oportunistas que sempre surgem para beneficiarem das novas distribuições de possibilidades. À medida que as situações ganham rotinas e se instalam os novos modos de vida, os primeiros costumam passar à história, umas vezes na qualidade de mártires, outras na de heróis, enquanto os outros ganham posição, fomentando então o aparecimento de uma terceira categoria que lhes protege o mando, os aparatchicks, precisamente aqueles que permanecem quando a lei da vida leva deste mundo todos aqueles que interpretam as horas revolucionárias.
Terá sido isso que se verificou ao nível do poder local, neste concelho da Moita, onde, desde as primeiras eleições livres, os comunistas sempre venceram com maioria absoluta.

Vem isto a propósito das comemorações de mais um aniversário do vinte e cinco de Abril que, em Alhos Vedros, tiveram o condão de se parecerem mais com as de uma efeméride sem importância nenhuma. Hoje, então, para além da morteirada que nos fez saltar na cama logo às oito da manhã e de torneios de chinquilho e malha ao longo desse período, restou uma tarde folga sem qualquer atractivo. E ontem à noite, por iniciativa da Junta de Freguesia, lá tivemos, no auditório da Velhinha, um daqueles cantores de bar, com um acompanhamento de música pré-gravado e a desfaçatez de entreter a mão cheia de público com anedotas de mau gosto, em que não faltaram as piadas aos alentejanos, aos gays e aos pretos. Curiosamente, os autarcas e os seus acólitos e familiares aplaudiram.

Enfim, é este o respeito que a liberdade lhes merece.


Uma vez que a Margarida tinha feito questão em assistir ao espectáculo, só tenho pena que as minhas queridas filhas tenham que crescer aturando atoardas destas.


Mas nem tudo se perdeu na noite de ontem.
Antes estivemos no atelier do Luís Guerreiro, para aí assistirmos à inauguração de uma exposição de banda desenhada em azulejo de sua autoria.
Embora pequeno, o espaço é agradável e a mostra dos trabalhos, a que se juntou um poema (1) da jovem Helena de Sousa Freitas e imagens da revolução em computador, estava ordenada com o bom gosto que faz bonitas as coisas simples.

É claro que todos agradecemos ao Luís um momento tão encantador que eu não tenho dúvidas em reputar como os nossos verdadeiros festejos da revolução dos cravos.



É importante comemorar Abril?
Claro que é, trata-se de uma data que marca o fim de uma tirania que é sempre a negação da nossa condição de humanos.
Por muito que os bem pensantes falem em contrário, as democracias são sempre os melhores dos mundos. Evidentemente que se desenvolvem em sociedades maculadas em que, tantas vezes, a miséria atira tanta gente para o limbo da humanidade. Mas são os únicos regimes que deixam em aberto as janelas por onde os homens podem fazer valer para si a dignidade que Deus nos deu.

Infelizmente, hoje em dia está graçando entre nós a falta de liberdade de informação que é um dos exercícios de controlo que podem manter de pé as instituições democráticas. Mas isso são contas de outro rosário.
Seja como for, foi a revolução de Abril que nos permitiu rumar à democracia e, nessa dimensão, trata-se de uma data sagrada que bem merecia o significado do nosso dia nacional.
Só o indivíduo abjecto que séculos de inquisição e, mais recentemente, o salazarismo nos deixaram bem fundo na alma, só isso nos impede de compreendermos aquela simbologia.



Ontem, o dia escolar foi dedicado a exercícios em torno da aprendizagem de uma nova palavra, desta feita galinha, a respeito da qual versou o trabalho para casa.
Na parte final da aula, a Professora falou aos alunos do significado do vinte e cinco de Abril e, a propósito, do que foi a noite fascista que nos agrilhoou o ser.



George Bush ameaçou a Republica Popular da China com a promessa que os Estados Unidos sairiam militarmente em defesa de Tawian.



A Margarida, ao fim da tarde, foi passear com o Zé e a Isabel, um casal amigo em casa de quem já jantou e com quem a Matilde viu o filme “Grinch”.

Ao fim da tarde eu fui buscá-la e a propósito de visitar a biblioteca do Zé e de aí ter reparado num tratado de Anthony Giddens, estive à conversa sobre racismo e as consequências perniciosas do relativismo cultural.



Por sua vez, a Matilde, esteve de passeio com o seu amigo André e a mãe dele.



E agora os anjinhos dormem.


Amanhã, eu e a mãe vamos a Évora.
Depois eu conto porquê.

__________
(1) Sousa Freitas, Helena de, pp. 51/52
O CRAVO
In “(DE)CORRENTE”

Alhos Vedros
01/04/25
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÃO BILBIOGRÁFICA

Sousa Freitas, Helena de- (DE)CORRENTE
Prefácio de Ângelo Rodrigues
Editorial Minerva, Lisboa, 1999

2007-06-29



Pormenor da praça principal que, para o turista, está identificada como a "main squaire".

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Depois de um dia de trabalho esgotante, é bom saber que a associação de pais ganhou um pouco mais de cimento.
A assembleia geral para a aprovação dos estatutos foi muito bem sucedida, não só pelo facto de o projecto que apresentámos ter sido aprovado por unanimidade, tal como aconteceu com a quota e o respectivo valor o que, em minha opinião, seria de esperar, sobretudo pelo número de presentes ter aumentado relativamente à assembleia eleitoral e de o empenho que transpareceu entre os presentes não ter deixado margem para dúvidas.
Ainda bem que assim foi. Se as vontades se mantiverem, estou convencido que o próximo ano lectivo será marcado por realizações interessantes.

E então eu direi que valeu a pena todo o trabalho que tenhamos tido.



Hoje de manhã os alunos realizaram uma ficha de Matemática e depois fizeram um ditado.
À tarde, a propósito de um exercício do livro do meio, estiveram a trabalhar com uma planta de uma escola, identificando a sua relação com a realidade representada.
Lá voltou o trabalho de casa.



Ai que belo que é o romance do Mestre Llosa.
Pena que a tradução seja francamente medíocre e a revisão seja má ao ponto de deixar passar erros de ortografia –até mussulmanos, estão a ver?- de que o mais vulgar são os pontos finais a seguir ao travessão de frases intercaladas.



E agora vou fumar um cigarro recapitulador, na varanda, esperando que o frio no rosto não me retire o sono que me faz sentir vontade de ir para a cama.

Alhos Vedros
01/04/23
Luís F. de A. Gomes

2007-06-24



E seguindo em autocarro que embora velho, faz parte de uma rede de transportes que serve eficientemente a cidade.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

UM FIM-DE-SEMANA REPOUSANTE

Só agora me dou conta de quão fatigante foi o último fim-de-semana e os dias de trabalho que, sem espaço para o repouso, se lhe seguiram.

Esta tarde, após o almoço, estendi-me um pouco no sofá e acabei por fazer uma sesta de duas horas.

Mas agora estou reconstituído e após o passeio que fiz com a Margarida pelo parque da cidade, no Barreiro, enquanto a Matilde fazia a sua soneca, não são só os músculos que readquiriram a compostura de repousados, é também o espírito que ficou livre da vontade de cerrar as pálpebras.

Amanhã voltarei ao trabalho em plena forma.


Curiosamente, senti que as piscinas que não fiz, por ocasião da Páscoa, me fizeram imensa falta.



Como diz o povo, não há fome que não dê em fartura.

Se no último artigo da minha mais recente compilação de textos me lamentava de há muito ter apenas a companhia de Vargas Llosa em artigos saídos no “Diário de Notícias”, nestes dias não só tive o prazer de o reencontrar em toda a sua pujança em mais um romance, como ainda me deparei com o brinde suplementar de uma entrevista sobre esse mesmo trabalho e a sua actividade literária em geral que fez a delícia da manhã deste Sábado.
Sábias as palavras do Mestre que mais uma vez me fazem ganhar consciência do quanto lhe devo como escritor a ponto de não ter qualquer dúvida em me ver como seu discípulo. Com efeito, não só partilho do essencial das suas ideias, como estas, por outro lado, igualmente concorrem para que eu possa justificar boa parte –se não a globalidade- da minha obra, muito especialmente no que diz respeito ao projecto Sebastião Sorumenho. É o que posso concluir quando ele diz acreditar que “(…) a literatura não é gratuita, que não é mero entretenimento (…)”, para acrescentar que ele “(…) desperta em nós uma atitude crítica em relação ao mundo. (…)” (1) Pois é esse o pressuposto das produções que o meu parco talento me consentiu realizar sobre aquele pseudónimo, assim como de todo o meu restante labor ficcional em que é sempre possível encontrar perguntas que ns levem a reflectir nos mais variados aspectos da nossa condição de humanos.

É tão bom quando nos sentimos em tão inteligente companhia.


E depois são as suas preferências que também são as minhas e as suas preocupações que novamente se repetem entre aquelas que mais me têm atormentado.


Vou recortar e guardar a conversa em causa.



O Irão incita o Hezbolah a lutar contra Israel e no Canadá, uma reunião internacional que visa criar uma zona de comércio livre no continente americano acabou sob a violência de manifestações de rua daqueles que se opõem à aproximação que as trocas pacíficas sempre provocam entre os povos. Quebeque, a cidade da cimeira, está em estado de sítio e já foram detidas dezenas de pessoas.
Por sua vez, no Montenegro, ainda que sem maioria, o partido do presidente sessionista ganhou as eleições.

São as chuvas de chumbo que continuam a cair sobre a paz e a harmonia no mundo.



A Matilde já conhece os números e identifica os respectivos símbolos até cinco, o mesmo acontecendo com as leras a e o.



Eu sou um homem tão feliz.

__________
(1) Vargas Llosa, Mário, p. 17
ENTREVISTA A CARLOS VAZ MARQUES

Alhos Vedros
01/04/20
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Vargas Llosa, Mário- ENTREVISTA A CARLOS VAZ MARQUES
In DNA, nº. 229, de 01/04/21
Diário de Notícias de 01/04/21

2007-06-23


E assim deixando o castelo.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

ELES NÃO SABEM QUE O SONHO

Cá está mais uma manifestação do homo maniatábilis.
Luís Filipe Menezes, lui méme, um dos que prestam vassalagem a Pinto da Costa, já começou a minar a candidatura do PSD à Câmara Municipal do Porto, não vá o diabo tecê-las e Fernando Gomes venha a perder a disputa eleitoral para Rui Rio o que, provavelmente, deixaria aquelas singulares personagens em estado de susto.

Só a talho de foice, lembremo-nos que o ex-Ministro da Administração Interna e dos Desportos –combinação que só num país como o nosso faz sentido- acabou de perder um caso em Tribunal relativamente a expropriações de terrenos para o Parque da Cidade, no Porto, que posteriormente teriam sido colocados à venda para serem urbanizados, notícia esta que surgiu no “Público” do passado Sábado em pequena e despercebida nota, como convém, é claro.

Mas como eu estava a dizer, Menezes, o Dr. Menezes da acusação de sulista, elitista e liberal a Pacheco Pereira –lembram-se?- num congresso do PSD nos tempos da liderança do Professor Marcelo Rebelo de Sousa, Menezes lá veio a terreiro com acusações a Durão Barroso, a quem considerou como um “líder frouxo” (sic), furtando-o a quaisqueres méritos pela subida do partido nas sondagens.
É esta a massa de gente que mais fala do Porto como uma capital regional e que tantas provas de eficácia já deram como nos casos do metro daquela área metropolitana ou da capital europeia da cultura numa cidade em buracos.

Logicamente que aquilo que se pretende é preparar a derrota de Rui Rio, criando, desde já, as condições para atribuir à liderança nacional e ao candidato por ela proposta a responsabilidade pela vitória do homem que, entre outras gracinhas, tem a medalha de ter propiciado negócios como os da torre das antas.

E é por estas e por outras que este é um país de…

Bem, chega de desabafos.



E logo depois do serão desta noite.

A família foi à biblioteca da Moita para assistir a um sarau de poesia e canto com Manuel Freire e Vasco Pereira da Costa.
Nada de especial, é certo, mas é sempre agradável ouvir palavras que nos tocam o coração e fazem pensar.

E como é bonito verificar que passados todos estes anos e da barba ter ganho a cor da neve, a voz do cantor continua tão cristalina como quando na idade dos meus calções lhe escutava as palavras de Gedeão que o meu pai gravara para se deleitar nas suas horas de ócio.



Hoje foi um dia ligeiro com desenhos a propósito da Páscoa.



A Rússia manifesta-se contrária a uma eventual independência do Montenegro.

Deixada só, a Sérvia, caso aí a democracia não vingue e se enraíze, não terá nada de bom para o equilíbrio geo-político daquela região do Sul da Europa.



E lá foi mais uma missão para a estação espacial europeia, desta vez com o objectivo de aí montar um braço robot que será fundamental para a construção daquela casa extra-planetária.



Pois eu, pela minha parte, vou agora voltar ao meu Mestre Vargas Llosa.

“A Festa do Chibo”, mais um romance magnífico que nos faz pensar na miséria, sobretudo moral, a que a tirania condena os povos sobre os quais se abate.

Pessoalmente, nada sabia sobre a ditadura do famigerado Trujillo, na República Dominicana. Mas depois desta leitura, fico com a sensação de estar perante um canalha da massa de um José Estaline, por exemplo, já que este livro me traz à memória o episódio do dentista que só por ter tratado bem o tirano se viu remetido para o castigo (1).

Malhas que o totalitarismo tece.



E eu peço a Deus que as minhas filhas nunca tenham que passar pela humilhação de viverem em tal tipo de sociedades.

__________
(1) Ribakov, Anatoli, pp. 509 e ss
OS FILHOS DA RUA ARBAT

Alhos Vedros
01/04/20
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

Vargas Llosa, Mário- A FESTA DO CHIBO
Tradução de Miguel Sousa Pereira
Publicações D. Quixote (1ª. Edição), Lisboa, 2001
Ribakov, Anatoli- OS FILHOS DA RUA ARBAT
Apresentação do Tradutor
Tradução de Paulo Bezerra
Círculo de Leitores, Lisboa,1990


O esforço do comércio de um turismo que começa a despontar.

EXPOSIÇÃO DE PINTURA DE LUÍS DELGADO

FORUM CULTURAL JOSÉ FIGEUIREDO
BAIXA DA BANHEIRA
EXPOSIÇÃO DE PINTURA - LUÍS DELGADO

A todos os Sócios e Amigos da CACAV, informamos que no espaço de exposições do Forum Cultural José Figueiredo, vai inaugurar uma Exposição de Pintura (Individual), do nosso amigo Luís Delgado.
No próximo dia 23 de Junho, pelas 21 horas, vamos lá estar para o felicitar com um forte abraço.

A Direcção da CACAV

2007-06-21



Mais uma vista sobre o Danúbio, desta vez na direcção de Viena.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Acabei de chegar da reunião da Associação de Pais.
Preparámos a assembleia-geral para a aprovação dos estatutos que decorrerá na noite da próxima segunda-feira e aprovámos a proposta para o boletim que o Verdasca apresentou. Além disto distribuímos algumas tarefas no sentido da organização da entidade em causa.
Pessoalmente, fiquei encarregue de escrever uma pequena reflexão sobre a escola e a sociedade, para sair no primeiro boletim que contamos publicar no fim do mês de Maio e ainda assumi a incumbência de organizar os arquivos da correspondência e da legislação.

Tudo indica que estamos a levar este barco a bom porto.



E neste primeiro dia de aulas, o turno da manhã foi dedicado à recapitulação do que foram as férias dos alunos, a propósito do que lhes foi solicitado a execução de um desenho alusivo. À tarde houve cópia sobre as derivações da nova palavra, a chave, exercício que se repetiu no trabalho de casa.



O Irão bombardeou campos de oposicionistas ao regime sedeados em território iraquiano.


Paira no horizonte um prenúncio de catástrofe.

Alhos Vedros
01/04/19
Luís F. de A. Gomes


No interior do castelo.

2007-06-20

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

3º. Volume
AS MINHAS PRIMEIRAS FÉRIAS GRANDES
A FOLGA DO PRIMEIRO DIA



Para a
Margarida


Afinal o terceiro período começou com uma folga inesperada, mas um corte no abastecimento de água durante todo o dia forçou a direcção da escola a encerrar as portas. Desta forma, o início ficou adiado para amanhã.



E a Margarida aproveitou para mais um dia de brincadeira.



Depois de escutar as explicações que a Ministra da Saúde apresentou aos deputados, esta manhã, o Primeiro-Ministro abandonou a câmara e deixou que a interpelação prosseguisse sem a sua presença.
Com isso, mostrou o respeito que tem pela principal sede do poder democrático.



Pela minha parte, aproveitei o regresso das sessões de ginástica para abrir o último romance de Vargas Llosa.

Dele falarei noutro dia.



No Médio Oriente estamos no preâmbulo de mais uma guerra israelo-árabe.
Para já, o conflito está em crescendo entre os palestinianos e os israelitas, mas depois dos bombardeamentos que estes últimos efectuaram sobre posições sírias, no Líbano, é de esperar que os beligerantes se multipliquem e não me admiraria que Israel viesse a ser atacado por uma coligação de forças terroristas e exércitos regulares de algumas das tiranias mais ou menos vizinhas. Não estou a pensar numa reedição da guerra os seis dias mas sim no uso de mísseis e da devastação que poderiam provocar através de ogivas carregadas de armas químicas.

Deus nos livre de uma tal possibilidade.


No próximo mês de Maio tenho uma viagem prevista à Turquia.
É certo que os turcos não são árabes e que as suas elites, há muito militarmente enquadradas na NATO, manifestam-se favoráveis a uma interligação na União Europeia. Mas o povo é maioritariamente muçulmano e eu não gostaria de visitar Istambul num contexto beligerante contra os judeus.

Há dez anos atrás, quando fiz uma viagem pelo interior berbere do Alto Atlas, em Marrocos, bem vi os simples olhando-nos com o desprezo de quem tratou Saddam Hussein como um herói.



A Terra é um planeta tão bonito.

Alhos Vedros
01/04/18
Luís F. de A. Gomes

2007-06-19



Para além das duas pontes sobre o Danúbio, ao longe, na outra margem, avistam-se os tudos de escape da área industrial de Brastislava, onde há importante indústria química.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Ontem acabei “O Périplo de Baldassare”.
Como sempre, o encanto da pena de Maalouf a fazer-nos ver que a harmonia entre os homens é um caminho lento e sinuoso e tão imponderável.



E amanhã a Margarida entrará no terceiro e último período do seu primeiro ano escolar.



As amplitudes térmicas de Abril trazem as noites frias, mas a Primavera grita, em múltiplas cores, por onde quer que a mão humana tenha deixado a terra sob o signo dos seus impulsos naturais.

Alhos Vedros
01/04/17
Luís F. de A. Gomes

2007-06-18



Vista do Castelo sobre o Danúbio, ainda hoje uma estrada para o transporte de mercadorias.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

As autoridades do Benin pediram auxílio internacional para que se localize um navio em que supostamente estão em trânsito duzentas e cinquenta crianças que terão sido vendidas, pelos respectivos pais, como escravas.

Pior é a suspeita que o capitão do barco, para apagar as provas, possa ter atirado os infelizes à água.

Que mundo tão estranho aquele em que vivemos, onde a desgraça obriga humanos a condenarem os seus mais próximos à pior das submissões que se pode imaginar para alguém. E logo o futuro, meu Deus, como se a certeza no amanhã nada tivesse para além da morte.


Não será este mais um dos sinais da nova idade das trevas que se anuncia sob tantas formas?



Alheias a este infortúnio estão as minhas queridas filhas que crescem no afago companheiro de quem lhes quer bem.


A Matilde, à semelhança do que aconteceu na semana passada com a irmã, passou o dia com a mãe, no local de trabalho.

E voltou cheia de novidades e das aplicações da prenda pecuniária que a madrinha, a mãe da Luísa, lhe ofereceu.


Por sua vez, a mais velha passou o dia em casa dos avós paternos.

Não é que ela fez um livrinho de jogos, em folhas A4, com problemas que ela própria inventou?
É impressionante como esta criança é capaz de aplicar os conhecimentos que vai adquirindo na escola.

Deus seja louvado.

E permanece mergulhada no espanto das primeiras letras.
Já nos habituámos a que ela nos pergunte como se escreve esta e aquela palavra, ainda que seja mais verdadeiro dizer que ela procura confirmar se o modo como acha que se faz a grafação está certo ou não. E geralmente é isso que acontece.
Mas hoje, tem chegado ao ponto de repetir certas expressões que ouve, traduzindo-as logo pelos símbolos das respectivas leituras.

“-Acho. A, c, agá, o. Está certo, não está mãe?”



Os chineses libertaram os pilotos norte-americanos.
Estou convencido que outro desfecho não seria de esperar, mas pode dizer-se que a nova administração, em Washington, se saiu bem deste imbróglio.
No entanto, as relações entre os dois países ficaram mais tensas e no império do meio cresce a consciência de que a China é uma potência indispensável ao equilíbrio geo-político mundial.



E agora vou voltar para o desenlace do périplo de Baldassare.

Alhos Vedros
01/04/16
Luís F. de A. Gomes

2007-06-17



E um pormenor.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A IDA E A VOLTA

E pronto, lá fomos passar a Páscoa ao Porto, na casa dos meus sogros, ode, graças a Deus, todos estão bem.


As viagens é que foram cansativas com a contrariedade de, no regresso, termos assistido à infeliz ocasião de um acidente aparatoso mas sem outras consequências que as materiais, ainda que uma menina tenha saído do veículo numa gritaria que raiava o estado de choque. Pela nossa parte, contactámos os serviços de emergência e pedimos o auxílio necessário. O amparo humano estava assegurado por outros automobilistas e nós retomamos o caminho.


E agora gozamos as bem aventuranças do lar.



O Governo comunicou medidas para combater a morte nas estradas que, no nosso país, bate recordes europeus.
Propôs-se a diminuição dos níveis de alcoolémia admitidos –zero vírgula dois para os homens e nada para as mulheres- bem como o agravamento das penas correspondentes, além da desconcertante interdição à renovação da carta e inspecção dos automóveis por parte de quem tenha coimas por liquidar.
Veremos se tudo não ficará na mesma.

Quanto a mim, continuo a pensar que um factor que muito poderia contribuir para aquele desiderato, seria a vergonha que se passa no seguro automóvel, em que tanto paga o que bate como o cauteloso que passa anos a fio ileso e o infractor sabe que há sempre uma companhia disponível para lhe aceitar um contrato sem os agravamentos previstos na lei. Quer dizer, quem tem acidentes sempre tem a oportunidade de anular atempadamente a apólice cujo preço, compreensivelmente seria agravado e contratar uma nova como se nada tivesse passado e fosse a primeira vez que se propunha assumir o papel de segurado.
Pois eu acho que isto conflui para que as pessoas não reforcem os cuidados uma vez que não sofrem qualquer castigo na sua bolsa.
Ao Instituto de Seguros competiria centralizar os dados do universo em causa e só seria possível contratar um novo seguro mediante a apresentação da declaração de compra e venda ou da carta de tarifação do contrato anterior.
Às seguradoras competiria cumprir essa disposição e o estado poderia incentivá-las a que estabelecessem bons sistemas de bónus malus –diminuição progressiva do valor do prémio a pagar mediante a ausência anual de acidentes- que premiaria, justamente, aqueles condutores que passassem mais tempo sem causarem despesas às empresas.
Além disso, teria que haver um registo nacional das cartas onde se contabilizariam os acidentes que os condutores tivessem, para que o agravamento recaísse sobre o condutor imprevidente e apenas sobre ele. Fugas do género de pais fazendo o seguro em nome próprio para aliviarem as despesas de filhos desastrados, em caso de reincidência, seriam penalizadas com cobranças retroactivas dos agravamentos subtraídos.
Sem imposições excessivas nem insensatas, estou convencido que assim se criariam condições para que, com o tempo e medidas complementares de carácter pedagógico, se pudesse instalar uma cultura de civismo nas rodovias cujo resultado fosse, precisamente, a redução do número de desastres com particular destaque para aqueles que têm desenlaces fatais.

Será que há interesse nisto?
Com o actual estado de coisas só não consigo perceber porquê.



A Margarida continua a dar largas à liberdade que a pausa escolar lhe dá.
Foi jantar os dois dias com a madrinha, a tia Fátima, em casa de quem dormiu a primeira noite. E sem contar com as passeatas, tanto ela como a Matilde foram jogar mini-golfe na tarde de sexta-feira, com direito a lanche de gelados e tudo.


Ontem à noite, na companhia da Fátima e do Quim e da Irene, a sobrinha mais velha e afilhada da Luísa, filha do seu irmão António, o primogénito, lá foi toda a família para a Foz, junto ao Castelo do Queijo, com o intuito de presenciarmos a teatralização da queima do Judas.
Como se gastam milhares de contos nestas chachadas é que eu cá estou.
Não vimos nada que um grupo amador, com os mesmos meios, não fosse capaz de fazer. Quer no que diz respeito à encenação e representação, quer no domínio do texto, o dejá vu e o lugar comum tiveram ali fóruns de cidade.

Enfim, é o que se conseguindo para uma capital europeia da cultura que o parco turismo faz o jeito de nos não envergonhar.



Um tanto a reboque do chinfrin do Bloco de Esquerda, está na calha a discussão e aprovação da lei da liberdade religiosa em Portugal.
Pelos vistos não temos nada mais importante.
E eu pergunto se algo ou alguém sofre de descriminação religiosa neste país.
Pois para mim tudo isto é uma perda de tempo e mantenho a opinião que registei, em noventa e sete, no Diário do primeiro ano de vida da Matilde. Não me vou repetir aqui.
Só quero dizer que me parece, mais uma vez, a retórica vanguardista se presta para criar problemas desnecessários. E a verdade é que ninguém procura reflectir seriamente sobre a problemática religiosa.



Neste momento a Margarida está a ler uma história da Anita à irmã e eu sou um homem feliz.



Ah e estou quase a conhecer o final das aventuras de Baldassare.
Mais um hino à harmonia entre os homens, pela mundivisão de um genovês para quem são as pessoas que contam.

Alhos Vedros
01/04/15
Luís F. de A. Gomes

No interior do Castelo. Antigas portas de armas de utilizações mais recentes.

2007-06-16

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

O olho da Lua
sobre o telhado
brilhando, alaranjado

só para nos encantar
deste lado.


Panorama de uma das alas do Castelo que se debruça sobre a planície fronteira à cidade encavalitada no começo dos Pequenos Cárpatos.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A Margarida lá continua aproveitando as férias da melhor maneira possível.
Esta tarde esteve de visita, previamente combinada, em casa da minha prima Graça onde lanchou e jantou.
Trouxemo-la às dez e meia da noite directamente para o banho e a cama merecida de um dia em cheio.



E agora os anjinhos dormem, com a paz de Deus, neste lar feito de coisas doces.



Por sugestão da Matilde, a restante população familiar jantou no MacDonalds.



Depois da bica estive à conversa com o meu primo Tó Manel que encontrámos no café da Júlia onde tratámos do ritual pós gastronómico.

Lamento não ter encontrado ainda uma oportunidade para ver uma exposição que ele tem na galeria da Biblioteca Municipal do Barreiro.
Segundo o próprio, trata-se da mostra mais representativa da sua pintura, a mais séria e rigorosa que ele elaborou, numa palavra, a melhor do seu currículo.
Várias pessoas com quem me relaciono e que não o conhecem nem à nossa relação de parentesco já me tinham destacado a iniciativa e a beleza das imagens.

Mas não foi sobre isso que falámos. A propósito da combinação com a poesia de José Gomes Ferreira, divagámos sobre o poeta e aquilo que, na opinião deste meu primo, é o pessimismo que está implícito naquela poesia.



Como prenda de Páscoa, a Matilde ofereceu-me um pequeno pacote, elaborado na sua escolinha, com amêndoas doces.


“-Oh pai, conta-me uma história da Anita.”
E também esta carochinha conhece o nome de todos os livrinhos desta colecção, ligando, com facilidade, os nomes às ilustrações das capas.



Conversa com o Professor José Augusto França na TSF. Um tanto pedante, o ancião, ainda que um lídimo exemplar da cultura portuguesinha do século vinte.
A merecer destaque a referência a respeito da pequena fortuna que a pintura Maluda deixou para que, pelo menos nos próximos dez anos, anualmente se possa oferecer um prémio de cinco mil contos para jovens pintores.
Num país pobre como o nosso, é aquela uma atitude louvável que em boa parte define o carácter generoso de quem a tem.



Motins sociais em Cincinati, nos Estados Unidos da América. Tudo começou com o homicídio perpetrado por um polícia sobre um jovem negro, com dezanove anos.
Considerou-se a possibilidade de chamar a Guarda Nacional a intervir.

Mais uma dor de cabeça para a nova administração federal, caso a situação permaneça fora de controlo como parece ser, por ora, o caso.
Já não bastava o diferendo com a China...


Cá para mim estão-se a formar condições para uma agitação militarista e terrorista no mundo árabe; logicamente de cariz anti-israelita e anti-ocidental.
Oxalá não seja este um preâmbulo da Terceira Guerra Mundial

Deus tenha piedade de nós.

Alhos Vedros
01/04/12

2007-06-15



Fontes que dão de beber aos pássaros que nos embalam os ouvidos noprazer dos passos.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A DÚVIDA DA MARGARIDA

Pois bem, vamos lá então ver porque sou contra a eutanásia.

Quanto a mim a questão é simples e tem uma solução próxima daquela que eu escolho para o aborto, ainda que diferente da que reservo para o problema da pena de morte.
Se uso estes dois termos de comparação, não é porque esteja convencido da existência de relações implícitas entre estes temas, mas tão só pelo facto de me parecer que talvez isso contribua para, por um lado, uma exposição mais clara e ordenada das minhas ideias e, consequentemente, por outro lado, um melhor entendimento daquilo que pretendo dizer.
Começando pelo último dos temas referidos, a pena de morte, há uma razão concisa e precisa para que a rejeitemos, Trata-se da nossa condições de humanos, simples humanos, sujeitos ao erro, pelo que nunca estamos a salvo da possibilidade de condenarmos inocentes, falha irreversível que, na realidade, tem acontecido. Quer dizer que corremos o risco permanente de condenarmos e executarmos inocentes o que, para quem tome como um dado adquirido a infinita dignidade da condição humana, jamais pode ser um acto aceitável.
Quanto ao aborto, trata-se de interromper um processo que, em princípio, tende a dar origem a um outro semelhante. Na prática, temos uma rejeição apriorística de um mundo o que, de acordo com os pressupostos anteriores, volta a ser inaceitável.
Ora a eutanásia não está no domínio da possibilidade de erro, como a pena de morte e também não se enquadra numa recusa anterior à formação da humanidade, como no caso do aborto. É uma resposta a uma situação irremediável de sofrimento medicamente definido como insuportável. Seja como for, poder-se-à dizer que em todas as situações acontece um atentado à vida humana e, dessa forma, a não consideração da condição infinitamente digna que aquele, por natureza, tem. É este denominador comum que nos permite considerá-las num mesmo alinhamento.
Mas neste sentido, se a pena de morte estará sempre irremediavelmente chumbada, tal não sucede necessariamente com o aborto, possível de ser aceite sem que a dignidade da pessoa humana esteja definitivamente posta em causa. Já com a eutanásia o caso me parece, neste aspecto, um pouco mais complicado; não consigo entender como é que a sua materialização se possa fazer sem a violação desse princípio inegociável da infinita dignidade do Homem.

É neste ponto que eu sou contrário à ideia da eutanásia e se tivesse que a votar, por, qualquer motivo, estaria contra sem qualquer hesitação.

No entanto não estou tão certo quanto a saber se a questão não deverá ser colocada de outra forma.
Em primeiro lugar temos que admitir que a despenalização da prática da eutanásia, em situações rigorosamente definidas e controladas, não significa nem implica que aquela se torne obrigatória o que, desde logo, poria fim à discussão pela recusa liminar da ideia. Apenas se deixa de condenar criminalmente aqueles que ajudarem alguém a realizar uma vontade tão dolorosa.
Em segundo lugar, dificilmente poderemos refutar o argumento da manutenção da dignidade como justificação daquela escolha. Por outras palavras, um indivíduo pode chegar à convicção de que só a morte lhe poderá devolver o estigma em causa que as vicissitudes da vida lhe tenham eventualmente subtraído. Sublinhe-se que estamos a falar de um suicídio muito particular, cujo desejo se formula no âmbito de uma situação de total e completa perda da autonomia, concomitantemente a um processo de extrema e irremediavelmente crescente dor. Não é o caso de alguém, em condições de ser responsável, querer abdicar de estar vivo, desse jeito desbaratando e desrespeitando um dom que Deus lhe deu, o que faz com que o suicídio seja, à partida, uma hipótese excluída, razão pela qual não o usamos, anteriormente, como um outro factor de comparação.
Recordemos que a nossa rejeição se baseia na crença de sermos filhos de Deus.
Em conformidade, há espaço para a seguinte pergunta: teremos nós o direito de impor as nossas convicções religiosas a alguém? A resposta é negativa, pois de outra forma daríamos plausibilidade a todas as inquisições que já anoiteceram os espíritos dos homens.

Difícil seria então a minha postura se estivesse no lugar de um qualquer deputado holandês. É que em consciência, não me veria com capacidade para votar contra a proposta, sabendo que jamais a poderia subscrever, sequer contribuir, activamente, para aprová-la. Abster-me-ia. Deixaria que, se fosse essa a vontade da maioria, a medida passasse, mesmo que no meu desacordo considerasse errada a atitude em causa, quer pela parte do paciente quer pela do médico.

É o que se me afigura dizer sobre isto, contudo, reconhecer que não sei se estou ou não a deixar as portas abertas ao relativismo. Creio que não, mas, por enquanto, não estou plenamente seguro disso.


Talvez volte a reflectir nesta problemática.



Passam quarenta anos sobre a primeira vez que um ser humano viu a Terra a partir do espaço.
Yuri Gagarine, de seu nome, heróis soviético de um tempo que já não existe e herói da humanidade para todos os tempos.
Dele à estação espacial europeia vai uma distância tão grande como das galés romanas aos primeiro navios a vapor.

Andámos tanto em tão pouco tempo.


E não é curioso que eu seja já um homem da era espacial?


É que também faço parte do primeiro grupo de portugueses que cresceram com televisão em casa.



“-Pai, toque escreve-se com quê de leque (1) não é?”
“-Sim.”
“-Mas toca escreve-se com quê de cão.”
“-Sim. Mas vê lá se és capaz de perceber porque é que toca se escreve com quê de cão e toque com quê de leque.”
“-É por causa do som mais forte do toca?”
O silêncio de uma cabeça negante.
“-Então?”
Eu dei-lhe a pista da ligação entre as letras quê e e.
“-Ah! Já sei! É porque antes do e o quê tem que ser sempre o quê de leque, com o u, se não líamos tosse, não era?”
“-Pois.”
“-Se um menino escrevesse a frase, eu quero que ele toque no livro, mas se escrevesse com quê de cão, quando alguém fosse ler dizia, eu quero que ele tosse no livro.”

E o pai e a filha esboçaram de imediato um sorriso.



Volta à carga a incineração de resíduos industriais tóxicos. O Ministro José Sócrates diz que é para começar no próximo mês de Julho. Novamente a sociedade civil se manifesta em sentido contrário.
Quem tem razão? Provavelmente todos e ninguém; pessoalmente não sei decidir.
Mas aquilo que transparece é que não se encarou o assunto em profundidade. Afinal, tudo indica que se deveria ter optado pela solução de uma unidade criada especificamente para o efeito, logicamente com uma opção criteriosa pelo lugar mais apropriado.
Agora usar a cimenteira da Secil, na Arrábida, em pleno parque natural, para proceder à operação é que parece não lembrar ao diabo. E fazer o mesmo em Souselas, sem os devidos estudos sobre o impacto para a saúde das populações, mais nos aproxima dos decisores de um qualquer país pobre, onde não existam meios capazes de habilitarem à execução de uma tal análise prévia.
Caricatamente, o deputado Manuel Alegre, do partido do governo, fala em teimosia pessoal daquele membro do executivo.



Fecho os olhos com uma missa de Bach.
Lá fora, a infinitude cósmica.
Cá dentro, do peito, os inlimites da alma.

Alhos Vedros
01/04/11
Luís F. de A. Gomes

2007-06-14



Ou nos encantos de uma cidade que se organizou para que sejamos pedestres circunspectos na sua parte histórica, sempre com a companhia de variadas espécies de pássaros.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Agora as noites já têm a companhia do galanteio romântico das rãs.



Mas hoje é um dia triste, para mim, pois foi a enterrar o corpo do Ricardo Monteiro, um jovem de vinte e três anos que faleceu, na passada sexta-feira, no contexto de um acidente com uma mota.
Filho de um empresário nosso cliente, era já o braço direito do pai, dando assim os primeiros passos no ramo, no que, sem deixar de ser sensato e responsável, muito o ajudava a sua permanente boa disposição e alegria.
Pessoalmente, tive a sobredose de abalo por ele ter estado no nosso escritório da Baixa da Banheira um par de horas antes do fatídico momento e de lhe ter escutado a conversa com uma das funcionárias, pouco mais velha que ele, confidenciando-lhe a necessidade de concluir o décimo segundo ano para poder avançar um pouco mais nos estudos, dado o facto de sentir como importante para a sua actividade económica.

Deus guarde a sua alma.



Paradoxalmente esteve uma manhã tão agradável.



E nem de propósito, neste mesmo dia o parlamento holandês deverá, pela primeira vez no mundo, despenalizar a eutanásia.

Que estamos nós a fazer Deus meu?


Bem, devo reconhecer que nunca reflecti muito no assunto mas, para já, sou tentado a discordar da medida.
A vida é uma dádiva divina, é o que penso.
Pois como é que nós, simples mortais, poderemos atentar contra os Seus desígnios?



Afinal quem substituiu Xanana Gusmão acabou por ser Mário Carrascalão.

Quer-me parecer que Ramos Horta tem ambições mais elevadas.



E por hoje fico-me por aqui, é que neste lar reina o encanto de ajeitar os lençóis aos meus corações pequeninos antes de me deitar.
Doce é o beijinho que deixo na cabecinha de cada uma delas.
“-Até amanhã, piolhinho”
“-Até amanhã, pardalito.” –Enquanto os anjinho já dormem a sono solto, certamente felizes por sonharem com um reino de brincadeiras.

Eu sou tão feliz por as ter.

Alhos Vedros
01/04/10
Luís F. de A. Gomes


E o prazer de um passeio no repouso do entardecer.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

FÉRIAS DOCES FÉRIAS

A Margarida lá vai gozando as suas férias e não tenho dúvidas que o sabe fazer da melhor maneira.
Hoje pediu para que a mãe a levasse até ao seu local de trabalho e eu, ao regressar a casa, encontrei apenas a Matilde.

Mas é curioso como ela tem a responsabilidade de fazer os deveres e manter em dia o exercício da leitura das fichas do “Livro Dinâmico” e não deixa de ser engraçado de ver como no resto do tempo esquece a escola por completo.

Pois bem o merece.



As autoridades chinesas insistem em querer ouvir um pedido de desculpas dos norte-americanos, por causa do acidente que ocorreu entre um avião espião desta potência e um caça da aviação vermelha, em que, aparentemente, o piloto deste aparelho perdeu a vida, tendo a tripulação estrangeira sido recolhida e detida numa ponta da ilha de Hainão. Ainda que o choque, em pleno voo, tenha acontecido nos céus de águas internacionais, os chineses insistem em manter os americanos em cativeiro, não aceitando as justificações que o seu estado-maior se apressou a dar para o sucedido.
No congresso americano surgem as primeiras vozes exigindo sanções para a China Popular como forma de pressão para que os militares feitos prisioneiros possam ser devolvidos à terra natal.

Tenho para mim que a forma como a nova administração da Casa Branca irá resolver este problema será um bom indicador da política externa da super potência para os próximos anos.
Esperam-se as notícias dos próximos dias.



Mais uma vez fica claro que a justiça portuguesa mais nos faz parecer com as injustiças das sociedades autoritárias do que com os estados de direito a cujo conjunto deveríamos ter a honra de pertencer.
Mas enfim, não é este o reino do homo maniatábilis?
Como estranhar então que a maioria dos réus do processo FP 25 tenham sido pura e simplesmente absolvidos.

Não é que se pense que se possam fazer comparações com o que se passou com os envolvidos nos casos do ELP e do MDLP à época do processo revolucionário e da refrega do mesmo O argumento não colhe se atendermos ao facto de as Forças Populares terem sido fundadas em mil novecentos e oitenta, quando o regime democrático –chamemos-lhe assim- dava mostras de estar em plena consolidação. Mas acho que se devia ter encontrado uma solução política que, sem deixar de castigar os crimes, resolvesse o caso por via de uma amnistia que pacificasse uma sociedade que devia estar mais preocupada com o desenvolvimento harmonioso que a oportunidade de pertencermos à União Europeia deixou em perspectiva. Só que isso implicava uma coragem de que a mediocridade vigente jamais seria capaz e, em conformidade, lá assistimos mais uma vez ao bem lusitano faz de conta da cabeça enterrada na areia.

E agora só nos resta esquecer o assunto, com a certeza de todos permanecermos reféns das mais variadas e nefastas arbitrariedades.



Em contra partida aí está a co-incineração. O Ministro José Sócrates anunciou em conferência de imprensa que o processo da incineração dos resíduos industriais perigosos irá avançar nas cimenteiras do Outão e de Souzelas.
Contra toda a oposição e a opinião pública, o governante escuda-se em pareceres científicos e técnicos.
É assim, nós já estamos habituados a que os portugueses descubram a pólvora.

Coitados dos responsáveis em outros países onde se opta por soluções mais onerosas.



E não é tão belo que o género humano tenha produzido teorias a que só o desenvolvimento tecno-científico permite o acesso da verificação?
Ao que parece Einstein tinha razão ao prever a existência de uma anti-gravidade que teria possibilitado a expansão da matéria cósmica desde o big bang. Se esta algum dia se sobrepor à congénere positiva, então tudo entrará em recessão e o Cosmos colapsará num único ponto negro.
É o que por enquanto a ciência nos diz.



No Peru haverá segunda volta das presidenciais entre Alejandro Toledo e o aprista Alan Garcia.
O desfecho é uma incógnita.



O Inverno que passou, de tantas nuvens, foi parco em luares e por isso me deleito no mar de prata que o satélite provoca sobre os telhados.

Alhos Vedros
01/04/09
Luís F. de A. Gomes

2007-06-12



Vai uma fotografia?

Carpe diem.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

HISTÓRIAS DA TERRA ENCATADA
7

Nesse caso, a seu tempo entenderás o que é um rift. Mas vamos lá.
Actualmente a comunidade científica mundial explica a geo-dinâmica através de uma teoria vulgarmente conhecida por tectónica de placas.
Ao invés de algumas outras, como a já referida explicação para a gravitação terrestre, assimiláveis a uma só pessoa, esta não tem apenas um rosto, antes resulta de vários desempenhos que se associaram a descobertas independentes e diversificadas que, uma vez relacionadas de uma certa maneira, estenderam o tapete por onde pôde ser enunciada a teoria em alusão.
Basicamente, o que nos diz tal construção ideográfica é que a crusta terrestre assenta em –obviamente gigantescas- placas rochosas, as placas tectónicas, separadas umas das outras (1) e em movimento, pois os fundos oceânicos, que por sua vez repousam sob estruturas mais leves do que aquelas que suportam os continentes, encontram-se em expansão e, com isso, por um lado empurram as outras placas e, por outro lado, dado o menor peso e densidade, afundam-se sobre elas criando, dessa forma, zonas de subducção ou seja, onde a placa oceânica se desfaz em contacto com o calor emanado pelo material incandescente do interior da Terra, dando corpo à renovação desses fundos marinhos, constantemente reciclados pela ascensão de magma através das fendas tectónicas, concomitantemente sendo, com isso, agentes daqueles movimentos. As trepidações e deslocamentos das placas tectónicas provocam sismos e modelam o relevo terrestre, originando montanhas e desviando leitos de rios e ao longo do tempo geológico levam os continentes a afastarem-se e a aproximarem-se, entre si, reordenando, por completo, o mapa orográfico do nosso planeta.
Ficaste na mesma.
Então?
Tal e qual como o entendeste. Vejo até que és capaz de fazer uma explicação esquemática usando as mãos para criares uma espécie de modelo. Perante isto, isso de não conheceres o significado de uma série de palavras ou expressões até nem aparenta ser nada de grave. Pelo que estamos a ver, estarás sempre pronta a entendê-los. Seja como for, o relevo é a forma que tem a superfície da Terra. São as montanhas e as zonas planas. E o mapa orográfico é aquele que representa o relevo. Também se pode chamar orográfico a um mapa de relevo.
Pois aí é que entram as tais descobertas independentes que depois de conjugadas deram corpo à tectónica de placas.
Vale a pena?
Nesse caso vamos lá ver como é que eu te posso descrever este emaranhado de factos e ideias.

__________
(1) Damos o nome de rift às fendas que se formam entre duas placas no fundo dos oceanos.

2007-06-11


O silêncio e a ternura das ruas de trás.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Ainda há escravos -fala-se de vinte e seis milhões!!!- no mundo coevo.



E cá estou eu, novamente, passados estes dias em que as vicissitudes me impediram de me sentar à secretária com um mínimo de disponibilidade mental que um diário como este naturalmente requer.


A começar logo pela última terça-feira em que me desloquei ao Instituto de Urologia para uma consulta ao Dr. Ruah.

Por um pudor que me parece compreensível não falei, creio, no assunto, mas agora impõe-se uma explicação.

Há mais ou menos duas semanas que eu urinei sangue ao longo de um dia e que, na madrugada imediata, expeli qualquer coisa envolta numa pasta ensanguentada.
Assustei-me, é claro e tratei de marcar consulta para o urologista.
Não sendo cismador, esqueci o assunto e apenas registei o dia da consulta. Mas não sei dizer porquê, ao ver os exames que me foram recomendados, fiquei ensimesmado e ligeiramente intranquilo.
Quando à noite me disponibilizei para continuar estas palavras, tinha o espírito demasiadamente volante para que as ideias dele pudessem passar para o papel e achei que o sono seria o melhor tónico para a minha angústia.



Seja como for, nesse mesmo dia os miúdos despediram-se do segundo período com actividades de trabalhos manuais dedicados à Páscoa.



Salvou-se o reencontro com Maalouf e o seu último romance, “O Périplo de Baldassare” que nos conta a história de um comerciante de livros antigos e curiosidades, cristão de origem genovesa cujos antepassados se haviam fixado no Levante na sequência das primeiras cruzadas. A história passa-se no século dezassete. E mais uma vez temos oportunidade de usufruir de páginas encantadoras que, pelas dúvidas de um céptico, nos fazem pensar no turbilhão com que o indivíduo se depara ao longo do seu percurso terrestre, para além da experiência de ambientes em que nem falta a narrativa da assimilação que sempre acontece no contacto de culturas diferentes.

“-Quando a fé se torna rancorosa benditos aqueles que duvidam.” (1) –Palavras de Maimoum Toleitli, judeu de Alepo e amigo do nosso herói.



Depois veio o pior.

Na noite de terça a Luísa recebeu um telefonema de uma das suas tias paternas, alertando para o facto de o irmão Zé Maria há muito não dar sinal e ninguém, na vizinhança, o ver há muito mais de um mês. A idade de oitenta e sete anos é tudo quanto basta para se compreender o alarme.
Devo dizer que o tio Zé Maria é um dos irmãos do meu sogro que cedo se separou da família e manteve uma vida solitária, primeiro no Brasil, onde trabalhou e ganhou uma pensão, depois em Lisboa onde reside há mais de trinta anos.
Pessoalmente estranhei que os outros residentes no prédio não tivessem suspeitado do cheiro de um cadáver putrefacto, embora as probabilidade de o homem estar morto fossem firmes e significativas. Em conformidade, sugeri à Luísa que previamente fizesse uma prospecção pelos hospitais da capital a fim de apurar da eventualidade de um qualquer internamento, operação que ela resolveu, de imediato, com resultados negativos.
Foi por isso que na manhã do dia seguinte rumou à residência do velho para logo compreender a tragédia do desenlace. O pivete não deixava margem para dúvidas e chamada a polícia e os bombeiros, rapidamente se concluiu do óbito que ocorrera há perto de dois meses. Poupo-lhes os pormenores macabros e os trâmites inerentes ao funeral.
A consequência foram dois dias atarantados até que o corpo seguiu para o jazigo da família numa aldeia perto de Penafiel.


Na quarta-feira, foi o pai que deitou as meninas.



Mas nem tudo foi mau, os resultados escolares da Margarida são gratificantes, com informação Bom em todos os parâmetros avaliativos e o relatório que aqui transcreverei no final deste dia.

No entanto, mais do que as informações, o melhor testemunho da qualidade da aprendizagem está nas capacidades reveladas que vão da leitura à escrita, raramente com erros, passando pelo cálculo mental e a compreensão de operações numéricas, como é o caso da comutação na soma que ela já entendeu.
E a tudo isto é de juntar uma curiosidade insaciável –ai que gralha, sempre a fazer perguntas- e um gosto sincero pelo conhecimento e igualmente pela escola e a Professora.


Menina responsável, é tão ternurento vê-la construir a autonomia.



E aí vai mais uma nave em direcção a Marte onde se espera que chegue, vejam só, daqui a seis meses.


Pois é com saudade que eu recordo Carl Sagan para quem o espaço poderia substituir a guerra como factor de progresso científico e tecnológico que tão necessário é à sobrevivência desta nossa espécie tão tonta.



Qualquer que seja o resultado, a fazer fé em Vargas Llosa, o Peru já ganhou com as presidenciais deste Domingo.
É o regresso à democracia depois da tirania mafiosa de Fujimori, por ora a banhos e a salvo no Japão.
Esperemos que o escritor esteja certo na análise e aquele país possa agora pôr termos aos breves interregnos democráticos em longos períodos de ditadura.

O Mestre de quem eu tanto gosto, apoia Alejandro Toledo a quem atribui a principal quota na vitória democrática que propiciou este escrutínio livre. Oxalá aquele ganhe.



E por cá continua esta politicazinha de gente medíocre e dobrada a poderes suspeitos e bem capazes de nos agrilhoar as liberdades.

Guterres, numa assembleia dos socialistas, no Porto, lá teve que discursar com Fernando Gomes, o próprio, sentado na primeira fila, mesmo em frente do líder.
“-Roma não paga a traidores.” –Terá dito este a propósito daquele que agora se vê forçado a aceitar de regresso. Simplesmente esqueceu que esses mataram muitos dos imperadores.



E para terminar, por hoje, aqui fica a síntese final a respeito do rendimento escolar da Margarida.

“Língua Portuguesa – conhece e identifica as palavras dadas.
Lê pequenos textos e compreende o que lê.
Preenche lacunas e inventa frases com palavras dadas.
No ditado, não dá erros.
Aprendeu com facilidade a técnica da leitura e da escrita.
Matemática – identifica e escreve os algarismos. Efectua somas e subtracções. Completa sequências. Tem bom cálculo mental.
Estudo do Meio – Aprendeu com facilidade as noções dadas.
A Margarida é uma criança muito participativa e com muita vontade de aprender.


Foi com certo orgulho que a mãe galinha disse que viu o dossier dos trabalho onde não encontrou qualquer erro.



E agora digam lá que eu não tenho motivos para dormir com um sorriso nos lábios de um homem feliz?

__________
(1) Maalouf, Amin, p.66
O PÉRIPLO DE BALDASSARE

Alhos Vedros
01/04/08
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Maalouf, Amin- O PÉRIPLO DE BALDASSARE
Tradução de António Pescada
Difel (2ª. Edição), Lisboa, 2001

2007-06-10



Uma janela para olharmos.

Uma das apostas do poder da cidade tem sido a recuperação do centro histórico quer enquanto zona residencial, quer enquanto polo de atracção turística que possa sustentar o comércio e os serviços da zona.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Passam hoje vinte e cinco anos sobre o dia da aprovação da constituição portuguesa. Exagerada no plano económico, é certo que as circunstâncias –o mesmo é dizer a pobreza dos portugueses- assim o impunham, foi, contudo, um documento suficientemente flexível para possibilitar a continuidade e o amadurecimento do regime em que vivemos; sem ela, jamais teríamos chegado a entrar na Comunidade Económica Europeia pois o mais certo teria sido o nosso regresso a um qualquer totalitarismo. Depois, à medida que a poeira do impacto revolucionário foi caindo para que os pés a calassem, foi aquela se despindo das incompatibilidades económicas com o mercado livre, para ficar um documento pelo qual não vem mal a uma sociedade aberta.
Faz hoje vinte e cinco anos que aquela cerimónia deixou o sorriso de um Cunhal confiante para a fotografia, mas também deixou a porta entre aberta para que fossem outros os últimos a rir.



Mau, a inflação homóloga, neste momento, anda à volta dos cinco por cento. Esperemos que isto seja devido ao aumento dos preços dos combustíveis que, no ano passado, por esta altura, estavam congelados.



Hoje os alunos aprenderam uma nova palavra, chave. E houve exercícios e jogos em torno da mesma, assim como a realização de uma ficha.



E eu terminei a leitura da “História Religiosa de Portugal”.
Os temas são geralmente mais interessantes do que a forma como foram tratados em muitos dos ensaios que compõem o primeiro volume do empreendimento.
Mas é uma obra a ler de fio a pavio se bem que dela sobressaia a pobreza em que ainda se encontra a investigação histórica desta temática, entre nós. Até parece que o catolicismo foi matriz única na cultura portuguesa, embora seja curial sublinhar a arquivística local que, de Norte a Sul, permanece, por enquanto, terra inculta.

Nota abonatória para o conjunto éo facto de cumulativamente aos tomos narrativos se juntarem outros em que se publica um dicionário sobre o assunto em geral.



Ontem, a Margarida escreveu uma história sozinha e sem erros de ortografia.



Eu é que não acho nada bem que os Estados Unidos tenham desbloqueado uma ajuda de muitos milhões de dólares à Jugoslávia na sequência da prisão de Milosevic.
Até parece que o novo poder só agiu sob o efeito da cenoura.

É mais um tiro no pé destes tempos de democracia sem convicções.
O que o povo jugoslavo mais necessita é de começar a construir, consolidar e estimar um estado de direito.


Mas o mundo é mesmo esta lentidão sem rumo que de vez em quando se ilumina.

Alhos Vedros
01/04/02
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

Azevedo, Carlos Moreira (Sob direcção de)
- HISTÓRIA RELIGIOSA DE PORTUGAL, VOL. 1
“FORMAÇÃO E LIMITES DA CRISTANDADE”
Círculo de Leitores (1ª. Edição), Lisboa, 2000
-DICIONÁRIO DDE HISTÓRIA RELIGIOSA DE PORTUGAL (A-C)
Círculo de Leitores (1ª. Edição), Lisboa, 2000

2007-06-09



Recanto.

Cidade de trabalho e residência, em Bratislava ainda se cultiva muito o espaço social de convívio e troca de ideias do café.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Ontem à tarde bati com o nariz na porta quando me dirigia para a minha hora de natação que boa disposição física me tem proporcionado. Houve um festival qualquer pelo que o turno correspondente ao regime livre foi suprimido. Paciência, no próximo Sábado haverá mais. Em contrapartida gozei a calmaria de um cair de tarde feito de levezas de andorinhas e canorias de embalar; enquanto das brincadeiras das miúdas brotavam gargalhadas amenas, como o ar que nos envolvia numa carícia.


Depois, para o jantar, tivemos a visita do pequeno André, o amigo da Matilde que o tratou de convidar.

E o serão foi um agradável recital de música renascentista com que a família se aprazou no auditório da biblioteca municipal, na Moita. Dois jovens irmãos gémeos, o duo Galvão, interpretaram, em alaúde e flautas, vilancetes portugueses e danças francesas do século dezasseis na primeira parte e, na segunda, música instrumental inglesa e italiana do século seguinte.

Pena que na sala não estivesse mais que uma dúzia de assistentes.



Slobodan Milosevic foi detido na sua residência e levado para ser apresentado a tribunal. O Tribunal Penal Internacional de Haia reclama-o como réu mas as autoridades jugoslavas preferem julgá-lo no país e até ao momento não se têm mostrado muito favoráveis à sua extradição.

Lamentavelmente, quanto a mim, a acção parece ter decorrido mais pela pressão dos Estados Unidos que pela vontade dos homens que pretendem dar rosto e alma ao novo regime o que nos impede de aquilatar da força e vontade políticas que estes possam ter, de facto, na sociedade jugoslava.
Era lá que o tirano devia ser julgado no que poderia ser um bom ponto de partida para o enraizamento do respeito pelo estado de direito.
Sem que a democracia vingue e floresça, entre os sérvios, jamais haverá paz nos Balcãs.

Fico é sem compreender como é que Ratko Mladick e Rodovan Karadzic ainda não foram presos pelas forças de paz internacionais e, esses sim, levados a julgamento no referido tribunal internacional.



E enquanto a Matilde faz a sesta e eu escuto a alegria dos pássaros por mais uma tarde primaveril, a mãe e a filha mais velha fazem bolinhos de chocolate.



A política em Portugal é que se escreve cada vez mais no diminutivo.

Em discurso perante pares, o bastonário da ordem dos advogados indignou-se com a atitude do Primeiro-Ministro a quem acusou de violar o segredo de justiça, para além de lembrar que se trata do Governo que já comprou deputados para fazer passar o orçamento de estado.

É claro que o jornalismo lhe amplificou a voz e porque estas coisas são mesmo assim, vai de aprofundar as questões com a resposta em acto contínuo do senhor ministro da justiça que apodou o causídico de irresponsável. Não são aquelas coisas que se digam.
Ontem, o inenarrável Jorge Coelho veio a terreiro para lembrar que quem se mete com o PS leva o que me causa arrepios, pois eu sei que neste país, por enquanto na impossibilidade do cacetete da polícia, é possível atirar com a lei e a guerra suja da imprensa sobre qualquer um.
E pior, não nos esqueçamos do triste espectáculo que será o relançamento político de Fernando Gomes com o profundo empenho de uma personagem como Pinto da Costa que, numa entrevista a uma daquelas rádios que existem para pessoas como ele fazerem os seus comícios, disse nada mais nada menos que os anti-regionalistas é que deviam estar naquele autocarro que caiu da ponte, em Castelo de Paiva. É assim, na intimidade, esta gente costuma tirar os elmos.

Mas a tragédia é que os mesmos tentáculos obscuros estão já dominando o outro grande partido de poder o que numa sociedade clientelar e partidocrática só nos pode fazer esperar o pior.



Foi retirado o fundo do Douro o primeiro dos automóveis ligeiros acidentados em Entre-os-Rios. Lá se encontraram mais dois cadáveres.



Depois do lanche, pai e filhas foram passear para o campo com a finalidade de recolectarem os materiais rochosos e vegetais necessários para um diorama de uma selva que a Margarida vinha clamando para uma série de bonecos de animais que lhe têm saído nos gelados.

Foi um encanto ver os chãos floridos em tão bela companhia.


Uma vez em casa, lá fiz uma cena de mata tropical, com rio e tudo.



Em Timor, Ramos Horta substituiu Xanana na chefia do conselho e a esta hora, na Sérvia, os principais colaboradores de Milosevic estão a ser presos.
Um ponto a favor de Kostunica e do seu governo é que tudo está a ser feito de acordo com as leis.



E agora a noite impõe-se no silêncio dos corpos que dormem.

Alhos Vedros
01/04/01
Luís F. de A. Gomes

2007-06-08


Também no olhar está a qualidade de vida que se pretende alcançar.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

E hoje, a Margarida reatou a sua vida normal.


Na escola, durante a manhã, dez as fichas de matemática do dia anterior e depois fez exercícios do livro do meio que só completou no turno da tarde, a que se seguiu uma cópia. No fim da aula, a Professora distribuiu os trabalhos para casa correspondentes às férias da Páscoa que se avizinham.

Amanhã terá folga no que constituirá uma experiência inédita; a Professora fará greve.



Ah e o mundo também continua, normal, bem normal com a cadência das anormalidades que fazem notícia.

Guerra no Médio Oriente que as tiranias árabes não querem abrir mão do poder supremo sobre os seus povos e vai de fustigar o fantasma judeu capaz de espoletar uniões espúrias pela força de manter crianças e adolescentes como escudos face a balas, para que depois possam apresentar crimes como acções de combate libertador, tal como foi o caso dos atentados suicidas dos últimos dias em Israel. É claro que a retaliação não se fez esperar e na última noite a guarda pessoal de Arafat foi bombardeada.

Para que ainda seja impossível entender que o fim dos conflitos no Médio Oriente seria um forte contributo para um estado de paz a nível mundial.
Mas não será isso que se espera nos tempos mais próximos. A Liga Árabe acaba de indigitar um secretário-geral que pertence ao grupo dos duros anti-israelitas.


E a guerra esquecida da Tchetchénia a fazer-nos lembrar que o Ocidente não tem capacidade de influenciar os destinos do mundo que já deixaram de estar na mão dos parlamentos para passarem a obedecer aos interesses doa mais variados outros poderes, alguns bem obscuros, quanto o são os interesses de quase todos eles.



Pois não admira que a FLEC tenha feito do rapto de trabalhadores portugueses a câmara de eco para a vontade de independência que graça entre os cabindas que nunca fizeram parte de Angola e cujo território Portugal terá aceite como protectorado há cento e poucos anos.

Esperemos que, para já, o drama não faça um episódio com a morte de sangue inocente, pois da nossa diplomacia só podemos contar com lágrima de teatro e palavras de telejornal.



Pois não é aqui a terra do homo maniatábilis?
Pois vejam se eu não tinha razão quando referi que o beato Guterres já estava de joelhos. Ora aí têm, a farsa que faltava neste reino de homens menores; Fernando Gomes, o próprio, voltará a ser candidato à Câmara Municipal do Porto por imposição e graça de conveniências disfarçadas de interesse público. Assim, para já, o nosso primeiro terá de engolir o elefante que depois virão pontapé final que eu tenho a certeza que será à Eusébio.

A civilização democrática é que vai desaparecendo do nosso horizonte.



E sem que ainda tenha chegado à mentalidade dos líderes timorenses que hoje ficaram a saber da demissão de Xanana Gusmão do Conselho Nacional, com denúncias de dinheiros por aplicar ou mal gastos e o indicador esticado na direcção dos partidos políticos, dando a entender a incompreensão face à natureza potencialmente instável dos regimes democráticos.

Alhos Vedros
01/03/29
Luís F. de A. Gomes

2007-06-07



E onde também é fácil residir e trabalhar.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

DEPOIS DE JUMA NOITE ATRIBULADA
Ontem foi noite de associação de pais que, pelos vistos, lá vai ganhando forma. Da sessão saiu a proposta de estatutos que vamos levar à aprovação em Assembleia-Geral que também ficou marcada para o próximo dia vinte e três de Abril.



Mas o pior estava reservado para o regresso a casa, por volta das onze e meia. Pouco depois, a Margarida acordou com uma paragem digestiva, coisa que nunca lhe acontecera e, sob o efeito da precipitação, deixou que os resíduos azedos se estatelassem nos mosaicos do corredor e da casa de banho. É bom de ver que, fez a limpeza. E o fenómeno repetiu-se às cinco da manhã e duas horas e meia depois. Tudo indica que a causa é atribuível a um lanche fora de horas e excessivo a que se juntou uma sobredose de chocolates.
Obviamente por precaução e para restauro de forças, hoje ficou em casa.

Esperemos agora que tenha aprendido a lição.


Os pais é que ficaram em estado de défice de sono.



E os alunos preencheram toda a manhã com exercícios com as novas palavras e a tarde com um ditado.
E houve trabalho para casa.



Eu é que tive uma surpresa na caixa do correio.
O bom Paulo de Carvalho publicou dois livros que teve a gentileza de me oferecer. Sei que isso o deixa satisfeito e eu fico alegre por ele. Embora não aprecie o género que cultiva e tenha a certeza de que só é entendível por um reduzido número de leitores, reconheço-lhe uma erudição que nada tem de gratuita e, bem pelo contrário, transporta em si o ferrete de uma certa intemporalidade. E lá se pensa a miséria humana. (1) Deixarei o primeiro daqueles trabalhos para mais tarde. (2)



E agora vou para a cama que o cansaço não é para menos.

__________
(1) Sarmento, Paulo de
AS RUAS DE SAIBRO ESTÃO VAZIAS
(2) idem, LIMALHAS


Alhos Vedros
01/03/28
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

Sarmento, Paulo de- LIMALHAS
Escritor, Lisboa, 1999
- AS RUAS DE SAIBRO ESTÃO VAZIAS
Palimage Editores, Viseu, 2001

2007-06-06



E onde quem vive e trabalha pode escutar os pássaros que enchem de música os passeios.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

DEPOIS DE UMA NOITE ATRIBULADA

Ontem foi noite de associação de pais que, pelos vistos, lá vai ganhando forma. Da sessão saiu a proposta de estatutos que vamos levar à aprovação em Assembleia-Geral que também ficou marcada para o próximo dia vinte e três de Abril.



Mas o pior estava reservado para o regresso a casa, por volta das onze e meia. Pouco depois, a Margarida acordou com uma paragem digestiva, coisa que nunca lhe acontecera e, sob o efeito da precipitação, deixou que os resíduos azedos se estatelassem nos mosaicos do corredor e da casa de banho. É bom de ver que, fez a limpeza. E o fenómeno repetiu-se às cinco da manhã e duas horas e meia depois. Tudo indica que a causa é atribuível a um lanche fora de horas e excessivo a que se juntou uma sobredose de chocolates.
Obviamente por precaução e para restauro de forças, hoje ficou em casa.

Esperemos agora que tenha aprendido a lição.


Os pais é que ficaram em estado de défice de sono.



E os alunos preencheram toda a manhã com exercícios com as novas palavras e a tarde com um ditado.
E houve trabalho para casa.



Eu é que tive uma surpresa na caixa do correio.
O bom Paulo de Carvalho publicou dois livros que teve a gentileza de me oferecer. Sei que isso o deixa satisfeito e eu fico alegre por ele. Embora não aprecie o género que cultiva e tenha a certeza de que só é entendível por um reduzido número de leitores, reconheço-lhe uma erudição que nada tem de gratuita e, bem pelo contrário, transporta em si o ferrete de uma certa intemporalidade. E lá se pensa a miséria humana. (1) Deixarei o primeiro daqueles trabalhos para mais tarde. (2)



E agora vou para a cama que o cansaço não é para menos.

__________
(1) Sarmento, Paulo de
AS RUAS DE SAIBRO ESTÃO VAZIAS
(2) idem, LIMALHAS


Alhos Vedros
01/03/28
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

Sarmento, Paulo de- LIMALHAS
Escritor, Lisboa, 1999
- AS RUAS DE SAIBRO ESTÃO VAZIAS
Palimage Editores, Viseu, 2001

2007-06-05



Recanto de uma cidade e de um povo que começam a querer aprender a receber turisticamente.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A Margarida é uma criança engraçada.
É capaz de antever e imaginar os perigos o que a leva a ter uma reacção de recusa apriorística de novos desafios. Mas tem consciência do que se passa e consegue expressá-lo com clareza a acutilância. Ainda no dia da última aula de ginástica ela me contou os receios de fazer certos exercícios que eu procurei dirimir, explicando-lhe que tal era natural, eu mesmo os tinha sentido pela mesma idade e que só a prática e o passar dos anos nos permitem ultrapassar tais situações para o que é sempre necessária a nossa força de vontade para o atingir.
O mesmo se terá passado no Sábado, quando, depois de vários vou e não ou, finalmente optou por me acompanhar.
E uma vez verificado que, afinal, pouco há a recear, foi uma alegria vê-la saborear o prazer que os movimentos no meio aquático nos podem proporcionar.

E agora não se cala com a nossa próxima lição.



Mas a grande novidade do dia é o facto de a Margarida, pela primeira vez, ter ido para a escola sozinha.


Não se assustem que é tão só o pardalinho a usar asa própria em redor do ninho. A escola fica a meros duzentos metros da nossa casa, virando à esquerda, ao fundo da nossa rua e a mãe ensinou-a a seguir o caminho reduzindo ao mínimo, concretamente a duas, as travessias do asfalto. Mas é claro que ficamos com o coração nas mãos, acontece é que somos capazes de encarar racionalmente a questão e, por isso, ao almoço, usufrui da alegria da excitação da aventura, contada com todos os pormenores.

Pode parecer cedo de mais mas talvez não seja tanto assim. Ela é uma menina responsável e perfeitamente capaz de tomar os cuidados necessários para evitar problemas. Está pronta a enfrentar mais um passo na direcção da autonomia. Afinal, queremos formar uma pessoa livre.


Deus nos acompanhe e ilumine com as suas infinitas bondade e sabedoria.

Somos um país tão medíocre que uma entrevista de Pinto da Costa é notícia televisiva, para destacar a opinião do senhor sobre assunto tão sérios como… A regionalização.

E então não é que a falta de vergonha e a subserviência chegaram ao ponto de lhe abrirem o microfone para atoardas do género de afirmar que se as regiões fossem uma realidade ter-se-ia evitado a catástrofe de Castelo de Paiva?
De algo eu não tenho grandes dúvidas, é que os dinheiros que os poderes regionais facultam aos clubes de futebol, na Madeira e nos Açores, seriam uma pequena brincadeira com a mamadeira que tal personagem encontraria no seu tão idolatrado Norte que ninguém sabe definir muito bem o que é.



O exército macedónio é que não esteve para conversa fiada e desatou a bombardear posições dos grupos armados albaneses, aparentemente com sucesso.
As partes verborreiam acusações mútuas de segregação e o Ocidente, envenenado por um olhar relativista e cínico, não tem engenho nem ânimo para apostar forte na coexistência e na convivência.


Pois o vento de leste ainda trará o exemplo das ditaduras, como a que se está a formar na Rússia, um ano depois de Putin ter chegado ao poder.



Hoje os alunos fizeram uma cópia e desenhos de manhã, dedicando a tarde a trabalhos manuais com a realização de uma pasta para guardarem fichas e exercícios pictóricos.



Começou a época do ano em que eu não chego de noite a casa.

Alhos Vedros
01/03/26
Luís F. de A. Gomes