2007-02-28

CENTRO DE ESTUDOS AGOSTINHO DA SILVA

Inicia-se esta semana o primeiro Programa de Cursos do "Centro de EstudosAgostinho da Silva", a decorrer nas instalações da Associação Agostinho da Silva (Rua do Jasmim, 11, 2ºAndar; junto ao Príncipe Real, em Lisboa).
Na segunda-feira, dia 26 de Fevereiro, Renato Epifânio abrirá um curso (15 sessões) relativo ao pensamento português contemporâneo, em três módulos (Autores; Temas; Fundamentos e Firmamentos).
As sessões decorrerão sempre às segundas-feiras(18h00).
Na terça-feira, dia 27 de Fevereiro, Miguel Real abrirá um curso (9sessões) relativo à recepção da obra de Agostinho da Silva.
As sessões decorrerão sempre às terças-feiras (18h00).
Na quarta-feira, dia 28 de Fevereiro, Duarte Drumond Braga abrirá um curso(8 sessões) relativo à Litetatura Portuguesa do Séc. XIX.
As sessões decorrerão sempre às quartas-feiras (18h00).
Por fim, na sexta-feira, dia 2 Março, Paulo Borges abrirá um curso (12sessões) de Introdução à Espiritualidade nas Grandes Religiões.
As sessõesdecorrerão sempre às sextas-feiras (18h00).
As incrições estão abertas até à primeira sessão de cada Curso. Programa Completo: www.agostinhodasilva.pt
Para mais informações: 967044286 (Renato Epifânio)
Paulo Borges (Associação Agostinho da Silva)

2007-02-22

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

A FESTA DA MATILDE
Em Moçambique, o Presidente da República e o do principal partido da oposição encontraram-se para debaterem os problemas da actual situação do país. E não fizeram por menos, falaram durante sete horas. Certamente de coisas muito sérias e com ar a condizer.
No fim apertaram as mãos e deram as coisas por ajustadas. Para além de ambas as partes se comprometerem a desenvolver medidas que reformulem e melhorem o aparelho judicial e a justiça, em geral, e a procurarem apurar e dirimir as causas das recentes mortes em prisões e repressões policiais sobre manifestações, para além disto ficou estabelecido que farão consultas mútuas no que diz respeito à nomeação de quadros para a administração local.

Continuamos na lógica dual em que se sedimentou a guerra civil e, desta forma, manter-se-à a tradição de um estado clientelar; competência e méritos, só por mero acaso serão responsáveis pela ascensão de alguém numa carreira de funcionalismo público, seja a que nível for.
Estamos a caminhar no sentido inverso da democracia.


Não por acaso, a Ministra da Acção Social rodeia-se de aparato mediático para oferecer uma casa à família do bebé que, no início deste ano, no decurso das cheias que assolaram o país, nasceu na copa da árvore onde a grávida se refugiou em busca de uma bóia de salvação.
Sem rir, obviamente, com o máximo de seriedade, a governante disse que o Executivo iria acompanhar o crescimento e a formação daquela menina.

É a demagogia de que nos tem falado Pacheco Pereira.



O Inverno começou hoje debaixo de um temporal feito de chuva, fortes rajadas de vento e frio.
O dia mais curto do ano fez jus à sua substância melancólica.

Ah, embora imperceptivelmente, amanhã os dias começarão a crescer.



Eu é que tive que andar de um lado para o outro sob as bátegas da invernia.

Seja como for, lá consegui chegar a tempo da festa da Matilde que ficou toda satisfeita com a minha presença.

E o encontro foi engraçado.
Os miúdos cantaram e representaram o nascimento de Jesus, os mais crescidinhos, é claro, e depois da toca de prendas houve o lanche.

Felizmente, o salão estava cheio.


Os filhos ficam contentes e as educadoras e auxiliares sentem que é uma forma de se lhes reconhecer o trabalho.

E se ele é bom, muito bom.



Afinal o supremo veio anular a detenção do General Pinochet.
Não faz mal, a justiça já ganhou, pois com isso regressou ao estado de independência e dignidade que pode ser o garante da confiança por parte do povo.
Neste caso será a democracia ganhando cálcio.
Por tal andar, um dia por-se-à de pé.



A Margarida passou a tarde em casa dos meus pais, para onde rumou, a seu pedido, após o almoço.
Diz que anda a aprender a fazer ponto cruz.
Convidada para a festa da irmã, à última da hora declinou.
Preferiu o recato à exposição dos elementos.



Na Serra da Estrela, a neve é responsável pelo corte de estradas e no Algarve, na Serra de Messines, há uma aldeia isolada.



E os soldados portugueses, na Jugoslávia, estão sujeitos a radiações provenientes das munições usadas nos bombardeamentos da NATO.
Os altos comandos, entre nós, sustentam não haver qualquer motivo para preocupações.
Mas os holandeses fazem patrulhas com fardamento especial.

Quem estará certo?

Alhos Vedros
00/12/21
Luís F. de A. Gomes


Zeca

ecos

da

terra

2007-02-20

A ENTREGA DA AVALIAÇÃO
É assídua e pontual.”

“Língua Portuguesa. Lê e escreve todas as palavras, do método dadas. Identifica e lê as respectivas famílias.
Lê e escreve pequenas frases com as palavras dadas e com as palavras novas. Passa a letra de imprensa para a manuscrita. Conhece as vogais.
Matemática. Identifica e representa os números dados (até 5). Sabe explicar os sinais de >, < e =. Relaciona e associa o número à quantidade. Tem a noção de soma.
Estudo do Meio. Aprendeu as noções dadas.
A Margarida tem feito uma boa progressão tanto a nível de comportamento como de aproveitamento. Não sinto dificuldades na aprendizagem.



Depois de visto do dossier e as fichas e outros trabalhos todos bem feitos e em que se nota o esforço da aplicação de quem tem brio, como é que eu posso deixar de me sentir alegre e leve, leve como um passarinho?



Deus seja louvado.

Alhos Vedros
00/12/20
Luís F. de A. Gomes

miudoecao

2007-02-19

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

FÉRIAS
São conhecidos os resultados dos concursos para a concessão das linhas de telemóveis de terceira geração. Como não podia deixar de ser, foram contempladas as três empresas que já estão no mercado, a Telecom, a Telecel e a Optimus. Mas há que manter os espaços para clientelas e lá se abriu uma quarta posição, para a ONI, é claro, que, por mero acaso é uma empresa maioritariamente na posse da EDP.

Ninguém duvida que eram estas as melhores propostas.
Sobretudo ninguém põe em causa o facto de o estado de modo algum ter a possibilidade de realizar mais dinheiro do que aquele que ganhou com esta operação.



Ontem fui abordado pelo Vítor Vargas no sentido de se estudar a possibilidade de criar uma associação de pais na escola que a Margarida frequenta, coisa que, até ao momento, nunca existiu. Em tempos houve alguém que mostrou disponibilidade e boa vontade para levar a cabo essa tarefa. Mas apesar das boas intenções a coisa não passou disso e o certo é que nunca se criou aquele outro elemento da vida escolar.
Faz falta? Pode dar um contributo que acrescente algo ao estabelecimento de ensino?
Sim. Desde logo por permitir aos encarregados de educação um mecanismo para se implicarem na resolução dos problemas existentes e daqueles que são fruto das contingências. Pelo menos funcionando como grupo de pressão junto de quem de direito para que se evitem vergonhas como o encerramento das aulas devido a chover nas salas. Mas também pelas realizações que um corpo daqueles pode promover para melhorar o ambiente e as condições escolares. Aqui estou a pensar em formas de destaque para os melhores alunos e até para professores e pessoal auxiliar.
Desta forma, a anuência face à proposta acarretou o compromisso de transmitirmos a ideia a outros encarregados de educação e de convidarmos os que se mostrem mais interessados para participarem neste empreendimento.

Vamos a ver o que isto dá.



Desde as três da tarde que está a chover, numa intermitência entre as mangueiradas na janela e os salpicos de árvores encharcadas.

O dia começou com um azul, pálido, é certo, mas, ainda assim, lavado pelo Sol
Só pelo almoço o vento prenunciou um céu tapado e cinzento. Rajadas fortes, motores de areia no ar a incomodar os olhos.

E por fim, num repente, o asfalto se fez ribeira.


Felizmente a Margarida já não teve que estar na escola. As férias começaram com a saída para o almoço.
Mas este último dia do primeiro período foi simplesmente lúdico.
Por oferta da Junta de Freguesia, os alunos foram ao cinema, na Moita, claro, pois há muito que encerrou a única sala que, para o efeito, existia em Alhos Vedros.



Pelo jornal ficámos a saber que na Universidade Moderna existem Professores Associados e Catedráticos sem doutoramento. (1) Será que é mesmo assim? O surrealismo é tanto que até o mais fantasista se admira.

Não será isto o indício de mais uma campanha que indirectamente visa pôr Paulo Portas em sentido?


Para manter o poder basta que as oposições se percam, não é verdade?



O ponta de lança do Futebol Clube do Porto, Pena, o melhor marcador do campeonato da Primeira Liga, deu uma entrevista ao “Jogo” –olha que jornal- na qual terá posto em causa a atitude da equipa no último jogo em que sofreram uma derrota com a União de Leiria.

Cá para mim isto não é inocente.
É só a primeira cena do despedimento do treinador Fernando Santos.
E José Mourinho –o técnico que o Benfica enxotou- será convidado para formar um team novo e com ele vencer os próximos campeonatos, coisa que ele fará e, finalmente, o Porto voltará a ter uma honesta hegemonia no futebol nacional, dentro das quatro linhas. E não duvido que voltaremos a ter um clube na ribalta das competições europeias.

Esperem só pela eliminação da Taça da UEFA frente ao Nantes.
Aposto um almoço.



E monocórdica, a chuva insiste em fazer as poças de água crepitarem.

__________
(1) Leiria, Isabel, p. 22
DOCENTES EM ACUMULAÇÃO

Alhos Vedros
00/12/19
Luís F. de A. Gomes


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Leiria, Isabel- DOCENTES EM ACUMULAÇÃO
In “Público”, nº. 3929, de 00/12/19

2007-02-18

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

No ar paira um sabor de férias escolares e até o pai se esqueceu de perguntar à filha o que foi que os alunos fizeram na lição de hoje.
Mas não tem importância.
Registei, isso sim, que a miúda trouxe mais alguns exercícios do livro de leitura para fazer durante este período de descanso. Dois deles foram resolvidos na hora de espera da sua aula de ginástica. Como ontem despachou a ficha de sexta-feira, faltam-lhe apenas os problemas constantes de duas páginas do referido compêndio.

Amanhã, a Margarida irá ao cinema; é a oferta da Junta de Freguesia aos alunos da Vila.

E não é que a Matilde também vai?

Pena que a película seja o Pokemon II.



“-Oh pai, como é que o Pokemon aparece na televisão e aparece no cinema?” –Perguntou a mais novinha, naqueles dois dedos de miminho e conversa que antecedem o beijinho de até amanhã.
“-Se calhar gravam uma cassete e passam lá o filme.” –Responde a mais velha que, na sua caminha, já estava virada para o outro lado.



Enquanto o estado de Arkansas sofreu os efeitos devastadores de tornados que deixaram um rasto de uma quinzena de mortes e casas destruídas, o vulcão Popocatepeco, no México, começou a soprar cinzas sobre as vilas e cidades circunvizinhas. Neste último caso, as autoridades já deram o alerta, procuraram evacuar as populações cuja proximidade mais faz perigar, mas as pessoas parecem pouco preocupadas. De acordo com o testemunho de um jornalista, a vida segue o curso da normalidade e, no entanto, a chuva de cinza pode ser o preâmbulo de uma explosão e erupção de lava.

Deus queira que não se assista a nenhuma tragédia.


Nós somos tão pequeninos face à fúria dos elementos.


Nos países a sério é assim.
Há um novo chefe de estado num país em aparente mudança que está em vésperas de fazer uma visita oficial e antes disso, para que a opinião pública e sociedade em geral possam conhecer a figura e seu pensamento e visão sobre os problemas, a imprensa de grande tiragem e influência entrevista o homem para que diga de sua justiça.
Foi o que aconteceu com o Le Fígaro e Kostunica, Presidente da República Federal da Jugoslávia que, dentro de dias, se deslocará a Paris –se não estou em erro, para a sua primeira saída a um país estrangeiro- e que nessa dimensão falou para aquele diário francês.

E o entrevistado não foi nada meigo para com os Estados Unidos que acusou de estarem a armar a guerrilha separatista do Kosovo, por interposta pessoa de lobbies poderosos, ao mesmo tempo que, denunciou, a NATO reforça a fronteira entre aquele território e o resto da república sérvia.


A ida a França é natural; em primeiro lugar trata-se de recuperar antigas alianças –não nos esqueçamos que aquela potência entrou na primeira grande guerra ao lado da Sérvia- ao mesmo tempo que se procuram contra-pesos para as forças militares estrangeiras que, na óptica nacional, ocupam uma parcela da Jugoslávia.

Esperemos que Jacques Chirac não se queira valer deste acto diplomático como um meio para vincar supremacias gaulesas na Europa que, a médio prazo, só poderiam servir para estiolar a União Europeia.

Contudo, Kostunica parece apostado num processo de democratização do seu país.
Para tanto, oxalá obtenha o máximo dos apoios necessários e se esta visita servir tais desideratos, pois ainda bem que ela tem lugar.


Mas é preciso ter em atenção que a França sempre teve devaneios imperiais. Não é por acaso que foi lá, com o cardeal Richellieu, que se concebeu a ideia do interesse de estado. E para a Europa Central, o interesse de estado francês sempre passou pela divisão dos principados de cultura e língua alemãs, cuja unificação a França fez todo o possível para evitar. Do que adveio a moderna rivalidade franco-germânica em que se alicerçaram, já no século vinte, dois conflitos mundiais.


Atenção que os Balcãs e tudo aquilo que os envolve são assuntos muito sérios.



Pois por cá, o PCP quer investigar as fundações que Fernando Gomes criou enquanto Presidente da Câmara da Porto.
Dêem-lhe que ele merece.


E não é que o inenarrável Pinto da Costa veio a terreiro para acusar a oposição de querer fazer cair o Ministro dos Desportos?


Diz-me com quem andas…
com
quem
andas…



Parece que os dados científicos confirmaram um oceano de água líquida sob a calote gelada de Gamínedes, um dos satélites naturais de Júpiter.



Soul Sacrifice, lembram-se?
Santana no melhor da desbunda.

Alhos Vedros
00/12/18
Luís F. de A. Gomes

2007-02-16



Zeca

flor trancendental

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

O Sábado foi agitado e cansativo mas depois de uma boa noite de sono e de uma manhã repousante em torno do jornal, foi-se o cansaço e voltou a tranquilidade que faz com que as almas se abram aos pequenos encantos que os dias têm para nos oferecer.

Daí a paz que, neste preciso momento, se me pendura no olhar.
Ámen.


Ontem a família andou em bolandas de supermercados. Foi de manhã o abastecimento da despensa enquanto a Margarida esteve na catequese e à tarde, após uma sesta mal dormida pela Matilde, as últimas prendas de Natal. O certo é que o dia se esfumou nessas horas barulhentas da agitação consumista.

Quando as miúdas se deitaram, pouco mais restou do que a inércia do sofá.


Pessoalmente continuei no signo dos encontros imprevistos.

Foi a Lurdes, uma ex-colega com quem falei muito de literatura e que chegou a ler um dos meus romances; não a via há um bom par de anos e fiquei satisfeito por a saber bem encaminhada na carreira lectiva e perto de casa.

Antes tinha sido o Alfredo Poerias, meu ex-camarada de recruta e com quem, no ano e meio de vida militar, acabei por fazer amizade. Tudo começou a propósito da solidariedade do maçarico em face do despotismo dos instrutores e facilmente daí se passou para uma conversa sobre a existência e a sociedade que não mais teve fim e a que se juntaram o João Capelinha –que será feito dele, de quem tenho um desenho emoldurado numa parede do escritório?- e o Castro, se bem que este apenas após a colocação em Murfacém. Ficou uma estima recíproca que nem os anos nem as vicissitudes da vida apagaram e depois de mais de dezasseis anos, satisfez-me revê-lo.
Lamento que o seu futuro tenha a espada da prisão no horizonte, mas foi ele quem escolheu o caminho que o levou a dirigente nacional da JAR (Juventude Autónoma Revolucionária) e, consequentemente, a ver-se implicado no processo das FP-25 de Abril.
Escusado será dizer que não concordo com aquela mundivisão e que reprovo liminarmente a inerente acção política que, pelos crimes cometidos, acho merecer o julgamento e a punição. Provavelmente, também o Alfredo se deixou envolver pelos piores motivos da nossa natureza de humanos –o despeito, a raiva, a inveja e a revolta que tudo isso provoca- em vez de tentar compreender-se a si e aos seus semelhantes. Mas também é verdade que os vinte anos não são nada bons conselheiros e foi com essa idade que tudo começou para ele. E depois já cumpriu uma boa dúzia de anos de prisão.
Já era tempo de o poder dar um sinal de tolerância e permitir que esta gente normalize as suas vidas. Não é nada bom que ainda restem processos em que tudo volta ao princípio. Afinal, os operacionais da rede bombista de setenta e seis estão bem integrados e até em lugares de destaque.
Seja como for, o aspecto do homem é o mesmo, apesar da vintena que já passou desde os nossos tempos de verde. E tem três filhos, a mais velha com oito anos. Vive de revisões de texto e estuda filosofia, no terceiro ano, na Faculdade de Letras, em Lisboa, onde a esposa dirige a extensão da Livraria Barata que aí se encontra sediada.



Em quatro de Janeiro próximo, a gasolina e o gasóleo aumentarão cinco escudos por litro.
Como é que se compreende o acréscimo quando os preços do petróleo baixam? Antes de mais pela continuidade dos reflexos de uma prolongada manutenção do custo ao consumidor quando tudo aconselhava o contrário e depois pela permanência do excesso de despesismo com uma máquina de estado que assenta na lógica do clientelismo.



Quantas vezes a fadiga física não espoleta a impertinência?
É assim com os adultos e também com as crianças.
Ontem, como a Matilde começou a manifestar tal inquietude o que a levou a pedir-me colo e a impedir-me de trabalhar, achei por bem interromper a actividade e aproveitara ocasião para guardaras fotografias do passeio à Batalha que levantara pela manhã. Obviamente, fi-la participar na tarefa e, propondo-lhe uma espécie de jogo, pedi-lhe que separasse as fotografias relativas apenas a paisagens daquelas em que se registam instantes de pessoas.
E, sem falhas nem hesitações, ela criou os dois conjuntos num ápice.
Depois requeri-lhe a divisão entre as fotos do mosteiro e as outras.
E novamente o exercício foi bem sucedido, dessa vez com o sorriso ladino de quem brinca com o acerto ou o erro das respostas.

Palmas para a Matilde, e o carinho que se seguiu também foi a satisfação de um pai atento ao florir das suas primaveras.


Seguiu o regresso à brincadeira, à serenidade das brincadeiras, mesmo que barulhentas, o que nem sempre acontece.



Esta manhã, a Margarida e a mãe foram à missa.
A minha filha deixou os brinquedos que ela e a irmã ofereceram para os meninos pobres da paróquia.


Como seria de esperar, houve certa resistência à separação de bonecos que tantas vezes participaram nos seus devaneios.
Mas foi bom de ver que elas compreenderam a bondade da acção , em consonância, acabaram por querer contribuir para a alegria de meninos a quem a sorte não bafejou.



Kofi Annan escreveu um artigo em que defendeu como o fenómeno da globalização pode contribuir para a redução da pobreza no mundo.

Os bem pensantes dirão que se trata de retórica, mas é importante que vozes tão altas façam ouvir pontos de vista como este.

E depois é como sustenta o Autor. Se é certo que os países pobres devem promover a principal fatia dos esforços, mormente no que toca a liberalizar as suas economias e sociedades para que se possam afirmar as forças autóctones e ainda atraírem os investimentos estrangeiros, não é menos verdade que os países ricos devem abrir os seus mercados às produções primárias daqueles, com isso lhes permitindo a continuidade do trabalho e a entrada de capitais e estímulos susceptíveis de implicar o desenvolvimento. (1)

Quanto a mim, não tenho dúvidas sobre o facto de, a prazo, caso não seja controlada, não só a pobreza tender a aumentar como ainda, nessa condição, vir a ser a janela da impossibilidade de não esgotarmos os recursos e deixarmos de alterar irremediavelmente os equilíbrios naturais do planeta.



Nos próximos quatro anos, a diplomacia americana terá em Collin Powell o seu primeiro responsável.
Será o primeiro indivíduo de origem africana a chegar àquele cargo, o que não deixa de ser curioso quando isso se passa com um Presidente que é um bom exemplo da cultura WASP.

Fico expectante quanto à influência que a pessoa trará para a expressão da política externa da única super-potência do planeta.


Assistiremos ao início de um novo caminho?
Passar-se-à por um quadriénio de siesta?
Ou tão só por um exercício à la carte?

Pelos fumos que chegam do Médio Oriente e do ex-bloco comunista, os próximos quatro anos testemunharão o crescimento do terrorismo e das máfias.


Pois eu digo que está na hora de pensarmos em criar um estado de direito a nível planetário.
E não me parece sensato chamar a isso uma utopia.



Esta tarde, na Igreja Matriz, houve áreas de óperas pelo quarteto de cordas “Bom Tempo”, com interpretações vocais da soprano Angélica Neto e pelo barítono Alexandre Jerebetzov. Os cantores fazem parte do coro do Teatro Nacional de São Carlos e os músicos da Orquestra Sinfónica Portuguesa.

__________
(1) Annan, Kofi, p. 20
FAZER COM QUE A GLOBALIZAÇÃO BENEFECIE OS POBRES

Alhos Vedros
00/12/17


CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Annan, Kofi- FAZER COM QUE A GLOBALIZAÇÃO BENEFICIE OS POBRES
In “Público”, nº. 3927, de 00/12/17

2007-02-15



Zeca

O Pianista

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

HISTÓRIAS DA TERRA ENCANTADA
3

E depois os organismos vivos foram-se adaptando a respirar os gases que têm gravitado em torno desta nossa quase esfera.
É curiosíssimo sim e é como dizes que, em grande parte, tudo isto depende da relação entre o Sol e a Terra. Já viste o que a gravidade proporciona? A sua descoberta e teorização não foi pois um grande feito?
Ora como sabemos, conjugando-se com outros factores, a diferencialidade térmica da troposfera produz a diversidade climática do nosso planeta.
Não, não estou, propriamente dito, a mudar de assunto. Acontece é que esse mosaico bio-climático sempre espoletou respostas evolutivas nas espécies vivas. Se quisermos, talvez seja possível dizer que nas dinâmicas climatéricas se encontram motores da evolução.
Foi Charles Darwin que percebeu isso pela primeira vez.
Darwin esteve para seguir uma vida de pastor protestante e que, em face do seu interesse pela descrição dos fenómenos da Natureza, teve, um dia, um convite para participar numa expedição à América do Sul e Pacífico. E engraçado é o facto de ele ter embarcado num veleiro cujo capitão era a personificação do contrário das suas ideias liberais e de ter sido precisamente nessa viagem que ele recolheu a maioria de material a partir do que, mais tarde, veio a elaborar a sua teoria da selecção natural das espécies. É preciso ver que o século dezanove ainda não tinha passado à segunda metade e que a viagem decorreu num navio que, sem alternativa, dependia de um comando absoluto. As dissenções entre o jovem naturalista e o comandante do Beagle eram, assim, algo inesperado. E provavelmente, a troca de ideias terá também dado a sua quota-parte de contributo para que as ideias do cientista ganhassem forma.
Pois é, a história das ciências tem destas coisas. E até tem, como vimos, aquele lado aventuroso do trabalho de campo que, neste particular, via acrescentar-lhe o sabor da madeira estalando e guinchando, sobre as águas, aos sons do vento e do arfar das velas.
Tem tem, esta teoria tem uma importância fundamental para isso. Claro que não é a única que o possibilita, mas ela permite-nos compreender grande parte de como os seres vivos cresceram e se multiplicaram pelos sete cantos e as profundezas do nosso planeta.
Sim, tal e qual, como de organismos unicelulares e telemáticos se chegou à baleia, para usar como síntese uma imagem literária. Como é que por via de mutações as formas de vida vão surgindo, bem como, pelo contrário, acontece o desaparecimento de outras e de que modo o planeta foi colonizado pela generalidade dos organismos vivos.
A existir, desconhece-se, por enquanto, o porquê de tais alterações genéticas. Ao que parece, há umas que favorecem o aparecimento de melhores características adaptativas a determinadas circunstâncias que, por sua vez, propiciam que esses indivíduos resistam e se reproduzam mais e melhor que os outros. Assim, naturalmente, se vão seleccionando as diversas populações terrestres.
Ora essa, Darwin viu isso nos tentilhões do arquipélago dos Galápagos. Observou que de umas ilhas para as outras havia diferenças que respondiam justamente a diferenciados enquadramentos do meio em que subsistiam.
Não, isto que te digo é uma brevíssima resenha pessoal e livre e, como é lógico, de então para cá muito têm evoluído as explicações científicas. Aliás, as modernas biologias e genéticas estavam então por inventar. Mas basicamente Darwin continua um bom auxiliar para compreendermos este sucesso praguejado da vida, tal como a conhecemos, nesta nossa ilha cósmica, até ver, sob esse aspecto, única.
Vejo que aprendes depressa.

2007-02-13

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Afinal tudo foi mais rápido do que eu supus. Mas não admira. Acontece que os homens da bola sabem que não podem ocorrer atrasos como os que se têm verificado no metro do Porto, pois o limite do prazo é-lhes imposto e, bem vistas as coisas, desta vez tratam-se de profissionais que têm à disposição um bolo de algumas centenas de milhões de contos.

E Armando Vara, disse o nosso Presidente da República, fez aquilo que seria de esperar e que só prova a vitalidade das instituições democráticas; a democracia em Portugal funciona, podemos estar descansados.

Isn’t that funny?


E para que hajam factos que o corroborem, José Lello avançou para Ministro dos Desportos e disse esperar estar à altura do euro dois mil e quatro.


Ninguém duvide, há mandíbulas bem afiadas.
Assistiremos ao maior desvario de sempre no controle das contas de um projecto público e, no fim, o Futebol Clube do Porto ficará com o melhor e mais moderno estádio do país, pelo que ai será a final do campeonato.


A democracia, em Portugal é que levou um tiro de morte.
Passaremos a viver numa espécie de organização política similar à do império romano que a propaganda tratará de apresentar como uma sociedade aberta e livre. Mas não haverá possibilidade de investigação jornalística independente e sem constrangimentos.
Os interesses dominarão o poder e repartirão, entre si, o mel que das suas tetas seja possível extrair.

Exagero?
Então e o que dizer de um Primeiro-Ministro ajoelhado que continua no Governo?
Duvido que Guterres ainda mande na corte, a não ser como flor de jarra and the front man captador do voto. Jorge Coelho, depois de o desmentir numa comissão parlamentar de inquérito sem que tenha sido demitido, mostrou ser ele o homem do leme.
A seu tempo veremos a mando de quem.



Doem-me as pernas. À saída do escritório encontrei o Jorge Cobra e estivemos duas horas em conversa, de pé e ao frio.
Foi, isso sim, um bom tónico intelectual. Gastámos boa parte do tempo a falar de Deus e na relevância dos princípios fundadores do judaísmo para a humanidade actual, embora ele seja católico. Mas sabe pensar e tem espírito aberto.
A insegurança do mundo de hoje tem mais a ver com o desespero das sociedades modernas em que os humanos quase se encontram arredados da convivência e da partilha, fechados sobre si num egoísmo desconhecedor das solidariedades. Mais do que a droga e roubo, é esse o fermento de solidões sem nexo e sem chão para valores de reconhecimento da humanidade alheia. Pessoalmente, diria que neste aspecto, se trata da permanência de uma cultura subserviente das expressões mais bárbaras da nossa natureza.
Um homem deixado à sobrevivência é um ser abandonado aos instintos mais animalescos do seu corpo.
Em Deus reconhecemos a razão de ser da espécie humana na sua ambivalência cultural e a aceitação dos valores que evidenciam e valorizam a nossa igual filiação, com todas as consequências que razoavelmente daí advêm.

Naquilo que para tanto indispensável seja, devo dizer que não posso ensinar às minhas filhas os princípios cristão que, por compromisso de casamento, aceitei para elas e nos quais não me revejo, de todo.
Não me parece que seja o procurarmos ser bons. É óbvio que isso é importante, tal como o amor cristão, a promoção do bem é sempre um desiderato a considerar. De qualquer forma, se simples humanos que somos não podemos acreditar-nos capazes de atingir a bondade, nada mais impede que, apesar da nossa pequenez procuremos e consigamos ser razoavelmente justos. Mais importante é compreender até que ponto podemos ser bons, até que ponto a bondade se aplica de igual modo e com universalidade a todos os seres humanos. Cabe perguntar se teremos de aplicar de igual modo a bondade à vítima como ao carrasco do indizível. No entanto está ao alcance consegui-lo no domínio da justiça e já não nos parece anacrónico esperar que a justiça se aplique de igual modo a todo e qualquer indivíduo e aos seus actos.

Claro que haverá que de imediato alegue que estamos a falar de um conceito relativo.

That’s the way it is
when we want to be na avestriz.


Mas é fácil entender que é possível minimizá-la a uma universalidade.


Aceito que digam que isto é preguiça de quem não sabe ou não pretende escrever mais. Não tenho como negá-lo e o que é um facto é a intenção de ficar por aqui.

Só que não resisto a dizer que lhes deixo a tarefa de saciarem a curiosidade se virem que vale a pena.



Valentim Loureiro congratula-se com José Lello na pasta dos desportos. Até deu para reconhecer que o Primeiro-Ministro esteve bem, que pela escolha quer pela celeridade da mesma.



E António Guterres lança um desafio interno.
Ele tem um projecto para a próxima década e quem não está de acordo com o mesmo deve clarificar a sua posição e apresentar a necessária alternativa.


Querem ver que o homem ainda vai ser ponta de defesa do regime democrático? Não acredito. Isto é fogo de artifício. Ele está na mão de interesses duvidosos.


Eu não auguro nada de bom para a nossa sociedade que vai ganhando a forma de barril de pólvora.



Simbólica e definitivamente, a central nuclear de Tchernobyl foi hoje desactivada.
Vem aí mais uma leva de desempregados.



Esta manhã, enquanto os outros miúdos exercitaram o que aprenderam nas fichas da véspera, a Margarida realizou-as.
À tarde houve exercícios com números e a distribuição da comunicação aos pais relativa ao fim do primeiro período escolar e ao dia de recolha das informações avaliativas que será na próxima quarta-feira.
Mas na terça, para despedida, os alunos irão ao cinema, na Moita.



Nesta época do ano, quando o céu se enche de estrelas o frio domina a superfície.

Alhos Vedros
00/12/15
Luís F. de A. Gomes

2007-02-12

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

O CIRCO E A INTERNET

Hoje foi dia de circo e não só para as minhas queridas filhas que, esta tarde, na companhia da mãe, assistiram a espectáculo do género, na Feira Popular.


Esta manhã, no fórum TSF, depois de o público ter maioritariamente posto a nu a maliciosa presença de Fernando Gomes na comissão parlamentar de inquérito, a respeito do tal caso da fundação, tivemos as piruetas de Carlos Magno para atacar o Primeiro-Ministro e defender o inquirido, chegando ao ponto de admitir a vendetta como algo aceitável e deixar no ar a possibilidade de virem a rebentar na praça pública alguns dossiers mais comprometedores ou que possam sair das gavetas inquéritos mais incómodos.
O sinal está dado e, da parte de quem vem, não duvido que significa, por interposta pessoa, uma declaração de guerra.
Seguir-se-à o desfile dos franco atiradores nos jornais, as fugas de informação para os media e as reportagens da TVI e o mais certo é que não faltem as aberturas de processos pelo Ministério Público. Também Pinto da Costa virá defender a verticalidade do amigo Engenheiro e há-de deixar o recado para que Guterres atente no caminho que está a seguir que talvez não seja o melhor para que, até aqui, tem estado tão bem.
Brevemente Armando Vara sairá do Governo com a recompensa de retiro dourado. Nesta fase, a tomada do poder limitar-se-à apenas e mais uma vez à Câmara do Porto.

Esta gente dará cabo da democracia em Portugal.

A menos que o povo finalmente acorde e os risque do mapa.
Ainda iremos a tempo?



E pronto, George W. Bush será o próximo Presidente dos Estados Unidos da América.

Se não estou em erro, é a primeira vez que uma família consegue fazer eleger o pai e o filho para a mais alta cadeira do estado.
Falou-se muito no clã Kennedy mas foram os Bush quem o conseguiu.
Mas tudo indica que estão fadados para sucumbirem ao primeiro mandato.



Tanto a Margarida como a Matilde gostaram do espectáculo do circo.
Diz a mãe que mais comedida a primeira e mais dada ao envolvimento a segunda, sempre pronta a dançar ao ritmo das músicas e disposta a aplaudir e a responder aos incitamentos dos palhaços.

No regresso houve soneca no automóvel.


A Luísa é que teve um belo dia.
Esta manhã, quando telefonei para o seu gabinete para perguntar como estava a família, atendeu a Margarida e disse-me que estava a ensinar a Matilde a trabalhar –foi este o verbo usado- na Internet.
Faço ideia a festa.
Com a boca arreganhada, a mais novita, no período das meiguices do dia, disse-me que esteve a fazer jogos no computador da mãe.


Eu sou tão feliz.



E o meu amigo Joaquim Caiado, aos quarenta e três anos de idade, foi pai e também ele sentiu o mistério que nos estala no peito e nos faz voar com um corpo que já não é o nosso.

Deus os acompanhe a todos que eu também tenho confiança que aquele companheiro na casa de quem brinquei, na infância e que, por sua vez, também partilhou os domínios dos quintais e terraços da minha meninice, será um pai terno e compreensivo, disponível e zeloso.


Mas é mesmo à Quim Caiado.

O pai chama-se Joaquim Eusébio, ele Joaquim Manuel e o filho, como não podia deixar de ser, igualmente terá o nome de Joaquim Manuel.

“-Bem, tinha que ficar cá um Quim Caiado, não é verdade?”

E o amigo Luís riu e deu-lhe um abraço de parabéns.



Então e eu não nasci na idade da pedra?
Não é que tenho e-mail pessoa, acesso à Internet e… E… Não é que desconhecia?



Há cem anos, com o Professor Max Planck que ensinou na Universidade de Berlim, deram-se os primeiros passos da física dos quanta.

Foi aí que nós, portugueses, ficámos definitivamente arredados da civilização moderna.

Alhos Vedros
00/12/14
Luís F. de A. Gomes

2007-02-11

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

PUNHAIS PARA CÁ PUNHAIS PARA LÁ

Um Acto de Cidadania” é um pequeno livrinho em que reúno artigos que, nos últimos sete anos, fiz publicar no quinzenário local, “Notícias da Moita”. Desde cartas ao director a uma coluna que acompanhou o último ano e meio de vida do jornal, ali se juntam as peças que foram dadas à estampa e que, directa ou indirectamente, ainda não tinham sido objecto de ordenações anteriores.
No conjunto é um trabalhinho simples e sem pretensões que, é certo, nada traz de novo ao global da minha produção literária de carácter analítico, muito embora por lá se apresentem algumas ideias que foram desenvolvidas ou serviram, de alguma forma, como ilustrações em outros textos. No global da minha actividade, trata-se de uma publicação marginal que tão só pretende expressar um testemunho, o da minha participação cívica, mesmo reconhecendo e admitindo quão singela ela é.
“Um Acto de Cidadania” é, pois, isso mesmo, a prova material do meu empenho em intervir na comunidade a que pertenço e onde nasci e cresci. Neste sentido, tendo presente que, afinal, todas estas palavras se inscrevem na(s) linha(s) de pensamento com que tenho conduzido a sequência dos meus livros, é este um volume em que registo a aplicação dos meus apetrechos de cientista social –perdoem-me a pompa do termo- ao voluntariado de intentar contribuir para a vida social do meio em que vivo.
É que o(s) desiderato(s) de um projecto ficcional como Sebastião Sorumenho não podem ser mera conversa fiada.
Para o querido leitor –sempre me arrogando da vaidade de o ter- é o desejo de lhe colocar à disposição o máximo de material para crítica. Só assim a obra poderá ser conhecida, pensada e avaliada.
O que de principal se pode apreender em “Um Acto de Cidadania”? Justamente o que o título indica. O exemplo de como um cidadão pode dizer de sua justiça.



Dentro de horas Al Gore reconhecerá a sua derrota nas eleições para a presidência dos Estados Unidos.
George W. Bush será o próximo Presidente.
Provavelmente, o seu mandato está desde já marcado pela dúvida quanto à credibilidade da sua vitória e não vejo que a pessoa em questão tenha o carisma ou a sapiência necessárias para que possa evitar e convencer a outra parte do eleitorado que não lhe ofereceu o benefício do voto e muito menos que seja capaz de uma performance que o habilite a resistir ao desgaste que o exercício do poder sempre traz em potência.

O meu veredicto é que daqui a quatro anos será outro o ocupante daquele cargo de tão grande potência mundial.

Aventurar-se-à Hillary Clinton na corrida?

Well, with her husband it hapenned the first time for a womam on the state secretary charge.
But shall be not to soon for sometihng like that?



Ah, ontem esqueci-me de registar que a Margarida, como é habitual, às terças-feiras, teve, uma vez mais, a aula de educação moral e religiosa católica, o que aconteceu pelo fim da manhã. Fizeram recortes para montarem o presépio.



Aí está, há tiros sobre o porta-aviões.
Na primeira oportunidade, o lobbie do Porto não hesitou e atirou a matar sobre a figura do Primeiro-Ministro. Claro que não será desta que o governo cairá; provavelmente, nem mesmo será essa a intenção. Também não acontecerá ainda o beijo do anel. Mas as pernas já estão flectidas e o mais certo é que a cabeça do titular da pasta dos desportos seja servida a alguém numa bandeja de prata.
Será uma curiosidade ver como Guterres enfrentará um amalgamado de gente que sabemos capaz de tudo.

Que poderá resultar da luta entre um beato com vocação para o mando e aqueles que disso se querem apropriar, sem que o bem comum seja para aí tido nem achado?


Não duvido que o Porto 2001, depois de concluído o extenso cartaz de espectáculos, sairá muito mais caro que o previsto; quanto ao Euro 2004 nem se fala e estejam atentos às contas do novo estádio das antas; e muito mais coisas do género que seriam morosas de estar aqui a enumerar.


Vem tudo isto a propósito das declarações de Fernando Gomes na comissão parlamentar de inquérito ao caso da fundação para a prevenção rodoviária.
Disse o homem qualquer coisa como isto. Não autorizara o financiamento público daquela instituição que lhe parecera duvidosa por lhe aparentar o propósito de ser uma forma de certos gastos ficarem fora do controle legal do estado, coisa que considerou eticamente reprovável; e que sim senhor, o Primeiro-Ministro sabia de tudo.

Não sei se o mais confrangedor será a esperteza saloia do testa de ferro ou a sua desfaçatez.
Então ele acha possível argumentar desta forma, depois de um secretário de estado, sob sua tutela –que é suposto ser não só da sua confiança como dever o lugar a convite seu- ter promovido uma organização daquelas sem que tenha sido demitido em acto contínuo.


Não admira que Armando Vara, o visado, tenha respondido que se tratou de mera e mesquinha vingança pessoal de alguém que podia e devia ter mandado investigar o caso e não o fez. E acusou-o de ainda estar despeitado por ter sido demitido na anterior remodelação governamental.
Por sua vez, António Guterres vai devolver a ameaça e pediu uma audiência ao Presidente da República.


Aguardam-se os próximos capítulos.



Dois dos países mais pobres do mundo, a Eritreia e a Etiópia, assinaram ontem um tratado de paz que pôs fim a uma guerra que já produziu uma centena de, milhar de mortos e mais de um milhão de refugiados.
Sob a supervisão das Nações Unidas seguir-se-à uma demarcação de fronteiras.

Mais tarde se fará uma nova guerra.



Cimeira das Nações Unidas sobre a luta contra o crime organizado.
Propõem-se medidas legislativas para facilitar o combate e dificultar as acções mafiosas.

Eu não tenho dúvidas que é aí que reside o perigo principal para o nosso modo de vida, tal como o conhecemos.
O futuro não é incompatível com o regresso a uma espécie de feudalismo com tecnologia de ponta e as tiranias, pelo contrário, são perfeitamente compatíveis com os poderes mafiosos. Estou tentado a dizer que estes só se mantêm através daquelas.



Hoje os alunos tiveram uma grande variedade de exercícios, como foi o caso de um em que tiveram que formar as palavras certas a partir de sílabas baralhadas que depois tiveram que ilustrar e ainda aquele em que voltaram a unir as designações aos objectos respectivos ou as leituras que fizeram no livro dinâmico.
À tarde houve trabalhos com plasticina e a visita do Sr. Padre Carlos que distribuiu um desenho do presépio para os alunos colorirem.



Parece que a co-incineração vai avançar.
Pena que o mesmo não aconteça com outras medidas concorrentes para o tratamento e destruição dos lixos mais perigosos.



Amanhã a Luísa levará as miúdas ao circo.



Atendendo às circunstâncias nem outra coisa seria de esperar.
Nem o nosso jornalismo intriguista o permitiria.

É claro que a oposição pegou nas balas de Fernando Gomes e vai de disparar sobre o Primeiro-Ministro.


Curiosíssimo foi o comentário de António José Teixeira a este imbróglio, ontem à noite, aos microfones da TSF. Nem uma palavra sobre o homem do norte e, para além de minar a primeira reacção de Guterres, que aludiu a uma campanha para desacreditar a sua seriedade, sublinhando que ninguém tinha posto isso em causa –“-Nãooooo!!!”- fez tempo de antena a desancar o chefe do executivo, com acusações veladas para aqueles que o rodeiam. Terminou defendendo que Guterres deverá responder perante a comissão parlamentar que, após declarações do ex-ministro da administração interna e dos desportos, decidiu convocá-lo para prestar esclarecimentos.
Não sei se as palavras daquele comentador não serão um bom indicador de quem sairá por cima neste braço de ferro. É que há aqueles que sempre souberam ler a direcção dos ventos e aproveitar-lhes as energias locomotoras.

Alhos Vedros
00/12/13
Luís F. de A. Gomes

2007-02-09

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Uma boa ilustração da nossa pequenez é o facto de ainda estarmos no rescaldo da tempestade que ocorreu na passagem de quarta para quinta-feira passadas. Há localidades sem abastecimento de energia eléctrica.
E hoje, um calhau tonelar provocou um descarrilamento na linha do Douro. Não foi a primeira nem a única derrocada naqueles locais de vertentes abruptas. Na noite do temporal, o mesmo havia acontecido, então sem consequências tão graves como o foram o descarrilamento e queda ao rio da carruagem automotora com a consequente morte do respectivo maquinista. Ora, o que fica a nu é a falta de avaliação da segurança após acidentes que se tinham verificado. O que seria se o bloco, desta vez, tivesse aterrado no preciso momento em que uma composição deslizasse por ali?

Enfim, é a protecção civil que produziu o alarme da semana passada.



A Lua corada, acavalitada em ténue estrato dissolvido na escuridão.



Ion Ionescu bateu o candidato da extrema-direita nas presidenciais, na Roménia.
O contrário seria de todo inesperado.
E diga-se em abono da verdade que o vencedor não será mais democrata que o outro, nem pela sua vitória se espoletarão energias que alterem a sociedade romena no sentido da qualidade de vida dos países mais desenvolvidos. A este nível, o mais certo é que o caldo de cultura em que emergiu o discurso racista e xenófobo do concorrente se manterá em banho Maria.

Há condições para uma tragédia no que resultou do antigo bloco comunista dos tempos da guerra-fria.



E não é nada pedagógico que a diplomacia do Vaticano receba Heider como se fosse um convidado político qualquer



Que sorte a deste miúdos.
Após o almoço, os alunos tiveram um momento de descontracção com um pequeno festejo do aniversário de uma colega.
De manhã, tinha havido a realização de uma folha para o livro dinâmico.

Mas tiveram trabalho para casa. A cópia de quatro linhas daquele exercício.



Há tanto de curiosidade como de mistério.
Guterres consegue uma prestação política nos meandros da União Europeia que de modo algum alcança nas lides caseiras.



Faleceu Zé Águas, aquele que, segundo o meu pai, foi o jogador que mais e melhores golos de cabeça marcou.
Praticante inteligente e dotado tecnicamente –sempre segundo o testemunho do meu progenitor- fazia um futebol elegante e, pelas muitas bolas na rede que provocou, festivo também.

Palmarés impressionante, foi bi-campeão europeu com o glorioso, o único clube onde jogou e no qual venceu vários campeonatos nacionais e taças de Portugal, assim como troféus de melhor marcador.

Até Eusébio, o grande Eusébio da Silva Ferreira –para mim- a par com Pele, um dos detentores do pódio restrito dos imortais, até Eusébio o tratava por Senhor José Águas.



Olha que pena.
Ficamos sem “Ficheiros Secretos” à segunda-feira.
Acabaram os episódios desta série.

Volta depressa Scully –é que ao Fox levaram-no para as estrelas.

Alhos Vedros
00/12/11
Luís F. de A. Gomes


Esta foto finda a série sobre a cidade de Erfurt, na Turíngia, Alemanha.

Alguém muito especial viu uma e gostou de um lugar de que sempre sinto saudade. Com a modéstia de um fotógrafo acidental, procurei apenas dar uma pálida imagem da sua zona histórica.

Não é uma prenda porque não têm qualidade para isso, mas foram aqui inseridas com todo o carinho.

Luís

2007-02-08

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Depois do amor
permanece o silêncio do entendimento da harmonia
em que a vida se pode alicerçar

a partilha
que em tempos deve ter sido uma condição de sobevivência
dos humanos.

PARA OS DE TORRES VEDRAS OU DE PERTO

9 Fevereiro - 21.30 - Teatro-Cine de Torres Vedras

"Influências" - Concerto de Música de Câmara comentado por António Victorino D'Almeida.
O Ensemble Darcos apresenta-se com Giulio Plotino e Reyes Gallardo (violinos), Raquel Massadas (viola), Filipe Quaresma (violoncelo) e Helder Marques (piano) e interpretará:

4 Prelúdios do 1º livro do Cravo Bem Temperado de J. S.Bach num arranjo de Nuno Côrte-Real para quarteto de cordas (estreia absoluta)

Sonata Holandesa para violino, violoncelo e piano de Nuno Cõrte-Real (estreia absoluta)

Quarteto de Cordas op. 59 nº 1, Rasumovsky, de L.V. Beethoven
Nuno Cortez

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Domingo sem história.

Acordar com as brincadeiras dos piolhinhos e manhã de lazer.


À tarde os pais foram ao cinema e passaram duas horas bem dispostas com “Space Cowboys”, de Clint Eastwood; como nos restantes filmes deste realizador, uma história em que a alma humana é cruamente retratada para louvar aquilo que ela tem de melhor.


Depois os banhos e o jantar e a algaraviada de duas crianças felizes.



A Margarida passou a incorporar a grafia e as leituras nas suas brincadeiras.
E colo ela se esforça para soletrar palavras novas.

“-Oh pai, tu sabes dizer as palavras todas.”


Tanto eu como a mãe estamos despertos para, caso isso se imponha, procurarmos evitar que ela dê asas a uma qualquer obsessão pela aprendizagem que, nesta idade, só poderia trazer-lhe embaraços e dissabores.

Mas que a miúda tem vontade de aprender, lá isso é manifesto.


Deus acompanhe esta minha filha.



É que neste mundo cão ainda se torturam crianças.

Alhos Vedros
00/12/00
Luís F. de A. Gomes

2007-02-07

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Ah, hoje sim, entrámos em repouso o que sempre faz bem ao corpo e à alma.

Com um dia solado que tanto ajuda, não é verdade?
E que embelezou o chão de terra crua com os salpicos de magotes de azedas.


Manhã de jornais e conversas de café.
Mãe e filhas foram para a cabeleireira a fim dos cortes de cabelo respectivos.

E todas elas regressaram mais bonitas, para encanto do pai que as recebeu com sorrisos e beijos.



Mas ontem tive um presente do Sr. Faustino, o livro de Manuel António Boto sobre o seu irmão a cujo lançamento faltei.

A todos os níveis, a publicação, fruto de uma parceria do jornal “O Rio” e a CACAV, está excelente.
Quando me falaram do projecto e me disseram que seria prefaciado pelo Professor Fernando Rosas, devo confessar que cheguei a temer o pior paternalismo de que um certo academismo arrogante é capaz. Mas não, o texto é sóbrio mas preciso e certeiro quanto à identificação da pertinência da publicação de monografias deste género. Trata-se de um contributo que vem enobrecer e credibilizar a edição.

E aí se deixa implicitamente o desafio de editar outro manuscrito do Autor “(…) depositado no Arquivo de História Social do Instituto de Ciências Sociais.” (1)


De resto eu já conhecia o texto, cujo original dactilografado me havia sido ofertado precisamente pela mesma pessoa que hoje me presenteou com o produto final e que e que é um dos irmãos do biografado.

E não é que na página cento e nove ficamos a saber que uma das aventuras do “Por Quem Os Sinos Dobram” de Ernest Hemingway foi vivida pelo Manuel Boto?


Numa escala de zero a dez, dez pontos para “O Rio” e a CACAV.



Pela veemência como se reafirmou a fidelidade aos dogmas leninistas da organização do partido, temo que o PCP tenha optado definitivamente pelo gueto e se restrinja a uma corrente política com expressão eleitoral e parlamentar residual. Aquela postura fará certamente sentido em meios obreiristas do que resta da cintura industrial de Lisboa e encontrará eco em malhas pontuais, de norte a sul, quer associadas à instabilidade do tecido produtivo secundário em alguns lugares, quer em resultados de falta de oportunidades ou à precariedade do trabalho no sector primário de outros sítios. Mas, no todo nacional, tais pontos acabam por se consubstanciar em pequenas manchas que apenas predominarão na Península da Arrábida e, nesta, especialmente consagrada na Margem Sul.
O problema é que o Partido Comunista faz falta à democracia pois, ainda assim, é o único que representa ou o que pode melhor representar os interesses e as necessidades sociais dos estratos populacionais mais desfavorecidos. Para o bem ou para o mal, é ali que podem ter eco as vozes daqueles que não têm outros meios para se fazerem ouvir e expressar os seus pontos de vista e pretensões. A verdade é que nunca a tiveram em qualquer outro dos grandes partidos políticos do nosso sistema. Daí que o Partido Comunista seja a parcela do sempre incontornável equilíbrio. Por ora não vislumbro qualquer alternativa possível para o substituir nesse papel fundamental.
Eu não discuto a justeza das teses e princípios reafirmados no congresso. Isso é trabalho dos comunistas. Mas seria preocupante que houvesse uma redução acentuada do score eleitoral. Ironicamente, temo que em vez de um indicador de desenvolvimento da sociedade portuguesa, fosse a democracia a perder robustez e energia.

E gosto muito da democracia pois sei, de experiência feita, mundo melhor não há.



E a democracia portuguesa que leva com cada tiro por parte dos intérpretes dos órgãos de poder.
Ontem foi a demissão do governador civil de Bragança que terá revelado a sua participação na aliciação de autarcas do PSD para que votassem favoravelmente o próximo PIDAC.
Enquanto isso, o Senhor Vara continua a meter os pés pelas mãos sem a mais leve possibilidade de justificar o injustificável, isto é, a substituição dos serviços existentes no aparelho de estado por uma fundação para responder aos problemas da segurança rodoviária.
Só que este não se demite.
E os ratos, Senhor, que logo se atiram ao mar, fazem um espectáculo tão pouco dignificante…



A tarde
deixando no rasto
um incêndio das nuvens.



Pelas nossas continhas, obtivemos uma vitória importante na Cimeira de Nice. Foi-nos retirada a multa pelo excesso de produção leiteira dos Açores.

De resto, fora a retórica sobre a Europa da Defesa, fica a incomodidade da falta de entendimento entre os estados membros.


E a certeza de que há uma nova militância anti-capitalista, em termos práticos e mais prosaicos, anti-globalização –com o que quer que isso signifique- ainda de contornos pouco conhecidos mas que se revela suficientemente organizada para ser capaz de actuar nas mais diversas partes do mundo. Curiosamente, tirando partido dos instrumentos de essa mesma globalização que se contesta e conseguindo expressar-se a nível planetário, com isso dando corpo, precisamente, a uma das faces do fenómeno que se pretende pôr em causa.

Provavelmente estamos a assistir a sinais de futuro ainda que, no caso, pela afirmação de velhas ideias.



Uma reunião de condomínio não é o melhor preenchimento para uma noite de sábado, mas as obrigações não pedem que lhes voltemos as costas.

__________
(1) Rosas, Fernando, p. 11
Prefácio
In “A SAGA DE ELÁUDIO TAROUCA”

Alhos Vedros
00/12/09
Luís F. de A. Gomes

CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

Boto, António- A SAGA DE ELÁUDIO
Prefácio de Fernando Rosas
Nota Introdutória de Lídia, José, Maria e Faustino Tarouca
Edições e Promoções Ribeirinhas Ldª/CACAV,Alhos Vedros,2000
Hemingway, Ernest- POR QUEM OS SINOS DOBRAM
Tradução de Monteiro Lobato
Revisão de Alfredo Margarido
Edições “Livros do Brasil” Lisboa, Lisboa
Rosas, Fernando- Prefácio
In “A SAGA DE ELÁUDIO TAROUCA”

2007-02-05

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

OS AMIGOS DA CASA AMARELA
Hoje acordei tarde, coisa de que não gosto, pois sempre considero uma manhã perdida.
Paciência, agora já não há nada que possa fazer.

Mas a isto não deve ser estranho o facto de a Matilde, há duas noites consecutivas, acordar a meio da noite, desta feita com chinfrim a reclamar leite.



A HISTÓRIA DA CASA AMARELA

Era uma vez uma menina e um menino.
Já tinham passado muitos dias desde aquele dia em que tinham falado.
E depois o menino teve uma ideia e disse à menina:
“-Olha, esta noite vamos à casa da vizinha e perguntamos se ela tem o pote de mel para a Maria.”
Sorriu a menina, perguntado:
“-Como vamos à casa da vizinha se deixámos o cesto na escola.”
E o menino teve outra ideia:
“-Então perguntamos à Maria se o trouxe para podermos ir à casa da vizinha.”


Esta tarde, quando me sentei para dar continuidade a este diário, a Margarida interrompeu-me e pediu-me que escrevesse uma história que ela queria ofertar à mãe. E saiu o que acabaram de ler.

Eu sou o pai. Não tenho nada a dizer.



Mas o dia acabou por se revelar de afazeres e pouca lassidão.


A Luísa passou a tarde a fazer marmelada e eu fiz recados.
Depois tratei dos lanches e colaborei na limpeza da cozinha.

Enquanto a mãe, com o cirandar das filhas, fez o presépio, eu saí para fazer compras.



À noite é que houve divertimento.

Fomos ao Seixal ver uma apresentação do teatro de marionetas de Évora; autos populares, no melhor da tradição bonecreira. Mas tudo muito bem montado e feito, com actuações de primeiríssima água. E quando as luzes se acenderam, ainda tivemos o prémio de visitar os bastidores e, desse modo, aprendermos algo sobre a composição das figuras e a maneira de operar para que elas se animem.

Que belo serão.


E tanto a Margarida como a Matilde gostaram e foram elas quem evidenciou a curiosidade pelos saberes daquele ofício.



Em Nice, aproxima-se o fim da cimeira da União que assinala o fim da presidência francesa.
Nada há de mobilizador e os homens das batutas não têm coragem para identificar grandes desafios. Estamos em época de pragmático realismo o que quer dizer, a inércia, a manutenção do status quo. E, no entanto, todos os dias nos entra o futuro pelas fronteiras e ninguém sabe se o alastramento do nosso modo de vida não trará rupturas fatais para a nossa presença na superfície terrestre. E ainda há a pobreza que é tanta por esse mundo fora e cujo combate poderia ser o equivalente à guerra enquanto motor económico. Mas temos dirigentes dos tempos em que a asa vai manca.


Enquanto isso, na rua, há manifestações contra a globalização.
Quem é que se esquece que foi a cultura europeia que produziu o nazismo e os fascismos?


E os resultados da cimeira só podem ser palavras vãs.
Não há qualquer entendimento quanto às reformas das instituições da União.



E por cá, o dia político foi marcado pela abertura do congresso do PCP. De resto, a refrega do temporal; não é que há zonas do país que permanecem sem energia eléctrica?

Como disse João Amaral, ao rotularem-se certos discursos como social-democratizantes, imediatamente se inquinou o debate
Daí que o partido saia reforçado no seu finca-pé marxista-leninista de centralismo democrático e braço no ar.

Veremos como evoluirá a sua expressão eleitoral.

Alegadamente enfermo, Cunhal esteve presente sob a forma de um discurso lido pelo actor Canto e Castro.


Há decadências tão patéticas.



A casa em silêncio de rádio, na madrugada.

Alhos Vedros
00/12/08
Luís F. de A. Gomes

2007-02-04

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

Só posso dizer que a comunicação social exagerou nisto do mau tempo, provocando um estado de alarme que a realidade não justificou. Houve temporal e valente, é bom de ver, mas daí até à situação trágica em que os noticiários nos quiseram fazer crer, a distância é grande e o ridículo de repórteres a quererem forçar testemunhos de quase calamidade pública, ficou bem ilustrado pela resposta de uma residente na Alfândega, no Porto, que disse, à jornalista da TVI, ter vivido uma situação pior há cinco anos atrás e apontou, na parede da casa, um nível de água superior à sua altura como aquele que, então, foi atingido; deve dizer-se que a Senhora estava a ser convidada a prevenir-se da possibilidade de uma cheia que, verificou-se mais tarde, nem aconteceu.
Claro que choveu bastante e a ventania chegou a ultrapassar os cem quilómetros horários. Outra coisa não seria de esperar, os serviços de protecção civil entraram em fase de prevenção reforçada, mas estivemos longe de temporais mais graves. Ele houve ligações cortadas, mas mesmo assim ainda tivemos oportunidade de ver o disparate de se manter aberta a estrada marginal entre o entroncamento do Falcão e a ponte de D. Maria, quando o rio se ondulava sobre o asfalto e, pelo menos, uma cascata de água se pranteava por um dos pontos de ravinas indevidamente urbanizadas.
Enfim, é Portugal na melhor forma, do qual o nosso jornalismo é um espelho fidedigno. Nem está em consideração se este, perante determinadas circunstâncias, pode ou não procurar uma atitude mas pedagógica e voltada para o desiderato de prestar um serviço social, em vez de almejar o sensacionalismo da melhor abertura.


Lamentavelmente, devido a uma derrocada, em Arcos de Valdevez há mortes a registar.
Quanto aos danos materiais, como aqueles que ocorreram em Tomar e que em nada diferem de tantos outros já vistos, os seguros indemnizarão os danos. É por isso e para isso que eles existem.


E hoje foi dia de refrega.
Chuvadas intensas e rápidas intercaladas pelo azul salpicado e os prenúncios que o tapavam em tons de cinzento.

Árvores caídas ou tão só os troncos, rastejantes, com o que lhes resta da cabeleira, concordantes com os taipais derrubados e o lixo de coisas partidas e espalhadas por aqui e ali.
Mas a meio da tarde, contentores permaneciam onde e como o vento os deixara. E isto não tem a ver com a tempestade, pois não?



As bátegas desta noite levaram-me a trocar um debate sobre o sapal pela companhia, sempre prazenteira, de José Rodrigues Miguéis



Lá está, por precaução, a ida ao circo foi adiada e a Margarida passou o dia em casa.



E pela imprensa local vejo que perdi um debate animado por Anna Feitosa –assim mesmo, com o éne dobrado, provavelmente o nome artístico- sob o tema, “o reencantamento da vida”.
Avaliando pelos excertos incertos na notícia, deve ter sido um serão francamente divertido.

Ali se disseram coisas tão profundas como o conselho para que “(…) focar os nossos pensamentos, parar um pouco para pensar, pois se assim não for, revelamo-nos pessoas com elevado grau de imaturidade.” Já viram a novidade? Ao que se acrescenta, sem hiato, e continuo a citar a conferencista: “A humildade e calma é decerto uma visão pluridisciplinar.” Lindo.
E a receita está nos verbos rir, viver e aprender. Quem duvida?
Diz a Senhora:
“(…) Temos que inventar festa todos os dias, tem que haver uma comemoração diária, mais que não seja o nosso renascimento diário, após o acordar. Não devemos viver preocupados com o futuro, porque esse pensamento leva ao medo (…)” (1) Nem mais nem menos.

Cá para mim a mulher é funcionária pública.


Mas gostaria de ver a expressão facial que se apresenta quando se dizem, em voz alta, ideias tão… Tão… Pioneiras?


A vida é tão cheia de nuances imprevistas e racionalmente incontroláveis que, por vezes, nos baralham decisões pré-estabelecidas…



Pois em Moçambique a má vida provocou um espectáculo nunca viso.
Joaquim Chissano, o Presidente da República, discursou no Parlamento sob o som dos apupos e protestos ruidosos dos deputados da oposição.

Sempre é mais civilizado que a guerra e pela coragem revelada, pode muito bem começar ali mais um episódio da génese difícil de uma democracia em solo africano.



Mas hoje foi dia de telefonemas.

Ao fim da tarde liguei para um ex-aluno com quem não contactava há, pelo menos, uma década.
Fiquei encantado por o saber bem –é militar e simultaneamente professor no ensino superior- e por ele se ter prontificado a encontrar-me o contacto de que necessitava e pelo qual o procurei.


À noite telefonou o Álvaro Fernandes para dar os parabéns à Luísa ainda que com alguns dias de atraso.
Conhecemo-lo, a ele e à mulher, a Paula, numa quinzena que, em mil novecentos noventa e um, passámos em Agadir depois de uma longa viagem pelo Alto Atlas.
E já há uma boa mão cheia de anos que não os encontramos pelo que ficámos –somos nós que estamos em falta- de os encontrar.

São os acasos da vida.

__________
(1) Alves, Marília, p. 13
NÃO ACREDITE, EXPERIMENTE

Alhos Vedros
00/12/07
Luís F. de A. Gomes

CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Alves, Marília- NÃO ACREDITE, EXPERIMENTE
In “Jornal da Moita”, nº. 41, de 00/12/07

2007-02-03

O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

E A CHUVA NÃO BATE ASSIM
Então e aquela da fundação para a prevenção rodoviária obviamente a ser financiada pelos dinheiros do estado?
E o Ministro Armando Vara tratou logo de apresentar Fernando Gomes como a fonte das suspeitas sobre aquele organismo de tão grande alcance.

Até onde é que esta gente chegará para se perpectuar a si e aos seus nas tetas do poder?



Mas hoje, seis de Dezembro é dia triste.
Sufocado economicamente, o “Notícias da Moita” calará a sua voz no próximo número.

A vida do concelho ficará mais pobre, ninguém tenha dúvidas disso. Aquele simpático quinzenário local foi, durante os seus dezasseis anos de existência, um veículo inteiramente livre e independente de quaisqueres poderes.

É pois a liberdade e a democracia que perdem.



Pelo menos nos tempos mais próximos, para mim significa o fim das minhas colaborações na imprensa local.
Mas isso também me obriga a compilar o volume dessas mesmas prestações dos últimos sete anos.

Serão meu sexto livro fora da expressão artística que compõe o grosso do que pomposamente posso chamar a minha obra.
Com ele registarei, até ao momento, aquilo que poderá ser interpretado como uma intervenção cívica da minha parte.

E não sei porquê, neste preciso instante, decidi chamar ao conjunto “Um Acto de Cidadania”. Assim será.



No alarido é que está o ganho
não é só pelo ruído
é também pelo nevoeiro…


A empresa do metro do Porto vê atendida a pretensão de um acréscimo de mais de vinte e tantos milhões para o projecto, em alteração.

Até ao final muitos mais se seguirão.
A ver vamos.



De acordo com dois reputados cientistas ingleses, um deles matemático e outro astrofísico, a doença das vacas loucas estaria relacionada com partículas carregadas de micro-bactérias com adn nocivo que são transportadas nas caudas dos cometas.
O facto de a doença ter maior incidência na Inglaterra corroboraria a teoria, segundo os Autores, é claro, pois isso estaria conforme ao hábito dos criadores de deixarem o gado pastar mais tempo, inclusive no Inverno quando a penetração das partículas cósmicas é maior.
Infelizmente não não registei o nome daqueles investigadores.

Mas um cientista português, Francisco Ré, se não erro, comentou que aquelas teses já são antigas, tendo sofrido fortes críticas da comunidade científica.



Mau tempo no país.
A julgar pelo alarme da comunicação social, espera-se borrasca para as próximas horas.

Em Alhos Vedros houve um corte no abastecimento eléctrico e, efectivamente, está a chover a cântaros o que me fez permanecer em casa em detrimento do lançamento de um livro sobre Eláudio –um português que combateu pelos republicanos na guerra civil espanhola- e que eu suspeito que acabou por ser adiado.


Seja como for, façamos votos para que nada de grave aconteça.



Hoje a Margarida teve um dia escolar dedicado a exercícios livres com palavras, para além de cópias de frases.

E não teve trabalhos para casa, a não se, o que é já rotineiro, a leitura diária do livro dinâmico.


É uma sortuda, a minha filha. Espera-se uma folga grande. Amanhã não haverá aulas e à tarde os alunos irão a um circo a Lisboa.



E agora os democratas acusam os republicanos de terem abusivamente assinado boletins de voto que assim foram contabilizados.
Alegam que isso inverteria o resultado final.

Continuamos suspensos da decisão do tribunal.



Na pessoa do Sr. Eurico da Fonseca, Portugal perdeu uma figura singular, um auto-didacta que acabou por ser o grande divulgador da astronomia e da astronáutica no nosso país onde as ciências sempre foram olhadas com desconfiança. Homem inteligente e persistente, teve o seu pódio ao conhecer, pessoalmente, Werner Von Braun, o pai dos mísseis e dos foguetões Saturno que levaram a humanidade a pisar outro planeta.
Mas ele que também escreveu dois romances de ficção científica, deixa-nos, justamente, o legado de uma colecção que, entre nós, foi pioneira naquele género.

Na sua lápide, lamentamos que esta pátria madrasta produza Euricos sem que jamais os deixe afirmarem-se como investigadores e poetas das explicações científicas do mundo.


Paz à sua alma.




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Agora o vento faz as arestas assobiarem

Espera-se o pior por volta das quatro da manhã.

Alhos Vedros
00/12/06
Luís F. de A. Gomes

2007-02-02


O DIÁRIO DA MARGARIDA - O MEU PRIMEIRO ANO DE ESCOLA

O Benfica deu mais um passo de gigante para a belenização –e isto sem qualquer ofensa para a estimável agremiação desportiva que é o Clube de Futebol os Belenenses.
Agora que a equipa voltou a ganhar, lá se encontrou uma forma de o treinador sair pela porta fora.
Vem aí o Toni, o último mister campeão e o mesmo que, depois de ter sido mal despedido, obteve essa vitória e após uma patética readmissão, andou a dar a volta ao mundo, segundo o próprio, com um saco de rebuçados na mão para comprar jogadores mas que, ainda assim, não se coibiu de o fazer à custa do clube.
Querem apostar que o Glorioso nem irá a uma competição europeia na próxima época?

Oxalá não venhamos a ter uma galinha no lugar da águia.


Pode parecer fantasia mas não é.
A preponderância de um homem como Pinto da Costa é uma machadada na cultura democrática em Portugal.

Pensem nesta.



Suicídio comparável ao do meu clube, só aquele a que se assiste no Partido Comunista, onde a ortodoxia cada vez mais se fecha sobre as suas próprias verdades. Por detrás, sempre a sombra do Dr. Álvaro Cunhal, a tal árvore que morrerá de pé e que, para melhor dar o sinal desse desejo, agora voltou ao comité central, para mais uma vez dizer presente nas barricadas do marxismo-leninismo. Suspeito é que tal tronco e copa, de tão grandes, não deixam de levar ao fundo um barco de velas esfarrapadas em que os braços para remar diminuem assustadoramente.


E também a este nível será a democracia a perder.



Democracia que já ficou caricaturizada pela demissão do director-geral da saúde da região norte, depois de ter dito que, perante dois candidatos de igual perfil e competência, optaria, logicamente, por um camaradas se o concorrente não o fosse. E hoje reiterou as mesmas palavras, “-Aquilo que todos fazem (…)”, sublinhou, para ilustrar o facto de estar de consciência tranquila. O descaramento é tanto que já nem se esconde a partidocracia que se alapou ao nosso tecido social. Do lado da Ministra da Saúde, veio um assessor deixar claro que os critérios do ministério não têm a ver com filiações partidárias mas sim com as aptidões e provas dadas pelas pessoas em apreço.



Hoje de manhã os alunos realizaram mais uma ficha para o livro dinâmico e à tarde fizeram exercícios sobre o número cinco, cuja grafia repetiram várias vezes e cujo símbolo pintaram e exemplificaram em conjuntos com esse número de elementos.



Dia monocórdico de conversa de nuvens.
Segundo em meteorologia, amanhã também será assim.

Alhos Vedros
00/12/05
Luís F. de A. Gomes