2007-03-26

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

UNS DIAS À MANEIRA

Sexta-feira é dia à maneira, cantarolou a Margarida enquanto estava no banho.



E eu estou plenamente de acordo, no fim de uma semana em que andei à beira do colapso.

Mas agora tudo se aquieta quando, a partir da minha secretária, me deixo perder no halo arroxeado que a Lua faz no vidro humedecido da porta para a varanda.



Hoje foi mais um dia de escrita e leitura de palavras e frases e à tarde, com ordem e sob a supervisão da Professora, houve brincadeiras.

Com um pequeno trabalho para casa e, devido às presidenciais, com folga na próxima segunda-feira, será um fim-de-semana à maneira.

Alhos Vedros
01/01/12
Luís F. de A. Gomes

2007-03-22

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Em casa, nós fazemos a separação dos lixos.
Há dois ou três anos que no concelho existem contentores diferenciados para os diversos tipos de desperdícios e, em conformidade, nós passámos a separar os vidros das embalagens e todos estes do papel, isto para além do contingente geral que leva a amálgama do restante, ainda com a excepção das pilhas que têm a privacidade de um compartimento só para elas.
Não nos custa nada proceder à divisão por sacos diversos, o que acontece no acto do abandono daquilo que já cumpriu tudo aquilo que pudesse cumprir.
E depois sabemos o quanto a reciclagem é importante, a par do tratamento dos lixos. Quer em termos de limpeza ambiental, quer na poupança aos níveis da energia e obtenção de matéria-prima, o futuro das civilizações passará obviamente por aí.

E tanto a Margarida com a Matilde têm sido ensinadas a fazer o mesmo, tendo nós o cuidado de lhes explicar porque o devem fazer.
Nem mesmo nos ficamos por aí e educamo-las no sentido de procurarem evitar o desperdício de energia ou de bens raros e ameaçados, como é o caso da água potável. Quando a Margarida se demora nos banhos, tentamos que ela compreenda a necessidade de gastarmos o precioso líquido da forma mais inteligente possível.
E ainda há pouco, depois de beber a água de uma garrafa de plástico, a Matilde depositou a carcaça no saco respectivo.

Fiquei todo satisfeito ao presenciar a cena.


Mas a educação ambiental começa precisamente assim, na família, como parte integrante da formação pessoal, para que mais tarde não tenhamos apenas indivíduos despertos para os problemas do meio ambiente, mas sim pessoas para quem as preocupações com os equilíbrios ecológicos sejam tão naturais e assumidas como aquelas que temos com a limpeza dos lares em que vivemos.

Tenho para mim que isso acontecerá com as minhas queridas filhas.



Chove.
Esta tarde houve uma rajada de granizo.



De manhã os alunos fizeram cópias de frases e palavras a partir do quadro, claro está, de derivados da uva, termo que aprenderam no dia anterior.
À tarde realizaram uma ficha sobre o mesmo tema.



E eu no meio de uma semana de chumbo, ainda encontrei espaço para a leitura.
Acabei um livro sobre as indústrias de cultura e o seu impacto na globalização no sentido de uma universalização de certas padronizações culturais. (1)
Infelizmente, a tradução é péssima e a revisão pior. Não se limitando a dificultar a leitura, fico com a sensação de que aqui e ali gera ruído sobre as mensagens do Autor.



Continua a ruir a muralha de Santarém.
É o Portugal puro e duro.

Malditas chuvadas.

__________
(1) Warnier, Jean Pierre
A MUNDIALIZAÇÃO DA CULTURA

Alhos Vedros
01/01/11
Luís F. de A. Gomes

CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Warnier, Jean Pierre- A MUNDIALIZAÇÃO DA CULTURA
Tradução de Luís Filipe Sarmento
Revisão de M. Manuela Vieira Constantino
Editorial Notícias (1ª. Edição), Lisboa, 2000

2007-03-19


2007-03-18

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

É claro que os Estados Unidos tinham informado a NATO das precauções que iriam tomar para as suas tropas afectas à manutenção da paz na ex-Jugoslávia. Todos os países membros sabiam do uso das munições feitas com urânio enriquecido e da sua aplicação e finalidade nos combates.

Pois aqui tem o nosso Primeiro a melhor resposta para a retórica dos últimos dias que, por obrigações do realismo político, já tinha abandonado as vestes do pacifismo pueril.

Pelo menos poupa-nos esta choraminguice.



E o PCP que finalmente decidiu votar nele próprio, deixa transparecer que já tinha apostado tudo naquilo que os próprios devem entender como a reviravolta destes últimos três dias.
Agendados estão três –grandes, assim se esperam- comícios com o que farão uma última pressão para a mobilização do voto no seu candidato.
Vamos ver o que acontece.
Mas se o número de votos for superior ao do opositor proposto pelo Bloco de Esquerda, o discurso final terá sempre o tom da vitória.


Há muito que o meu voto está decidido.



A Lua cheia, para lá, muito para lá do tecto de nuvens, parece que acende o céu.
A noite está tão clara.



Hoje os alunos aprenderam uma nova palavra, a saber, a uva.
De manhã e à tarde fizeram exercícios com aquele vocábulo e outros dele derivados.
O trabalho de casa consistiu em copiar por cinco vezes o nome do fruto.



É meia-noite e eu saí do trabalho há pouco mais de uma hora.

Alhos Vedros
01/01/10
Luís F. de A. Gomes

2007-03-17


O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A Lua arroxeia as transparências das nuvens, entrementes se apagando, pelo deambular de mesclas mais ou menos escurecedoras.



O grande caso do momento é o da utilização das munições radioactivas por parte das forças da NATO na Bósnia e no Kosovo e das consequências ambientais para os lugares flagelados e as populações e tropas aí sedeadas.


Continuo a pensar que os Governos –e entre eles o nosso- e os altos comandos militares sabiam das balas disparadas e, em conformidade, tinham elementos suficientes para considerarem as hipóteses mais nefastas no que se refere aos perigos que aquelas poderiam acarretar. Afinal esta história começou na guerra do golfo, fará este Inverno uma década, e desde aí se conhecem os efeitos das contaminações pelo uso de material radioactivo. Sem com isto estar a defender este género de bombardeamentos, sempre direi que o mais provável é que, do ponto de vista estritamente bélico, não haja alternativa; são, digamos assim, as munições que temos para perfurarmos os alvos que hoje em dia se apresentam. Mas não é isso que altera a sensação que nos fica de estarmos a ver lágrimas de crocodilo nos rostos dos homens do poder que agora vêm interpretar o fado das ingénuas inocências.

Para mim, tratou-se apenas a velha lógica militar de que certas coisas se devem manter afastadas do conhecimento das opiniões públicas.


Seja como for, parece-me desaconselhável que na actual contingência se abandone o território balcânico aos acasos de vizinhanças tão carregadas de ódios e preconceitos. E depois é preciso conceder o benefício do tempo para que o novo poder –que se espera venha a ser um outro regime- em Belgrado, se possa sedimentar. É conveniente, isso sim, que se aliviem as sanções económicas sobre a Jugoslávia. Será uma forma de assinalar o apoio à abertura e à democratização daquela sociedade. No entanto, é demasiado cedo para tocara destroçar. Isso só quando o desenvolvimento for visível e sentido pelo povo; então será mais pesado o prato daquilo que se perderia e os homens concentrar-se-ão mais no bem-estar do futuro dos seus filhos. Tal e qual como se pode deduzir, estou convencido que os ocidentais devem mesmo procurar as melhores fórmulas para uma presença prolongada.
Quanto tempo durou a ocupação estrangeira na Alemanha Ocidental e Oriental após a derrota do nazismo?


E não se esqueçam dos compromissos a que estamos obrigados enquanto membros da Aliança Atlântica.


E como era óbvio, desde o início da sua constituição, a equipa de cientistas nacionais enviada para o Kosovo para fazer análises e avaliações, concluiu que não existem níveis de radioactividade preocupantes e muito menos perigosos e muito menos perigosos para a saúde dos nossos soldados.


Então não vêem as diferenças?
Na Alemanha, os ministros da saúde e da agricultura demitiram-se na sequência dos casos de BSE que se verificaram naquele país.

Seguiram o nosso exemplo, com toda a certeza.



Goraram-se os planos de Bill Clinton para a paz entre israelitas e palestinianos.



E as presidenciais cá da paróquia lá continuam no pim pam pum que tanto agrada aos nossos profissionais da política –provavelmente, melhor seria dizer do joguete político.


Os comunistas decidiram ir ao tira teimas das urnas.
É natural. Obterão um número de votos consideravelmente maior que o Bloco de Esquerda e com isso permanecerão como o futuro complemento que sempre será necessário para uma hipotética alternativa de um governo de unidade de esquerda.



No entrementes, entre nós reforça-se uma sociedade democrática sui géneris.

Casos como o do deputado Saleiro e o da Partex foram arquivados pelo Ministério Público que os deixara prescrever.


E é claro, há magistrados multados sobre quem recaem todas as culpas por um final tão triste.



Vá lá que não houve trabalhos para casa, pois a Margarida deveria estar bastante cansada depois do seu dia escolar. É que a gatinha deu-lhe hoje para acordar às cinco da manhã e não mais fechou os olhos.


E com a agravante de ter saltado para a minha beira, com o que me provocou o mesmo efeito.



Na aula desta manhã os alunos voltaram a escrever e a ler palavras e frases, naquilo que me parece ser uma espécie de revisões da matéria aprendida.
À tarde, fizeram um desenho sobre o Inverno que a Margarida representou através das árvores sem folhas, por sua vez, caídas no chão, mas também pela neve na paisagem e cenas de chuva.

“-O que é que achas?”



Esta manhã é que me deparei com uma manifestação engraçada no estado do tempo que parece ter feito um sumário do dia mal eu saí de casa. É que choveu intensamente com Sol nas traseiras. E o resto do dia fez-se de luz intercalada pelas chuvadas em que as nuvens se impunham numa conquista do céu.

Alhos Vedros
01/01/09
Luís F. de A. Gomes

2007-03-15


O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

COMEÇOU O SEGUNDO PERÍODO
No Ghana, que foi a primeira colónia britânica da África sub-sariana a ascender à independência, o escrutínio eleitoral devolveu a presidência civil. Mais uma vez, a pátria de N’Kruma dá o exemplo.

Ao contrário de Jerry Rawlings, o tirano deposto, um major piloto-aviador que, nos últimos anos, foi o detentor do poder, o novo Presidente, Jonh Kuofor, um advogado formado em Oxford, diz-se um adepto da democracia.


Raras, no continente africano, estas flores do género Mandela devem merecer todo o apoio e carinho dos amantes da liberdade de todo o mundo, especialmente deste lado em que nós vivemos.



A Matilde é engraçada. Por vezes não se recorda sãs palavras e pura e simplesmente inventa e o curioso é que geralmente com lógica, naquilo que parecem actos espontâneos de uso da racionalidade.

“-Oh pai, está a dar relâmpadas?” –Perguntou ao escutar um som que, de facto, mais parecia um trovão que outra coisa.
“-Não são relâmpadas, são relâmpagos.” –Corrigi de imediato.
“-Ah pois relâmpagos, já me esquecia.”


E foi manifesta a satisfação que sentiu pelo regresso às aulas de ginástica.



Mal parece estará perspectiva da natação. Segundo apurei, todas as inscrições para os grupos de aprendizagem estão mais que esgotadas, pelo que as minhas cachopas terão que esperar por uma melhor oportunidade para se iniciarem no domínio da locomoção aquática. Bem, esperemos que a febre passe e os compromissos saturem os pais que têm mais que fazer.
Mas para mim, esta afluência é a melhor prova da utilidade e premência da obra. A piscina municipal, em Alhos Vedros, foi inaugurada este fim-de-semana e todas as vagas, à partida, se encontram preenchidas. E não foi nada para o inglês ver que o povo nadador foi mais que muito.

Ora aqui está um empreendimento dos nossos autarcas em que os dinheiros públicos foram bem aplicados. Até eu lhes dou os parabéns.
Ele há quem diga que peca por tacanhez, defendendo, em alternativa, um tanque com as medidas olímpicas.
Provavelmente não seria demais, mas eu não concordo com esse ponto de vista. Quanto a mim está bem assim. Temos que ter em conta os custos de manutenção. E depois há que dar tempo ao tempo e deixar que as coisas aconteçam. Sequer há um clube de natação no concelho. Mas é a partir daqui que tais fenómenos podem acontecer e que até se podem formar hábitos que criem mercados para investimentos privados neste âmbito da cultura física. Então sim, então haverá necessidade de infra-estruturas com maiores dimensões. Estou convencido que então deveria ser muito mais fácil construir uma piscina olímpica neste concelho.
Até lá, dois pontos para o João de Almeida e a sua equipa.



Hernâni Gonçalves, ex-preparador físico do Futebol Clube do Porto é o Vereador para a qualidade de vida na Câmara da cidade, a tal capital europeia da cultura que está em obras.

E pelo que se vai ouvindo no contínuo que a TSF vem hoje destacando a tão importante acontecimento, a avaliar pelas primeiras impressões e as vozes que se levantam, o mais certo é que para além da listagem de espectáculos cuja qualidade não está em causa, lá teremos as queixas invejosas contra o centralismo que será apontado como a causa de todos os males do burgo que, na boca de alguns patetas, tem vivido amordaçado.


Eu confesso que a culpa é minha.



A Margarida tinha saudades da escola. Acordou-me toda satisfeita e, era inevitável, cheia de preocupações –escusado será dizer que infundadas- para não chegarmos atrasados.
Longe vão os tempos em que saía de casa com as mãozinhas frias.

“-Oh pai, vamos que eu quero ver as minhas amigas. E posso dizer que tive muitas prendas pelo natal?”



E neste dia de reatamento os alunos passaram a manhã a escreverem e a lerem palavras e à tarde fizeram um desenho alegórico à natividade e ao ano novo.



Entretanto continua uma campanha presidencial em que o tema em destaque é nem mais um soldado para a Bósnia.


E será que o candidato comunista irá a votos?
Estou curiosíssimo para ver como é que esta bota será descalçada.



Pois já é notório o aumento da claridade.

Esta tarde, quando, por volta das seis, olhei o céu, havia uma mancha rosada nas nuvens.

Alhos Vedros
01/01/08
Luís F. de A. Gomes

2007-03-14


O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

SERÁ QUE A FOLGA ACABOU?
O país está a banhos no início do Inverno.
A planície alentejana repetiu-se em lagos com ilhas e a Ribeira, no Porto, voltou a ver a rebentação junto do cubo, num espelho corrente que encontra as margens nas casas da Invicta e de Gaia. Em Ponte de Lima circula-se de barco e são os patos quem melhor aproveita os entrementes em que o Sol mira o espectáculo.

Um pouco por todo o lado os prejuízos são elevados. Há vias esventradas e outras infra-estruturas danificadas e prejuízos particulares significativos que o mais certo é que só em parte estejam cobertos pelos seguros. Quando as águas regressarem ao normal escutaremos as lamúrias. Veremos então as respostas de quem de direito.



Mas hoje está um dia bonito; frio, é certo, contudo solarengo e dá gosto de ver os extensos algodões que vão passando no céu, através de árvores reduzidas à madeira viva de esqueletos de varas apontadas para o alto.



A Margarida já conseguiu ler os nomes de todos os candidatos presidenciais.
Esta tarde fui dar com ela, esticada no sofá, soletrando aqueles nomes.



Tais políticos é que parecem andarem a navegar no delírio.
De um lado o trio que, com mais ou menos radicalismo, pede o regresso do contingente português que, integrado nas forças da NATO, está estacionado e envolvido numa operação de contenção das hostilidades na ex-Jugoslávia; do outro o Presidente em recandidatura, na pose quem já está pronto para todas as confidências, ao jeito da melhor juventude esquerdista, vociferando, veladamente, contra a actuação do Governo, defendendo maior intervenção e mais atenção à melhoria da qualidade de vida da população, especialmente a mais pobre –isto quando se espera a intervenção do Primeiro-Ministro na sua campanha.

Estamos ou não na brincadeiralândia?
Não não, estamos no reino do homo maniatábilis.


Então o nosso primeiro que ontem apareceu com a conversa da desconfiança relativamente aos altos comandos da Aliança Atlântica, não veio hoje cair no realismo para dizer que devemos continuar activos na campanha que os aliados vêm levando a cabo nos Balcãs?



A economia americana, depois de nove anos consecutivos em crescimento, dá sinais de abrandamento. Mas nada de preocupante e certamente que aquele que é um dos motores do mundo continuará a carburar. No entanto, porque ali não se brinca, Alan Greenspan, o todo poderoso presidente da reserva federal, decidiu aumentar as taxas de juro em meio por cento, o que os especialistas designam como uma terapia de choque.



Fim-de-semana caseiro que tão bem retemperou as forças para mais uma série de intensas jornadas de trabalho.


Até houve cinema na despedida desta tarde.
Eu e a Luísa vimos “Uma Mão Cheia de Surpresas”, filme de um realizador desconhecido mas que conta com um bom naipe de actores, entre os quais Woody Allen.
É uma divertida comédia que parodia este mundo iconoclasta em que vivemos.

Numa escala de zero a vinte atribuímos-lhe catorze valores.



E eu aproveitei para adiantar a compilação de “Um Acto de Cidadania”



Esperemos que seja amanhã o início do segundo período.

Alhos Vedros
01/01/07
Luís F. de A. Gomes

2007-03-13


O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

No Equador também é assim, horas seguidas de uma chuva irritantemente monocórdica, enchendo o chão e o ar, de tudo fazendo fonte de pingos que mais parecem de ponteiros de clepsidras do tédio de quem simplesmente espra o reatar do movimento.



Afinal tudo leva a crer que as tropas que prestam serviço em algumas áreas da ex-Jugoslávia estão expostas à radioactividade provocada por certas munições usadas nos bombardeamentos efectuados pelas forças da NATO.

Depois de tudo negar e nada esclarecer, depois de ter agido, com certeza, com conhecimento de causa sobre o que estava a ser utilizado nas operações de ataque, o Primeiro-Ministro do mesmo Governo que deu luz verde para o envolvimentos dos nossos militares e corpos policiais, vem agora desdizer-se com o subterfúgio da quebra de confiança relativamente aos altos comandos da Aliança Atlântica.

E o curioso é que não há reacções apropriadas a uma história tão escabrosa e mal contada.

É assim no país em que as denúncias de fazem por via dos artigos de opinião, pois o nosso jornalismo não investiga, não pode investigar o mistério, uma vez que os jornalistas costumam estar por dentro dos segredos, o que não é de estranhar perante as ânsias de protagonismo que por aí pululam e a promiscuidade mal sã entre os eventos, seus intérpretes e os seus narradores.


Estão os sinos a dobrar por nós.


A Juventude Social-Democrata, onde alguém teve a desfaçatez de pôr em rede, na página da organização na net, um jogo de setas em que a muge era nada menos que um boneco de Jorge Sampaio que sangrava sempre que atingido, decidiu retirar-se da campanha de Ferreira do Amaral, alegadamente devido a certa hostilização por parte dos responsáveis por aquela.

Malhas que a nossa politicazinha tece.

Só me admira como não há ninguém responsável pela gracinha.
Há coisas que não se podem repetir.



Ah, mas a campanha prossegue na senda das genialidades.
Sua Excelência o Presidente da República, que num destes dias sempre disse ter sido independente –e eu acrescento, mesmo nos tempos em que foi o secretário-geral do Partido Socialista- hoje chamou a atenção para o facto de ser a presidência e não o governo que está a votos.



I feel unhappy
I feel so sad
I’ve lost the best friend
that I ever had.

She was my woman
and I loved her so
but it’s to late now
I’ve let her go.

Black Sabath

Do you remember?
I do. And I also remember Cristina, my first love, twenty seven years a go, when we smiled and danced together, kissed each other, with mirrows of tender and sweetness on our fingers.



Sorte teve a Margarida que ficou em casa nestes dias, dispondo de espaço e tempo para dar largas às suas fantasias pelas quais também se vai construindo, enquanto a rua permanece sob o domínio das águas que as nuvens trazem.



Do mesmo não se pode o pai congratular. Mas é assim e depois do repouso lá veio a contrapartida da multiplicação do esforço. Uf, três dias laborais verdadeiramente equivalentes a um trio de semanas, embora deva confessar que estavam nas minhas previsões. Trata-se do fim do ano, o que implica o lançamento de um outro, com tudo o que isso acarreta em termos de renovação logística –abertura de novos arquivos, novas pautas contabilísticas e financeiras, etc- e de fecho da anuidade finda, com os inerentes balanços e avaliações, tudo isto em concomitância com a rotina diária que, graças a Deus, continua intensa e volumosa e, melhor ainda, economicamente interessante.


Mas há motivos para satisfação, pois os resultados são francamente positivos. Crescemos mais de doze por cento o que, se fosse a média nacional, seria suficiente para dormirmos descansados perante a garantia de um dia alcançarmos o tecto do mundo.


Acontece que o corpo é só um e a azáfama foi de tal ordem que eu nem tenho tido oportunidade para ler jornais ou atentar em notícias. Nestes dias de claridade indirecta, mal tenho olhado os reflexos das luzes dos automóveis nas piscinas do asfalto.

Ontem estiquei-me no sofá com a intenção de ver o debate entre os candidatos presidenciais. Não sei se pela falta de interesse das intervenções, se pelo efeito soporífero do cansaço, acabei por adormecer.



E agora retiro-me.
Há música pluvial e eu vou enlaçar-me num sono de mel.

Alhos Vedros
01/01/05
Luís F. de A. Gomes

2007-03-12


O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A liberdade significa que os mais pobres possam escolher um caminho.

2007-03-11

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Volume 2
DO NATAL ATÉ À PÁSCOA
Para a
Margarida
Reatamento também rima com adiamento e foi precisamente isso que aconteceu com a Margarida que depois de ter ficado a saber que, em face da má saúde da Professora, apenas retomará as aulas na próxima segunda-feira, viu também a primeira aula de ginástica adiada devido a um corte de energia eléctrica.

São coincidências inesperadas e que, neste caso, nada têm de mal; até tenho para mim que este prolongamento fará bem àquela minha filha. Proporcionar-lhe-à a oportunidade para se recompor do cansaço e da excitação das férias, sem a pressão suplementar de iniciar os trabalhos com o peso da saudade pelos entes que moram longe, lá no Porto. É que este meu amorzinho sente a perda da quebra de laços de ternura e atenções que tanto a fazem sentir-se feliz e, à semelhança do que acontecera no Verão, quando regressou da estadia em casa dos avós maternos, voltou a chorar sob o efeito da tristeza de não poder ter todo o seu mundinho ao alcance da mão.


E esta manhã, depois de a ter conduzido de volta ao lar, aí ficou a brincar com os seus jogos e bonecos, ainda que tenha dedicado alguns momentos à leitura do livro dinâmico, tal como me confessou à hora do almoço.


Já a Matilde não teve a mesma sorte e lá ficou no jardim infantil.


Ao fim da tarde, na falta da sessão de ginástica, chamaram a amiga Beatriz para brincarem aos acampamentos “-E às aventuras!”

“-Oh pai, o que é uma aventura?”

E depois da explicação que englobou a particularidade da localização na selva, foram para a sala, pelo que me apercebi, para viajarem por um rio qualquer, onde se estavam banhando quando a mãe chamou a visita para o jantar.



Na sua viagem para Saturno, a sonda Cassini aproveitou a proximidade de Júpiter para fotografar as tempestades atmosféricas do gigante.



Ainda que em jeito de balanço relativo à prestação escolar da Margarida, um dado que eu posso acrescentar àquilo que já escrevi é o facto de a miúda ser capaz de ler palavras que ainda não deu e feitas com as letras em igual condição, naquilo que manifestamente é uma aplicação da aprendizagem feita até ao momento.
É engraçado de ver como ela se esforça por ler as legendas de este ou daquele jogo ou as mais variadas epigrafias que encontra ou que lhe chamam a atenção, seja, por exemplo, em jornais ou em objectos. E fá-lo com sucesso, mesmo em vocábulos aparentemente difíceis como é o caso de autópsia.

Não tenho dados comparativos pelo que não posso aquilatar da importância –salvo seja a expressão- do feito, mas pelo que falei com amigos e pelo que se verificou com uma sobrinha da Luísa, a Patrícia, não é raro que as crianças cheguem ao Natal capazes de fazerem o que vejo à minha querida filha.


E talvez não seja desajustado referir que ela é capaz de executar mentalmente certos cálculos, que na forma de somas que na de subtracções.


Só podemos dizer que, até ao momento, tudo está a correr bem

Para que tal assim continue, a nós, os pais, compete-nos, para além de exigirmos o comportamento adequado e sempre de acordo com as regras da cortesia e do respeito pelos outros, tudo fazermos para lhe proporcionarmos uma vida calma e prenhe de bem estar, perfumada pelo carinho de quem está presente quando necessário e deixa as asinhas ganharem força para um dia voarem para lá das nuvens.



Ah e a nossa casa ficou mais bonita com a oferta que a minha mãe nos fez pelo Natal. Nada mais nada menos que cinco quadros bordados a ponto-cruz –creio que é assim que se diz- que estão perfeitas jóias que muito valorizam a nossa modesta colecção de arte. Quatro deles representam imagens alegóricas às estações do ano e o outro apresenta uma casa de banho do princípio do século passado.

Decidimos pendurá-los nas paredes do corredor que leva até aos quartos e casa de banho que lhes serve de apoio, o que nos forçou a uma redistribuição de pinturas e desenhos; estes, são agora o cartão de visita do apartamento.



E no meio de tanta sapiência em torno do facto de o milénio ter começado neste e não no ano passado, fico sem saber se ano dois mil pertence à década de noventa. Sendo a resposta afirmativa, então como é? Mil novecentos noventa e nove foi a última anuidade do decénio anterior, teremos uma década, a última do século, com onze anos?


Bem, dessa forma, pelo menos, o Porto lá comemorou o fogo do milénio.



E lá para o reino de França
se vai sabendo a verdade
com Miterrand houve uma dança
mascarada de seriedade.


Lembram-se de Bernard Tapie, o ministro das cidades que acabou preso por alta corrupção?
E o que dizer do filho mais velho do ex-presidente que encheu os bolsos com a venda ilegal de armas ao governo angolano?
Obviamente tudo a partir da posição familiar e pessoal conseguida no exercício do poder de estado.

Foi o consulado de esquerda de um homem que de Vichy desaguou no socialismo, pelo qual conseguiu comer do prato da cadeira presidencial.
Afinal, não terá sido por acaso que se arrogou de pretender deixar uma auto-biografia oficial.


A História é que possui um balandrau que tapa e outro que destapa logo em seguida.



Não é só este rectângulo, o mau tempo assola toda a Europa.
Há cidades sem luz eléctrica na Suécia e cortes de rodovias e ferrovias na Grã-Bretanha.

O Sol, esse, nem se tem deixado ver.



Radio Head faz-nos parar para imaginarmos pictografias sobre uma folha de papel em branco.
Voando, no interior do quarto, quando nos levantamos para ver as estrelas acenando intermitências para lá das manchas escurecidas que passam no céu.



E lá vamos nós assistindo a uma campanha eleitoral de chacha, sem que algum candidato seja capaz de impor amplos debates mediáticos a respeito daquilo que pode estar em causa no próximo dia catorze, com a agravante das ideias e argumentários andarem simplesmente a reboque das circunstâncias.

Pois é de lamentar que assim seja.
Afinal, o Presidente da República é sempre, em primeiro lugar, a consciência ética e moral, assim como cívica e política da nação e, nessa medida, deve servir-se dos mecanismos de que dispõe para alertar para os problemas mais gravosos ou os desafios mais importantes da sociedade.

Na véspera da circulação do euro, não competirá ao mais alto magistrado chamar a atenção para aquilo que isso implica em termos de esforço e aplicação dos portugueses para que possam aspirar alcançar os padrões de qualidade de vida dos mais abastados membros da União Europeia? Não lhe estará na natureza a obrigatoriedade de levantar questões, fazer as perguntas certas? Só para tomar mais um exemplo, podemos estar satisfeitos com a educação que temos e confiantes que a mesma habilitara os nossos jovens a usufruírem daquilo que mais se aproxime de uma igualdade de oportunidades com os coetários de outras economias mais dinâmicas?


E o que é certo é que todos andam a reclamar a demissão do General Barrento e a acusar o Governo de desgoverno, o qual, por sua vez, pela figura do seu ministro da justiça já tentou sacudir a responsabilidade para cima do Presidente da República que, para não contrastar, mas com o suporte de eminentes constitucionalistas, não se demorou a devolver a bola.

Democratas, pois então e sobretudo nada de politicamente cobardes.
O titular da pasta da justiça até admitiu que sim senhor, é ao governo que compete propor a exoneração do chefe do estado-maior do exército mas, atendendo à forma como tem sido praticada, entre nós, a mais alta magistratura, se o Presidente fizer uma tal indicação ao executivo também não ficará mal.


E ninguém parece dar conta que a responsabilidade pela decisão da guerra e, logicamente, das suas consequências, cabe, em primeira mão, aos políticos.


Mas amanhã haverá um debate na RTP1 com tudo ao molho e fé em Deus.

A bem da democracia, pois claro.

Alhos Vedros
01/01/03
Luís F. de A. Gomes


Zeca

Aculturação

Com o fim do primeiro volume do diário, terminamos a série de pinturas do Zeca (Correpé) a quem desde já agradecemos a generosidade da partilha.

2007-03-07

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

AMANHÃ COMEÇA O SEGUNDO PERÍODO
Bem, as férias são para gozar e se a Margarida as aproveitou para recarregar energias e bem, como ainda veremos, o pai seguiu o exemplo e como este diário se centra no seu dia a dia escolar, decidi pousar a pena e tomar descanso desta azáfama tão árdua de procurar narrar uma experiência com a atenção circunspecta para que esta conversa valha a pena.

Pessoalmente, até à última quinta-feira, dia em que fui para o Porto, usei todas aquelas horas nocturnas e as de folga das festividades natalícias para iniciar a compilação dos textos com que irei compor o volume “Um Acto de Cidadania”.
Recolhi e sistematizei os artigos, titulei as diferentes quadrículas em que se dividirá a reunião e embora tenha feito por respeitar os enquadramentos em que aqueles saíram no “Notícias da Moita”, numa das rubricas, tomei a decisão de incluir uma peça que não tinha saído como tal nas páginas daquele periódico. Visto o conjunto de todas as minhas colaborações ali incertas, optei por lhes acrescer uns quantos exerciciozinhos que nunca tinham chegado a ver a luz do dia, não por que, de algum modo, os tenha depreciado mas, apenas, pelo facto de terem sido frutos da perda de oportunidade em face de outras premências e que o tempo se encarregou de remeter para o olvido do arquivo.
Depois passei ao teclado e vai de começar a organizar o livro e com isso, voltar a escrever aqueles apontamentos a que não faço outras alterações para lá de simples arranjos nas frases e os retoques de pequenas correcções de eventuais erros que, aqui e ali, tenham permanecido sem a devida emenda.
E já lhe dei um bom adiantamento. Mais três ou quatro fins-de-semana e ficarei com as provas prontas.
Quer dizer que antes do Carnaval conto estar despachado deste trabalho que, infelizmente, teve um parto prematuro.


Também a mãe esteve de férias e assim que o pai se viu livre da preparação da abertura do próximo ano económico, toda a família rumou ao Porto.

Belos dias de repouso, cheios de jornais e convívios, com passeios e espectáculos e jantares com familiares e amigos.
E com a vantagem de encontrarmos aqueles de quem gostamos em usufruto de alegrias.


Parabéns à Fátima e ao Quim.
No fim da Primavera a família aumentará.

Deus os acompanhe.


E até deu para batermos com o nariz na lotação esgotada de uma sessão de cinema na sexta-feira à tarde.


Ontem jantamos em casa da mãe da Tuxinha, no que foi um agradável serão entre amigos da juventude. Também gozámos a companhia do Zé Carlos e da Paula, prima da anfitriã e ainda de um dos irmãos desta última e da respectiva esposa. E um salão de jantar cheio de miúdos.


O Carlos está a fazer um mestrado em astronomia na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto o que o obriga a vir de Bragança à Invicta todas as sextas-feiras.


A Margarida e a Matilde, essas, então, mais uma vez fizeram jus à rica vida que têm.
Para além das prendas de Natal e dos longos períodos de brincadeiras de encantar, foram ao circo com os pais na tarde de sábado a que, para a mais velha, se seguiu um jantar com a madrinha que as levou ao cinema no dia seguinte, para verem “A Caminho do Eldorado”.


Regressámos esta tarde, numa corrida directa entre as duas residências.
E todos chegámos felizes e satisfeitos.


Venha daí o trabalho que se segue.



Em Portugal continua a palhaçada do costume.

Ficámos a saber que o Ocidente bombardeou populações com munições radioactivas e que os soldados da NATO prestam agira serviço em áreas contaminadas. Isto na ex-Jugoslávia, é claro.
Tudo isto porque um soldado português faleceu, à semelhança de uma mão cheia de outros militares de outras nacionalidades, aparentemente por causas imputáveis à permanência naquelas terras.
Os Altos-Comandos nacionais negam a relação de causa e efeito e dizem que não há motivos para alarme, quando o pai do falecido tem em mãos uma carta do comandante de batalhão em que o malogrado estava integrado, na qual se atribui o óbito a factores contraídos durante a missão.
E não é que o Chefe do Estado-Maior do Exército -além de se permitir tecer considerações a comentários do Presidente da República- foi à televisão refutar as preocupações que são mais que manifestas em vários países e, cúmulo dos cumulo, dar a entender que podemos estar em face de uma campanha de contra-informação da Sérvia em cujo jogo estaria aquele pai a cair?
Enfim, a pouca vergonha foi ao ponto de vermos um General a emendar palavras, em directo, num telejornal.


Ora para estarem à altura do triste espectáculo, logo os candidatos presidenciais dos pequenos partidos exigiram a demissão daquela figura e espoletou-se a discussão, com o parecer de reputados constitucionalistas e tudo, sobre quem compete demitir o SEME, se o Dr. Jorge Sampaio se o Ministro da Defesa.

Nós não estamos numa república das bananas, estamos, isso sim, numa comédia, não digo se de bananas ou não.

Olhe que se não é parece.



Pois não começou ontem a campanha eleitoral das presidenciais com as atoardas de Edite Estrela que se permitiu revelar conversas privadas do Patriarca de Lisboa –mas onde é que já chegámos?- a respeito da evidente reeleição do actual intérprete do mais alto cargo da nação?



E uma vez mais, Bill Clinton lá se esforçou pela paz no Médio Oriente.

O problema é que há toda uma casta de gurus e magnatas árabes que não estão mesmo nada interessados numa boa vizinhança com Israel.
É que isso implicaria abrirem as sociedades à democracia e às economias de mercado o que, necessariamente, mais tarde ou mais cedo, os removeria do poder e lhes cessaria muitas das mordomias.

Não querias coração?



A Margarida realizou os trabalhos para casa de livre e espontânea vontade e não se esqueceu de ler o livro dinâmico de acordo com o conselho da Professora.

O balanço que eu possa fazer deste primeiro período da sua vida escolar está registado na sua ficha de avaliação que tive o cuidado de transcrever para este diário.
Que mais posso eu dizer?
Limito-me a acrescentar que ela parece ter assimilado a responsabilidade de cumprir com os deveres em que a escola se corporiza e, logicamente, representa.


Eu dou graças a Deus por ter esta minha filha.



E pronto, por hoje estou a chegar ao fim.
Não me apetece falar do ridículo fogo de artifício com que a Câmara do Porto presenteou os seus munícipes na noite de passagem de ano, bem no centro de uma cidade esburacada por causa de obras por tudo quanto é sítio.
Na verdade, há caras para tudo e quando, daqui a duas semanas, se iniciar a capital europeia da cultura, será a primeira vez que tal ocorrerá numa cidade a mostrar as cuecas.
Enfim…

Mas que a autarquia tenha vendido capas de chuva com publicidade da “Optimus” é que me parece um tanto ou quanto fora de tom.


E o povo –eu também fui ver, com a Luísa, a Fátima e o Quim- gostou de uma sessão que nem chega aos calcanhares de uma serenata das Festas de Santa Luzia em Viana do Castelo.


Somos tão pacóvios.



O mau tempo é que não nos largou e os campos alagados são disso um bom testemunho.

Alhos Vedros
01/01/02
Luís F. de A. Gomes
FIM DO PRIMEIRO VOLUME

Calma

2007-03-01

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

NO NATAL DÁ UM SALTO DE PARDAL
Os vendavais continuam e desta vez bateram à porta da família.
Na noite de quinta para sexta-feira, durante a madrugada, para ser mais preciso, a ventania arrancou o telhado dos quartos traseiros da casa da minha tia Benita, a irmão da minha mãe que ainda vive na Serra da Estrela, em São Romão, de onde é oriundo o lado materno da linhagem.

Esta minha tia de quem eu muito gosto e que muito admiro, tem uma história de vida maravilhosa. Nela se pode ver o Portugal que foi e veio, se fez gente e gente fez, no mundo que construiu e repentinamente se viu forçado a abandonar e que, no entanto, persistiu e resistiu e se renovou, sempre com força e de cabeça levantada, o Portugal anónimo e pequeno, capaz de se engrandecer, reinventor de energias e vontades de onde sai a continuidade do país e da cultura.
Pois é, pode até parecer lirismo da minha parte e sou o primeiro a aceitar o quanto a generalização pode ser abusiva. Mas a biografia desta minha tia narra aventuras que podem muito bem ilustrar a história social portuguesa no século vinte, quer pela amplitude geográfica, quer pela diversidade das situações e níveis a que ocorreram.
Justamente nessa medida, pode dizer-se que tem substrato literário, com os seus oitenta e dois anos, permitirá cobrir uma época específica da sociedade portuguesa –o Estado Novo e o fim do império colonial- e pelo multi-facetado da sua variedade, igualmente possibilitaria que se colocassem perguntas universais e intemporais a respeito da humanidade. É que apesar de sempre sujeita aos caprichos dos mais poderosos e dos elementos naturais, apesar de ser uma jangada nas vicissitudes da vida, aquela minha querida tia sempre foi uma mulher livre.

A solidariedade dos seus amorteceu a desgraça e a resposta pronta dos bombeiros deram logo conta dos danos maiores. Mas não deixou de ser um susto e uma enorme contrariedade.


Mas lá está, agora há que reconstruir depressa e bem.
E, para isso, estou convencido que toda a família estará presente.



A conversa desta manhã com o Zé deu-se a partir da fotografia da primeira página do “Diário de Notícias”, miúdos fardados e armados, marchando num desfile do Hezbolah, em Beirute. É isto a materialização do totalitarismo que se abate sobre aquele pobre povo cansado de guerra e de misérias. Obviamente falámos no conflito israelo-árabe e acordámos na inevitabilidade do estado de Israel, no contexto do fim da década de quarenta e na ressaca da Shoah.
E ambos estamos de acordo em identificar a extrema-direita israelita como um outro dos pólos em que se fundamente a impossibilidade de paz naqueles territórios. É ela que arregimenta politicamente muitos daqueles indivíduos que têm sido criados, entre os meios religiosos mais ortodoxos no âmbito de uma cultura de intolerância e xenofobia relativamente aos palestinianos.

Foi um desses jovens que matou Ytzak Rabin.



A Margarida já incorporou nas suas brincadeiras aquilo que aprende na escola.
É vulgar brincar a fazer desenhos ou jogos de palavras e de números e até quando fantasia certos cenários ela escreve ou faz de conta que está a descrever determinados dados.

É o que tem estado a fazer, à frente da minha secretária, enquanto a Matilde dorme a sesta.



E que bem que me soube esta noite de sono revigorante.
Ontem cheguei ao fim do dia completamente exausto. De tal maneira que me deixei dormir no sofá.



Já se percepciona o aumento da duração do dia.



E na Jugoslávia, Kostunica, o novo Presidente da Federação, foi célere em antecipar as legislativas que hoje têm lugar.
À partida está certo; se aquilo que se pretende é abrir o regime político ao jogo democrático, nada mais importante do que substituir o anterior poder e quanto mais depressa melhor e de preferência de modo pacifico e legal, através das instituições.
As sondagens apontam para uma vitória do partido do Presidente, a anterior oposição democrática, uma coligação de dezoito forças políticas. Outra coisa não seria de esperar e está na calha uma maioria confortável.
Seria muito bom para o mundo que a Sérvia se democratizasse e a paz ganhasse alicerces nos Balcãs.
Veremos se, em mais um caso, é do sonho que nasce o futuro.

O modo como os novos detentores se comportarem perante o aparelho de estado e a sociedade civil será um bom oráculo para os primeiros anos deste novo século e milénio.


Que não seja um mau presságio a trovoada encharcada que neste momento se faz ouvir.



E por cá lá vamos tendo o triste espectáculo das picardias entre os homens do Partido Socialista.
Ontem foi Manuel Alegre que elevou o tom contra aquilo que classificou de atitudes estalinistas relativamente ao discurso de Manuel Maria Carrilho que finalmente descobriu todos os pecados do líder.

Dá graça o afã de certo jornalismo em querer fazer crer que o tempo de António Guterres terá chegado ao fim.



Palpita-me que se seguirá um governo autoritário, pelo menos, até dois mil e quatro.
Depois teremos as explosões vulcânicas, com toda a certeza violentas. Suspeito que terão mais a ver com a raiva da ladroagem do que com a revolta dos combates políticos e sociais.



Tuesday morning
at five o clock
as the day begin


Sons da minha meninice que eu sempre ouço com asas na memória.



E a chuva persiste
insolente,
a remeter-nos para o resguardo das vidraças.

Alhos Vedros
00/12/23
Luís F. de A. Gomes