2007-05-27



Com estas estranhas varandas de Gaudi nos despedimos de Barcelona.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A PRIMA VERA CHEGOU
No domínio do ensino, em Portugal, começamos por ter um problema de natureza política. Apesar da retórica e do tarefismo de sucessivos governos, a verdade é que não se estabeleceu uma filosofia de fundo para encarar o fenómeno que fosse transversal às diferentes correntes políticas e naturalmente permitisse balizar os objectivos a atingir e os princípios em que deveria assentar a prossecução dos mesmos. Nunca se encarou de frente, com realismo e coragem, a resposta à pergunta de saber para que queremos que o estado mantenha um sistema que consome recursos consideráveis. O que é que se deve atingir com a actividade daquele? Enfim, questões que implicam muitas outras e a partir das quais podemos não só identificar assim como decidir e justificar aquilo que pretendemos, como ainda explicar para que o queremos. Só então obteremos propósitos práticos coerentes, tendo em vista um certo resultado global.
Falta verticalidade política para grandes trabalhos que só a longo prazo dão retorno, além de inevitavelmente forçarem a enfrentamentos com grupos de interesses há muito instalados.
Daí que se tenha vivido ao sabor da corrente que, entre nós, ganhou o epíteto de reforma, no plural, que, do consulado de Roberto Carneiro –lembram-se- para cá, sob a designação de normas de adaptações em processos dinâmicos, várias têm sido.
Os resultados são as vergonhas que todos nós conhecemos. Um sistema de ensino em que obviamente com as piores performances do mundo desenvolvido, os filhos dos pobres pagam para os dos ricos. Aliás, injustiça semelhante à que se aponta para o sistema fiscal.

Um dia haverá lugar para que os responsáveis sejam julgados por isso.
Para já, é tempo de começarmos a entender que este é dos mais fortes motivos para orientarmos o destino dos nossos votos.



Neste primeiro dia de Primavera, em que a Margarida e a Matilde fizeram questão de vestirem camisolas de meia manga, o mau tempo voltou ao Norte de Portugal. Inundações e enxurradas de que resultaram dois mortos e muitos danos materiais; em Chaves, lá veio uma parte das muralhas abaixo.

Ainda assim, aqui não tivemos mais que o céu nublado.



E ainda tivemos oportunidade de ficar a saber que Santana Lopes será candidato à Câmara de Lisboa.
É a chance de um homem que desde sempre mostrou querer ir longe na política e na verdade nada tem a perder com uma derrota mas muito a ganhar em caso de vitória.

Seja como for o que sobressai é a diferença relativamente à subserviência de certas coragens nortenhas que não querem correr os riscos de desaire, no Porto, e muito menos terem que se colocar na mira de fogo de um homem com Pinto da Costa.

Significativamente, a nossa democracia tem muitas, demasiadas figuras destas.



Hoje os alunos voltaram a dedicar o dia a exercícios com a nova palavra dada.
O trabalho para casa constou de uma ficha para o livro dinâmico.

Amanhã irão ao teatro, com folga na parte da manhã.



A maior plataforma petrolífera flutuante do mundo afundou-se no Atlântico, perto das águas territoriais brasileiras. Nos depósitos há um milhão e meio de litros de petróleo que, para já, provocaram uma grande mancha poluente. Além disso, há o perigo de se romperem os tubos que ligam a plataforma aos pipelines.

Estaremos na antecâmara de uma catástrofe ecológica?



E se calhar também na de uma hecatombe mundial.

Os guerrilheiros do UCK, na Macedónia, declararam unilateralmente um cessar-fogo.
Isto é uma manobra simplória. Os homens querem apenas ganhar posições no terreno pelo que é de esperar o pior.

Neste aspecto dou razão ao Ministro russo dos Estrangeiros, naturalmente por razões diversas daquelas em que ele sustenta a afirmação. No Ocidente não há capacidade para lidar com esta gente com a firmeza adequada.



E agora retiro-me para a leitura.

Alhos Vedros
01/03/21
Luís F. de A. Gomes

2007-05-26



Las Ramblas, onde o povo se mostra, ama e se diverte.

Viva la vida.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Primeira reunião da Associação de Pais após a eleição.
Aprovou-se a quota anual de quinhentos escudos e assentou-se mo agendamento da aprovação da proposta de estatutos para a próxima terça-feira; até lá, facultar-se-ão cópias das duas propostas em apreço.
Fez-se ainda o ponto de situação da reunião da última sexta-feira com o Vereador a propósito das reparações de que o edifício carece.

Ainda pouco organizada, a reunião decorreu rapidamente e bem.



A Luísa esteve a conversar com a educadora da Matilde.
É uma criança responsável no que tem a fazer.
Mas ultimamente anda quezilenta e não é raro bater nos outros miúdos.

Temos que tomar atenção a isto.
Não sei como, mas poderemos ter que lhe desconstruir o código da violência, isto se virmos que ela está a incorporar isso na expressão do seu relacionamento com as outras crianças. No entanto creio que não será necessário chegarmos a tal ponto. Mas não custa nada tomar atenção ao caso.



Hoje os alunos aprenderam uma nova palavra, escada.
A esse respeito decorreram os exercícios do dia.



Finalmente foi resgatado o autocarro objecto da catástrofe de Castelo de Paiva.

E ainda bem que as televisões não tiveram direito ao banquete dos cadáveres. Houve decência.

Alhos Vedros
01/03/20
Luís F. de A. Gomes

2007-05-25



E inventou parques com vistas destas.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Embora com alguns dias de atraso, já entramos nos dias em que o Inverno se veste de Primavera.



Mas ontem foi, para o pai, Domingo de atribulações e trabalhos.


Tufo começou por um pequeno acidente, na bomba de gasolina, que muito me envergonha.
Imprudências que podem sair caras.
Deixei que a Matilde saísse do carro enquanto enchia o depósito e, não contente, ainda permiti que ela permanecesse ao meu lado.
Inexplicavelmente –mas lá estão os imprevistos- a mangueira saltou e, como que de propósito, regou o meu anjinho.
O que se seguiu foi o pânico da miúda e o receio do pai de que alguma lesão lhe sobreviesse para a vista, embora tenha reagido de imediato e com a calma suficiente para identificar a lavagem que logo ali se impunha e em acto contínuo de rumar à mudança de roupa e banho imprescindíveis.
Por fim tudo não passou de um susto, mas ficou a lição para o deslize.

E a verdade é que os acidentes, por natureza, podem ser prevenidos.


Depois fiquei em casa, aproveitando a tarde para arrumar o escritório que bem precisado estava.
Só que lá se foi o descanso do qual eu tanto precisava.



Feito inédito no voleibol português.
O Sporting de Espinho venceu a Top Teams Cup, a priva de clubes mais importante na Europa naquela modalidade.
Na final que se disputou na Turquia, em Istambul, a equipa portuguesa venceu uma congénere russa por três setes a dois.

São os sinais contraditórios do nosso estado de desenvolvimento.



Mãe e filhas foram ver o espectáculo da Disney on Ice, este ano dedicado ao “Livro da Selva” e às histórias do “Rei Leão” e Tarzan”.

O pai, claro, era para ter acompanhado a família, mas a Margarida quis convidar a Tia Engrácia e pediu-me para lhe ceder o lugar, uma vez que já não tivemos oportunidade para lhe oferecer um bilhete dada a lotação esgotada.
Em face da amizade entre as minhas filhas e aquela irmã da minha mãe, não tive dúvidas em atender ao pedido e depois de saber da festa, mais certo fiquei do acerto da decisão.


E agora já estou a trabalhar sobre uma secretária limpa de entulho.



Na Macedónia é que parece que as armas estão para ficar.
Para já o estado de guerra começa a subir de tom. É de recear o pior.

E o que eu temo é que não surjam líderes capazes de entenderem o que realmente está ali em jogo e eu não devo exagerar se falar em termos de paz mundial.



Hoje a manhã foi dedicada a exercícios com frases e à tarde os alunos realizaram uma ficha de livro de “Estudo do Meio”.

O trabalho de casa implica uma história em que entre um elefante e um coelho.



No Sábado comprámos uma bicicleta para a Margarida.
Roda vinte e quatro.



E ontem faleceu Jonh Phillips, aos sessenta e cinco anos de idade, por insuficiência cardíaca.
Fundador dos “Mammas and Pappas”, foi autor de grandes hits da música pop de há trinta e muitos anos atrás.
“California Dream”, lembram-se?



Continuo a leitura da história religiosa de Portugal.
O nosso país não é católico pela sua cultura mas sim pela acção dos primeiros reis que sob as suas espadas deixaram que os campanários se multiplicassem.

Alhos Vedros
01/03/19
Luís F. de A. Gomes

Gaudi tinha destas coisas....

ESCOLA ABERTA AGOSTINHO DA SILVA

COMUNIDADE DE LEITORES

Endereçamos um convite para participação em mais uma sessão da "Comunidade de Leitores", que irá decorrer no próximo Sábado, dia 26 de Maio, pelas 18 horas, no Moinho de Maré de Alhos Vedros.

O livro em apreciação é "O Vale da Paixão", de Lídia Jorge.

Mesmo para quem ainda não tenha lido este livro, podem participar e entrar na "Comuninade de Leitores".

A escritora Lídia Jorge, já foi contactada, e virá a Alhos Vedros, participar na próxima sessão.

Se ainda não visitam a Exposição da III BIENAL DE PINTURA, ainda podem fazê-lo, até Domingo, dia 27 de Maio, das 15 h. às 18 h. e das 21 h. às 23 h.

Saudações!


A Direcção da CACAV


Sem comentários.

Para a Eva.

2007-05-24

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

DAQUI PARA UM MERGULHO

Hoje trago novidades. Não quanto à actividade escolar que nestes últimos dias se pautou pela suavidade da execução de trabalhos de expressão plástica a propósito do dia do pai. Mas há novas a respeito da associação de pais que, na noite de quinta-feira, deu mais um passo decisivo para a sua constituição e, espero, consolidação.


Realizou-se a assembleia eleitoral com a participação de dezasseis encarregados de educação o que é muito pouco para uma escola que tem perto de três centenas de alunos.
Pessoalmente não estranho que seja assim. Sei por experiência própria que estes processos são por natureza difíceis de colocar em prática e geralmente são conduzidos e concretizados por pequenos grupos de pessoas que se disponibilizam para dar algum do seu tempo e esforço para a materialização das tarefas. Posteriormente, se os resultados obtidos forem interessantes, assim mais ou menos gente adere e outra aparece disposta a dar os braços.
Uma vez cumprida a regra geral de se dar meia hora para a existência de quórum, iniciaram-se os trabalhos em que vieram a ser eleitos os corpos gerentes até ao fim do presente ano lectivo.

Agora tudo depende daquele grupo de pessoas, da capacidade que revelarem para organizarem os serviços e de através dos mesmos desenvolverem actividades de manifesto interesse para a vida da escola.
Pelas vontades expressas e o bom senso revelado, tudo indica que teremos obra.


Uma associação de pais parte do pressuposto que estes têm um papel a desempenhar no contexto do quotidiano de uma escola. Desde logo por inerência, dado o dever de acompanharem os filhos. Mas também e sobretudo pelo facto de poderem ter uma palavra a dizer no âmbito geral em que se desenrolam as experiências dos respectivos educandos.
Para que se evitem confusões e sobreposições de propósitos ou até extravasamentos de competências convém delimitar rigorosamente a área de actuação de uma tal entidade.
Começando pelo último aspecto, é do mais elementar bom senso que a ideia de fundo seja a da cooperação com a direcção escolar e o seu corpo docente, ficando claro que em circunstância alguma ou sob qualquer pretexto possam acontecer interferências no trabalho pedagógico e didáctico dos professores. Por outras palavras, salvo em casos do fórum disciplinar e devidamente enquadrados pela lei, não compete a uma associação de pais comentar e muito menos imiscuir-se no decurso das aulas. Quanto muito, os encarregados de educação, individualmente considerados, deverão encontrar aí apoio e ou esclarecimento em qualquer problema que tenham ou questões que coloquem.
No referente às relações com as entidades exteriores ao estabelecimento de ensino, o princípio deve ser o da procura de soluções negociadas com realismo mas também com frontalidade, sem nunca perder de vista o bom relacionamento entre pessoas e instituições.
Desta forma, a esfera de preocupações restringe-se às condições materiais em que decorrem as vivências diárias, quer em geral, quer particularmente quanto ao processo de ensino e aprendizagem dos petizes e, neste sentido, uma associação de pais pode ser um bom parceiro para, usando uma frase poética tão do agrado da portuga mentalidade, uma escola melhor. Na verdade, pode ser mais um interlocutor válido na procura de soluções, bem como pode funcionar como mais um grupo de pressão dentro das regras de comportamento de uma civilização democrática, é bom de ver, sempre que as condições o exijam.
Concretamente, uma associação de pais pode contribuir para a identificação de problemas e colaborar para a reunião dos meios necessários às respostas adequadas; pode ainda servir de canal de eco para a sociedade em geral, quando for esse o caso e, por essa via, oferecer energias a uma força que se pretenda fazer confluir na prossecução de um qualquer desiderato. Materializando, pode auxiliar a melhorar as condições de trabalho dos professores. Além disso, pode oferecer apoio legal aos encarregados de educação.
Isto que já é muito, será tudo quanto basta para que se possa falar em sucesso para um corpo daqueles.
Daqui a um ou dois anos estaremos nós em condições de que aquelas palavras se nos apliquem? O tempo o dirá, mas oxalá que tal aconteça. Estaremos todos de parabéns.
Se, para lá de tudo isso, ainda apresentasse trabalho na área da reflexão e do debate, seria o fogo de artifício do mandato.

Para já há coisas mais comezinhas a fazer e tenho para mim que se as realizarmos até ao final deste ano lectivo poderemos dar o trabalho por satisfatório.
Temos que aprovar e publicar os estatutos e constituir a associação como pessoa colectiva de direito. Simultaneamente há que organizar a logística que significa por a funcionar um despacho de correio e um sistema de arquivo e ainda proceder à idealização e aplicação das quotas e dos procedimentos inerentes à captação de novos sócios. Pessoalmente, acho que necessária a compilação e sistematização da legislação existente sobre estas matérias. E como é óbvio, os melhorismos que se possam alcançar para elevar a qualidade dos alunos em especial, mas também dos professores e pessoal auxiliar, são esses os principais motivos que nos trazem aqui. Nestes domínios, se até ao fim do presente ano, víssemos o telhado e as janelas arranjadas de modo que não chova dentro das salas, o saldo será amplamente positivo.

Em Julho falaremos sobre isto.



Mas as novidades não se ficaram por aqui.
Ao que parece tenho filhas muito prendadas.

“-Pai, onde está a flute?” –Perguntou-me a Margarida, mal cheguei a casa no fim da jornada de ontem.
“-O quê?” –Em acto contínuo que se repetiu com a mudança da voz.
“-A flute.”
“-O que é isso da flute?” –Devolvi-lhe, certamente com uma inocente expressão de ignorância.
“-A flute.” –De imediato, na concomitância do esboçar de um sorriso. “-Não sabes o que é?”
“-Não.”
“-A flauta. Flute quer dizer flauta em inglês.”

De facto, há uns dias atrás ela andou com perguntas a respeito de algumas palavras naquela língua e então reparei que no último fim-de-semana tinha andado a ler a legendagem bilingue de um livrinho de figuras que alguém lhe ofereceu no dia do aniversário.



Eu é que tenho andado numa roda tão delirante que pouco ou nada atento daquilo que me rodeia.


Nem dei conta do ressurgimento dos combates nos Balcãs.
Há uma semanas atrás deram-se escaramuças entre o exército jugoslavo e os guerrilheiros albaneses do UCK, num território fronteiriço com o Kosovo onde habitam gentes com aquela origem étnica. Só que nos últimos dias o conflito estendeu-se a terras da Macedónia e todos os indícios apontam para o estar ali um ponto quente, talvez até demasiado quente.
Suspeito que por lá andam dedinhos de interesses ligados ao tráfico de armas e de drogas e outras mercâncias perversas. Mas também seriam naturais conecções e apoios de tiranias como as que oprimem o Iraque e a Síria, ou o Irão. Afinal, é na desordem que as ditaduras se justificam.
Mas o que me espanta é o erro de palmatória dos ocidentais que não souberam como contribuir para fazer da Bósnia uma democracia com uma população maioritariamente muçulmana. Fosse isso uma realidade e as vozes mais radicais não encontrariam muitos tímpanos que as pudessem registar.

Vivemos tempos difíceis de fortes solavancos nos modos de vida com o estado de desorientação que sempre marca as horas da incerteza.
E não há nada que nos faça suspeitar de um golpe de asa.

Importa fazer alastrar pelo mundo uma cultura da paz.
No que consiste?
É a expressão do quotidiano das populações arredadas de qualquer tipo de preocupações de guerra. Veja-se o salto que isso possibilitou nas condições de vida dos europeus nos últimos cinquenta anos.


E por cá continua a vergonha de ficar a nu o nada termos feito para evitar a catástrofe de Castelo de Paiva, sequer para encontrarmos os restos mortais das vítimas da nossa incompetência colectiva.


Mas ontem, ao fim da noite, tive tempo de atentar num artigo da Professora Filomena Mónica com o qual estou genericamente de acordo (1).
No entanto, ninguém fala da cultura corporativa que se forma a partir das Universidades e Escolas Superiores, em função da qual se organizam os sistemas com interesses parcelares, com o que se impede a certeza da expressão dos melhores profissionais e, consequentemente, da formação da excelência.
O resultado é este portugalzinho medíocre que conhecemos, bem engravato e perfumado, é certo, bem-falante, mas tão cheio de calças que deixam ver as meias.



Eu tenho uma canção de embalar para a Matilde que consiste numa amálgama de versos de uma canção infantil com o tema popular da Machadinha, tudo com o preâmbulo de uma adaptação pessoal do tema instrumental que serve de abertura ao segundo álbum dos Blood Sweat and Tears de grata memória.
Então não é que ao cantar “salta machadinha para o meio da rua”, aquela raposa, levantando a cabecinha, tratou de atalhar:
“- Não se pode, se não vem um carro e atropela-nos.”



E agora me calo.
Dentro de alguns minutos estarei a nadar.

Que belo equipamento que é a piscina de Alhos Vedros.



Mas não quero terminar sem antes citar “os dez mandamentos” de Alfred Hitchcok para uma boa ficção no cinema.
“1. contar uma história de forma puramente visual.
2. tirar partido da lei da simpatia captando a adesão emocional do espectador.
3. distinguir entre surpresa e “suspense”.
4. jogar com a alternância entre o plano objectivo e o plano subjectivo.
5. fazer aceitar a inverosimilhança.
6. saber criar um bom “mau da fita”.
7. recorrer a um “Mac Guffin” como pretexto da ficção.
8. saber que o público gosta de ter medo.
9. reduzir o mundo ao que se passa dentro do écran.
10. dirigir mais o público que os actores.” (2)

Tal como estão, os pontos três, quatro, cinco, seis e sete, aplicam-se igualmente à literatura.
Com as devidas adaptações quanto ao destinatário, no primeiro caso e o lugar da criação, no segundo, o mesmo acontece aos pontos dois e nove, o que se repete para o oitavo “mandamento” no caso de histórias daquele teor.


Eu navego por estas águas.

__________
(1) Mónica, Maria Filomena, p. 6
OS FILHOS DOS POBRES E OS FILHOS DOS RICOS NA ESCOLA DEMOCRÁTICA
(2) Hitchcok, Alfred, p. 46
OS “DEZ MANDAMENTOS” DE HITCHCOK

Alhos Vedros
01/03/17
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

Hitchcok, Alfred- OS “DEZ MANDAMENTOS” DE HITCHCOK
In “Público”, nº. 4014, de 01/03/16
Mónica, Maria Filomena- OS FILHOS DOS RICOS E OS FILHOS DOS POBRES NA ESCOLA DEMOCRÁTICA
In “Público”, nº. 4014, de 01/03/16


A Praça da Catalunha, a partir de onde as Ramblas chegam ao mar.

2007-05-23

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Ser pai é assumir a responsabilidade de acrescentar uma parcela de mundo.

Uma das casas imaginadas por Antoni Gaudí, o grande desenhador da cidade.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A Associação de Pais parece estar no bom caminho; na próxima quinta-feira será a Assembleia-Geral e a partir daí os dados estarão lançados. No entanto, já há acção de alguns dos membros da lista candidata e está agendada uma reunião com o Vereador responsável para a próxima sexta de manhã. Reivindica-se o arranjo do telhado e das janelas e a Arminda Ourives e o Rogério Brito estarão presentes pela parte da Direcção, com o objectivo de propor aqueles melhoramentos. Depois, se for necessário o empurrão, será isso que faremos. Mas sobre isto falaremos no próximo fim-de-semana. Esta noite, preparámos a nossa presença no escrutínio em que, certamente, seremos eleitos.



Na aula de hoje continuaram os exercícios em torno da palavra telhado.

E mais uma vez houve trabalho para casa.



E na noite que me resta, vou escoar o cansaço olhando a Lua ao som de uma missa de um compositor russo.

Alhos Vedros
01/03/13
Luís F. de A. Gomes

2007-05-22



O Estádio Olímpico, 1992, admirável pela visibilidade que permite a partir de qualquer ponto das bancadas.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Ontem passaram vinte e seis anos sobre a tentativa de golpe de cuja derrota saiu a tentativa de formação de um modo de produção socialista no nosso país. Provavelmente não chegaríamos a tanto já que a lógica da geo-política mundial acabaria por fazer abortar aquilo que seria uma verdadeira bizarria no contexto da NATO e, na qual, diga-se com franqueza, a União Soviética não tinha qualquer interesse especial. E não foi por acaso que uma vez conseguida a independência das principais colónias, o vinte e cinco de Novembro veio a colocar um ponto final naquele processo, lavrando o caminho para um sistema político de carácter parlamentar e baseado em eleições livres se normalizasse entre nós. Mas que a extrema-esquerda sonhou com os sovietes à portuguesa e que os discursos foram os da revolução e de uma economia estatizada e planificada, lá isso não tenhamos dúvidas. Do mundo do trabalho (1) ao da cultura (2), até a maior respeitabilidade do mundo académico em análises posteriores à época em causa (3), muitas são as obras que o atestam, não sendo por isso necessária qualquer pesquisa mais aturada.


Mas atenção, ao contrário do que hoje parece de bom tom dizer, Spínola e os acólitos que se mobilizaram para a luta naquele dia não eram democratas nem acredito que de uma eventual vitória da sua parte viesse a sair outra coisa que não fosse um banho de sangue e uma guerra civil.



Hoje o dia continuou inteiramente dedicado a exercícios em torno da palavra telhado e das letras e sílabas que a compõem.

O mesmo aconteceu com um trabalho para casa ligeiro.



Ah e devo fazer uma correcção.

Afinal não foram duas medalhas de ouro mas antes um primeiro lugar, com hino claro está, e um pódium de bronze, o que também está bem.



A marcha zapatista chegou à cidade do México.
Vamos agora ver o que acontece. Para já, um debate com vários intelectuais de todo o mundo, entre os quais Saramago.



No Douro continuam as pesquisas que já deram conta de batelões afundados há muito, enquanto mais um corpo deu à costa na Galiza.



E em Cabinda continuam a raptar portugueses.

__________
(1) Carvalheira Antunes
PERSPECTIVAS DOS TRABALHADORES FACE AO PROCESSO POLÍTICO
(2) Tavares Rodrigues, Urbano, pp. 113 e ss
UMA ETAPA DA REVOLUÇÃO
(3) Fernandes, Blasco Hugo
REFORMA AGRÁRIA – CONTRIBUTO PARA A SUA HISTÓRIA

Alhos Vedros
01/03/12
Luís F. de A. Gomes

CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

Carvalheira Antunes- PERSPECTIVAS DOS TRABALHADORES FACE AO PROCESSO POLÍTICO
Diabril (2ª. Edição), Lisboa, 1976
Fernandes, Blasco Hugo- REFORMA AGRÁRIA – CONTRIBUTO PARA A SUA HISTÓRIA
Seara Nova, Lisboa, 1978
Tavares Rodrigues, Urbano- UMA ETAPA DA REVOLUÇÃO
Seara Nova, Lisboa, 1975

2007-05-20

"A Sagrada Família" de Antóni Gaudí, Autor do projecto da catedral que o próprio arquitecto terá iniciado no fim do século dezanove e que ainda hoje permanece em construção. É uma das obras-primas do Autor e um dos edifícios emblemáticos da cidade de Barcelona pelo qual os naturais, depois da perplexidade perante tão estranha arquitectura, aprenderam precisamente aquilo que o Artista queria, a amarem a sua cidade e a gostarem de a ver embelezada por aquilo que os homens acrescentam ao espaço existente. Hoje em dia é motivo de grande orgulho e um dos muitos polos de atracção turística que fazem desta bela metrópole una ciudad preciosa e uma das capitais da Arte a nível mundial.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Em jeito de brincadeira, alguém me pediu uma frase introdutória para um trabalho de sociologia sobre Marx.
Respondi, “esse ilustre desconhecido” e, de facto, com tanta água que passou sob a ponte, o que permanece é a sua obra científica sobre a qual se reflecte pouco, sobretudo sem preconceitos de qualquer ordem.
Mas tenho para mim que o homem foi um cientista de primeiro quilate. Afinal, pretendeu compreender as leis da organização das sociedades capitalistas para o que propôs um método de trabalho e análise.
Antecipou Claude Lévi-Strauss e o estruturalismo com a aplicação da pesquisa a factores não dependentes da vontade ou consciência dos homens e cem anos antes, quando falou da abstracção, mais não fez do que, por outras palavras, identificar aquilo que Joel de Rosnay chamou o macroscópio. As modernas correntes sistémicas de que este último cientista é representante, têm nele um antepassado directo.

E as suas teorias da mercadoria e da mais-valia permanecem de pé. E deveríamos voltar a ler com mais atenção as suas ideias sobre o fim do capitalismo.

Lembrar-me eu que ao distante tempo em que fui aluno universitário, haviam professores que defendiam que mais importante que ler o próprio Marx, seria ler o que se veio a escrever depois dele.



Ontem à noite fomos assistir, no teatro Villaret, a uma peça de Luísa Costa Gomes, toda ela interpretada por um único actor cujo nome agora me falha, ainda que tenha gostado da sua representação. “O Último A Rir”.
O texto é divertido, uma sátira à hipocrisia de fazer do casamento um simples momento de espectáculo em que os sentimentos e valores quase nem como adornos são consideráveis. E através das diversas personagens envolvidas numa dada cerimónia, aquilo a que assistimos foi a umas boas duas horas de crítica de costumes que nos proporcionaram um serão de riso e ao mesmo tempo de reflexão.



E é tão estranho chegarmos a casa apenas os dois.



A Margarida pediu-me que fizesse uma experiência que vem hoje na “Terra do Nunca”, uma espécie de separata infantil da revista domingueira do “Diário de Notícias”. Tratou-se de tirar de tirar uma folha de papel debaixo de um copo com água sem que este tombasse. Como ela riu ao comprovar que era igualmente capaz de fazer o exercício. E logo ali decidiu pedir à Professora para fazer aquilo na sala de aula.
Sinceramente, só espero que se esqueça mas eu, à laia de quem prefere a prevenção, tratei de lhe fazer ver que uma brincadeira daquelas seria mais adequada num dia de despedida como, por exemplo, o último do segundo período.



A Matilde já percebeu o princípio do auto-impulso nos baloiços. Esta tarde, enquanto o horizonte se alaranjava, esteve ela uns bons momentos a pendular pelos seus próprios meios.



E agora estamos na fase em que a tragédia de Castelo de Paiva serve para que o Primeiro-Ministro apareça nos écrans de televisão, in loco, observando as buscas, só faltando as mangas arregaçadas, em pose de comando, com a sem cerimónia de um, “-Oh Manel! Atira aí esse cabo, pá!”



Mas nos mundiais de atletismo em pista coberta que decorreram, este fim-de-semana, no Pavilhão Atlântico, em Lisboa, lá o ego do portuga teve o prazer de ver o ouro e assim escutar o hino nacional em duas ocasiões.

Anda aí faneca.

Alhos Vedros
01/03/11

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A PRIMEIRA PAPOILA

É indecente aquilo que se passa em torno da catástrofe de Castelo de Paiva.
Na quinta-feira chegou a ajuda internacional, mergulhadores espanhóis e franceses, as elites daqueles países e a fina-flor mundial no meio. Todos foram unânimes no elogio da competência da prata da casa, depois de não terem conseguido qualquer acréscimo aos resultados obtidos. Ainda não aconteceu um contacto físico com os veículos acidentados e já nem é credível a certeza de aí se conseguir resgatara maioria dos cadáveres; neste entrementes, uma mão cheia corpos deram à costa na Galiza. Os meios de informação, particularmente as televisões, encontraram um espectáculo gratuito, desrespeitando a dor pessoal e incentivando as plateias a subirem aos palcos, empenhados numa espécie de concurso para o melhor circo romano. E desenha-se a responsabilização dos areeiros; a ver vamos se as culpas não vão recair em pessoal menor e do quadro de funcionários das instituições públicas envolvidas.
Mas a verdade é que se percebe que não possuímos meios para responder a desastres de larga escala. Fica a nu a inexistência de recursos materiais e humanos, assim como a ausência de capacidades e competências científicas para encontrar soluções não esperadas, o que provoca a qualidade de organismos e serviços inoperantes quando não inúteis, de tanto serem vazadouros de clientelas e amiguismos. Pelo que se vê, a sanidade dos nossos equipamentos públicos depende de inspecções segundo o velho e sábio método lusitano do olhómetro; aparentemente ninguém sabia sequer sobre o que assentam s pilares da ponte, mormente o famigerado que espoletou a tragédia.
O que ainda ninguém teve a coragem de dizer é que o desastre ocorreu por volta das vinte e uma horas de um dia e nada foi feito, de imediato, para que, no mais curto espaço de tempo possível, fossem reunidos o máximo de meios materiais e humanos para resolver o problema, especificamente, encontrar as viaturas e proceder à sua recolha, bem como à dos cadáveres. Só no dia seguinte apareceram as primeiras equipes e à medida que os trabalhos foram evoluindo, assim foram surgindo as respostas técnicas, quase sempre atrasadas. E ninguém foi capaz de formular a possibilidade daquilo que veio a acontecer com os náufragos a darem à costa a centenas de quilómetros do ponto da morte. Ora isto é que não se diz, muito menos se pensa em pedir contas a quem quer que seja.



Ontem os alunos aprenderam uma nova palavra, telhado e com ela a sílaba lha e o som da reunião das letras lê e agá. Foi sobre isso que versaram os exercícios do dia bem como o correspondente trabalho de casa.



E passa o dia mundial da mulher, essa metade do céu há muito dominada em mundos que, por natureza, sempre atribuíram aos homens os papéis do poder. Lembremo-nos que na Antiguidade se falou em género/espécie masculino e feminino e que ainda no século dezanove, se discutiam as causas da inferioridade intelectual das mulheres, ao nível do mundo científico. Longos foram os caminhos das Penélopes e das Marias, das Deuladeus e das Sands, até que as sufragistas conseguiram impor a igualdade do voto. De então para cá, paulatina tem sido a via da afirmação feminina em todos os quadrantes das sociedades, especialmente nas culturas de matriz judaico-cristã. No entanto, continuamos em estado de descriminação para com elas que ainda sofrem excisões e a imposição da sombra em vastas áreas da geografia humana.

Curiosamente, tudo indica que durante a maior parte da história da humanidade houve reciprocidade entre os sexos. Pelo que se pode observar entre comunidades caçadoras e recolectoras, como os bandos Kung, do deserto do Kalaári, as fêmeas têm um papel tão importante quanto o dos machos na aquisição dos alimentos e por isso participam na discussão dos assunto relevantes para a vida do grupo. Com a sedentarização e a transformação em agregados produtores, pôs-se em movimento os processos de hierarquização das sociedades humanas e, aí, não mais aquelas foram remetidas para o mesmo plano em que os homens se foram colocando.


Será que tanto a Margarida como a Matilde terão oportunidade de viverem em plena igualdade de oportunidades com os rapazes da sua geração?



Ontem, o sub-comandante (que título bizarro, não é?) Marcos em entrevista à TSF e ainda que sendo céptico quanto à bondade deste género de iluminados e das consequências práticas da aplicação das suas ideias, devo admitir que houve aspectos do seu discurso que não me merecem qualquer reparo.
Infelizmente, vejo-me forçado a confessar o meu desconhecimento sobre a realidade das regiões controladas pelo Exército Zapatista de Libertação e sobre o próprio movimento zapatista. E não me espantaria se para lá da cortina se vislumbrasse uma espécie de réplica do Sendero Luminoso, ainda que tal não me pareça. Seja como for, a minha ignorância impede-me de qualquer avaliação da situação e da marcha que se dirige para a capital. Quanto a esta última, não me passa pela cabeça que pudéssemos assistir à reedição da morte de Emílio Zapata. Para além da perplexidade quanto à existência de territórios em que o poder do estado mexicano é uma folha de retórica, só posso desejar que resultem melhorias para o bem estar das populações implicadas.



Bem e agora por aqui me fico.
Daqui a nada irei nadar e logo à noite ao pais estarão de folga para verem teatro.


Ontem, à entrada de Alhos Vedros, em baldio de beira de estrada, vi a campânula vermelha da primeira papoila deste ano.

Alhos Vedros
01/03/10
Luís F. de A. Gomes

2007-05-18


O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A Margarida deve estar a sofrer os efeitos do impacto da aprendizagem da leitura e da escrita.
Se a incorporação destas artes na brincadeira é já algo habitual, ainda há pouco pediu-me que escrevesse uma história e é claro que, perante a sua insistência, eu não tive alternativa a escutar-lhe as palavras e a grafá-las.
Mas foram uns minutos cheios de graça e não só pelas expressões e ênfases da narradora. É que apesar das infantilidades, o que seria estranho caso lá não estivessem, e enredo é lógico e, por fim, há uma lição a tirar.

Quando acabámos, por entre sorrisos de encantamento, eu não fui capaz de deixar de lhe dar um abraço cheio de ternura.



A Matilde anda melhor do seu equizema.



Vá lá, hoje tive dez minutos para beber a bica e ler o jornal à hora do almoço. Nos dias que têm corrido, tomo-os como um verdadeiro luxo.

E dediquei a minha atenção a um artigo de Kofi Annan.

O desafio da humanidade é a erradicação da pobreza, é a sua tese, para o que a globalização pode dar um contributo positivo, se os países ricos abrirem os mercados aos produtos agrícolas das economias em desenvolvimento.

O problema não será assim tão linear, lembremo-nos que há multinacionais capazes de reunirem um poder muito superior ao de muitos estados soberanos, com tudo o que isso pode implicar mas não tenhamos dúvidas que passa por aí.

E depois lá está aquilo que de há muito venho defendendo, a importância da educação. Não naquele sentido idealista que, só por si, contribuirá para elevar a consciência das populações, mas no de criar quadros técnicos, massa cinzenta, sem o qual não há recursos humanos para um processo de desenvolvimento harmonioso.



A aula foi inteiramente dedicada a exercícios relacionados com a aprendizagem do último algarismo, o nove.



Enquanto isso, continua a marcha zapatista em direcção à cidade do México.

Alhos Vedros
01/03/08
Luís F. de A. Gomes

2007-05-17


O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Uf! Hoje foi um dia daqueles dias em que nem um minuto tive para olha para o lado.

E como se o dia tivesse sido leve, quando me preparava para usufruir da noite, ainda estive mais de uma hora ao telefone por causa de problemas da escola da Margarida. Salas inundadas levaram a Arminda Ourives a fazer-se ouvir junto das autoridades camarárias e daí a chamada, para me pôr ao corrente.
No entanto estive de pé e agora sinto os músculos latejantes.

Mal cair à cama, estou certo que dormirei como um justo.



Mas a associação de pais lá vai surgindo do nada. Já tenho em meu poder a convocatória da assembleia-geral e o programa da lista concorrente. Amanhã falarei com a Directora da escola –a Professora da minha filha- para lhe solicitar que, a partir de cada docente, os prospectos sejam distribuídos pelos alunos.

Ah! E a Arminda já agiu como membro do grupo de pais que se candidata a formar uma associação daquela natureza.


No sul do Sudão, por causa da guerra, um milhão de pessoas estão em risco de morrer de fome e de sede.



E hoje foi um dia suave, com visita à biblioteca municipal, na Moita, da parte da manhã e desenhos alusivos após o almoço.
No âmbito da deslocação, os pequenos viram o que é e como funciona uma instituição do género e ainda tiveram o presente de uma história lida e encenada por um animador cultural dos serviços da autarquia.


Escusado será dizer que este género de actividades são importantes pois contribuem para avolumar os conhecimentos e experiências das crianças, especialmente daquelas que, de outra forma, dificilmente teriam oportunidade para tão cedo contactarem com tais vivências.



Em Timor Lorosae, Xanana Gusmão foi alvo de um atentado.



Por cá, entrámos na fase da lavagem de roupa em torno da catástrofe de Castelo de Paiva. É o Presidente do Instituto Público a dar uma conferência de imprensa para justificar porque não tinha nada que se demitir; são uns a ameaçarem os outros com processos judiciais e todos a quererem, muito subrepticiamente, fazer crer na inevitabilidade.


Se bem que o sonar pareça ter identificado o vulto do autocarro e mais três objectos, provavelmente os automóveis ligeiros, ainda não foram resgatados quaisqueres outros corpos.



Até amanhã.

Alhos Vedros
01/03/07
Luís F. de A. Gomes

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

THE WONDERLAND

Por cá continua o rescaldo da tragédia de Castelo de Paiva.

Para já são os pêsames, com o Presidente da República a dar os sentimentos e o conforto e os ministros e secretários de estado, in loco ou em posição de combate, pousando para as câmaras no decurso das operações de resgate que só um dia e meio depois reuniu os meios técnicos mínimos, mas necessários, para que se possa proceder à identificação dos objectos em águas que todos sabiam fundas e com nula visibilidade.

Quando os cadáveres forem encontrados logo teremos oportunidade para assistir ao prémio para a imagem mais macabra.

E não faltou, de imediato, aquele jeito muito peculiar com que entre nós se tratam estas coisas. Na Assembleia da República, como prova do interesse em apurar factos e responsabilidades, tratou-se de nomear uma comissão de inquérito que tomará conta do caso no próximo –ainda dou o benefício da dúvida que tenha sido eu a ouvir mal- mês. Por sua vez, ao que parece, o Ministro Jorge Coelho, a quem todos enalteceram a atitude, como se alguma alternativa houvesse, demitiu-se do cargo para regressar ao Parlamento para a todos dizer que um demissionário por incompetência pode muito bem candidatar-se a avaliar a competência ou incompetência dos outros. Pelo meio com imagens de outras pontes ratadas ou rangentes -ainda não chegámos às periclitantes- e o depoimento de um autarca de Mafra sobre as desrazões de quem de direito no caso da ponte do Rio Lisandro. Como quem não quer a coisa, lá os governantes assumiram a responsabilidade civil e já se falou no pagamento dos funerais e de indemnizações às famílias das vítimas.

Agora só faltam mesmo os corpos que depois tudo voltará ao normal e todos sabem que coisas destas não acontecem todos os dias.


Então não é este o país que consente um regresso à ribalta política de um ex-ministro que normal que o público atire objectos aos árbitros? E não é que era, nem mais nem menos, do que o ministro da administração interna?


Caramba, rápido foi o Primeiro na substituição e vai de entregar o cargo à estrela da equipa, Ferro Rodrigues, com trabalho limpo e bom no rendimento mínimo e cujo curricula, no noticiário da TSF, acabou por dá-lo como sportinguista.


“-Alice! Alice!? Where are you my dear? Don’t be afraid Alice. No one here will hurt you. Oh! Come on Alice. We might disappoint you, I must confess. But don’t be so… Don’t you see? We are nothing but simple men.”



Pedro Pires ganhou as eleições presidenciais por dezassete votos.
Daqui a vinte e cinco anos, Cabo Verde estará irreconhecível. Assim ainda exista a humanidade, tal como a conhecemos, que eu não tenho dúvidas que será para melhor.



Hoje a escola foi ao teatro e à tarde houve folga.

Foram ver uma peça intitulada “Heróis Como Nós”, de acordo com a narrativa do piolhinho, uma encenação que proporcionou um espectáculo interactivo em que os meninos foram chamados a participar.

A Margarida gostou e ficou toda satisfeita com uma manhã tão bem passada.


Mas acontece que houve o custo de mil e quinhentos escudos o que, infelizmente, ainda deixa alguém de fora.

Ora aqui está um objectivo de uma comissão de pais, conseguir orientar recursos financeiros para um fundo de maneio que permita a mesma oportunidade para os filhos daqueles que provadamente tenham dificuldades em contrair tais géneros de despesas.
Como o fazer? Alguém terá que pensar nisso.



E o mau tempo continua.
Qualquer dia, Portugal vai na avalanche.

Alhos Vedros
01/03/06
Luís F. de A. Gomes

2007-05-15


O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Hoje é dia de luto, mas também de vergonha nacional.

Ontem, por volta das vinte e uma horas, ruiu um dos pilares de uma ponte sobre o Douro, em Castelo de Paiva, levando em seu buraco um autocarro com sessenta e poucos passageiros a bordo e ainda, segundo se crê, dois automóveis ligeiros cujos tripulantes são inteiramente desconhecidos.

Não há palavras para um drama indizível, mas própria da tragédia que é a vida no mundo pobre.


E o que sobre é o espaço de revolta, a dor calada de u, grito de raiva da impotência de quem vê seus entes queridos sepultados sob as águas e dos que sabem que poderiam ter sido eles os passageiros naquela hora fatídica.
Há muito que o povo reclamava uma nova ponte por desconfiança com a capacidade da velha, de cento e tantos anos, manifestamente inadaptada ao tráfego de pesados, carregados com areia e pedra.
É claro que de imediato se assistiu à lavagem de mãos por parte de autarcas e governantes mas o que é certo é que a desgraça se deu. E também é verdade que há extracção de areias por perto e que o próprio executivo camarário podia ter mandado cortar o acesso ao tabuleiro e que há pouco mais de um mês foi feita uma vistoria e que o projecto da nova travessia está para começar desde o ano passado.
Pois bem, de quem será a responsabilidade por algo que não poderia acontecer?

Jorge Coelho foi pronto a apresentar a demissão do cargo de Ministro do Equipamento e o Presidente da República em louvar-lhe a atitude.
Pois eu pergunto qual seria a alternativa?
Não deixo é de ficar chocado com aquilo que me parece ser o cenário em formação, a saber, a continuidade daquele como membro do governo, no desempenho da outra pasta que ocupa. Mas tão só a sua continuidade na vida política será de bradar aos céus.

Se assim for, ficamos a saber que nesta pátria canalha já não há limites para o despudor.


E é tão triste vermos a escassez dos recursos de que dispomos para dar resposta aos desastres a que estamos sujeitos.



Os alunos tiveram um reatar suave o que é inteiramente justificado atendendo ao facto de que amanhã irão a Lisboa, durante a manhã, para assistirem a uma peça de teatro. Assim, o dia de hoje foi inteiramente dedicado a exercícios de leitura no “Livro Dinâmico” e no manual de Língua Portuguesa. Obviamente, não houve trabalho para casa.



Tenho lido o primeiro volume da”História Religiosa de Portugal”.
Confesso que esperava mais, ainda que a leitura seja interessante. Mas os ensaios poderiam estar melhores, sobretudo, não terem enfatizações meramente opinativas e estarem despidos da beatice perante a bondade da cultura lusa. Fala-se de tolerância religiosa nos primórdios da nacionalidade mas os factos que se narram não consentem a verificação. Onde estão as sinagogas? É que os vestígios dos guetos são ainda identificáveis. Haviam contactos e convivências entre pessoas de credos diferentes? Seguramente. Mas será que em situações em que a religião fosse importante? E será que os artistas mouros nas igrejas significaram, de facto, o reconhecimento de cultos diversos? Afinal os textos falam-nos da mesquitização das igrejas a quando da conquista muçulmana da Península Ibérica e o fenómeno inverso na sequência da reconquista cristã.

Alhos Vedros
01/03/05
Luís F. de A. Gomes

2007-05-14


O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

HISTOÓRIAS DA TERRA ENCANTADA
6
Claro, até mesmo a dinâmica interna da Terra tem grandes responsabilidades naquilo com que os teus olhos se podem agora deslumbrar.
Mais um mistério, se me permites introduzir aqui o laivo de um sorriso.
Olha, logo a começar pela produção de gases que, como sabes, são exalados para a atmosfera a partir das diversas manifestações da actividade tectónica. Por exemplo, o ciclo do carbono começou aí e já te referi os notáveis efeitos práticos desse elemento. E continua a ser por essa via que aquele é reciclado no interior do planeta e ciclicamente reenviado para o exterior aéreo.
Antes de te responder a essa pergunta quero fazer um pequeno parênteses.
Foi James Hutton que viveu em Edimburgo, durante o fervilhar iluminista do século dezoito, o primeiro a intuir que, a partir do interior do nosso planeta, a superfície terrestre é fruto de um longo processo de criação e destruição sucessivas.
Hutton conviveu de perto com a abertura de espírito da sua época e lugar e na qualidade de homem experimentado em expedições pelas terras da Escócia, vizinho dos cones vulcânicos que se debruçam sobre a sua cidade, ocorreu-lhe que as diferentes camadas de rochas sobrepostas significavam épocas de formação diferenciada e portanto idade desiguais. Isso implicava não a formação resultante de um único fenómeno como o pretendia a teoria que explicava o contemporâneo aspecto da crusta como saído do cinzel do dilúvio bíblico. Além do que, por comparação com a muralha de Adriano –foi uma cintura de pedra que, de costa a costa, dividiu a ilha de Inglaterra no Sul romanizado e o Norte, das terras actualmente escocesas, povoado pelas tribos bárbaras que não aceitaram submeter-se ao modo de vida que se via a si mesmo como expoente da civilização- as montanhas que palmilhava teriam que ser muito mais antigas do que os quatro mil e quatro anos das contas feitas a partir da Bíblia. Argumentava ele que por via do vulcanismo se criava a superfície que depois era destruída pelos agentes erosivos. A actividade vulcânica era espoletada por aquilo a que James Hutton chamava a máquina de calor da Terra e que consistia numa espécie de bomba de magma que, em ebulição, ascendia ao lado de cá através das chaminés dos vulcões.
Isto é uma curiosidade apenas, mas também serve para destacar uma constatação engraçada. Não que tenha algum significado especial que, naturalmente, não tem, mas é uma verificação que tem algo de curioso.
Reparaste que os homens se aperceberam mais cedo dos fenómenos extra-planetários. Mais tarde explicou a dinâmica terrestre e só depois disso a dos seres que a povoam? É que há uma singularidade que está de acordo com a anterior. O primeiro humano pisou outro planeta em mil novecentos sessenta e nove e só passada mais ou menos meia dúzia de anos a humanidade chegou aos fundos oceânicos e pela primeira vez viu a abertura dos rifts.
Mas ainda queres que te descreva a geo-dinâmica?

2007-05-13


O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Escrever este diário é uma tarefa difícil e árdua, na medida em que o tempo disponível é reduzido, o que me leva a laborar apressadamente com o risco de me não afundar nos pensamentos e ainda de não ter azo a expressar o encantamento da sucessão dos dias.
Também é verdade que a minha vida activa é agora mais absorvente, ao ponto de muitas serem as horas em que o cérebro com nada mais se ocupa para lá dos problemas com a empresa. Mas sempre sobram instantes de intimidade em que nos deixamos tocar pelos relances do deambular e até mesmo no desenrolar da maior responsabilidade há espaço para encontrar nuances prazenteiras, sem dúvida, bons canteiros para o pólen e a luz que a literatura, para ser querida, em minha modesta opinião, é claro, sempre deve ter.
Não tenho pois alternativa e uma vez decidido a realizar este trabalho, sabia por experiência feita do quanto obriga e tinha plena consciência dos condicionalismos horários, pelo que os riscos referidos não poderiam ser considerados proibitivos daquilo que me propunha.

E de uma certa maneira havia o compromisso de uma espécie de dívida para com a Margarida.
Pois por mais penoso que fosse, eram estas palavras que urgiam e às quais não me queria furtar.

Seja como for, por vezes surgem quebras agradáveis e que até têm o condão de nos renovar as energias.
Ora foi o que aconteceu, novamente, com o estender das férias de Carnaval a este exercício de escrita.

Mas aqui estou eu, de regresso à conversa.



A Margarida é uma pessoa engraçada. Apesar da idade, mistura muito bem o gosto pela vadiagem com o prazer de estar em casa e, sem descurar a responsabilidade de executar os deveres, posso dizer que na verdadeira acepção da expressão, ela saboreou estes dias de férias.
Por aí andou, sorridente e cantarolante, aproveitando para sair da rotina do quotidiano estudantil e usufruir deste reatar temporário da ausência de outras obrigações que não as da boa educação e do respeito pelo alheio.
Na noite de segunda para terça pediu à minha mãe que lhe desse hospedagem, no que foi acompanhada pela irmã, com isso proporcionando um serão cinéfilo aos pais. E depois fez questão de visitar aquele que foi o seu jardim infantil e é, actualmente, o da Matilde, onde passou a manhã e almoçou. Pensou em voltar no dia seguinte, mas acabou por preferir o sossego do lar.
À noite pedia para ver telenovelas da TVI que ela aprecia, vamos lá saber porquê?

Na próxima segunda-feira, voltará ao papel de aluna que ela procura desempenhar de modo impecável.


E eu com os lábios escancarados
brilhando no olhar
o calor que me afaga a alma.



As fotografias do desfile de Carnaval das escolas ficaram boas, passe embora o auto-elogio.
Lá está a Matilde de mão dada com o André, ambos muito compenetrados do seu lugar de cabeça da sala. O príncipe e a fada, por coincidência, de azul.

Mas há mais fotos; cenas cómicas da vida doméstica.


Deus abençoe este lar de gente feliz.



A chuva voltou e com força. Na manhã de sexta-feira, a intensidade das bátegas foi tal que, por instantes, nem víamos a rua através dos vidros do escritório. E mais uma vez, no Ribatejo, o espelho das águas turvas e turbulentas cobriu estradas e campos, fazendo ilhas de aldeias. É o rigor de um Inverno de se lhe tirar o chapéu. Já na terça-feira o corso carnavalesco se viu obrigado a uma volta curta a fim de evitar uma possível debandada, sob o efeito de uma festa pluviosa.



Eu não concordo com o voto aos dezasseis anos, contemplado na moção que António Guterres se propõe apresentar no próximo congresso do Partido Socialista. A idade actual é mais que suficiente. Se temos a responsabilidade de um voto consciente, devemos ter a de trabalhar para o auto-sustento que, desta forma, passa a ser aceitável antes daquela condição legal. Começamos a falar de limiares de quinze, catorze anos de idade. Não estaremos a criar pontes que possam vir a justificar, por exemplo, o trabalho infantil? Num país como o nosso, onde se teima em querer manter a competitividade externa da nossa economia nos baixos custos da mão-de-obra e onde a cultura do escrúpulo parece ser entendida como uma tolice, não será aquela proposta mais uma daquelas bondades que provocam as maiores desgraças?

O que eu acho é que já não se olha a nada nem a ninguém para se chegar ou manter no poder. É o denguismo vitorioso, não importa o gato desde que seja capaz de caçar os ratos.



Mamma mia
God bless the childs
let’s got them home

Quem é que se lembra dos Blood Sweat and Tears?



Também a Matilde é uma pessoa engraçada. Sempre bem disposta e pronta a fazer brincadeiras, é uma boquinha de riso e uma alma cheia de humor. É uma alegria vê-la aos saltos ou em poses que enfatizam desenlaces de pequenas situações. E no entanto aplica-se em fazer bem aquilo que lhe é pedido, seja no jardim-de-infância ou na ginástica, seja em casa, em redor de algum auxílio que lhe solicitemos e que ela, espontaneamente, se disponibiliza a prestar. Nas fichas que realiza na sua escolinha, nota-se uma evolução acentuada e agora já não se distingue dos resultados obtidos pelos colegas que lhe levam um ano de experiência de avanço.


E à semelhança da Margarida sabemos que está em boas mãos. A Paula é uma excelente Educadora –o que já sabíamos através da mais velha- e a instituição vale sobretudo pelo pessoal que ali trabalha e que é dedicado e competente.

Ah! E escusado seria dizer que todas elas ficaram satisfeitas por rever a Margarida e contentes por ela ter querido ali voltar a passar a manhã.



O Partido Comunista fez oitenta anos. Sobreviveu ao estalinismo, à PIDE, à queda do muro de Berlim e agora prepara-se para sobreviver à morte de Álvaro Cunhal –que, de modo algum, mesmo não gostando do homem, estou aqui a desejar para breve.

E o caricato da situação portuguesa é que é ali que permanece uma reserva daqueles que podem vir a interpretar e patrocinar o discurso dos pobres e dos direitos humanos no futuro bárbaro que se está desenhando sob a nossa indiferença.



E por falar em comunistas lembremo-nos da Jugoslávia, onde os novos poderes pretendem julgar Milosevic.
Esperemos que tal corresponda à afirmação de um regime democrático. Teste imediato será o problema de uma maus que provável secessão do Montenegro. Outro teste fundamental serão as próximas legislativas e presidenciais.
A ver vamos.



Há um surto aftosa no Reino Unido.
A agro-pecuária europeia entrou em pânico.



Só num país como o nosso é que é possível a um indivíduo como Fernando Gomes voltar à política. Mas há interesses que precisam das mãos dele no leme, durante os próximos anos.


Por sua vez, João Soares dá mostras de grande profissionalismo politico, ou não fosse ele filho de quem é.
Cá para mim, o finca-pé em torno do projecto do elevador do Castelo de São Jorge teve apenas o propósito de lhe vir a escancarar as portas para um reconhecimento das razões que ao povo assistem.



Há conversas de pardais e andorinhas, num entrementes de silêncio das nuvens.

Alhos Vedros
01/03/04
Luís F. de A. Gomes

2007-05-11

Para um Fantasminha simpático
que gosta de varandas.

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Ontem lá fui mais uma vez nadar na piscina e devo confessar que fisicamente me faz muito bem.
Acho que lhe vou ganhar o hábito.



Não sei se é cedo ou se está dentro dos padrões da normalidade, mas a Margarida já lê. E como é engraçado vê-la de roda de jornais ou revistas a ler os títulos, soletrando, é bom de ver, contudo manifestando a capacidade para descodificar o som das palavras. E até já consegue apanhar uma ou outra legenda que vê na televisão.

“-Oh mãe, eu já posso escrever Moita.”
“-Cinema escreve-se com ésse ou com cê?”

Em mais de uma ocasião já a apanhei a tentar ler em alguns dos seus livros de histórias.


Tivemos sorte com a Professora que ela apanhou.



Com azar anda a Matilde que não há meio de se livrar de um equizema que lhe afecta o canto da boca.



Vá lá que o São Pedro auxiliou o corso carnavalesco com a cara de um dia de luz e calor.
Mas apesar das melhorias ao nível dos fatos e dos carros, parece-me que esta é uma actividade condenada a prazo. A organização não está a conseguir dar os saltos qualitativos que poderiam fazer uma manifestação atractiva e, por consequência, auto-suficiente, que sempre seria um factor de continuidade. Mantenho que faltam músicas originais em cada carro, prémios para os melhores e o envolvimento das colectividades das restantes Vilas do concelho. Desta forma, mal a presente carolice se canse deixaremos de assistir aos desfiles.



Repouso de fim-de-semana
a ver o pôr da tarde ao sabor do voo embalado das andorinhas.

Alhos Vedros
01/02/25

2007-05-10


O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Ena pá, até parece que estamos em setenta e cinco. Os miúdos don secundário inundaram as ruas em manifestações de protesto contra a nova reforma curricular. E como não podia deixar de ser, lá se ouviu gritar que o estudante unido jamais será vencido.
E eu diria que já está e bem metidinho na naftalina das prateleiras, ou não tenha sido a educação uma paixão de quem manda.
O certo é que a gritaria se faz em relação às aulas de noventa minutos e em prol de aulas de educação sexual, tudo isto no curricula do secundário. E o pior é que o mais provável é que depois do diálogo e das negociações hajam cedências mútuas, tácitas ou não, e tudo permaneça como está, sem visão de futuro e sentido das necessidades nacionais, assim como um barco que flutua numa sucessão de rumos directamente saídos das cabeças dos comandantes em exercício, cada qual mais realista, sapiente e sobretudo mais enriquecedor que os anteriores. Infelizmente os portugueses estão ainda aquém de uma mentalidade capaz de interpretar e compreender a importância das ciências e das técnicas na divisão internacional do trabalho e a consequente repartição das riquezas e da qualidade de vida a nível mundial. O resultado é bem conhecido e a todos envergonha, mesmo àqueles que não têm ou não querem ter consciência disso. Apesar das retóricas e do muito dinheiro e recursos envolvidos, educação e ensino são os parentes pobres das políticas governativas que sempre acabaram por funcionar porque sim.
Daí o acessório ser o cerne daquilo que sempre esteve em questão.
A nossa tragédia reside no facto de toda esta tramóia nos vir a sair muito caro num futuro próximo, bem mais do que muitos esperam. Por ora vamos enchendo os copos para que então nos possamos embriagar para continuarmos em delírio e ser como soía.

Quanto a mim, o problema do ensino em Portugal, mormente a desorientação que tem sido a marca no ensino secundário desde o consulado de Deus Pinheiro –lembram-se, o antecessor de Roberto Carneiro que deu a primeira machadada ao acabar com a profissionalização em exercício dos professores- a meada da desgraça, dizia, começa no ensino superior, nas Universidades e Politécnicos, vistos e tratados como coutadas dos partidos com assento nos poderes de estado, para dar alimento aos polvos clientelares que servem como a energia da continuidade sugadora do erário público. A nenhum nível decisivo há investigação séria; a docência universitária pouca ou nenhuma ciência, fundamental ou não, produz e a economia real, ainda em grande parte à sombra da conivência com o poder político, não precisa de investir em ta universo, de modo a provocar a interpenetração que nos poderia fazer galgar degraus naquilo que nos separa do mundo rico e civilizado da União Europeia. Aos ciclos inferiores chegam contingentes deficientemente preparados onde a excelência não prima e a deontologia é uma palavra que requer a consulta dos dicionários e desta forma se fecha o círculo, o nosso triste círculo de uma cultura pobre, simultaneamente rica em letras.

O que fazer?
Tarefa titânica, como é que eu posso responder?
Para uns a resposta começa na descentralização que passaria pela assunção, por parte das câmaras municipais, de tutelagem das escolas básicas.
Será um dos caminhos, não me custa admiti-lo, mas sem boas universidades, sem um bom sistema de ensino onde os melhores possam formar com máxima exigência e produzir sabedoria que fertilize as potencialidades das populações, estaremos sempre longe de conseguirmos pertencer ao naco de mundo que mais nos deveria interessar.


Para já
cá vamos continuando
no patatipatatá.



Bolas, pelo segundo ano consecutivo as cheias assolam o centro de Moçambique.
Volta a haver morte e destruição.



E por cá têm estado dias tão bonitos.

Céus em mescla, variando entre os brancos e os cinzentos, sempre com o azul no fundo dos buracos.

E também as folhinhas frescas brilhando, aqui e ali, agora já na companhia das asas que se atrevem a gozar estes prenúncios de Março.



Bem que eu tinha razão.
O dia de ontem limitou-se a um pequeno exercício e desenhos, como uma espécie de véspera condizente com a manhã de hoje, em que os alunos dos diversos estabelecimentos de ensino da Vila fizeram o seu desfile de Carnaval, no qual a Matilde participou pela primeira vez.

Pai e mãe lá estiveram, babosos, fazendo festinhas às crias e, naturalmente, houve fotografias.



Collin Powel iniciou um périplo pelo Médio Oriente com o objectivo de fomentar a paz entre palestinianos e israelitas.
Estamos em plena contagem decrescente para o ajuste final de contas com o tirano de Bagdad.


Ontem, discretamente, uma notícia não identificada atribuía aos serviços secretos alemães a fonte da afirmação que dava o Iraque como capaz de produzir armas nucleares e químicas e, por volta de dois mil e cinco, de fazê-las chegar a distâncias que fazem da Europa um alvo potencial.

Estejamos atentos aos sinais.
No horizonte avistam-se quatro silhuetas de outros tantos cavaleiros.



Não querias coração? Santana Lopes a disputar a Câmara de Lisboa.
E tal como já acontecera ao Major Valentim que às autárquicas do Porto disse nim, também na Figueira surgiram milhares de assinaturas de munícipes reconhecidos que pedem uma recandidatura na sua cidade.
Obviamente, os nossos heróis lá farão o sacrifício.



Com José Pratas como árbitro, o resultado do próximo Benfica Boavista será zero a zero, pois é aquele que mais interessa ao Porto que naturalmente ganhará ao Marítimo, nem que o Ovchinikov tenha que jogar sem baliza. Se for necessário, o tal penaltie já está escrito nas estrelas.



Foram descobertas muitas ossadas de dinossauros, alhures, no Afeganistão.

Alhos Vedros
01/02/23
Luís F. de A. Gomes

2007-05-09


2007-05-08

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Nem mais, um grupo de presos preventivos em Custóias fizeram chegar à comunicação social uma carta em que protestam contra as diferenças de tratamento, especialmente quando se tratam de ex-presidentes de clubes.

É claro que o bastonário da ordem dos advogados, chamado a comentar, voltou a chamar a atenção para o grave problema que é o escesso de prisão preventiva na nossa cultura judicial.

Mas também é claro que os reclamantes começaram por pedir os advogados de Vale e Azevedo e um outro como representantes oficiosos, alegadamente por os causídicos do sul conseguirem melhores resultados que os do norte.


Então não é que Fernando Gomes está de novo na grelha de partida para a candidatura à presidência da câmara do Porto?


“O Haiti não é aqui…”



E já anda o perfume das férias pelo ar.

De manhã, continuaram os exercícios sobre a nova palavra, mas à tarde aconteceu a ligeireza de um desenho sobre o Carnaval e os alunos trouxeram os trabalhos para casa a realizar na semana da paragem das aulas.


Na próxima sexta-feira, a folga começará após o desfile de Carnaval que acontecerá durante a manhã.

Alhos Vedros
01/02/21
Luís F. de A. Gomes

2007-05-06

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Anda tudo doido neste país.

Há duas agentes da PSP que acusam um árbitro da primeira categoria de se exibir à sua frente –apareceu de tanga e posteriormente nu aos olhos das cívicas- e o secretário-geral da liga de clubes que organiza a competição profissional em que tal aconteceu, veio para a televisão dizer que as mulheres só viram porque olharam.


Palavras para quê?


Então não estamos num país em que se está a queimar um homem antes de se lhe prestar o serviço de um julgamento? Pois não é isso que se está a fazer ao Dr. João Vale e Azevedo? De outra forma como se pode justificar o espalhafato das primeiras páginas e da polícia à porta, revistando, inclusivamente, os carros que dali saíam. Se se trata de alguém tão perigoso ou tão propenso, dada a gravidade das acusações, a fugir, então porque não o prendem?
Que é isto? Justiça não é certamente, antes se trata de arruinar alguém.

E a verdade é que a pessoa tem que sair condenada. Caso contrário, em que pé ficarão uma juíza, a judiciária e até ministros?



Definitivamente a Margarida está passando pela fase da descoberta das palavras.

“-Oh mãe, faca escreve-se com cê de cão, não é verdade?”



E a Matilde que sempre teve uma pele sensível, anda com uma espécie de cieiro que lhe deixa uma espécie de mancha avermelhada em torno da boca.

O pomito, de outros tempos, fez-lhe bem, mas já descobrimos que há certas coisas que lhe agravam o problema, como, por exemplo, o sumo de laranja.



As chuvas é que parecem ter abalado. Nestes últimos dias, ainda que frios, o Sol tem feito cambiantes tão bonitos no céu. E as manhãs, em que a algazarra da passarada se voltou a fazer ouvir para nos dar alento para a jornada.

Junto da escola primária, cheios de penugem, os plátanos deixam que os cabelos se vejam entre os ramos, por ora, ainda escanzelados.



Mais um indício da entente que já está em formação.

Na Suécia, um espião foi apanhado e preso por passar informação sobre a rede eléctrica de emergência para casos de guerras e ainda os esquemas secretos de importantes centrais eléctricas do país. Escusado será dizer que os destinatários foram os serviços secretos dos militares russos.



E a aula de hoje foi inteiramente dedicada a exercícios em torno da nova palavra janela.

Alhos Vedros
01/02/20
Luís F. de A. Gomes

2007-05-04


O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

O bombardeamento sobre Bagdad que visou destruir radares proibidos pelos acordos que se sucederam ao conflito em torno do Kuwait, em mil novecentos noventa e um, apesar de levado a cabo por pilotos ingleses, revela uma atitude da administração norte-americana face a Saddam Hussein e o seu regime. As armas tiveram a companhia de palavras e gestos diplomáticos, recebeu-se a incipiente oposição ao tirano e rumou-se a Israel, que a paz no Médio Oriente é inseparável das reviravoltas geo-políticas que aí possam surgir e tudo isto no enquadramento das Nações Unidas, cujo Secretário-Geral, o Dr. Kofi Annan, foi sibilino ao destacar que o povo iraquiano não sofre devido às sanções internacionais mas sim devido ao facto de o poder usar o dinheiro do programa petróleo por comida para se armar e proteger e, desse modo, se manter tal como está e sempre pronto a expandir-se militarmente. Relativamente aos anos finais de Bill Clinton, parece-me haver aqui uma mudança; por um lado uma atitude mais musculada para com o tirano e por outro lado a procura dos equilíbrios que possibilitem a sua queda, quer ao nível da política entre os vizinhos da região, quer no plano de alterar a imagem positiva que Saddam tem junto do povo árvore. Veremos se o propósito será o títere, himself, e a ordem de terror que criou à sua volta. Talvez o filho queira acabar a obra do pai e a verdade é que formou uma equipa com vários rostos que acompanharam o progenitor, alguns dos quais novamente envolvidos nos problemas daquela área do globo.

Atenção àquela zona da Terra. Dali sairão equilíbrio geo-político mundial das próximas décadas.


Deus queira que não seja após uma guerra nuclear.



O fim-de-semana é que foi dedicado ao sossego e ao repouso em família.
Pessoalmente nem li jornais. Distraí-me com o puzzle e diverti-me com as minhas filhas e se na tarde de Sábado fui nadar enquanto a mãe e as miúdas foram à festa de aniversário do Tomás, ontem, depois do duche, fomos todos andar de bicicleta no parque novo e na companhia do pequeno André que a Matilde tratou de convidar.

E com a excepção da Margarida, o resto do bando cortou o cabelo no Sábado de manhã.



No entanto acabei de ler o Torga, lamentavelmente, à semelhança do que achei em “Fogo Preso”, o Torga de que eu não gosto, com a agravante de, neste caso, se falar de um Torga das patetices e dos lugares comuns.



E o PS vai preparando o próximo congresso num ambiente em que ninguém sequer se lembra de esconder os olhos sequiosos e os dentes afiados.



Hoje o dia foi dedicado à aprendizagem de uma nova palavra, janela. Todos os exercícios e o trabalho para casa giraram à volta do novo vocábulo.



Dez pontos para o novo equipamento social que é a piscina.

Assim as escolas e a população civil saibam aproveitar-lhes as potencialidades e daqui a meia dúzia de anos outras serão imperativas, nas restantes freguesias e não me admiraria se, entre elas, o bom senso reclamasse por uma com as medidas olímpicas.

Coisas destas são melhorias na qualidade de vida das populações.

__________
(1) Torga, Miguel
PORTUGAL

Alhos Vedros
01/02/19


CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

Torga, Miguel- FOGO PRESO
Prefácio do Autor
Edição do Autor (2ª. Edição), Coimbra, 1989
- PORTUGAL
Edição do Autor (6ª. Edição), Coimbra, 1993

2007-05-03


2007-05-02

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

HISTÓRIAS DA TERRA ENCANTADA
5

De onde veio a água? Literalmente do céu. Choveu. Choveu e terá dado lugar ao depósito de superfícies líquidas no encaixe de um ou outro vale ou numa concavidade qualquer mais ou menos alargada. É possível que alguma tenha chegado através do choque de cometas. Aqui há uns anos houve mesmo a notícia da possibilidade de se encontrar água no espaço inter-galáctico.
Devo confessar que não sei como é que isso possa acontecer. Na verdade eu não sou perito nestas matérias, sou, digamos assim, um curioso que se satisfaz de um modo autodidacta. Não estranha pois que hajam lacunas nos meus conhecimentos e que o meu discurso esteja crivado de hiatos na narrativa dos acontecimentos. Mas parece-me que até há um aspecto engraçado nesta matéria da água É que o balanço do ciclo de renovação daquele líquido começou por ter um sinal positivo, naturalmente de elevado valor. Terá estado sempre a chover. A partir de um dado momento de acumulação dos gases gerados pela actividade geológica, o vapor exalado terá dado lugar às gotículas que se precipitaram sobre a superfície num processo que certamente acompanhou o arrefecimento da crosta terrestre e que a ele terá sobrevivido –salvo seja a expressão- ao longo de largos milhões de anos. Terá sido esse o dilúvio inicial. Seja como for, tudo indica que a água nos literal mas também metaforicamente do céu, uma vez que igualmente nos foi legada por certos corpos cósmicos.
Além do que são conhecidas outras ligações do género, como é o caso de certas catástrofes provocadas pelas colisões de objectos do nosso sistema planetário que se revelaram decisivas para a nossa evolução. Repara que os pequenos e amedrontados mamíferos, possivelmente noctívagos, que conviveram com os dinossauros e que sobreviveram à fria noite que os extinguiu, dificilmente teriam conseguido tirar partido das suas vantagens de animais de sangue quente se aqueles gigantes do terciário tivessem continuado a palmilhar as florestas e savanas da sua era geológica. Parece que o morticínio em causa seguiu-se ao inverso que foi o rasto o embate de um cometa.
Tens razão, eu estava a falar da água. E é como eu estava dizendo. É possível que este género de colisões tenha aqui deixado moléculas de água, mas o vapor de água que se acumulou na nossa atmosfera terá sido o que acabou por despejar aquele líquido na superfície terrestre.
É verdadeiramente fantástico e, por sua vez, terá concomitantemente contribuído para o arrefecimento da crusta e provocado novas combinações químicas que acabaram por alimentar a vida, como ainda hoje é observável nos –até há pouco improváveis- ecossistemas que se desenvolvem em redor das chaminés térmicas ou pontos quentes.